segunda-feira, janeiro 04, 2010

PAINEL DA FOLHA

Tragédia anunciada
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/01/10

Em setembro, três meses depois da edição do decreto de Sérgio Cabral (PMDB) que permitiu ocupação maior em áreas de preservação ambiental, como o local da tragédia em Angra dos Reis, o Ministério Público Federal na região elaborou um parecer apontando irregularidades nas novas regras. O texto alerta para o risco de crescimento imobiliário desordenado e defende que esse tipo de alteração territorial só poderia ser feita por meio de lei. O relatório foi enviado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Para referendar o documento, os procuradores se ampararam em uma decisão sobre um caso semelhante do ministro Celso de Mello, do STF.



Barreira. Na sequência, com base no parecer do Ministério Público, o deputado estadual Alessandro Molon (PT) apresentou um projeto, em tramitação na Assembleia, para suspender o decreto, mas a matéria enfrenta resistência na base de Cabral.

Estrelas. Dado seu caráter tolerante para com as construções de ricos e famosos, as regras do governo do Rio para Angra ganharam na região o apelido de "decreto Luciano Huck", em alusão à casa que o apresentador tem no local.

Ali do lado. Desculpas à parte, mesmo aliados de Sérgio Cabral acham que o governador errou feio ao não comparecer logo no dia 1º ao cenário da tragédia em Angra, relativamente próximo a Mangaratiba, local onde o peemedebista festejou a virada do ano com família e amigos.

Entre nós. Chamou a atenção o fato de, quando finalmente resolveu aparecer, o governador ter circulado levando a tiracolo o deputado federal Luiz Sérgio, recém-eleito presidente do PT no Rio e ex-prefeito de Angra.

Na muda. No PT e alhures, o silêncio de Lindberg Farias em relação aos mortos pela chuva no Rio é interpretado como sinal de que o prefeito de Nova Iguaçu não enfrentará Cabral na disputa pelo governo, aguardando que lhe pavimentem caminho seguro para o Senado, com a retirada de Benedita da Silva do jogo.

Escaldado. Eduardo Paes (PMDB) chamou amigos e aliados para passar a virada num espaço reservado à Prefeitura do Rio de Janeiro na praia de Copacabana. Em virtude das mortes, que àquela já haviam ultrapassado os dois dígitos, achou melhor não aparecer por lá.

DJ. Diante do índice pluviométrico registrado em vários pontos do país na virada do ano, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) postou no Twitter sua "sugestão de música" para o dia: "Planeta Água", de Guilherme Arantes.

Hora dos fogos. Com o episódio da "lista tríplice" ainda parado na garganta, peemedebistas se sentiram desprestigiados na partilha da liberação de emendas e cobraram o Planalto. Para evitar nova crise, o problema foi resolvido pouco antes da virada.

Troca tudo 1. Ao examinar o Datafolha sobre o Senado em SP, pesquiseiros se impressionam menos com a liderança do veterano Aloizio Mercadante (PT, 32%) e mais com os 22% obtidos tanto por Soninha (PPS) quanto por Netinho de Paula (PC do B).

Troca tudo 2. Hipótese dos analistas: na esteira do Sarneygate e dos demais descalabros administrativos revelados em 2009, pode ganhar força uma onda novidadeira na eleição ao Senado.

Barba e cabelo. Ainda desconfortável com a perspectiva de ver Geraldo Alckmin ganhar de presente o governo paulista, o DEM faz circular o nome de Guilherme Afif para duas vagas não necessariamente excludentes: vice na chapa do tucano neste ano e candidato à sucessão de Gilberto Kassab em 2012.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"O Cabral segue a lógica do marketing antigo: só aparece quando as coisas vão bem. Quando há um problema, ele some e escala um secretário."

Do deputado ÍNDIO DA COSTA (DEM-RJ), sobre o governador do Rio, que disse "não fazer demagogia" para justificar sua demora em visitar o local da tragédia em Angra dos Reis.

Contraponto

Questão de ângulo Durante vistoria às obras de revitalização de uma praça na região de Sapopemba (zona leste de São Paulo) às vésperas do feriado de Ano Novo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) foi cercado por moradores que queriam tirar fotos e aproveitar para fazer alguns pedidos. Auxiliares notaram que havia um homem embriagado na fila e se entreolharam. Ao que, aos gritos, o morador disparou:
-Você está fazendo um trabalho tão bom em São Paulo que você vai ser presidente em 2014!
Satisfeito, Kassab não resistiu e comentou baixinho com seus assessores:
-Acho que ele está muito bem!

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