sexta-feira, dezembro 18, 2009

BARBARA GANCIA

QUEM VAI DIZER AO CHINÊS QUE ACABOU DE ENTRAR NO MERCADO DE CONSUMO QUE ELE NÃO PODE COMER UM BIFE?

FOLHA DE SÃO PAULO - 18-/12/09


Moe, Larry e Dilma

VIRADA PARA A LUA , a nossa Dilma. Depois que abriu a boca lá na Conferência do Clima, em Copenhague, a platéia deve ter se perguntado se o Moe e o Larry seriam os próximos a falar ou se tinham ficado no hotel descansando.
Mas as patetadas emitidas pela nossa representante no reino da Dinamarca, por sorte, acabaram ficando em segundo plano diante do fracasso generalizado em que resultou o encontro sobre o ambiente.
E poderia ser diferente? De que adianta reunir os países industrializados num convescote para discutir a salvação do planeta quando eles partem da premissa errada e jogam a culpa por todos os problemas ambientais nas costas da emissão de gases na atmosfera?
Veja: não sou daquelas capitalistas furiosas que negam a existência de um elo entre a emissão de CO2 e as mudanças climáticas. Ao contrário.
A despeito dos golpistas de plantão, do bla-bla-blá ideológico que tenta demonizar o consumo e a grande indústria e da fragilidade nos argumentos apresentados pelo Al Gore, tendo, até por ser uma romântica incorrigível, a acreditar naqueles estudos todos que indicam que a ação inescrupulosa do homem irá banir do planeta o urso polar, o panda, a baleia orca e outros xodós.
Ocorre que o urso polar e companhia estão mais ameaçados pelo chinês que ascendeu recentemente à classe média do que pela grande indústria que cospe gases tóxicos no ar ou polui os rios com dejetos que vão parar no mar.
Vamos ser claros: há gente demais no planeta. E não faz sentido ficar perdendo tempo com amenidades em Copenhague quando sabemos que a renda dos habitantes dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) está subindo, o consumo no mundo crescendo, o preço das commodities indo às alturas e o ser humano, durando cem anos.
Alguém vai conseguir conter a vontade do chinês que acabou de entrar no mercado de consumo de comer um belo de um bife? Será que, se a gente deixasse de emitir dióxido de carbono na atmosfera hoje, cessaria a depredação e a imundície causada pelo excesso de gente que já existe no planeta?
Por coincidência, enquanto o povo lá em Copenhague perdia tempo produzindo dejetos mentais, morria nos EUA o economista Paul Samuelson, o homem que levou os fundamentos de Keynes à America, uma contribuição que, segundo seu colega Paul Krugman, "agora parece ser mais relevante do que nunca".
Samuelson pregava a ideia de que governos democráticos devem abordar os problemas que os mercados não conseguem resolver -contê-los, por exemplo.
Pois, se a ministra Dilma Rousseff realmente quisesse ter colocado o Brasil numa posição de vanguarda na questão ambiental, ela poderia ter evocado Samuelson e tido a ousadia de falar em contenção de consumo, em aumento de produtividade agrícola e na diminuição das fronteiras plantadas.
Que me desculpem os "quakers" antitransgênicos, mas o único caminho para o progresso é o do aprimoramento da biotecnologia. Vale lembrar que, nos anos 1930, o "breakfast" americano custava sete vezes mais do que hoje. E que foram a adubação e os defensivos agrícolas que causaram a revolução que colocou comida na mesa de todos os norte-americanos.

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Aécio abre a janela

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09



SÃO PAULO - O gesto de Aécio Neves transfere uma imensa responsabilidade para cima de José Serra. Pelo seu calendário particular, o governador de São Paulo gostaria de esperar até março, para então abrir a janela e observar se há perspectiva de sol para os tucanos em 2010. Com o tempo muito fechado e tempestades à vista, Serra -com algum custo, é óbvio- poderia ainda virar as costas para a Presidência e cuidar de seu jardim paulista, onde teria, em tese, uma reeleição mais ou menos tranquila.
A janela que convoca Serra para a guerra -faça chuva ou faça sol- foi aberta ontem pelo governador de Minas. Isso não quer dizer que Serra "já é" candidato, mas que o preço político a pagar por uma eventual desistência agora ficou muito alto.
Aécio vinha se sentindo desconfortável com a indefinição do quadro sucessório no PSDB. Temia passar pelo que Geraldo Alckmin viveu em 2006. A perspectiva de ficar refém das dúvidas hamletianas de Serra, o risco de sua "alckmização", foi o que o mineiro quis afastar de si, abrindo mão da disputa.
"Seguro as rédeas de meu destino", diz Aécio, preocupado em desfazer tanto a impressão de que será um reserva sempre disponível e disposto a entrar em campo, sob quaisquer condições, como a ideia de que há um acordo oculto pelo qual ele será candidato a vice.
Aécio acredita que sua saída do jogo agora obrigará Serra a movimentar-se com mais objetividade, levando-o a "tomar algumas atitudes" como candidato. O mineiro avalia, por exemplo, que uma candidatura de oposição em torno da aliança PSDB-DEM-PPS é muito frágil diante do arrastão partidário e da força da máquina que o governo mobilizará por Dilma Rousseff.
Por ora, Aécio não considera a hipótese de ser vice de Serra. Prefere a eleição certa ao Senado, que lhe permitiria ficar em Minas e trabalhar por Antonio Anastasia, seu atual vice, na disputa pelo governo.
Mas política, diz o chavão, é como nuvem. Ao abrir a janela de Serra, Aécio não fechou, ainda, nenhuma porta para si mesmo.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Como entender os números do PIB

Folha de S. Paulo - 18/12/2009


Foi o comportamento do consumidor brasileiro que permitiu ao Brasil passar de forma diferenciada pela crise

O IBGE divulgou na semana passada os números do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano. Houve certa frustração na medida em que o crescimento ficou bem abaixo das projeções. Mas é preciso entender a razão pela qual isso ocorreu.
Usualmente o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga em dezembro uma reavaliação do PIB do ano anterior. Com informações mais precisas sobre a atividade econômica, ele pode melhorar a qualidade dos números divulgados um ano antes. E essa revisão dos números de 2008 mostra que o tamanho de nossa economia era -antes do colapso do banco Lehman Brothers- maior do que o divulgado anteriormente. Mas o valor monetário da atividade econômica no período julho a setembro deste ano -e estimado agora pelo IBGE- não foi menor do que esperavam os analistas.
Ou seja, a parcela do PIB que cabe a cada brasileiro -respeitada a matriz de distribuição de renda- não foi inferior ao previsto, como pode ter transparecido no noticiário.
Apenas sua taxa de variação foi afetada em razão da revisão -para cima- do PIB em 2008. E, como a vida do cidadão depende do valor monetário do PIB- e não da sua variação entre um ano e outro-, nada de importante mudou realmente. A recuperação continua sólida, embora, no ano-calendário de 2009, a variação do PIB em relação aos números do ano passado possa ser ligeiramente negativa.
Os novos dados do IBGE nos permitem uma análise mais detalhada do comportamento da economia em 2008 e na primeira metade deste ano. Em primeiro lugar, fica ainda mais claro que foi o comportamento do consumidor brasileiro que permitiu ao Brasil passar de maneira diferenciada pela crise financeira mundial. No terceiro trimestre de 2008, momento em que ocorreu o agravamento da crise, o consumo no Brasil crescia a uma taxa média na casa dos 7% ao ano. No quarto trimestre, houve queda de 1% ante o terceiro, mas, ainda assim, alta de 4% diante do mesmo período de 2007.
A recuperação aconteceu rapidamente a partir do inicio de 2009, com crescimento médio do consumo em torno de 6,5% ao ano entre janeiro e setembro. Se incorporarmos à nossa análise os dados do comércio para o mês de outubro deste ano, podemos inferir que vamos entrar em 2010 com um aumento do consumo das famílias próximo a 7% ao ano.
Do lado dos investimentos, a variação na taxa de crescimento anual entre o período anterior à crise e os três trimestres seguintes foi brutal.
De um crescimento anual próximo a 20% ao ano, passamos a uma queda de 15% no inicio de 2009. Mas já há forte retomada. Para 2010, a equipe de economistas da Quest trabalha com uma taxa positiva de 14%, o que deve garantir um crescimento de 6% para o PIB.
A aceleração da economia é claríssima. A criação de 246 mil empregos formais em novembro, ritmo bem superior ao pico anterior à crise, mostra que os riscos já são de aquecimento excessivo. Na ata do Copom divulgada ontem, o Banco Central ainda não deu sinais claros de que elevará os juros, mas muito em breve será obrigado a endurecer o discurso. Se não o fizer, a autoridade monetária correrá o risco de desancorar as expectativas de inflação e complicar ainda mais o duro trabalho que tem pela frente.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Participação de exportações de eletroeletrônicos cai em 2009

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09


A participação das exportações no faturamento do setor eletroeletrônico vai fechar 2009 em queda.
Neste ano, as vendas para o exterior representaram 12,8% do total faturado pelas indústrias de eletroeletrônicos, ante 14,8% em 2008.
Fatores como câmbio desfavorável e mercado internacional retraído contribuíram para que as exportações fechassem 2009 em US$ 7,2 bilhões, de acordo com a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
O número já minguou cerca de 45% desde 2002, segundo Humberto Barbato, presidente da entidade. "A queda vem ocorrendo desde que o câmbio começou a se valorizar, mas neste ano foi mais acentuada."
A importância das exportações caiu com mais força em 2009, devido às restrições à entrada dos produtos brasileiros impostas por países como Argentina, Venezuela e Equador. Os itens que mais sofreram foram os celulares, que ocupavam presença expressiva nas vendas aos vizinhos.
Também foram prejudicados os itens de "alto valor agregado nacional", que são principalmente os produtos elétricos, como motores, com alta composição de peças nacionais.
A maioria dos eletrônicos brasileiros, feitos a base de componentes importados -pelos quais se pagam menos-, encontrou menor dificuldade ao serem exportados depois de prontos.
"Se nada for feito com o câmbio para tornar nosso produto mais competitivo, essa participação deve cair para 10% em 2010", afirma Barbato.

EM POUCAS PALAVRAS

Grandes empresários não poupam elogios ao professor e consultor Vicente Falconi. Mesmo assim, as vendas do livro "O Verdadeiro Poder", lançado no início deste mês, surpreenderam. A primeira edição se esgotou, com a venda de 10 mil exemplares, apenas uma semana após o lançamento. A segunda, com a mesma quantidade, chega às prateleiras nesta semana. Falconi não publicava livros havia dez anos. Nome de referência em gestão, o consultor ajudou a criar em empresas brasileiras, como Gerdau, a cultura de eficiência, conceitos que tem levado para o setor público também. O autor afirma que se preocupou em não ser prolixo ao relatar sua experiência acumulada neste livro. É um método simples para estabelecer metas. "Não queria fazer um livro grande. Contei as experiências que deram certo", diz Falconi. A renda total da primeira edição foi destinada ao instituto Ismart, que identifica crianças de baixa renda com alto potencial intelectual. A segunda edição também será.

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DINAMARQUESAS

FLORESTAS
A expectativa da Fibria (empresa criada com a união de Aracruz Celulose e VCP) na COP-15 era que a preservação das florestas brasileiras ganhasse visibilidade como estratégia para a construção de uma economia de baixo carbono.

CELULOSE
Umberto Cinque, gerente-geral de meio ambiente industrial da Fibria, apresentou durante a conferência experiência sobre as emissões de carbono em toda a cadeia. A certificação mostra o quanto o setor pode ser sustentável, já que o sequestro de carbono das florestas manejadas é maior que as emissões, diz a Fibria.

ESPECIALISTAS
Empresários brasileiros presentes na COP-15 se esforçam para se tornar especialistas em ambiente. Sinal de que o setor privado já entendeu que não terá espaço nos mercados de Europa e EUA, caso não se ajuste à economia de baixo carbono, segundo Daniela Stump, da área de sustentabilidade do Pinheiro Pedro Advogados.

ANO DE DIVULGAÇÃO
Se este ano foi de consciência, 2010 será de divulgação. Empresários devem superar a timidez e participar de fóruns globais, o que difere da organização de evento para plateia brasileira em fórum internacional, como na COP-15, diz Stump.

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Venda do comércio popular cresce até 15% na primeira quinzena
Ruas congestionadas, calçadas lotadas e sacolas cheias. Os lojistas do comércio popular em São Paulo já comemoram o aumento das vendas na primeira quinzena deste mês, após terem enfrentado um Natal estagnado em 2008.
Na região do Bom Retiro, as vendas cresceram 15% nos primeiros 15 dias deste mês em relação ao mesmo período do ano passado.
A percepção de Nivaldo Júnior, vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, é que o consumidor antecipou as compras. Por esse motivo, ele afirma que aqueles que deixarem as compras para a última hora podem acabar não encontrando o produto desejado.
Segundo Júnior, um dos motivos que levaram ao crescimento do comércio foi o arrefecimento da crise financeira. "Apesar do impacto da crise no primeiro semestre, 2009 foi um ótimo ano para o varejo, que conseguiu se recuperar nos últimos seis meses."
Já na região do Brás, as vendas tiveram expansão de 10% na primeira quinzena, segundo a Alobrás (Associação de Lojistas do Brás). A entidade prevê aumento de 8% no total das vendas deste mês, já que na segunda quinzena a comercialização tende a ser menor. O faturamento deste ano deve fechar em R$ 9,8 bilhões, de acordo com a associação.
Para Jean Makdissi Júnior, diretor da Alobrás, a crise não afetou diretamente as vendas da região neste ano. "Os consumidores seguraram as compras de bens de maior valor agregado e acabaram gastando mais com vestuário." Além disso, para manter o nível de consumo, os lojistas passaram a parcelar mais as compras, diz Makdissi Júnior.

DORA KRAMER

Roteiro original


O Estado de S. Paulo - 18/12/2009

Ninguém razoavelmente atento aos fatos pode se dizer surpreso com o anúncio do governador de Minas, Aécio Neves, de que não será candidato a presidente em 2010.

Da mesma forma, ninguém é capaz de afirmar agora com certeza qual será o destino dele: se candidato ao Senado ou a vice na chapa do governador de São Paulo, José Serra.

Essa é uma questão que não interessa ao PSDB resolver neste momento, até porque há prazo suficiente para isso até a convenção do partido em junho.

Ao contrário dos percalços anteriormente previstos, e já vistos em outras épocas de decisões sobre candidaturas entre os tucanos, desta vez o PSDB cumpre o roteiro original, conferindo naturalidade ao processo de indicação do candidato.

Tanto Aécio quanto Serra estão fazendo exatamente o que disseram que fariam, não obstante os lances de efeito que cada um produziu até aqui: o mineiro reforçando seu cacife no mundo político e junto ao seu eleitorado; o paulista disfarçando em público a armação da candidatura que articula meticulosa e ferozmente em privado.

Aécio Neves sempre afirmou que não sairia do PSDB. Não saiu. Disse que se houvesse entendimento não insistiria na realização de prévias. Não insistiu. Avisou que tomaria uma posição em dezembro. Tomou.

Agora só está em aberto a questão do Senado. Pelo histórico, Aécio realmente não aceitará a vaga de vice, pois tem afirmado isso seguidamente. Só que o faz alegando ser mais conveniente ao partido ampliar alianças.

E se, mais à frente, concluir que o mais interessante para o PSDB é a chapa puro-sangue? Não terá mentido. Além disso, para o Senado há um complicador de nome Itamar Franco.

Convidado a entrar no PPS com a garantia de que poderia disputar uma cadeira de senador, Itamar fica praticamente sem chance se Aécio entrar na disputa.

Como há duas vagas em tese a serem divididas entre as duas maiores forças políticas do Estado, PT e PSDB, já que o PMDB deverá ter Hélio Costa como candidato a governador, se Aécio concorrer Itamar será um candidato quase certo à derrota.

A menos que o ex-presidente assuma a vaga de vice na chapa de Serra, o que, pelo menos por ora, está bem distante das cogitações do governador de São Paulo.

No momento sua preferência recai sobre o nome de Aécio.

Mas, como a cada dia a oposição enfrenta uma agonia, a preocupação central de Serra agora é saber como administrar o tempo até o anúncio oficial da candidatura.

Coisa que, apesar da aflição dos aliados, o governador continua disposto a fazer só no prazo originalmente previsto, fim de março, depois de inaugurar o Rodoanel, a linha nova do metrô e completar o prazo legal para a desincompatibilização do cargo.

A rigor, uma mera formalidade, já que o anúncio da "desistência" de Aécio torna desnecessário o ritual da escolha. Como desde o início estava posto, José Serra é o candidato.

Reforço

Antes mesmo de reformulada a redação da sentença do Supremo Tribunal Federal vinculando a decisão do presidente Luiz Inácio da Silva sobre a extradição de Cesare Battisti aos termos do tratado entre Brasil e Itália, o governo italiano já pretendia contestar o presidente no caso da manutenção de Battisti no Brasil.

O STF só deixou mais clara a situação. De todo modo o presidente da República é obrigado a se submeter ao tratado bilateral de extradição sob pena de o Brasil ser denunciado em tribunais internacionais e internamente acusado de crime de responsabilidade por descumprimento de lei federal.

A partir da publicação do acórdão do Supremo o presidente tem 40 dias de prazo (20 prorrogáveis por mais 20) para se pronunciar.

Agenda

Conforme o previsto, a Conferência Nacional de Comunicação virou, mexeu e chegou aonde queria chegar: à retomada da proposta de criação do Conselho Nacional de Jornalismo para dar ao Estado controle sobre as atividades da imprensa.

A boa notícia é que não há a menor chance de o plano prosperar para além das fronteiras do aparelho.

A má é a insistência na discussão do retrocesso. Dá trabalho, custa caro e desqualifica a democracia.

Herança

Descontados os prejuízos futuros contratados pela aprovação da entrada da Venezuela no Mercosul, o maior e único beneficiário é o presidente Lula, que pôde mostrar a Hugo Chávez que controla o Congresso.

Lula cria fatos consumados cujos custos serão mais cedo ou mais tarde cobrados ao País. Como acontece com o aumento dos gastos do poder público e a expansão do tamanho do Estado.

Ele deixa a Presidência no que vem a cavaleiro, pois para todos os efeitos os malefícios serão debitados na incapacidade administrativa e na inabilidade política do sucessor. Ou sucessora.

PAINEL DA FOLHA

Romaria

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09

Além da candidatura ao Senado, opção mais evidente, duas outras se abrem com o gesto de Aécio Neves, que ontem mobilizou toda a atenção do mundo político ao anunciar sua retirada da disputa presidencial.
No primeiro cenário, um coagido José Serra se intimida com o avanço de Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas, opta pela reeleição em São Paulo, e o PSDB vai a Minas pedir de joelhos que Aécio reconsidere.
No segundo, Serra permanece candidato ao Planalto, e o PSDB, ao final do primeiro semestre de 2010, vai a Minas pedir de joelhos que Aécio aceite ser vice -caminho para o qual estaria liberado depois de ter feito, agora, a "opção por Minas".

Esquece 1. Tanto quanto rejeita publicamente ser vice, Aécio contempla reservadamente a hipótese da desistência de Serra. Só que isso, sustenta um tucano que priva da intimidade do governador paulista, não vai acontecer.

Esquece 2. Da mesma forma, será inútil esperar por algum tipo de anúncio de Serra assumindo já a candidatura. Ele não poderá levar a novela até março, como gostaria, mas está firmemente disposto a mantê-la no ar ainda por várias semanas. Pelo menos.

Just in case. De Paulo Abi-Ackel, presidente do PSDB-MG: "Se porventura o Serra vier a concluir que a Presidência não é o melhor caminho, é lógico que o partido não ficará sem candidato".

Ser ou não ser. Do presidente do PTB, Roberto Jefferson, sobre o movimento de Aécio: "Xeque ao rei. Agora, o rei terá de dizer se é ou não é".

Não diga! À luz do anúncio de ontem, um grande empresário se lembrou de que, dias atrás, um ministro de Lula tentava por todos os meios convencê-lo de que era iminente a desistência... de Serra.

Spinning. Segundo o relato mais repetido por petistas, o clima entre Serra e Aécio seria o pior possível. Numa outra versão, um pouco menos interessada, a conversa telefônica da tarde de ontem rolou razoavelmente bem, consideradas as circunstâncias.

Por que agora? Os mais próximos de Aécio apontam a "questão mineira" como elemento precipitador do gesto que o governador havia sinalizado fazer em janeiro. A pressão para que ele tomasse um rumo estaria muito grande.

Vai e volta. Do deputado Henrique Eduardo Alves (RN), expoente do PMDB aecista: "No futebol, Aécio apenas engana. Mas no bumerangue ele é bom mesmo".

Estamos aí. Ainda na manhã de ontem, sem saber do que viria a seguir, o presidente do PDT, Carlos Lupi, fez nova visita a Aécio para reiterar que o partido, hoje na base de Lula, poderia segui-lo numa candidatura ao Planalto.

Férias. A segurança presidencial deu início à preparação da Base Naval de Aratu, na Bahia, para receber Lula no feriado de Ano Novo.

Abafa. Técnicos do Orçamento da Câmara Distrital afirmam que, desde o início do governo Arruda, nunca o Siggo (sistema de acompanhamento de gastos do DF) ficou tanto tempo e com tanta frequência fora do ar. Ontem, foram mais de oito horas.

Outro lado. A Paulo Octávio Investimentos Imobiliários diz que a Erguisa mente ao informar em seu site ser parceira da empresa do vice em obras no Distrito Federal. A PF achou, junto de pacote de Sedex com dinheiro, dados bancários da Erguisa e informações sobre seus sócios.

Visita à Folha. Wanda Engel, superintendente-executiva do Instituto Unibanco, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Carlos Vieira, assessor de imprensa.

com SÍLVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

O Brasil chegou a Copenhague como protagonista e, sob o comando da ministra Dilma, que não estava preparada, teve uma participação desastrosa.

Do deputado EDSON DUARTE (BA), líder da bancada federal do PV, sobre a atuação do governo na conferência do clima.

Contraponto

Fora da pista

Em reunião da CCJ da Câmara na terça-feira, o presidente da comissão, Tadeu Filippelli (PMDB-DF), cometeu uma gafe ao chamar Roberto Magalhães (DEM-PE) de Roberto Santos, governador da Bahia na década de 70.
-O senhor me desculpe, mas não sou Santos nem Campos!- respondeu Magalhães, fazendo-se de bravo.
-Esse tipo de engano só acontece com Vossa Excelência- respondeu Filippelli, pedindo desculpas.
Colbert Martins (PMDB-BA) meteu a colher:
-Me desculpe, mas isso não é verdade. O senhor troca tanto os nomes que dias atrás chamou o Régis de Oliveira (PSC-SP) de Régis Bittencourt!

NELSON MOTTA

Urubu ou faisão?


O Globo - 18/12/2009
O Brasil precisa decidir: se é mesmo uma potência emergente, o fenômeno econômico do momento, o último a entrar e o primeiro a sair da crise, se tem todo esse pré-sal para explorar, se quer falar de igual para igual com os gringos de olhos azuis, na hora de contribuir para o Fundo Ambiental tem que estar disposto a fazer um aporte de acordo com sua riqueza e poder - e não continuar no bloco das vítimas e oprimidos.

Temos que escolher: ou somos os novos salvadores da humanidade com nosso etanol, nossa superprodução de energia limpa e renovável, sustentável e admirável, ou somos os árabes do futuro com nossas reservas de petróleo no pré-sal - e a certeza de sua poluição massiva. As duas opções ao mesmo tempo não dá, mesmo que Lula se diga uma metamorfose ambulante, gringo não entende o humor de Raul Seixas.

Não dá para, conforme a situação, o Brasil querer ser do G-12 ou do G-77, agir como potência ou como vítima. Lula pode ser o cara, mas na hora dos acordos que vão custar caro a seus contribuintes, os japoneses, americanos e europeus mostram por que eles são eles e nós somos nós.

A obsessão de colocar nádegas brasileiras na cadeira de membro (epa! nádegas de membro?, deve ser influência do estilo Lula de oratória) do Conselho de Segurança da ONU, além do aparente prestígio e ilusório poder - o que pode o Brasil contra um veto americano, chinês ou russo? - implica em um comportamento de potência, de rico, sempre chamado a dar dinheiro às nações carentes, e eventualmente até a enviar tropas para zonas de conflito. Sai caríssimo para os contribuintes.


Se não conseguimos resolver sequer a falta de esgoto, de água, de escolas e de hospitais para milhões de brasileiros, a corrupção endêmica e impune de nossos políticos, a criminalidade urbana galopante, o que temos a oferecer aos pobres do mundo? Um Bolsa Família pago pelos contribuintes dos países ricos? Ricos como nós ou como eles? Mas não foram eles que se ferraram com a crise? Não fomos nós que nos demos bem? Fica parecendo que o Brasil, em linguagem lulista, come urubu e arrota faisão. Ou vice versa.

AUGUSTO NUNES

O vilão escapou do xerife e amordaçou o perigo


VEJA ON-LINE -18 de dezembro de 2009

“Estamos terminando o ano brilhantemente”, começou José Sarney a despedir-se do ano que vai terminar com um caso de polícia presidindo o o Senado e um jornal algemado pela censura prévia. Caso se limitasse a escapar do xerife, já teria sido um ano e tanto: mesmo para os padrões do paraíso da bandidagem impune, o aluvião de patifarias passou da conta. Pois Sarney não se limitou a livrar-se da lei. Também amordaçou o perigo.

Há quase 150 dias, censurado por um desembargador amigo que atendeu ao pedido do primogênito Fernando, o Estadão está proibido de revelar as patifarias comprovadamente cometidas pelo bando liderado pelo velho pai-da-pátria. Como manteve a coluna naFolha, Sarney transformou-se no primeiro censor da história que, além de silenciar um grande jornal, publica artigos semanais no concorrente. Há dias, os leitores souberam que anda indignado com as dimensões amazônicas da tribo dos corruptos. É o Brasil.

Nestes 12 meses, não faltaram sustos ou sobressaltos, nem pancadas doloridas, e em certos momentos assaltou-o a sensação de que o final infeliz se aproximava. Deve ter achado constrangedora a revelação de que os parceiros mais íntimos o chamam de Madre Superiora. Pareceu-lhe um despropósito tanto o cartão vermelho apresentado por Eduardo Suplicy quanto o discurso de Pedro Simon providencialmente inibido por aquele olhar de Fernando Collor. Mas tudo isso agora é pouco relevante. O triunfo reduz o tamanho das batalhas perdidas.

Merecem muito mais espaço na memória a volta da filha Roseana ao governo maranhense, ou as reverências com que o contemplaram os chefes dos outros poderes. O presidente da República, na hora difícil, promoveu-o a Homem Incomum. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ao ratificar a censura imposta aoEstadão, deixou claro que a privacidade e a honra do presidente do Senado valem mais que a imprensa livre e o direito à informação.

Graças à cumplicidade ativa desses parceiros de grosso calibre, um maranhense octogenário conseguiu a façanha memorável: o país que não prende nenhum cliente de advogados caros resolveu enjaular a liberdade de expressão. O ano de Sarney ficou mais luminoso. A face escura do Brasil ficou ainda mais sombria.

MERVAL PEREIRA

Fumaça branca

O GLOBO - 18/12/09


Agora que está definido, pelo menos até março, que o candidato do PSDB à Presidência da República é mesmo o governador de São Paulo, José Serra, as negociações políticas para armar os palanques regionais e as coligações nacionais poderão ser feitas por ele sem qualquer constrangimento, a não ser os legais. “Agora é Dilma contra Serra”, anunciou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra. Os tucanos terão que testar para valer a atratividade que seu palanque provoca nos partidos que ainda estão na base do governo.

Tomando-se como parâmetro as atuações do presidente Lula e de sua candidata Dilma Rousseff, os limites para a ação de um pré-candidato estão cada vez mais ampliados, e não seria razoável o TSE exigir do précandidato oposicionista um comportamento menos explícito do que o da candidata do governo.

Ficará ao discernimento do próprio Serra a desenvoltura com que se comportará daqui para adiante, e, se mantiver uma postura mais comedida que sua adversária, será apenas por estilo e conveniência política, para marcar a diferença contra o que podem ser considerados abusos do governo no uso da máquina pública a favor de sua candidata.

Ontem mesmo o presidente Lula falou abertamente em Copenhague sobre a candidatura de Dilma, dizendo que ela vencerá a eleição de 2010 porque tem “grande qualidade”, e disse que o trabalho da oposição será muito difícil devido às grandes obras de seu governo, coordenadas por ela.

Fez lá o que faz aqui quase diariamente, andando de cima para baixo com Dilma debaixo de sua asa, sem que o tribunal considere que as leis eleitorais estão sendo burladas.

O governador Serra já estava deixando a cautela de lado para comparecer a programas populares televisivos, e agora poderá intensificar seus encontros políticos sem causar atritos com Aécio.

O governador de Minas, por sua vez, continua sendo uma peça chave para a sucessão presidencial, dependendo de sua influência no estado o sucesso de uma candidatura tucana à Presidência da República.

Nas duas eleições em que disputou o governo de Minas, Aécio venceu no primeiro turno, sendo que na reeleição em 2006 venceu com impressionantes 77% dos votos.

Os candidatos tucanos à Presidência da República não tiveram, no entanto, a mesma contrapartida. Em 2002, quando Aécio venceu com 57,7% dos votos, o candidato Serra teve apenas 22,9%, e, em 2006, Alckmin teve 40,6%.

Em 2002, Serra ainda teve candidatos fortes em Minas, como Garotinho, que teve 14,4%, e Ciro Gomes, com 9,2%. Em 2006, nem isso: Heloisa Helena teve 5,7% e Cristovam Buarque teve 2,7%.

O aumento da votação do candidato tucano na última eleição presidencial teve mais correspondência com a fraqueza eleitoral de seus adversários do que propriamente com o aumento de transferência de votos do governador Aécio Neves. Lula teve o mesmo nível de votação: 53% em 2002 e 50,8 em 2006.

Se a situação atual é mais favorável, pois Dilma não é Lula, há uma diferença fundamental: o candidato a governador não será mais Aécio, mas seu vice, Antônio Anastasia, o que demandará tanto ou mais esforço do governador quanto o que Lula está fazendo para tentar emplacar Dilma.

Ao mesmo tempo, o governador Aécio Neves não pode se descuidar da eleição mineira, não apenas em termos locais, mas também nacionais.

A candidata adversária, tendo nascida em Minas, pretende ressaltar essa característica na campanha eleitoral.

E o PT tem uma estrutura forte no estado e dois candidatos importantes: o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, “o pai” da Bolsa Família, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.

Há ainda a presença forte do PMDB no estado, com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, liderando as pesquisas para o governo.

Mesmo tendo a eleição para o Senado garantida, de nada servirá a Aécio ser um senador de uma bancada minoritária e fraca, com o PT governando o país e seu estado ao mesmo tempo.

Mesmo elegendo o governador, se a candidata oficial vencer a eleição, com votação forte em Minas, o senador Aécio ficará enfraquecido em Brasília, e o Senado deverá continuar sendo presidido pelo PMDB.

Mas a carta de desistência de Aécio tem alguns trechos significativos e, sobretudo, coisas que não foram escritas por razões políticas importantes.

Ele não se referiu a Serra como o candidato natural, embora tenha dado entrevistas dizendo que resolveu antecipar sua decisão por que sentia uma tendência a favor do governador paulista, devido à sua liderança nas pesquisas.

Com isso, deixa aberta a possibilidade de vir a ser o escolhido em março, caso o governador paulista desista de concorrer.

Mas Aécio também não escreveu que não aceitará ser vice-presidente na chapa tucana, embora afirme isso em entrevistas. Poderia tê-lo feito, e aí estaria colocando um obstáculo sério a uma mudança de posição.

As duas situações estão abordadas em trechos da carta.

Quando ele escreve que, apesar de desistir da pré-candidatura, não abandona as convicções e disposição “para colaborar com meu esforço e minha lealdade para a construção das bandeiras da social democracia brasileira”, está se colocando à disposição do partido, o que pode significar que aceitaria ser chamado novamente para disputar a Presidência, ou que pode vir a aceitar compor a chapa como vice-presidente.

Ou simplesmente garantindo que dará o apoio necessário para que o candidato do partido tenha uma boa votação em Minas.

O fato é que a escolha do candidato tucano desta vez está sendo feita aparentemente sem grandes atritos, e a situação política ficou mais clara para a oposição.

Serra estará exposto a chuvas e trovoadas (com trocadilho e tudo) a partir de agora, mesmo à sua revelia.

ANCELMO GÓIS

Revolta dos bacanas

O GLOBO - 18/12/09


Tem executivo querendo questionar na Justiça a Instrução nº 480 da CVM, do último dia 7. É que, a partir de 2010, empresas de capital aberto serão obrigadas a informar o maior e o menor salário na diretoria e no conselho de administração.
Empresas como Bradesco e Embraer, por exemplo, não são obrigadas a revelar nomes. Mas é natural supor que o maior salário é sempre o do presidente.

SEGUE...
A SEC (a CVM americana) exige este tipo de informação.
Mas alguns nativos acham que a situação brasileira é diferente, por motivo de segurança. É. Pode ser.
COISA CHIQUE
A Ralph Lauren vai abrir sua primeira loja no Brasil, em março, na Daslu, em São Paulo.
COMO EU IA DIZENDO
A Rede D’Or, praticamente, fechou ontem a compra do Hospital Samaritano, em Botafogo.
O FUTURO DE SEAN
Mesmo com a decisão do ministro Marco Aurélio Mello de impedir que o menino Sean Goldman retorne já aos EUA, a tendência do STF é, no fim, segundo fonte do tribunal, dar ganho de causa ao pai americano.
A conferir.
DANÇA DAS CADEIRAS
O troca-troca é intenso no Itamaraty neste fim de ano.
Mário Vilalva será embaixador em Lisboa. Para seu lugar, em Santiago, vai Frederico Araújo, que deixa La Paz para a entrada de Marcel Biato.
‘LATTE VERSATO’
Chico Buarque se dedica estes dias a rever pessoalmente a tradução italiana de seu livro Leite derramado, que será lançado lá em janeiro.
Na ditadura militar, o compositor viveu em Roma por 15 meses, entre 1969 e 1970.
OS FAMÉLICOS
Na muvuca em que se transformou esta reunião do clima em Copenhague, os ministros Dilma Rousseff e Carlos Minc disputaram migalha por migalha um sanduíche de frango, com gosto de plástico, vendido por lá. Minc reclamou:
– Vanda, você é fominha.
É QUE...
Vanda era um dos codinomes de Dilma na ditadura.
FAZ SENTIDO
O mensaleiro José Roberto Arruda tinha viagem ontem para Copenhague. A notícia chegou a sair em vários sites (inclusive, na Agência Brasil, do governo). Desistiu na hora H. Talvez alertado por um bom samaritano de que iria dar razão a Hamlet, de Shakespeare, quando disse:
– Há algo de podre no reino da Dinamarca.
A LADRA DO PIRAQUÊ
Quarta, uma mãe brincava com a filha de 6 meses no parque do Clube Piraquê, na Lagoa, quando olhou para o lado e...
Acredite. Tinham levado sua bolsa e até o... carrinho de bebê. Graças ao novo sistema de segurança, com câmeras, a ladra, que seria sócia, já foi identificada.
BIRA PRESIDENTE
A Banda do Mercado, que anima o carnaval no Centro do Rio, homenageará em 2010 um dos fundadores do Cacique de Ramos e do grupo Fundo de Quintal, Bira Presidente. Merece.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE

A cerveja: bebendo gato por lebre

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09

É inexplicável que sejam tão omissas as autoridades brasileiras quando se trata da bebida nacional mais popular e de maior consumo

O BRASIL é o quarto maior produtor de cerveja, com pouco mais de 10 bilhões de litros por ano. A China é o maior de todos, com 35 bilhões, e os EUA são o segundo, com 24 bilhões. A Alemanha vem em terceiro, com uma produção apenas 5% maior que a brasileira.
Segundo norma autorregulatória da indústria cervejeira alemã, a cerveja é composta única e exclusivamente por apenas três elementos, cevada, lúpulo e água, tendo como interveniente um fermento. Tradicionalmente, o termo malte designa única e precisamente a cevada germinada.
O malte pode substituir a cevada total ou parcialmente. A malandragem começa aqui. Com frequência, lê-se em rótulos de cervejas a expressão "cereais maltados" ou simplesmente "malte", dissimulando assim a natureza do ingrediente principal na composição da bebida.
Com a aplicação desse termo a qualquer cereal germinado, a indústria cervejeira pode optar por cereais mais baratos, ocultando essa opção.
O poder da indústria cervejeira no Brasil (lobby, tráfico de influência etc.) deve ser imenso. Basta lembrar que convenceram as autoridades (in)competentes nacionais de que não estavam violentando normas que regulam a formação de monopólios ao agregar Brahma e Antártica -o que constituiria então cerca de 70% do consumo nacional- com o argumento de que só assim poderiam concorrer no mercado globalizado. Mas depois foram gostosamente absorvidas por uma multinacional do ramo, certamente uma forma sutil de realizar a concorrência prometida. E não foi tomada nenhuma providência.
Aliás, sempre que aparecia no cenário uma empresa nascente que, pela qualidade, pudesse despertar no brasileiro uma eventual discriminação quanto ao sabor, era ela acuada por todos os meios possíveis e finalmente absorvida, e sua produção, reduzida ao mesmo nível da mediocridade dos produtos das duas gigantes.
Aparentemente, o receio era o de que a população cervejeira, ao ser exposta a diferentes e mais sofisticados exemplos, desenvolvesse algum bom gosto e, consequentemente, passasse a demandar cerveja de qualidade.
A cerveja brasileira (com pequenas e honrosas exceções) é como pão de forma: mata a sede, mas não satisfaz o paladar exigente.
Para esclarecer a questão da má qualidade da cerveja brasileira, vamos fazer alguns cálculos.
A produção nacional de cevada tem ficado nos últimos anos entre 200 mil e 250 mil toneladas, das quais entre 60% e 80% são aproveitados pela indústria cervejeira. Essa produção agrícola tem sido suplementada por importação de quantidade equivalente. Em média, portanto, cerca de 400 mil toneladas de cevada são consumidas na indústria da cerveja no Brasil, presumindo-se que quase toda a importação tenha essa finalidade.
O índice de conversão entre a cevada e o álcool é, em média, de 220 litros por tonelada. Como as cervejas brasileiras têm um teor de álcool de 5%, podemos concluir que seria necessário que houvesse pelo menos seis vezes a quantidade de cevada hoje disponível para a indústria nacional da cerveja. Portanto, a menos que um fenômeno semelhante àquele do "milagre da multiplicação dos pães" esteja ocorrendo, o álcool proveniente da cevada na cerveja brasileira representa cerca de 15% do total.
Há pouco mais de duas décadas foi publicado um relatório de uma tradicional instituição científica do Estado de São Paulo segundo o qual análises de cervejas brasileiras mostravam que um pouco menos que 50% do conteúdo da bebida era proveniente de milho (obviamente sem considerar a água contida).
Como o índice de conversão de grão em álcool para o milho é 80% maior que para a cevada, podemos considerar que a conclusão do relatório em questão atua como álibi, pois satisfaria normas vigentes. Isso também explica a preferência dos produtores de cerveja pelo milho, pois os preços da tonelada dos dois cereais são aproximadamente os mesmos, apesar de consideráveis oscilações.
Esses números permitem, todavia, concluir que o milho (e outros eventuais cereais que não a cevada) constitui, em peso, quase três quartos da matéria-prima da cerveja brasileira, revelando sua vocação para homogeneização e crescente vulgaridade.
Outro determinante da baixa qualidade da cerveja brasileira é a adição de aditivos químicos para a conservação. O mal não está só nessa condição, mas na sua necessidade. O lúpulo em cervejas de qualidade, sejam "lagers", sejam "ales", é o componente responsável pela conservação -além, obviamente, de suas qualidades de paladar.
Depreende-se daí que os concentrados de lúpulo usados na cerveja brasileira são de baixa qualidade. O que é inexplicável e de lamentar, entretanto, é que as autoridades brasileiras, tão zelosas para com alimentos corriqueiros, sejam tão omissas quando se trata da bebida nacional mais popular e de maior consumo e permitam que o cidadão brasileiro beba gato por lebre.

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE , 78, físico, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), presidente do Conselho de Administração da ABTLuS (Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncrotron) e membro do Conselho Editorial da Folha

ARI CUNHA

Trem na W3

CORREIO BRAZILIENSE - 18/12/09


A reclamação que se ouve é de que cortarão árvores adultas. Na Europa e no Oriente Médio, o assunto é desagradável. Em Brasília, você pega qualquer muda e ela cresce, fica adulta. Lembramos que certa vez o então chefe do Departamento de Parques e Jardins, dr. Francisco Ozanan Coelho, estava preparando o plantio da entrada para a Ponte JK. Eram muitos trevos e entradas largas. A essa altura, o Ibama obrigou a plantação de 500 árvores do cerrado. Ao assinar o compromisso, dr Ozanan fez um adendo. Se o tempo deixar, plantaremos mais. A ponte foi inaugurada com 20 mil árvores do cerrado. O primeiro Horto Florestal da Novacap ainda hoje possui canteiros com árvores nativas do cerrado.


A frase que não foi pronunciada

”Eu não sou contra nem a favor, muito pelo contrário!”
Presidente Lula, pensando no caso Battisti.



Administração
Enquanto o mundo sofre com o aquecimento, as administrações mudam de rumo. Para a vida nova do universo, estão sendo formadas empresas que se preocupam com a modernidade. Essas companhias estão recrutando gente de todos os países com capacidade para apreender o sentido da nova vida.

Câmara distrital
“A Câmara está como corda de caranguejo. Soltando, vai cada um para lado diferente”, como dizia o filósofo de Mondubim. Para resolver caso urgente, a barriga de quase todos os legisladores empurra para a frente. É difícil qualquer solução. Melhor é deixar passar o ano-novo.

Inferno
Tema de discursos em todas as esferas do poder, o crack virou caso de saúde pública. Pais, educadores, imprensa e gestores públicos vão ser multiplicadores das informações voltadas aos jovens até 30 anos. A ideia do governo também é criar consultórios intinerantes para atender aos consumidores das drogas. Muitos deles afirmam que se tivessem como sair do inferno, sairiam.

Delta Air Lines
Voos entre Atlanta e Brasília serão diários. Por enquanto, de Brasília para lá são três vezes por semana. A viagem reduz o tempo de voo a menos de 9 horas, com conexões diversas. Isso, sem necessidade de o passageiro voar para Rio e São Paulo, sujeito a todas as condições desfavoráveis de acomodação.

Segredo legislativo
Com 650 artigos, o assunto é sigiloso. Senadores receberam o impresso e vão esperar o começo do ano para votação. A reforma em si foi aceita. Falta o comparecimento dos senadores. Mesmo antes da decisão, o Senado abriu as portas para a votação. Com isso, projetos presos foram abertos e votados. A cota quase limpou tudo para comemorar o fim do ano.

Dúvidas
Câmara, Senado, TCU e tribunais de contas estaduais integrados para fiscalizar os gastos da Copa de 2014. São quase R$ 130 bilhões separados para as obras e pagamentos diversos. O Portal da Transparência, do Executivo, também vai divulgar as informações. O que o contribuinte vai pagar para ver é o planejamento antecipado com cronograma de atividades dentro do prazo, além dos valores e da destinação.

Novidade
Passa pela aprovação dos senadores decreto legislativo acordado entre os Estados Unidos e o Brasil para ampliar a validade do visto no passaporte: turismo ou negócios, por 10 anos.

Mico dourado
Mais do que dinheiro é necessário para um país enfrentar o aquecimento global. A primeira coisa seria o governo ter um pensamento unificado. Copenhague assistiu ao vexame brasileiro com estrelas demais, comitiva gigantesca e ideias de menos.

Ecad
Organismo encarregado legalmente de cobrar produções artísticas e direito autoral termina o ano com mensagem. Uma delas ao bloguista. Publica depoimentos de artistas e autoridades emitindo pensamento sobre suas atividades. Da lista fazem parte Carlinhos Lyra, Danilo Caymmi, Djavan, Fernando Brant, Marcelo Crivella, Walter Franco e Leandro Lehart.


História de Brasília

Está sendo motivo para muitos comentários, entre os funcionários transferidos, a suspensão, de ordem do sr. Jânio Quadros, da “dobradinha”, que foi prorrogada por mais um ano. (Publicado em 19/2/1961)

ELIANE CANTANHÊDE

Irmãos siameses

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09



BRASÍLIA - José Serra é, obviamente, o maior beneficiário da desistência de Aécio Neves em concorrer à Presidência. Mas ele não gostou. Ou, pelo menos, não gostou do "timing". Quando Aécio telefonou para comunicar a decisão, Serra pediu que adiasse qualquer movimento para janeiro, pelo menos. Aécio não lhe deu ouvidos.
Serra se vê empurrado para uma candidatura que considera prematura e para a discussão sobre o vice -que não soma, divide. E Aécio cai no turbilhão de afagos e pressões para ser vice. O PPS nunca reivindicou a vaga, o DEM abre mão para Aécio, e o PSDB não criou alternativas. É Aécio ou Aécio.
Quem conversou ontem com "aecistas" mineiros ouviu que ele não aceita "de jeito nenhum". Mas quem consultou os demais tucanos e seus aliados teve certeza do oposto: Aécio vai alimentar a angústia e curtir a sua condição de homem mais paparicado do país, até acabar docemente convencido. Não agora, mais adiante.
O governo tem um presidente com 80% de popularidade, um discurso consistente, recursos poderosos e favoritismo no Norte e no Nordeste. Já a oposição tem a chance de ouro de juntar São Paulo e Minas, que abrigam em torno de um terço do eleitorado do país e onde Serra e principalmente Aécio têm forte popularidade.
Aécio, que não fez uma única referência a Serra na sua carta de despedida da candidatura, jura que quer disputar o Senado e concentrar esforços em Minas. Mas pense bem: o que ele lucra se Dilma vencer e o PT ficar mais 12 anos no poder? Vai ficar sentado na bancada de oposição, esperando para bater de frente com Lula em 2014?
Neste momento, Serra está emburrado, e Aécio, ressentido. Mas, queiram ou não os dois, Serra precisa de Aécio e Aécio precisa de Serra. Ou bem emergem juntos, ou correm o risco de ir para o beleléu, arrastando o PSDB e seus aliados com eles e com suas picuinhas.

RUY CASTRO

Seguidores de Rasputin


FOLHA DE SÃO PAULO - 18/12/09

Pode-se não saber quem foi Gogol ou Tchecov, dois escritores russos pré-1917, mas não há quem não tenha ouvido falar de Rasputin. Grigori Rasputin. Era um homem fascinante, meio monge, meio charlatão, cujo poder sobre o czar Nicolau 2º e família o levou a ser assassinado em dezembro de 1916, aos 47 anos, pouco antes da queda do próprio czarismo.

Na Rússia daquele tempo, não faltava quem quisesse apagar Rasputin. Em 1914, à saída de uma igreja, ele foi atacado por uma prostituta contratada por um inimigo. Ela lhe cravou uma faca no abdômen e girou. Rasputin caiu, olhos esbugalhados e tripas para fora. A mulher se deu por satisfeita e largou a arma. Mas Rasputin foi levado, submetido a uma cirurgia e sobreviveu.

Dois anos depois, um conde, um grão-duque e um extremista de direita o atraíram para uma adega, onde lhe serviram bolos e vinho tinto enriquecidos com cianureto. O veneno – “capaz de matar cinco homens”, dir-se-ia depois – pareceu não afetá-lo. O conde, para se garantir, disparou contra Rasputin, que caiu. Quando o homem se abaixou para examiná-lo, Rasputin, assustadoramente vivo, agarrou-o e tentou estrangulá-lo.

Os outros dois lhe deram mais três tiros, um deles na cabeça, e Rasputin caiu de novo. Ao ver que ainda se debatia, bateram-lhe de porrete até desmaiá-lo e, por sadismo, castraram-no ali mesmo, a golpe de sabre. Depois o amarraram, enrolaram-no num tapete e o jogaram no gelado rio Neva. Foram embora e não viram quando Rasputin se livrou das amarras e do tapete, mas não conseguiu romper a camada de gelo. Segundo a autópsia, morreu afogado. Isso é que é apego à matéria. Mas pense em outros sobreviventes ilustres, como José Roberto Arruda, José Dirceu, Delúbio Soares, Fernando Collor ou José Sarney. Junto deles, Rasputin era amador.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Isso melhora muito e cria um ambiente positivo para o Ciro”
SENADOR RENATO CASAGRANDE (PSB-ES), APÓS AÉCIO NEVES DESISTIR DA CANDIDATURA A PRESIDENTE.

TURISMO: CÚPULA DO MINISTÉRIO SOB INVESTIGAÇÃO
O secretário nacional de Políticas, Airton Pereira, está entre os integrantes da cúpula do Ministério do Turismo investigados por suposto desvio de recursos para eventos, custeados por emendas parlamentares. Pereira é quem comanda os recursos e até a escolha das empresas de eventos que produzem essas festas, realizadas em municípios. Somente este ano já foram gastos R$ 250 milhões em 1.500 eventos.
PENTE FINO
Uma varredura da Controladoria-Geral da União investiga suposto superfaturamento e eventos que, financiados, nem sequer ocorreram.
NA MIRA
A investigação mira também deputados federais que destinaram suas emendas para a área de eventos e empresas do setor, como a Dialog.
PULVERIZAÇÃO
Os R$ 250 milhões do Ministério do Turismo foram pulverizados no financiamento de eventos que custam, no máximo, R$ 1,2 milhão.
PENSANDO BEM...
...a ministra Dilma entende tanto de aquecimento global, quanto Bento 16 de sexo, drogas e rock and roll.
DF GASTOU R$ 65 MILHÕES COM FESTAS, EM 2009
O governo do Distrito Federal gastou R$ 65 milhões em 2009 com festas e homenagens. O montante é quase o triplo do que foi aplicado em 2008, quando despesas com eventos do gênero consumiram R$ 26,1 milhões. Segundo dados do Sistema Integrado de Gestão Governamental (Siggo), aos quais esta coluna teve acesso, a maior parte do dinheiro foi destinada à celebração dos 50 anos de Brasília.
NINGUÉM MERECE
Seguidores do terrorista Cesare Battisti pressionam Lula para conceder asilo ao bandido antes do Natal. E o pior é que há chances.
NOSSA GRANA
A Imprensa Nacional, que imprime os Diários Oficiais, contratou por R$ 3,6 mil um “agente de integração” para atuar junto aos funcionários.
EM FAMÍLIA
Com o apoio da mulher, a prefeita de Natal, Micarla Sousa (PV), Miguel Weber será candidato a deputado federal, em 2010.
AÉCIO CONTINUA NO PÁREO
A desistência de Aécio Neves coincide com seu rápido crescimento nas pesquisas para presidente, daí a surpresa. Mas em política as coisas nunca são o que parecem. Esse movimento de peça, no xadrez, deve provocar o contrário: fortalecimento da candidatura do tucano mineiro.
O CERTO E O DUVIDOSO
A candidatura a presidente pelo PSDB se aproxima de Aécio Neves à medida em que José Serra cai para perto dos 30%, como tem ocorrido. Para vencer Dilma, Lula & Cia, Serra precisa de mais, muito mais. Para continuar governador paulista, precisa de muito menos. Quase nada.
PRIMEIRO A SABER
A anunciada desistência de Aécio foi comunicada por ele mesmo ao governador paulista José Serra, em telefonema a Copenhague. Serra ficou confuso, balbuciou qualquer coisa e desligou o telefone.
INEVITÁVEL
Da morte, dos impostos e do PT ninguém escapa: o partido elegeu nova representante em Boston, EUA, na eleição de novos dirigentes. De olho numa futura eleição de deputado federal dos imigrantes.
O ABUSO CONTINUA
Passagem Salvador-Rio-Salvador, emitida há dois meses para o fim do ano, no valor de R$ 650, teve de ser cancelada por motivo de doença. Pois a GOL cobrou multa de R$ 50 e mais 20% do valor. E só devolverá o dinheiro em 45 dias. A Anac, claro, finge-se de morta.
CANHÕES E MANTEIGA
Em 2010, o Ministério da Defesa terá um grupo de trabalho para “avaliação do panorama estratégico global”. Diz que o Brasil não tem posição consolidada nas questões de segurança internacional.
FILHOS DO BRASIL
Dois meninos brasileiros concentraram a atenção da imprensa mundial ontem: Sean Goldman, 9, na iminência de voltar aos EUA, e o menino baiano de dois anos com 50 agulhas no corpo enfiadas pelo padrasto.
MALUF DAS ÍNDIAS
Paulo Maluf, do “estupra, mas não mata”, tem seguidor na Índia. Um político local culpou mulheres sozinhas de madrugada, nas ruas, por possíveis estupros, diz o jornal inglês Independent. A gritaria foi geral.
PERGUNTAR NÃO POLUI
Quando, afinal, começaremos a pagar o imposto antipum?

PODER SEM PUDOR
CONVERSA DE BÊBADO
Ronaldo Cunha Lima, poeta e boêmio, era candidato ao Senado, em 1994, quando um debate de que participava, em São João do Rio do Peixe (PB), foi interrompido pelo bate-boca de dois bêbados. “Ele me conhece!”, dizia um. “Não conhece!”, dizia o outro. “É comigo”, pensou Ronaldo. Era mesmo:
– Você me conhece? – gritou o primeiro bêbado para Cunha Lima.
– Conheço.
– De onde?
– Do bar, ora.
O bêbado se virou então para o outro, com ar vitorioso:
– Viu como ele me conhece?.