domingo, setembro 13, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

Saquarema x Mangaratiba


JORNAL DO BRASIL - 13/09/09

Pelo futebol que vêm apresentando, Botafogo e Fluminense deveriam entrar em campo hoje vestindo a camisa dessas aprazíveis localidades onde foram se refugiar da ira das torcidas. Saquarema versus Mangaratiba está muito mais de acordo para um clássico do rebaixamento.

Na casa de apostas há um ligeiro favoritismo para o Fluminense. Primeiro porque o jogo é na casa do Botafogo, onde o time se comporta como se estivesse na casa dos outros.

Tenho tentado decifrar esse mistério.

Às vezes penso que o time sofre de inibição diante de sua torcida. O Botafogo, como todos sabem, é um time especial, tímido, sensível, supersticioso, que não aguenta ouvir uma vaia. Talvez preferisse jogar com os portões do Engenhão fechados.

Ou quem sabe não faz uma campanha pedindo ao torcedor para não comparecer ao estádio? Outra vantagem do Fluminense é a presença de Cuca, que conhece a maioria dos jogadores do Botafogo enquanto Estevam Soares não conhece os jogadores do Fluminense, nem do Botafogo, ou não estaria escalando Fahel ou Thiaguinho. O treinador continua virgem em General Severiano, sem vencer há oito jogos. No entanto o fato de Cuca conhecer os jogadores alvinegros pode beneficiar o Botafogo. Basta que Estevam peça a esses jogadores que – para surpreender o adversário – mudem o jeito de jogar.

É disso, afinal, que o Botafogo está precisando! Que o time jogue de uma forma diferente da que vem jogando, antes que a queda se torne iminente. Cuca, do outro lado, pode ser um bom pretexto para o Botafogo mostrar algo de novo (pelo amor de Deus!).

Apesar do favoritismo do Fluminense, na casa de apostas botei uns trocados no empate e cravei 1 a 1. Lembrei que na adolescência houve uma rodada do Campeonato Carioca em que todos os seis jogos terminaram em 1 a 1. O clássico – que ainda não era vovô – foi entre Botafogo e Fluminense.

De lá para cá houve um catupilhão de empates de 1 a 1 entre os dois. De vez em quando um dos times esquece de marcar e o outro vence por 1 a 0 , como aconteceu no turno do Brasileirão, quando o Botafogo parou de jogar antes de terminar a partida e o Fluminense venceu com um gol do Fred – lembram dele? – ao apagar das luzes do estádio (as luzes do Botafogo já haviam apagado antes).

O Botafogo, porém, pode surpreender, permitindo ao seu treinador botar o sono em dia. O Botafogo não é melhor nem pior do que a maioria dos adversários do Brasileirão. Como o Salgueiro, é apenas um time diferente. Não sei o que aconteceu durante a semana em Saquarema, mas ouvi dizer que alguns vizinhos do centro de treinamento se sentiram incomodados com os gritos do Estevam. Vamos ver se logo mais esse berreiro vai sacudir aquele time silencioso. Meu medo é que, caso vença, o supersticioso Botafogo queira transferir sua sede para Saquarema.

BRASÍLIA - DF

Lula surfa a marolinha

Por Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 13/09/09



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu na prancha. Recebeu informações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que o crescimento em 2010 deve chegar a 4,5%. Do ministro da Fazenda, Guido Mantega, veio a previsão de que serão gerados de 800 mil a 1 milhão de empregos até o fim do ano. Além disso, lidera a recuperação mundial com 1,9% de crescimento do PIB no trimestre. Foi o bastante para Lula proclamar que, graças aos pobres, a crise entre nós já passou. O Brasil virou potência mundial.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, as projeções econômicas funcionaram como anabolizante para a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), que refluiu alguns pontos depois do bate-boca com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira. Na defensiva desde a instalação da CPI da Petrobras, para a qual Dilma quase foi arrastada por causa da demissão de Lina, agora o governo partiu pra cima da oposição. O lançamento do pré-sal foi só começo. Lula vai chamar os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) para a briga em todas as frentes.

Janela

Antes de anunciar um vencedor definitivo do programa F-X2 da Força Aérea, o governo debaterá as propostas em duas instâncias: o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — o Conselhão, em caráter consultivo; e o Conselho Nacional de Segurança, do qual fazem parte os presidentes da Câmara e do Senado, para bater o martelo. A posição de Lula é francamente favorável aos jatos Rafale, mas os franceses terão que baixar muito os preços e comprar 10 aviões de transporte militar KC-390, um projeto em desenvolvimento pela Embraer, que construirá o Rafale em parceria com a Dassault se o acordo for consumado. Com isso, o Brasil daria um novo salto tecnológico.


Debandada

A ruptura do PMDB com o governo do PT na Bahia deflagrou o troca-troca partidário nas legendas de sustentação do governo. O PR baiano deve perder os deputados federais Márcio Marinho e Maurício Trindade para o PP, que tenta ampliar seu apoio ao governador Jaques Wagner. Em eterno litígio com o senador César Borges, presidente estadual do PR, o deputado José Carlos Araújo também tem sua saída prevista.


Meus garotos

O deputado Jair Bolsonaro (RJ) filiou ao PP o filho caçula, Eduardo Bolsonaro, de 25 anos, em Brasília. Eduardo será candidato a deputado federal com a benção do presidente do PP-DF, o deputado distrital licenciado Benedito Domingos, atual administrador de Taguatinga. Completam o clã político os filhos Flávio, deputado estadual fluminense, e Carlos, vereador carioca, ambos do PP.


Azarão


Quem vai esperar mais um pouco é o advogado geral da União, José Antônio Dias Toffoli, cotado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Lula considera prematura a indicação, por uma questão de respeito aos familiares e amigos do falecido ministro Carlos Alberto Direito. Como a vaga reservada para Toffoli era a do ministro Eros Grau, que deve se aposentar em agosto de 2010, não será surpresa se Lula decidir segurá-lo mais um pouco no governo. Nesse caso, o mais cotado é o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
Cesar Asfor Rocha.


Alívio


O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (foto), já pode cabalar os votos para sacramentar sua indicação ao Tribunal de Contas da União (TCU). Se não ocorrer nenhum incêndio na base aliada, o presidente Lula deve enviar mensagem ao Congresso indicando-o para o cargo de ministro do TCU no decorrer esta semana.


Radar

Sem muito alarde, o governo incluiu no pacote do acordo com a França um novo sistema de monitoramento por satélite, que guarnecerá fronteiras terrestres e marítimas. Os equipamentos custarão US$ 2,7 bilhões



Munição/ A oposição ao governador cassado do Tocantins, Marcelo Miranda (PMDB), prepara uma devassa nas contas de sua administração. Empossado no governo, o ex-presidente da Assembleia Legislativa Carlos Gaguim (PMDB) liberou o acesso ao sistema de acompanhamento das contas do Executivo desde 2006. A ordem é desgastar a candidatura de Miranda ao Senado em 2010.

Sampa/ O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, inaugura amanhã, ao meio-dia, o Espaço Minas Gerais, em São Paulo. Será um centro de referência para empresas e executivos do país e do exterior, agentes e operadores de viagens. O objetivo é revelar oportunidades de negócios e potencialidades econômicas, turísticas e culturais de Minas.

Guia/Pela primeira vez, o centenário Guia Verde Michelin é dedicado à América do Sul, no caso, ao Rio de Janeiro. Com a presença do governador Sérgio Cabral, será lançado na terça-feira, em Paris. Além da Cidade Maravilhosa, as dicas de passeios, tesouros arquitetônicos e históricos, restaurantes e hotéis incluirão Niterói, Búzios, Paraty, Ilha Grande, Petrópolis e Vale do Café.


Zignal

O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz teve uma conversa com o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF). Foi pedir um encontro com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), candidato a presidente da República. Sem espaço na política local, procura o eixo na política nacional.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Um PIB de ferro, China e consumo

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/09


FAZ CINCO anos e três meses que o nível de consumo privado é sempre maior que o do mesmo trimestre do ano anterior.

Entre abril e julho de 2009, o consumo privado subiu 3,2% (ante abril-junho de 2008), segundo os dados divulgados na sexta pelo IBGE. O PIB, porém, caiu 1,2% nessa mesma comparação. O fato ajuda a explicar o prestígio luliano mesmo neste ano que deve ser de pibinho quase zero.
Nos anos Lula, foi uma raridade o consumo privado cair enquanto o PIB subia -na verdade, só aconteceu em 2003. Nos anos FHC, pelo contrário. Ocorreram choques violentos, na maior parte de origem externa, e as contas e a dívida externas estavam em terrível desordem. Com os choques vinham altas radicais de juros, compressão de salários e redução da demanda doméstica de modo a evitar o risco de insolvência externa (que, enfim, só foi evitada mesmo com dinheiro do FMI).
Essa pequena nota histórica vem a propósito do algo despropositado e ressentido desabafo de Lula ao comentar os bons resultados do PIB.
Lula contra-atacou quem fizera troça do seu discurso da "marolinha". Mas nem Lula nem a maior parte de seu governo sabiam do que estavam falando por volta de dezembro de 2008, ou apenas mentiam, quando prognosticavam crescimento absurdamente alto para 2009 (que não ocorrerá). É fato que o governo tomou medidas anticrise eficazes. Reduziu impostos sobre consumo, fez bancos estatais substituírem o recuo dos bancos privados, liberou dinheiro parado no Banco Central, reduziu a taxa de juros etc.
O governo (na verdade o BC) ainda arrumara a dívida pública externa, logo no início de Lula. A política de aumento do salário mínimo e a expansão de benefícios sociais ajudaram a sustentar o consumo doméstico e impuseram um piso mais alto para os salários do setor privado (formal e informal). A inflação contida ajudou a manter o poder de compra. A capacidade do governo Lula de investir e incentivar o investimento continua porém pífia.
É bom notar, no entanto, que a contribuição do comércio exterior para o PIB do segundo trimestre foi mais importante que a do consumo doméstico. Peso grande tiveram as compras chinesas de soja, ferro etc.
No ano, as exportações brasileiras para a China cresceram 22%. Para os EUA, caíram 45%; para a Argentina, 41%. Cerca de 80% das vendas brasileiras para a China são de produtos primários. Aliás, foi a grande expansão do comércio mundial, do consumo chinês em particular, que deu folga para que a economia pudesse acomodar o aumento do consumo doméstico nos anos Lula.
O estímulo estatal à economia, na China ou nos EUA, evitou colapso maior do PIB e do comércio mundiais. Em parte, o Brasil pegou carona na capacidade americana de "imprimir" dinheiro e endividar-se e, também, na imensa poupança chinesa. A economia de Lula, é bom lembrar de novo, também ancorou-se no sistema de política macroeconômica implementado no final dos anos FHC (que Lula até melhorou).
Lula poderia muito bem e com razão reivindicar o acerto de várias de suas políticas anticrise sem recorrer à discurseira jactanciosa. Mas gosta de depravar o debate público com seu personalismo salvacionista.

ALBERTO TAMER

PIB cresceu, mas há riscos à frente

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/09/09


Saiu o PIB do segundo trimestre, um crescimento de 1,9% em relação ao primeiro. Voltamos ao nível do início de 2008. Era esperado porque os indicadores mensais mostravam aumento do consumo e recuperação industrial. É sinal de descolamento dos países ricos, que ainda tentam sair da recessão.

Então, viva o PIB. Mas não o viva entusiasmado do presidente, para quem a recessão brasileira foi obra dos jornais, que assustaram o povo com manchetes terroristas. Lula prefere esquecer que jornais refletem fatos e o fato era que a economia brasileira acompanhou a recessão mundial por dois meses. Foi atingida, sim, pela crise financeira, escassez de crédito e a retração do mercado mundial.

O PIB despencou, o desemprego assustou. A coisa ficou feia. Não foi marolinha, foi uma onda gigante. Só não foi pior porque o governo, presidido por ele, que já havia armado algumas defesas, ergueu barreiras fiscais, monetárias e tributárias.

O resultado está aí. A economia brasileira voltou a crescer. Quase 2% no segundo trimestre, puxado pelo consumo das famílias, que foi estimulado pela redução de impostos, aumento da renda (salário mínimo, salário família), inflação retraída, juros em recuo e crédito fácil. Resumindo, a ação do governo, que tardou lá fora, foi urgente e imediata aqui.

VAI CONTINUAR ASSIM?

Essa é a questão. O governo vai manter a mesma política por algum tempo ou pretende alterá-la, considerando que as medidas já surtiram. Henrique Meirelles, do Banco Central, diz que ainda não é a hora de mudar. O ministro da Fazenda acha que sim.

Aqui, o risco. Risco que merece um alerta. Sabem qual? Até agora o presidente e a equipe econômica têm se mantido unidos. Agora, porém, há sinais de discordância, que pode pôr em risco o resultado obtido.

Os economistas do governo querem manter o estímulo ao consumo, sim, mas, em salas fechadas, temem o excesso de gastos públicos, de difícil reversão, quando a crise passar, em detrimento de investimentos produtivos. Em última instância, isso levará o BC a aumentar a taxa de juros, com seus efeitos negativos sobre o crescimento. Já se fala abertamente disso entre os analistas financeiros e a opinião que ganha corpo a cada dia é que ele existe, sim.

PODE GASTAR, SIM, MAS...

Há espaço ainda para gastar, mesmo porque temos superávit e a receita deve aumentar com o crescimento da economia. Mas ele vem encolhendo, dizem os analistas. E isso só tende a se agravar com a proximidade da campanha eleitoral.

Os economistas mais lúcidos do governo temem os exageros e querem seletividade e moderação nos gastos. O presidente, não. Talvez esteja entusiasmado demais com o êxito obtido até agora na luta contra a recessão, esquecendo que isso só foi possível porque ouviu os que agora sugerem moderação .

O problema não é só gastar o que não tem, não é só se endividar, mas fazer gastos improdutivos, que não geram produção, emprego, consumo...

O economista Felipe Salto, da Tendências, analisou com a coluna os dados do IBGE e faz observações que mostram um quadro no mínimo delicado na política fiscal. São números oficiais, de um órgão de estatística confiável do governo.

"O significativo avanço do PIB do segundo trimestre, de 1,9%, é a boa notícia, mas é preciso atentar que os investimentos estão em queda e a recuperação está centrada no consumo das famílias."

O QUE DIZ O IBGE?

Os números do IBGE mostram também que há um crescimento importante das despesas em relação ao PIB e a atual política fiscal está sendo de má qualidade, afirma Salto.

Em dezembro de 2008, as despesas totais do governo federal representavam 17,23% do PIB (incluem gastos com pessoal, custeio, investimentos e outros). Quando observados os dados acumulados em 12 meses sobre o PIB do mesmo período, esse mesmo dado passou para 18,36% do PIB em julho de 2009.

"Quando desagregamos esses números, vemos que os investimentos, também chamados de despesas de capital, passaram de 0,98% do PIB para 1,03% do PIB no mesmo período. É uma situação que não agrada muito e está distante do discurso oficial."

A coluna pode afirmar que o aumento foi irrisório. Projeta um cenário preocupante. Sem investimento, não há produção para atender ao crescimento da demanda.

"Enquanto isso, os gastos de custeio passaram de 3,21% para 3,45% do PIB; os gastos com pessoal, de 4,53% para 4,92% do PIB; e os gastos previdenciários, de 6,91% para 7,24% do PIB. Notem que, apesar de os investimentos terem efetivamente aumentado, todas as outras rubricas também cresceram. É aqui que o problema começa. Em crise, há formas e formas de políticas fiscais anticíclicas, mas aumentar todos os gastos, definitivamente, não é a melhor." Portanto, viva o 1,9% do PIB, mas cuidado, senhores de Brasília.

PANORAMA POLÍTICO

O fator Marina

ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 13/09/09


Há críticas no governo ao presidente Lula por ter incluído o Meio Ambiente e a Cultura entre os beneficiários dos recursos do Fundo Social. A decisão foi de última hora, depois de ficar clara a candidatura da senadora Marina Silva (AC) à Presidência da República pelo PV. Lula quis agradar ao eleitorado verde e fortalecer o ministro Juca Ferreira.
Dizem que o fez de olho no segundo turno.

A missão de Palocci é segurar o PT

A quantidade de emendas já apresentadas pelos deputados petistas ao projeto do Fundo Social, pulverizando a aplicação dos recursos, assustou o presidente Lula. Se a bancada da saúde, onde os petistas têm muita força, aprovar o que deseja, por exemplo, sobraria muito pouco para a poupança destinada às futuras gerações. Foi para conter essa voracidade que o presidente pediu a troca de relatores, colocando na função o ex-ministro da Fazenda e deputado Antonio Palocci (PT-SP). Na avaliação do governo, é preciso um relator com autoridade política para dizer não, preservando os objetivos estratégicos do fundo.

Não tem guerra contra o Serra. Serra e eu somos companheiros” — Aécio Neves, governador (MG), sobre a disputa no PSDB para concorrer à Presidência da República

GLAMOUR ZERO. Depois que veio à tona que o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) utilizava sua cota de passagens aéreas do Senado para abastecer seu jatinho, ele resolveu mudar de hábito.

Em julho e agosto, Tasso viajou em aviões de carreira. Seu jatinho estava na revisão, e ele não quis utilizar seus créditos para fretar um outro, como fazia antes da crise do Senado. Por isso, ele andava apressado, com medo de perder o voo.

Prioridades

Às vésperas da Conferência de Copenhague, em dezembro, o projeto de lei do Executivo que cria a Política Nacional sobre Mudanças do Clima está parado no Congresso desde junho do ano passado. Não há nem relator designado.

Tapas e beijos

O estresse do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) com o PT é que ele não quer que o partido lance o deputado Paulo Rocha (PTPA) para senador. Jader quer disputar o Senado. O PT nacional tenta desembolar o meio de campo.

Foi um Deus nos acuda

O PT e o PSDB se uniram na CPI da Dívida Pública, quarta-feira, para retirar de pauta requerimento do deputado Ivan Valente (PSOL-SP) convidando o expresidente Fernando Henrique Cardoso para falar sobre a comissão do Senado para auditar a dívida externa, da qual foi relator em 1987. “Não vamos admitir”, estrilou o deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). “Sugiro que a bancada do PT não dê continuidade à votação”, disse o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP).

Lavando as mãos

Apesar da pressão do PMDB, o PT não pretende abrir mão da candidatura do ministro José Pimentel (Previdência) ao Senado pelo Ceará. Como o governador Cid Gomes (PSB) e o deputado Ciro Gomes (PSB) devem apoiar informalmente a reeleição do senador Tasso Jereissati (PSDB), o deputado Eunício Oliveira (PMDB) está com medo de sobrar. “Essa conta não pode vir para o PT”, disse um dirigente petista.
A aliança PT-PMDB requer muita costura para fechar.

SOBRE transferência de tecnologia: o Brasil ainda não engoliu o veto dos EUA à venda de Super Tucanos da Embraer para a Venezuela. O presidente Hugo Chávez acabou comprando aviões da Rússia.

O PSB está para perder dois deputados na Paraíba.

Eles querem apoiar a reeleição do governador José Maranhão (PMDB), mas o prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), quer concorrer

A BR-040, que liga Brasília ao Rio de Janeiro, agora tem nome: rodovia Presidente Juscelino Kubitschek

ILIMAR FRANCO com Fernanda Krakovics, sucursais e correspondentes

GOSTOSA


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ALEXANDRE HOHAGEN

A internet e a democracia brasileira

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/09



Espera-se que o Congresso Nacional se previna contra medidas voltadas à ampliação do controle sobre os meios online


NOS ÚLTIMOS tempos, os benefícios que a web empresta ao cenário político tornaram-se visíveis em escala global.
A campanha presidencial de Barack Obama nos EUA, por exemplo, mostrou ao mundo o potencial que a internet tem para o engajamento do cidadão comum na discussão política.
Mais recentemente, mesmo sob o duro regime político do Irã, a rede mundial de computadores comprovou mais uma vez sua forte vocação democrática.
A internet vai além de favorecer a livre expressão. Ela permite a inclusão de candidatos e partidos com menos recursos e confere transparência às doações e à publicidade.
Esse é um movimento ao qual o Brasil não pode mais ficar alheio, ainda mais em meio à mobilização social pela ampliação da transparência das instituições políticas nacionais.
Por isso, vale acompanhar de perto as discussões que vêm acontecendo no Congresso Nacional, que está prestes a promover um grande avanço aprovando a liberação do uso da internet no processo eleitoral.
Trata-se de um projeto de lei aprovado na Câmara dos Deputados em junho e que deve ir à votação no Senado nesta terça-feira. Ele inclui a regulamentação do papel que a web exercerá na chamada reforma eleitoral.
No país, a crescente utilização da internet por parte de candidatos, partidos e eleitores já é realidade. No entanto, na última eleição, as incertezas quanto ao que era permitido pela legislação inibiram o aproveitamento de tudo o que a rede tem a oferecer.
Entendimentos jurídicos diversos e decisões judiciais desencontradas colocaram em risco o delicado equilíbrio entre a livre manifestação das opiniões políticas e o estímulo ao debate eleitoral, de um lado, e o combate a eventuais comportamentos abusivos do outro.
Felizmente esse cenário parece estar perto do fim. Com mais de um terço da população com acesso à web no país, índice que cresce cerca de 15% ao ano, podemos esperar para 2010 algo semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos no ano passado.
A iniciativa do Congresso fortalece as instituições políticas e avança na consolidação da democracia ao permitir que todo tipo de ferramenta online -sites, blogs, redes sociais, comunicadores instantâneos etc.- possa ser utilizado eleitoralmente.
O livre uso da internet eleva o grau de informação sobre candidatos, partidos e propostas. Também aproxima candidatos e cidadãos de maneira inédita ao possibilitar a interação direta e reativar a capacidade de mobilização social em torno de boas ideias. A aproximação também se dá com a regulamentação das doações online, desburocratizando a contribuição de pessoas físicas.
Outro ponto favorável do projeto é permitir a propaganda eleitoral paga pela internet. De uma tacada só, tal decisão desfaz uma inexplicável injustiça cristalizada na legislação contra os meios online, estimula a presença de conteúdos positivos na rede e cria um canal mais econômico de publicidade de massa para partidos e candidatos.
Com isso, barateia o orçamento das campanhas, incentiva o crescimento de uma indústria em franco desenvolvimento no país e gera empregos qualificados no curto prazo.
Mas aqui o Congresso deveria ir além, espelhando-se nos exemplos internacionais e apostando com menos timidez na web.
O projeto poderia ser menos restritivo, estendendo a propaganda paga a todos os sítios, independentemente da classificação de seu conteúdo, e também para as disputas de todos os cargos majoritários (além de presidente, senadores, governadores e prefeitos).
A Justiça Eleitoral ficaria encarregada de regular detalhadamente procedimentos que assegurem a igualdade de oportunidades e o respeito às circunscrições eleitorais, entre outras preocupações manifestadas pelos congressistas.
Na reta final da discussão, espera-se também que o Congresso Nacional se previna contra medidas voltadas à ampliação do controle sobre os meios online e que impliquem limitações às inovações propostas.
A própria experiência das últimas eleições no Brasil mostra que, ao mirarem em uma regulação acentuadamente restritiva, os legisladores podem acertar o alvo errado, matando o potencial democrático da web e gerando normas ineficazes em um território de abrangência mundial, como é o da internet.
A riqueza da internet reside justamente na liberdade de expressão que ela oferece e na horizontalidade de seu desenho, inclusivo e transparente. É hora de observar para que não ocorra a invalidação dos efeitos positivos da proposta, o que frustraria a grande expectativa da sociedade.

ALEXANDRE HOHAGEN é diretor-geral do Google na América Latina.

ARI CUNHA

Otimismo vale a pena

CORREIO BRAZILIENSE - 13/09/09


A crise dominava, fechava bancos americanos, tolhia a liberdade financeira. Vi que o povo sentia a crise. Confiantes em si, todos entravam nas lojas e faziam as compras que desejavam. Nada tirava o sono das donas de casa, que controlam a economia interna. Elas acompanhavam o valor das ações. Ora em alta, ora em baixa. No Brasil, o povo tem ficado chorando. O comércio deu o grito. Multiplicou a admissão de funcionários, preparam-se vendas de Natal. O presidente Lula, desde o começo, incentivava o otimismo. O povo ficava de olho. Hoje o governo dá o resultado. O país está crescendo e a crise desapareceu. Falta a adaptação. Bom ser otimista como Lula. A fala foi benéfica. Para nós o caminho é aprender e não se lamentar. Otimismo, gente.


A frase que não foi pronunciada

“Próxima atração: Tela Crente!”
Briga criativa entre a Record e Globo.



Sem férias
Alice Portugal, do PCdoB, quer que 5% do fundo partidário seja usado para preparar mulheres para a política. A proposta é interessante. Basta ver a senadora Kátia Abreu. Está deixando o governo de cabelo em pé. Ela não descansa enquanto não conseguir instalar a CPI do MST. E vai descansar menos ainda quando investigar as ONGs que repassam verbas ao movimento.

Ex
Economia e vida. Esse é o tema da Campanha da Fraternidade de 2010. Presente na solenidade de lançamento, a senadora Marina Silva não deixou passar em branco o assunto acordo Brasil-França. Faltou transparência do governo na compra de submarinos nucleares. Sem debate no Congresso, as decisões são tomadas de forma açodada, disse a senadora. Ex-petistas são a melhor oposição.

Realidade
Serviu para mostrar que não serve. A iniciativa do deputado Chico D’Angelo, do PT, para a criação de um Cadastro Nacional de Obras Públicas foi rebatida pela relatora tucana Thelma de Oliveira. A execução orçamentária e ações de controle interno já contam com sistema complexo de informatização que permite o pleno conhecimento da execução de obras. O caso é que, no banco de dados do TCU, a realidade é nua, crua e diferente.

São Pedro
Dia 2, o deputado Darcísio Perondi, da Comissão Externa da Câmara para a Seca no Rio Grande do Sul, informou que os 254 municípios atingidos pela pior estiagem da história receberam quase R$ 40 milhões para amenizar a situação. Uma semana depois, o Ministério das Comunicações ficou um dia sem o clipping elaborado por empresa gaúcha, por causa das chuvas.

LibiCard
Recebida uma fatura mensal com boleto do Banco Real para a cobrança de cartão da C&A. O problema é que o tal cartão nunca foi entregue, tampouco usado. Foi assim com o documento 00020791. A cobrança é de R$ 12 pela anuidade. Para o cancelamento é aquela via-crúcis que todos conhecem.

Paraguai
Sacoleiros têm autorização para importar até R$ 110 por ano. O total deve ser dividido em quatro trimestres. Se houver opção pelo Sistema Simples, a alíquota passa para 25%. O decreto que instituiu o Regime de Tributação Unificada foi publicado nesta semana.

Picanha azul
Nas plataformas da Petrobras, o pré-sal é chamado de picanha azul. A curiosidade foi contada pelo ministro Edison Lobão. O ministro também deu uma má notícia. Não é preciso esperar que o preço do combustível diminua.

Doze anos
Alcança a puberdade, o Código de Trânsito Brasileiro. A maior preocupação é com a segurança da vida humana. Mas os lixeiros continuam pendurados nos caminhões. No mais, mudanças. Eram 18 milhões de carros. Agora, o dobro. A quantidade de motos quadruplicou. Alfredo Peres, do Denatran, sugere reajuste no valor das multas. Pelo menos seria uma contribuição involuntária paga apenas por infratores.

Hatshepsut
Na exposição da Câmara dos Deputados sobre as conquistas femininas, todos queriam saber sobre Hatshepsut. Esposa real, regente e faraó do antigo Egito. Nascida em Tebas, era a filha mais velha do rei Tutmés. No século 15 a.c. Hatshepsut governou o Egito por 22 anos.


História de Brasília

O Presidente Jânio Quadros, ao atender à solicitação do barbeiro do estado do Rio, que lhe prometera fazer a “barba da vitória”, foi mais além, explorando os trabalhos daquele profissional: pediu que lhe fizesse, também, o cabelo... (Publicado em 8/2/1961)

ANCELMO GÓIS

Câncer em Manaus

O GLOBO - 13/09/09


Um novo estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revela que a taxa da doença no colo de útero no Norte do país é 32% maior do que a média nacional.
As maiores taxas desse tipo de câncer ocorrem em Manaus e Palmas. Para o Inca, a alta incidência no Norte reflete em parte o descuido de médicos que não exigem exames com frequência.

Vale e Lula
A Vale vai exibir num telão gigantesco de 282m2 o filme “Lula, o filho do Brasil”, dia 23 de novembro, no Jockey Club, no Rio, com direito à presença de mil jovens de comunidades carentes.
A exibição faz parte do evento Vale Open Air.

Azar dos alemães
O almirante da reserva Euclides Janot de Matos, ex-chefe do Estado-Maior, que foi acusado pela PF de integrar um “esquema de importações subfaturadas”, trabalhava no lobby alemão para fornecer submarinos ao Brasil.
O governo, como se sabe, optou pelos franceses.

Bolsa Dirceu
O legado de Zé Dirceu na Casa Civil de Lula não se resumiu a algumas grandes trapalhadas.
Uma pessoa que acompanhou o processo de criação do Bolsa Família, mina de ouro eleitoral do lulismo, garante que foi Dirceu quem realmente concebeu o programa

Ou seja...

Quando Patrus Ananias assumiu o Ministério do Desenvolvimento Social, a criança já tinha nascido.

Viver a vida
A trilha sonora da novela “Viver a vida”, de Manoel Carlos, que estreia amanhã, terá de Raul Seixas (música inédita) e Milton Nascimento a Tom Jobim e Roberto Carlos.
O Rei cantará a música-tema do personagem de José Mayer

O DOMINGO
é da linda paulista Alinne Moraes, 26 anos. A atriz ganhou o mundo aos 12 anos, quando deu início a sua carreira de modelo e viajou por várias capitais da moda. Agora, em “Viver a vida”, a novela das 21h da TV Globo, do mestre Manoel Carlos, que estreia amanhã, ela vai relembrar seus velhos tempos com a personagem Luciana, uma menina rica que sonha com o estrelato nas passarelas. Só que a carreira de Luciana será interrompida por um grave acidente na Jordânia, cenário da bela foto ao lado

Só futebol
A direção do Botafogo acertou com o Greenpeace de exibir um vídeo da ONG contra o desmatamento da Amazônia, no telão do Engenhão, hoje, no clássico do desespero, com o Fluminense.
Mas o clube desistiu, por causa da orientação da Fifa, que defende o meio ambiente, mas não quer manifestações extrafutebol nos estádios (como no caso das rezas evangélicas da seleção).

Aliás...

Por falar em Greenpeace, a prefeitura de Teresina, no Piauí, foi o primeiro órgão público a adotar o Black Pixel Project.
Trata-se de um software desenvolvido pelo Greenpeace que, acoplado ao computador, ajuda a economizar energia e diminuir o impacto das emissões de CO2.

Só que...

Black Pixel Project é o cacete!

ZONA FRANCA

Quinta, o presidente da Câmara do Comércio França-Brasil, François Dossa, está no Espaço FR, no Casa Cor, no Jockey Club.

A Elle Cinq lança o seu site: www.ellecinq.com.br.

O deputado Gerson Bergher entrega, amanhã, a Medalha Albert Sabin aos ministros do
STJ Massamy Uyeda, Humberto Eustáquio Martins, Napoleão Nunes Maia Filho e Mauro Campbell Marques, ao desembargador Cláudio de Mello Tavares e ao secretário José Mariano Beltrame.

O Intervinos Bistrô está com menu comemorativo de seu 1oaniversário.

O CasaShopping anuncia os vencedores do Casa Premium+um dia 30.

Silvério Pontes e Zé da Velha se apresentam hoje no Bar Itália.

Forró da Norminha
A banda sergipana Calcinha Preta, do sucesso “Você não vale nada”, música da adúltera Norminha (Dira Paes), em “Caminho das Índias”, está com a agenda cheia.
Os convites da TV, segundo o empresário Celso Giunti, aumentaram 10 vezes. O número de shows cresceu (serão 280 até o fim do ano), e três, no réveillon do Rio, estão em negociação.

Em tempo...
O forró “Você não vale nada” é do potiguar Dorgival Dantas e fez parte da trilha de “Chega de saudade”, longa de Laís Bodanzky, feito em 2007.

Último capítulo
Aliás, Dira Paes passeava quinta no Fashion Mall, no Rio, quando um gaiato gritou: “Norminha, também sou guarda!” No que outro emendou: “E eu sou feirante. Vou te dar legumes de graça.”

Morar bem
Uma carioca que vinha sexta de ônibus da Barra para a Zona Sul, sentada ao lado de uma paulista, morreu de rir com a curiosidade dela sobre a Rocinha.
Na frente da favela, começou a perguntar 1.001 detalhes do morro: “É verdade que tem McDonald’s lá? Em São Paulo todo mundo diz que tem!” Parecia até estrangeira.

De olho no mercado chinês Em que pese a crise econômica, a Assembleia de Deus Ministério Madureira, uma das multinacionais brasileiras da fé — setor liderado pela Igreja Universal —, deve crescer este ano 5% no exterior. A Igreja atua em 46 países.

Na Rússia, já são 120 templos com 40 mil fiéis. “Agora, a nossa meta é chegar à China”, diz o pastor Manoel Ferreira, deputado e presidente do Ministério.

A antropóloga Diana Lima, do Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), lembra que historicamente o Hemisfério Norte colonizou o Sul tendo a Igreja como forte aliada. “Hoje ocorre a inversão do fluxo de expansão do cristianismo.” Para ela, países como o Brasil e a Nigéria são grandes pontos de partida de missionários e mesmo de novas denominações pentecostais.

Ana Cláudia Guimarães

A capital cultural do Brasil

O Ministério da Cultura acaba de divulgar o Anuário de Estatísticas Culturais do Brasil. O Rio sai bem na foto em percentual de municípios com equipamentos para o setor. Veja só:

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA, AYDANO ANDRÉ MOTTA E BERNARDO DE LA PEÑA

JANIO DE FREITAS

Carta aérea

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/09



Aliança estratégica não é fatura nem contrato de promessa de compra e venda; é geopolítica


"NÃO ENCONTREI nem um grande negócio de armamentos sem corrupção". A partir de tal constatação, para nós, brasileiros, os negociantes de armas são como as grandes empreiteiras.
Aí está uma razão definitiva, além de muitas outras, para que as atuais compras de armamentos pesados pelo Brasil -ou, mais precisamente, por Lula e Nelson Jobim em nome do Brasil- não lembrem os negócios para realização de obras públicas. Mas, depois dos submarinos, é o negócio da compra de aviões de caça, não importam seus tipos e procedências, que se enrola em inverdades, negaças e cartas marcadas.
Aquela frase é de Andrew Feinstein, autor de pesquisa mundial sobre negócios de armamentos, para o livro que escreve a respeito. Sua dedicação ao tema tem boa origem. Quando deputado na África do Sul, encabeçou a extraordinária investigação parlamentar que desvendou uma trama de grossa corrupção na compra, à Rússia, de grande número de caças Sukhoi. A frase consta da entrevista transmitida pelo "Milênio", na GloboNews, em 27.jul.09.
Será melhor que o Brasil não venha a figurar no livro de Feinstein nem de modo inconclusivo, apenas por estranhezas. Como esta, por exemplo: dada autorização especial, do Congresso e do governo dos Estados Unidos, para que a Boeing inclua a transferência de conhecimento tecnológico em sua oferta do caça F-A18E, na sexta-feira o Ministério da Defesa comunicou que só receberá propostas de fabricantes até a segunda-feira 21. Nelson Jobim criou, portanto, uma data-limite e, com ela, apenas nove dias (com dois sábados e dois domingos) para a elaboração de complexos estudos e formulação de propostas. Sendo que a da francesa Dassault já foi esboçada com brasileiros e em Brasília.
A data foi fixada na mesma sexta-feira em que Lula emitia, durante comício televisivo, três afirmações aproveitáveis para numerosos fins: "não há prazo" para a escolha, "eu decido quando quiser", "quem decide sou eu e mais ninguém". Pelo visto, não é o que Nelson Jobim acha, e pratica.
A nota com a informação de data-limite pede que a sueca Saab, do caça Gripen, e a Boeing "apresentem propostas que busquem equiparar-se à francesa", e esta "compatível com os parâmetros do presidente francês Nicolas Sarkozy". Confirma-se, pois, que a proposta francesa já é conhecida, contra nove dias para elaboração das demais, em negócio de bilhões.
Há pelo menos dois outros pontos de curiosidade na nota. Se Jobim não comete a impropriedade de revelar a outros a proposta francesa, é puro nonsense o pedido de que "equiparem" suas ofertas àquela. E "equiparar-se" para quê? O que deveria interessar ao Ministério da Defesa é justamente que não sejam apenas "equiparáveis", mas melhores. Ou, seja lá pelo que for, não conviria que se mostrem melhores?
Lula e Jobim podem querer o caça francês, mas não precisam recorrer à alegação de uma "aliança estratégica" com a França. Sob aliança estratégica com os Estados Unidos, o Brasil fez sua primeira esquadrilha de caças com os Gloster-Meteor de fabricação inglesa. Além da aliança estratégica, já sob o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, que trouxe até militares norte-americanos para dentro de bases e quartéis brasileiros, comprou aos ingleses e reformou na Holanda o finado porta-aviões Minas Gerais. Comprou na França caças Mirage, ainda em uso. Fez a associação, hoje extinta, da Embraer com a Dassault, e comprou na França o atual, mas não atualizado, porta-aviões São Paulo.
Aliança estratégica não é fatura nem contrato de promessa de compra e venda. É geopolítica, é política internacional.
Além disso, essa história de que "a FAB faz a análise técnica" e "o governo toma a decisão política e estratégica" é só invencionice. As duas são indissociáveis: a finalidade condiciona a escolha técnica do instrumento. É a razão que faz os Estados Unidos, com seus tantos tipos de jatos de combate, desejarem testar o Super Tucano da Embraer, a hélice, para situações como as do Afeganistão.
As grandes empreiteiras já são mais do que o necessário para o mau conceito brasileiro.

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MERVAL PEREIRA

Decisão absolutista

O GLOBO - 13/09/09


O deputado Raul Jungmann, membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, acha que estamos repetindo no processo de compra internacional dos novos aviões caças da Aeronáutica as mesmas debilidades que se revelaram no processo da compra do sistema de vigilância da Amazônia (Sivam) e também no início desse mesmo processo de compra dos caças, que começou no governo de Fernando Henrique.

“Nós não temos um sistema de grandes compras militares institucionalizado à prova desse tipo de politização, sobretudo quando chega a hora da decisão”, comenta o deputado, diante das declarações absolutistas do presidente Lula, que assume como seus os aviões ao dizer que “daqui a pouco eu vou ganhar de graça” e arroga a si a escolha de quando decidir e a que país dar a vitória nesse leilão personalíssimo.

“Andei estudando esse processo em outros países, e temos muito o que aprender.

Como essa não é uma política de governo, mas de Estado, o Legislativo participa de todo o processo de discussão nos Estados Unidos , Espanha , França ” .

Aqui, ao contrário, “no nosso hiperpresidencialismo”, a exclusividade de escolha é do Executivo.

“Isto é a antítese do que deveria estar acontecendo.

Uma decisão monárquica absolutamente inadequada para assuntos de Defesa”, critica Jungmann. Como não temos a institucionalidade do procedimento, analisa, não há dispositivos constitucionais e legais que permitam ao Congresso brasileiro participar desse processo, ao contrário do que acontece nos outros países.

“Não há nenhuma disposição do Executivo para partilhar isto com o Congresso, e o Congresso também não se interessa pelo assunto, por que não dá votos, não dá cargo, não tem emenda”.

Raul Jungmann lamenta que o Brasil esteja tendo um upgrade em termos de potência global, tornando-se um “global player”, e que continuemos com várias debilidades institucionais.” Não existe qualquer potência regional que não tenha um escudo de defesa compatível, o Brasil está no rumo certo, ressalta o deputado, “mas o Congresso não formou uma comissão externa para tratar do assunto, vai aprovar uma parceria política-estratégica sem entender do que se trata”.

“Não é um problema de 6 bilhões de euros, o que precisa é mais transparência, e o mais grave é que tudo fica ao sabor do hiperpresidencialismo personalista, sobretudo com o Lula”.

Juntamente com a compra dos submarinos, — inclusive um nuclear —, helicópteros e aviões de caça, o Ministério da Defesa está preparando um conjunto de medidas que mudará praticamente todo o arcabouço jurídico do sistema de defesa nacional.

Os diversos projetos de lei que compõem a reformulação do sistema de segurança darão condições para a criação de um complexo industrial-militar. Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora, lembra que o acordo que está sendo negociado “é um casamento de no mínimo 40 anos, sem direito a divórcio”.

Ele considera que se o acordo final for mesmo com a França “inegavelmente é um grande passo tecnológico e de modernidade para a Força Aérea, uma nova realidade e sem dúvida atende as expectativas criadas pela licitação”, mas acha que os dois outros concorrentes, Estados Unidos e Suécia, também nos atenderiam muito bem.

O pesquisador apenas adverte que “achar que a França, que gastou bilhões de euros em pesquisas de materiais sensíveis, irá transferir tudo para nós como se fosse um passe de mágica, e não ser apenas mais um grande acordo militar que garantiu empregos lá e uma maior sobrevida de suas indústrias voltadas para estas áreas, continua a ser um sonho imperial tropical”.

Resta agora, diz ele, saber “qual a velocidade de absorção dessa tecnologia de nossa parte, e quanto tempo levaremos para absorvêla por completo, visto que estamos bem defasados em vários níveis, principalmente em massa crítica, e quanto poderemos aportar financeiramente”.

Bastos acredita que haverá, sim, alguma transferência de tecnologia, mas não total, “até porque uma nação não tem amigos, mas sim interesses, e enquanto estes estiverem convergentes haverá uma integração, mas o mundo não é estático e as alianças não são eternas.

Tecnologia não se compra, desenvolve-se”.

Clóvis Brigagão, diretor do Centro de Estudos das Américas da Universidade Candido Mendes, vê no acordo com a Franca algo mais “político-estratégico”, com o objetivo de diversificar as fontes para o reaparelhamento das Forças Armadas, uma vez que a posição da Franca, desde De Gaulle, aproxima-se de uma certa característica que o Brasil sempre adotou em termos de independência das grandes potências em matéria de assuntos estratégicos, “ainda mais agora, com a defesa do mar territorial e mais ainda com a perspectiva do petróleo do pré-sal”.

Opinião semelhante tem o professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, para quem o acordo com a França, “mais centrado em ligas e tecnologia de casco do que no reator, exceto sua parte eletrônica, é estratégico, visando autonomizar o campo de tecnologia de defesa”.

Se haverá ou não transferência de tecnologia, avalia Brigagão, “dependerá da capacidade do Brasil de processar essa tecnologia e passar do uso exclusivo militar para a esfera civil”.

Ele dá como exemplo a ser seguido o que houve com o acordo nuclear com a Alemanha, e o percurso feito pelos próprios cientistas e técnicos brasileiros, nos últimos mais de 30 anos, pois o acordo é de 1975.

“Mas creio que no patamar em que o Brasil já está pode sim haver transferência de tecnologia e o país ganhar com isso, em termos industriais, com nova geração de empregos”.

AMIR KHAIR

Boas novas

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/09/09


No dia 30 de agosto o jornal O Estado de S. Paulo, antecipando-se a outros órgãos de imprensa, deu como manchete: Um ano depois, Brasil passa no teste e sai da crise maior do que entrou. Ouviu oito renomados economistas estrangeiros e brasileiros, para quem o avanço do País e de outros emergentes é uma das características do mundo pós-crise.

E isso ocorreu antes de um ano da crise iniciada com a concordata do Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008. Tornaram-se consensuais as perspectivas otimistas.

Segundo Jim O"Neill, do Goldman Sachs e criador da expressão Bric (o grupo de grandes países emergentes - Brasil, Rússia, Índia e China), "o Brasil passou por essa crise extremamente bem, e pode crescer a um ritmo de 5% nos próximos anos".

A recessão no Brasil foi de apenas dois trimestres, comparada a quatro em países como Estados Unidos, Alemanha e França, segundo dados desses especialistas.

Nas crises anteriores, a fragilidade macroeconômica levou à tomada de medidas que pioravam a situação geral do País: aumento das taxas de juros (para impedir fuga de capitais), da dívida pública e do superávit primário; e corte de investimentos e de gastos correntes, com aumento do desemprego e da instabilidade econômica. Para não falir, o Brasil teve de recorrer ao socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e se submeter às suas exigências, que limitavam a autonomia da política econômica.

Nesta crise, que foi a pior desde os anos 30, o País se encontrava com fundamentos econômicos adequados, o sistema financeiro estava capitalizado, pouco alavancado e proibido pela regulação de operar com os ativos tóxicos, como os títulos estruturados no mercado americano de hipotecas subprime. Além disso, o governo adotou medidas contracíclicas para limitar a extensão causada pela crise de crédito e redução da atividade econômica.

Em relação ao crédito, destacam-se: a disponibilização de US$ 45 bilhões para financiamento das exportações e para cobrir compromissos externos das empresas; a expansão do crédito com redução dos juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal; o aporte de R$ 100 bilhões para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento de investimentos com juros reduzidos; a liberação pelo Banco Central de R$ 100 bilhões de depósitos compulsórios para ampliar a liquidez do sistema bancário; a redução da taxa básica de juros Selic em cinco pontos porcentuais; e a criação de dois fundos garantidores para as micro, pequenas e médias empresas para facilitar o acesso ao crédito e reduzir o seu custo e risco.

Como medidas contracíclicas para reativar a economia, merecem destaque, além do reajuste antecipado em um mês do salário mínimo - decisão assumida antes da crise -, que injetou R$ 27 bilhões na economia: reajuste e ampliação da abrangência do Bolsa-Família em 1,3 milhão de famílias; extensão do seguro-desemprego para até sete meses, redução até o final do ano do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos setores automotivo, linha branca e construção civil, e o IPI de 70 itens de bens de capital; redução do superávit primário para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB); e implantação de um programa de habitação popular visando à construção de 1 milhão de moradias no valor de R$ 34 bilhões, com subsídios de R$ 16 bilhões para a faixa de renda de até três salários mínimos.

A perspectiva de o País crescer mais que a média mundial poderá ocasionar um aporte grande de investimentos estrangeiros diretos, o que significará recursos para consumir mais e investir ao mesmo tempo. Segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, o povo brasileiro será um dos convocados, com os asiáticos, a preencher o espaço deixado pelo fim da exuberância do consumidor americano, atolado em dívidas e necessitado de reconstruir seu patrimônio.

As perspectivas para 2010 são de um crescimento superior a 4%, com inflação abaixo da meta, o que permitirá uma arrecadação expressiva e uma despesa com juros menor do que a deste ano, compensando com folga o aumento de despesas de custeio. Isso abre espaço para maiores despesas na área social e investimentos na infraestrutura, como previsto na proposta orçamentária do governo federal.

*Amir Khair, mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é consultor. O colunista Celso Ming está em férias.

DIRETO DA FONTE

Galera da tribo

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/09/09


Fernanda Lima e Selton Mello estão bombando na pesquisa da agência Namosca sobre preferências dos jovens paulistanos - ela com 39%, ele com 36%.
Marcos Mion e Daniela Ciccarelli lideram o clube dos que "só querem aparecer". E a lista dos indesejáveis tem Sérgio Mallandro, com 36,8%, e até Ronaldo Fenômeno, com 32,2%.

Mãe distante

Quieta em seu lugar ao lado de um ministro francês, Dilma Rousseff passou quase todo o tempo, no palanque do dia 7 de Setembro, sem falar com ninguém.
A ponto de Fernando Haddad sair de onde estava, na fila de trás, para ir trocar algumas palavras com ela. No que foi seguido, depois, por Adrienne Senna, mulher de Nelson Jobim.

Tango vermelho

Depois de apanhar do Brasil e do Paraguai, a Argentina agora apanha... de boletim do UBS/Pactual. O banco faz previsões negras para a economia ante a gastança indiscriminada dos Kirchners.
Além de subsídios e plano para financiar o emprego público, o governo se apossou até do dinheiro pago pelos direitos da transmissão de futebol pela TV.

As mais mais

Campeão nacional de venda de discos, Roberto Carlos é a capa da estreia, no País, da Billboard Brasil, que sai a 10 de outubro e será mensal - a original americana sai todas as semanas.
Trará o ranking das mais tocadas no País. Essencial na definição das tendências da música, ela "também terá aqui esse papel", diz o publisher Antonio Camarotti.

"Pilota català"

Quem vai ganhar uma biografia, do alto dos seus 38 anos, é Pep Guardiola. Partindo de 150 frases do técnico do Barcelona - desde quando ele era apenas jogador - o autor Josep Riera remontou sua trajetória profissional e pessoal.
No Barcelona pós-Ronaldinho Gaúcho, o catalão é umas das personalidades mais populares da Espanha.

Responsabilidade social

Fernando Meligeni, Hortência, Gustavo Borges e Marcelo Negrão já confirmaram apoio à campanha do Instituto Arte de Viver Bem. Que vai incentivar a prática de exercícios por mulheres que têm câncer de mama.

Sem telefones e computadores, com a despensa inutilizada pela chuva da terça, a Cajed - Casa de Apoio à Criança com Câncer - pede socorro. Precisa, com urgência, de alimentos para as crianças.

Depois de seis meses de aulas de cidadania e artes para jovens da comunidade, a Cia. de Teatro Heliópolis apresenta o espetáculo O Dia Em Que Túlio Descobriu a África. Sexta, no Sesc Ipiranga.

A chef Bel Coelho e o restaurante dui promovem, segunda, coquetel beneficente. A renda do evento vai para a associação socioambientalista Somos Ubatuba.

Já tem mais de 750 vídeos, e vai até dia 17, o concurso Giraturma por Mundo Melhor, feito pela rede Giraffa"s, com apoio da Unicef, pelos direitos das crianças. E que já doou brinquedos no Ceará, na Bahia e em Sergipe.

Durante todo o mês, a rede de hipermercados Extra estará com descontos nos produtos Procter & Gamble. Fruto de apoio aos projetos da APAE.

A campanha Shopping pela Cura, que começa terça, no Cidade Jardim, destinará 10% da renda para a Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer.

Com palestra de Paulo Rosembaum, a Fundação Ação Criança e a Clínica Stelle realizam amanhã, evento de combate à obesidade infantil.

A Chocolat du Jour preparou para outubro o Baú do Tesouro. Com renda, em parte, para os Doutores da Alegria.

ELIANE CANTANHÊDE

Nem tanto ao céu nem tanto ao mar

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/09


BRASÍLIA - Enquanto a Marinha comemora a entrada do Brasil, a partir de 2021, no seleto grupo de sete países que detêm submarinos convencionais e de propulsão nuclear (os próprios e a tecnologia para construí-los)...
Enquanto a Aeronáutica festeja a reta final do projeto FX-2 para renovar sua frota com 36 caças de última geração...
Enquanto se falam de R$ 22,5 bilhões para submarinos e helicópteros e de até R$ 10 bilhões para a compra dos aviões...
A quantas anda o Exército?
Na contramão de caças supersônicos e submarinos de propulsão nuclear, a Força Terrestre está iniciando amanhã um novo turno de trabalho. Soldados e oficiais vão praticamente repetir a jornada semanal do Congresso. Não vão mais trabalhar nem na manhã de segunda, nem na tarde de sexta. Para fazer economia.
A decisão foi tomada e anunciada na Ordem do Dia pelo comandante, general Enzo Martins Peri, a partir de um dado objetivo: do Orçamento de cerca de R$ 2,4 bilhões para este ano, R$ 580 milhões estão contingenciados. Isso significa que existem virtualmente, mas não caem no caixa do Exército.
Na expressão de um oficial de quatro estrelas (máxima patente), o enxugamento da semana foi por um motivo de força maior: "Não tem comida para todo mundo". Como não tem tanques, blindados, armas.
Se a Aeronáutica e a Marinha operam com sofisticada tecnologia e com equipamentos caríssimos, o Exército tem a sua força em algo bem mais prosaico: homens. São de 180 mil a 190 mil soldados espalhados pelo país inteiro, de Norte a Sul. Em vez de propulsão nuclear, o que se discute ali é o custo das botinas, da gasolina, do rancho.
Mas, como ensinam os experts em estratégia, quem resolve a parada, na hora do aperto, ou da guerra, é a boa e velha Força Terrestre.
Vem chororô por aí.

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JOÃO UBALDO RIBEIRO

O pré-sal num boteco do Leblon


O GLOBO - 13/09/09


– Que foi que houve cara, ganhou na mega-sena? Tu tá com uma cara de felicidade como há muito tempo eu não vejo, desde a data histórica em que o Fluminense ganhou um jogo. Tu não sabia que era o último, senão tinha festejado mais, né não?

– Dispenso gozação de flamenguista, estou acima disso. Agora, pensando bem, você não deixa de ter razão, eu devo estar com a cara feliz, não por nenhum acontecimento em especial, mas como se por alguma coisa que eu sentisse no ar.

– Se for um fedorzinho, eu também sinto, mas dizem que em Brasília é pior.

– Você não leva nada a sério, mas eu levo. Você me conhece, desde rapazinho que eu me preocupo com os problemas brasileiros, sempre fui um patriota. Você está certo, é como se eu tivesse ganho a mega-sena mesmo, todos nós ganhamos a mega-sena.

– Fundaram a Mega-sena Família, é isso? Agora quem se cadastrar vai ter direito a fazer um joguinho de graça por semana? Bem bolado, é isso que é a famosa distribuição da riqueza? Vai ter vale-mega-sena?

– Deixa de fazer ironia sem graça, cara, tu não tem o que dizer, a verdade é essa.

– Eu não tenho o que dizer de quê? Tu vem com essa conversa de que todo o povo tirou na megas-sena e quer que eu te leve a sério? Que é que tu andou bebendo antes de chegar aqui?

– Eu disse que tinha feito uma metáfora e você veio logo querer curtir com a minha cara. Mas eu não vou deixar o cinismo e a descrença me vencerem. Então eu retiro a metáfora, mas dá no mesmo. O fato é que nossa situação hoje é excepcional.

– A nossa, aqui do bairro, no momento é. Faz três dias que não se tem notícia de nenhum assalto aqui nas redondezas.

– Assim não dá pra conversar. Eu quero falar sobre uma coisa séria e você fica me interrompendo pra fazer gracinha. Eu não estou me referindo a assalto.

– Mas eu estou. Você vem com essa conversa de que nossa situação é excepcional e aí eu achei que só podia ser por isso. Acabaram os assaltos, não?

– Eu não estou me referindo a problemas de segurança pública.

– Porque não quer, porque quer que eles não existam, todo mundo quer isso, mas eles existem.

– É, assim não dá. Se a gente for falar em problema de segurança pública, não acaba nunca.

– Certo, certo, então vamos falar em educação. Nós estamos num momento excepcional, em matéria de educação? Todo mundo na escola, professores bem pagos e respeitados, todo mundo orientado, todo mundo educado. Eu pensava que estava tudo como antes e até um pouco pior, mas, a julgar pelo seu jeito, a educação vai muito bem.

– Você fica desviando o assunto, antes eu não estava falando em segurança e agora não estou falando em educação.

– Então fale em saúde. Vamos falar em saúde? Eu sei que qualquer um pode receber tratamento igual ao do presidente da República, eu ouvi ele dizendo isso. Mas você queria saber a história da mãe de minha empregada, que teve outro derrame enquanto esperava uma senha do SUS às quatro horas da manhã e morreu depois de esperar até o dia seguinte, numa maca no corredor do hospital?

– Cara, tu tá parecendo deputado da oposição. Se é para desviar o assunto, então não tem papo.

– Eu sei, teve as reformas. Teve a reforma agrária, a reforma política, a reforma eleitoral, a administrativa, a tributária, diz aí as outras, em qualquer setor que você pense, teve reforma.

– Lá vem você de novo, assim não dá mesmo.

– A política outro dia teve uma reformazinha, aumentaram o número de vereadores no Brasil todo. E a tributária, a tributária também é boa, tem bancos que não pagam imposto de renda e o Daniel Dantas recebe restituição do imposto de renda, ele mesmo contou.

– Eu já vi que hoje não adianta conversar com você. Mas eu lhe faço uma pergunta só, basta uma. O que é que você me diz do pré-sal?

– Eu, nada. E o que é que você me diz? Você entende desse negócio de pré-sal?

– Entendo o suficiente para saber que hoje nós temos uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Não é para agora, é coisa para começar a dar frutos depois dos próximos dez ou quinze anos. Mas os nossos descendentes desfrutarão dessa riqueza, o futuro está garantido.

– O petróleo é o combustível do futuro? Eu pensava que eram os biocombustíveis e outros renováveis, mas agora mudou tudo, não foi? É, de fato mudou. Você quer que eu lhe diga o que foi que mudou?

– Pode dizer, finalmente você reconhece que alguma coisa mudou.

– Ah, nesse ponto mudou radicalmente: na época do biocombustível, não ia ter eleição, e agora vai. Mas vamos mudar de assunto, eu passei a te entender melhor do que entendia, antes deste nosso papo.

Agora mostra aí aquela tua prova matemática de que o Fluminense não vai pra segundona.

CLÓVIS ROSSI

Mascates, com todo o respeito

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/09



SÃO PAULO - O leitor vai me chamar de ingênuo. E terá razão, toda a razão. Mas o fato é que ainda me choca ver chefes de governo praticando cenas explícitas de vendedor ambulante.
A mais recente delas é, digamos, um nu frontal. Disse Charles Edelstenne, o presidente da Dassault, fabricante dos aviões Rafale: "Foi Nicolas Sarkozy quem vendeu o Rafale, não nós".
Aliás, pelas declarações de sexta-feira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a frase poderia ser refeita para aplicar-se ao brasileiro. Assim: foi Lula quem comprou o Rafale, não a FAB.
Não há novidade nisso tudo. Há muitos anos, chefes de Estado/governo têm desempenhado o papel de caixeiros-viajantes dos produtos de seus países. Incluo aí chefes de Estado porque as casas reais de muitos países também envolvem-se em operações de venda.
Durante a Guerra Fria, os governantes de um lado e do outro vendiam um produto mais, digamos, intangível, o comunismo e o capitalismo. Parecia uma atividade mais nobre. Afinal, tratava-se de uma construção que pavimentaria o caminho para o paraíso, de acordo com a propaganda tanto de uns como de outros. Aviões, Rafale ou de outra raça, podem ser maravilhosos, mas não levam ninguém ao paraíso, certo?
Hoje, apenas Hugo Chávez vende o que batizou de "socialismo do século 21". Mas mesmo ele apareceu na sexta-feira, em Madri, dizendo a Antonio Brufau, o presidente da Repsol: "Brufau, o que vamos fazer com tanto gás?", conta "El País". Brufau não é socialista nem do século 20, quanto mais do 21.
Chávez referia-se ao gás descoberto na península de Paraguaná, um dos maiores poços do mundo.
Vender Rafales, festejar gás com a burguesia, tudo isso parece reduzir o que antigamente chamávamos de "majestade do cargo". Ah, sou mesmo um irremediável ingênuo.