terça-feira, agosto 25, 2009

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O silêncio que endossa é tão vergonhoso quanto o grito de apoio

25 de agosto de 2009

O apresentador do sarau na sala da residência carioca de Gilberto Gil, então compondo e cantando no cargo de ministro da Cultura, foi o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto. “A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência”, começou. “Se o fim é nobre, os fins justificam os meios”. Ligeira pausa e a ressalva que ilumina o porão: “O que eu acho inaceitável é roubar. Mentir é do jogo político. Não é roubo”.

O convidado de honra sentiu-se em casa. Naquele agosto de 2006, em campanha pela reeleição, Lula era ainda assombrado por reaparições do fantasma do mensalão, que havia mais de um ano vagava pela Praça dos Três Poderes. A fala de Barretão avisou que estava entre amigos. Estava entre comparsas, corrigiu o ator Paulo Betti, encarregado de saudar o presidente em nome dos artistas que se acham intelectuais e dos intelectuais que se acham artistas.

“Não vamos ser hipócritas: política se faz com mãos sujas”, abriu o jogo Paulo Betti. Foi a senha para a estreia do músico Wagner Tiso, sempre o segundo em qualquer parceria, como coadjuvante especializado em comédias de maus costumes. “Não estou preocupado com a ética do PT”, solfejou. “Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país”. Tradução da partitura: para o compositor que se esvaía em lágrimas com clubes da esquina ou corações de estudantes, a bandalheira institucionalizada é uma forma de arte política.

Capturados por jornalistas, o argumento, o roteiro e as falas de cada participante do espetáculo do cinismo chegaram aos brasileiros decentes. A reação aconselhou o elenco a agir com cautela. Se possível, sem palavras. A mudança de tática, ocorrida há três anos, explica o sumiço dos artistas e intelectuais neste inverno da infâmia. Os que absolveram ostensivamente os mensaleiros agora absolvem por omissão a bandidagem federal.

Onde anda aquela gente que, antes da Era Lula, vivia de caneta na mão para não perder nenhum abaixo-assinado? O Congresso está sob o comando de uma quadrilha monitorada pelo Executivo. Nada têm a dizer atores e músicos que protestavam contra os maus modos do guarda de trânsito. Um juiz subordinado a José Sarney ressuscita a censura à imprensa. Permanecem calados escritores e catedráticos que se manifestavam até contra a impontualidade do entregador de pizza. Há sete meses são ouvidos os estrondos dos escândalos. Há sete meses nenhum deles dá um pio.

No fim de julho, no meio da guerra suja promovida para manter Sarney longe do cadafalso, a turma perdeu uma boa chance de começar o resgate da honra em frangalhos. Para assinar o projeto que institui o vale-cultura, Lula marcou um encontro com a sucursal paulista dos operários da arte. Coerentemente, a delegação carioca presente à reunião no teatro foi liderada por Luiz Carlos Barreto. O apresentador do sarau na casa de Gil é o produtor do longa-metragem Lula, o filho do Brasil. Mas o chefe não ouviu nenhuma cobrança. Até cobrou mais ação da platéia no meio de outro show.

Com Dilma Rousseff ao lado, Lula definiu-se generosamente como “pouco letrado”. Aplausos. Embora não tenha visto sequer uma vírgula desenhada pelo crítico literário Antônio Candido, risonho na platéia, definiu-o como “o melhor intelectual brasileiro”. Aplausos intensos. E avisou que o projeto só será aprovado sem demora se os parlamentares forem devidamente pressionados. Ovação.

“A aprovação depende de vocês irem lá, porque, se a televisão for contra, não aprova”, ensinou o professor de Congresso. “Portanto, depende de fazer um jogo de forças entre os que acham que é preciso inovar e os que acham que já está bom”. Que tal perguntar a Lula se aquele abraço em Palmeiras dos Índios era mesmo necessário? Por que não aproveitar a viagem a Brasília para um ato de protesto contra a decomposição moral do Senado, o assassinato da ética e a revogação do Código Penal? Essas coisas podem esperar, respondeu a mudez coletiva.

Não há diferenças relevantes o sarau no Rio e o encontro em São Paulo. Os que seguem contemplando calados o avanço dos fora-da-lei são tão velhacos quanto os que absolveram ostensivamente o bando do mensalão. A cumplicidade ativa não é mais grave que a omissão que endossa. O apoio explícito e o silêncio que consente são igualmente vergonhosos.

LUIZ GARCIA

Ética e política

O GLOBO - 25/08/09

Está em moda falar em ética. Inclusive na política, mesmo que alguns cínicos insistam em afirmar que se trata de uma contradição em termos.

Ou algo parecido com a discussão de cordas em residências de enforcados.

Contraditório ou, como alguns puristas insistem, obrigatório, o tema não sai da mídia.

Nada a opor: sempre pode ajudar e lembrar aos eleitores que a escolha de seus representantes será mais responsável se for levada em conta a postura ética de cada um.

Por exemplo, vejamos como se define a respeito o presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini. O seu partido tomou no Senado a decisão de engavetar todas as representações contra o presidente da Casa, José Sarney, do aliado PMDB. Sarney talvez não seja o senador com maior número de infrações no Congresso, pessoais ou partidárias, mas, se não é, certamente não parece ter sido por falta de esforço.

O rol de episódios mal explicados ou inexplicáveis é considerável. Inclui o abrigo de parentes e parentes de parentes em cargos públicos, viagens de caráter político ou pessoal com dinheiro do Senado etc. O presidente do Senado certamente não foi pioneiro, nem talvez mesmo recordista, nesse tipo de usos e abusos com o dinheiro da Grande Viúva. Mas, como presidente da Casa, deu um festival de maus exemplos. E a Casa, se deseja mesmo limpar sua própria ficha com a opinião pública, agiria corretamente se fizesse do tratamento de seu caso um exemplo de arrependimento e boas intenções para o futuro. Em suma, se existe uma maré de escândalos, é boa política começar a enfrentá-la com um ainda maior tsunami de bons exemplos.

Mas nada disso passou pelas cabeças pensantes do PT. O partido, como Berzoini defendeu em entrevista no fim de semana, sustenta tese original: o Conselho de Ética do Senado simplesmente não é confiável, porque se trata de um foro político. Portanto, e ele disse isso literalmente, nenhuma investigação conduzida pelo Congresso sobre o comportamento ético de seus membros é válida.

No Ministério Público, na Polícia Federal e em tribunais, tudo bem, segundo Berzoini.

No Congresso, nem pensar: “Quando se concentra a investigação no Parlamento, é porque se quer fazer disputa política.” Ou seja, para o jurista Berzoini, todas as cassações de mandatos foram e estão condenadas a ser atos políticos; portanto, indevidos. Ele pode ter razão quando afirma que não há partidos inocentes no rol dos escândalos recentes. Mais adiante, no entanto, contradiz-se, ao afirmar que defenderia uma CPI “para apurar o conjunto da obra no Senado”. E isso não seria uma investigação concentrada no Parlamento? O PT e seu presidente têm responsabilidade direta, e não negada, no atropelamento das investigações pelo Conselho de Ética. Podem dizer, se acham que o fardo não pesa, que não querem investigação alguma. Mas, se aceitam uma CPI, cabe ao partido presidido por Berzoini propô-la e defendê-la com unhas e dentes. Não apenas em entrevistas, mas por iniciativa formal no Congresso.

MERVAL PEREIRA

Educação, política de Estado


O Globo - 25/08/2009

A entrevista do economista Geraldo Langoni, da Fundação Getulio Vargas, no GLOBO de domingo, em que ele afirma que investir em educação é mais importante para o futuro do Brasil do que o petróleo do pré-sal, é uma atualização de seu pensamento sobre o assunto, já explicitado na década de 70 do século passado por um trabalho famoso que mostrava que a taxa de retorno da educação no Brasil era muito alta já naquela época. Hoje, estudos demonstram que, a cada ano de escolaridade acrescentado, o salário aumenta cerca de 10%, principalmente no ensino básico. E, apesar disso, não foi feita a opção de investir em educação.

O livro “Educação básica no Brasil — construindo o futuro do país”, recentemente lançado, mostra que somente a partir da década de 90 do século passado finalmente a ficha começou a cair. Coordenado pelos economistas Fernando Veloso, Samuel Pessoa, Ricardo Henriques e Fabio Giambiagi, o livro mostra que desde o governo Fernando Henrique, e com certa continuidade no governo Lula, embora não muito linear, especialmente a partir da gestão do ministro Fernando Haddad, o Brasil começou a reverter um pouco essa história.

Primeiro universalizando o acesso, embora sem universalizar a conclusão, e construindo um arcabouço de avaliação para poder melhorar a qualidade do ensino. O Brasil demorou muito tempo para acordar para a importância da educação, e, para os autores do livro, temos que passar da fase de “mais educação” para uma educação de mais qualidade.

Segundo Fernando Veloso, do Ibmec do Rio, é um processo lento, mas a mensagem dos gráficos é positiva: a taxa de conclusão, tanto do ensino fundamental quanto do médio, aumentou significativamente, embora esteja ainda bem abaixo do que deveria ser.

Por exemplo, em 1995 a taxa de conclusão do ensino fundamental era de 30%, e, em 2007, passou para 60%. Já no ensino médio, girava em torno de 15% e passou para a casa dos 45%, num período relativamente curto.

Nesse período, lembra Veloso, surgiram vários movimentos na sociedade civil pela melhoria da educação, entre os quais destaca o “Todos pela Educação”, que trabalha inclusive com o MEC.

As cinco metas propostas são as seguintes: toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo jovem com o ensino médio concluído até os 19 anos; investimento em educação ampliado e bem gerido.

Lançado em 2005, o movimento “Todos pela Educação” fez um primeiro balanço no fim de 2008, mostrando que os avanços aconteceram, mas que ainda temos muito chão a percorrer.

O movimento é organizado por um grupo de empresários e especialistas em educação que decidiu se unir para, além dos projetos que fundações ou ONGs das quais participam fazem na área de educação, criar um movimento para qualificar a demanda do ensino.

Uma das metas, por exemplo, de que todo jovem esteja com o ensino médio concluído até os 19 anos, teve superados os objetivos propostos para 2007, mas para que se chegue a 2022, no bicentenário da independência do país, com educação de qualidade para todos, é grande o desafio de corrigir o fluxo escolar.

O fato de mais da metade dos jovens não concluírem o ensino médio na idade correta, o mesmo acontecendo com quase 40% do ensino fundamental, revela que o Brasil está longe de garantir bom fluxo escolar para seus alunos, diz o primeiro balanço do movimento.

Para Fernando Veloso, na questão da qualidade, era preciso primeiro medir, e o país não tinha até a década de 90 um termômetro para isso.

Os avanços nesse setor foram importantes.

Em 1995, criou-se o novo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) e, a partir daí, pode-se construir uma série histórica de notas. Depois veio a Prova Brasil, em 2005, que é feita em todas as escolas públicas de 4aa 8asérie. Passamos a não apenas ter um diagnóstico, como uma nota para cada escola pública.

Depois veio o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que combina a Prova Brasil com um índice de aprovação, “para evitar que escolas melhorem suas notas expulsando o pior aluno, e penaliza a evasão e a repetência”.

Veloso vê nisso “um processo evolutivo que vai começar a dar resultados”. Segundo ele, o MEC tem trabalhos interessantes, como, por exemplo, analisar o resultado da Prova Brasil em escolas de locais desfavoráveis, com um ambiente socioeconômico difícil, no interior do Nordeste, e constatar que várias escolas já mostraram saltos expressivos na nota.

O resultado já está sendo mapeado. O próximo passo agora, diz Fernando Veloso, “é pegar esses casos isolados de sucesso e institucionalizá-los nas políticas públicas para melhorar todo o sistema”.

Para Fernando Veloso, “esse é um processo lento; a sociedade não está muito acostumada a trabalhar com metas na educação, é uma experiência nova”. Ele vê “um papel fundamental” da sociedade, de fazer pressão sobre gestores, diretores de escolas e professores, para fazer a cobrança.

“Isso funciona muito bem na Coreia do Sul, onde os pais têm a maior preocupação com a qualidade da educação e efetivamente cobram isso das escolas”.

Embora o Brasil ainda esteja no início desse processo, no livro “Educação básica no Brasil — construindo o futuro do país” são analisadas essas novas ferramentas que apontam, segundo Veloso, para “um final otimista”.

Esse processo “não tem receitas, não tem fórmulas mágicas, é lento, é difícil, o resultado nem sempre é imediato, mas como está resistindo, e passando de governo para governo, está virando uma política de Estado”.

ARI CUNHA

Trabalho escravo

CORREIO BRAZILIENSE - 25/08/09

Médicos não são funcionários dos hospitais particulares em Brasília. Vivem sem afinidade profissional. É trabalho escravo. Representam empresas e associações. O ganho anula a Previdência Social. Nos hospitais particulares, cobram livremente dos doentes. Os exames também são terceirizados. Nos hospitais há empresas que prestam serviços pagos pelos internos. Exames são pagos não aos médicos, e sim às empresas particulares que mascaram o emprego. Começa aí o enorme número de pedidos para exames caríssimos. Vão para a conta dos doentes em contabilidade terceirizada. Pior é a sonegação do Imposto de Renda, que não atinge todo o dinheiro que é pago na tesouraria dos hospitais particulares.

A frase que foi pronunciada

“Se o baiano fica triste, o turismo diminui.”
Lázaro Ramos, ator, dando a dica para incrementar o setor no país.

Poder
Presidente Lula da Silva disse outro dia que quando deixar o Palácio do Planalto quer a presidência da Petrobras. Foi num discurso e houve risos na plateia. Lula é homem bom de negócios. Antevê quanto ganhará a diretoria da empresa quando se instalar o programa do pré-sal, que está sendo instalado pela China no Brasil.

Tatuagem
Nos braços de Taisa, da equipe de vôlei brasileira, para cada vitória internacional há uma tatuagem. Com tantas vitórias, poderá mostrar seu corpo coberto por distinções de ganhos nas partidas. É lembrança para sempre.

Falecimentos
Notícias do Ceará informam o falecimento de José Arimatéa Santos e Luciano Barreira. Arimatéa Santos era companheiro de turma de Edson Queiroz no Liceu do Ceará durante a guerra. Essa amizade foi mantida pela postura de ambos por retidão no trabalho. Luciano Barreira faleceu no Distrito Federal e está fazendo falta aos companheiros da Casa do Ceará. Era editor do jornal há muitos anos.

Equipe técnica
Na premiação do Brasil, as jogadoras pediram a presença da equipe técnica. É contra o regulamento. Foi o suficiente para a equipe técnica aparecer, receber abraços e ir para o seu lugar. Alegres, festejam os feitos do vôlei brasileiro como campeão mundial no Japão.

Destaques
Ceará é destaque no crescimento das áreas de saúde, emprego e renda.
A pesquisa foi realizada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. O estado atingiu nível moderado no desenvolvimento.

Pesos
Mais de 5,5 milhões receberam as entidades patrocinadas pela Petrobras. Em todas foram encontradas irregularidades. A pesquisa foi realizada pela Corregedoria-Geral da União, nos contratos firmados entre 2001 e 2008. Já para a merenda escolar em municípios, quem não prestar contas ao governo não renova contrato.

Debate
Oportunidade para quem quiser participar de debate em audiência pública sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalistas. A iniciativa é da deputada federal professora Raquel Teixeira. Será nesta quinta-feira, na Comissão de Ciência e Tecnologia e de Educação, sessão conjunta na Câmara dos Deputados. Os visitantes podem se comunicar com os deputados presentes apresentando propostas por escrito.

Presença
»Com a chuva, amenizam as queimadas no Planalto Central. Carroceiros que ocupam áreas próximas ao Congresso Nacional têm como fonte de renda a queima de pneus para a retirada do aço. Há a necessidade da presença de órgãos públicos para orientá-los sobre os danos desse processo.

Justiça
Marilene Aranha, da coordenação de assistência aos encarcerados do TJ maranhense, fez grave observação. Afirmou que muitos juízes e promotores não conhecem a realidade das prisões brasileiras. O contexto da entrevista a Luciana Abade era sobre a importância da participação de universitários estagiários em núcleos de advocacia voluntária para analisar os processos.

História de Brasília

Não funcionou a ordem presidencial para o recolhimento dos carros chapa-branca no domingo. O que devia haver com relação a isso, era a renúncia dos ministros de Estado, para dar o primeiro exemplo. Aí, então, os demais se sentiriam, naturalmente, acanhados diante do fato.
(Publicado em 7/2/1961)

MÍRIAM LEITÃO

Tanto tempo depois

0 GLOBO - 25/08/09

Para um jornalista, que vive da notícia do dia a dia, é um enorme desafio olhar para trás, num tempo que abrange 40 anos. Foi o que este caderno de economia fez nos últimos dias. Ontem, no seminário sobre o balanço dessas quatro décadas, houve acordo entre pessoas de partidos, convicções e times diferentes: o Brasil está diante de uma grande chance de desenvolvimento.

Esse esforço de desvendar o passado e pensar o futuro foi o desafio que a turma da economia do GLOBO se propôs para comemorar os 40 anos do caderno de economia.

No seminário, houve uma concordância entre os que falaram: a sensação de que o Brasil, com todos os percalços que teve, com todas as dificuldades que ainda enfrenta, avançou muito. E hoje sabe mais o que quer.

Exemplo: combater a desigualdade, como lembrou o economista Marcelo Neri, da FGV. Ele disse que o crescimento per capita do país é um terço nesta década do que foi na do Milagre econômico.

Mesmo assim, a desigualdade agora está caindo mais do que naquela época.

O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, lembrou um tempo sombrio: — A hiperinflação destrói o nexo entre as pessoas. Os que hoje pedem na Justiça a correção monetária a que teriam direito não sabem quanto perderam os que não tiveram correção naquele tempo, quando tínhamos duas classes: os bancarizados e os não bancarizados, com perdas violentas.

Mesmo no Plano Cruzado, que hoje é criticado pelo congelamento, houve avanços, lembrou Belluzzo.

Ele citou o fim da conta de movimento — uma exótica conta conjunta entre o Banco do Brasil e o Banco Central — e a criação da Secretaria do Tesouro.

Com avanços a cada governo e a cada plano, o Brasil chegou à estabilidade. Para Marcelo Neri, o Real significou, para brincar com o nome, um choque de realidade.

O ministro Guido Mantega, orgulhoso, mostrou o desempenho do país na crise. Ele atribuiu isso mais ao governo Lula do que ao processo, ao contrário de outros palestrantes.

Discordou do governador de Minas, Aécio Neves, que tinha dito que nos últimos 17 anos houve a continuidade que permitiu os avanços de hoje.

Mantega disse que foram mantidas a estabilidade, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as metas de inflação, mas que não houve continuidade porque cada governo tem a sua filosofia.

O ministro olhou para as crises passadas e mostrou que o país sempre levava três anos para voltar a crescer.

Disse que as crises eram em L (a atividade econômica caía e ficava) e agora está sendo em V (caiu e levantou).

Na visão dele, o país cresceu cerca de 1,6% no segundo trimestre. O mercado aposta numa taxa maior. Mas isso na comparação com o trimestre anterior porque em relação ao mesmo trimestre de 2008 continuará em queda: — O Brasil teve o menor custo fiscal para recuperarse da crise. A China gastou 13% do PIB no pacote fiscal; os EUA, 5,6%; e o Brasil é lanterninha, e neste caso é bom ser lanterninha, gastou entre 0,8% a 1% do PIB — disse o ministro.

Mantega disse que na crise que se seguiu após o Milagre econômico houve déficit comercial e de transações; e agora há superávit comercial e um leve déficit em transações correntes.

O ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso defendeu o desempenho econômico dos governos militares: — Nós tínhamos tudo para ser como a Coreia mas perdemos, depois de 1985, o know how do crescimento, houve uma desconstrução do crescimento econômico como valor.

Disse que o Brasil foi campeão de crescimento nas décadas de 60 a 70: — O desemprego em 1979 era de 2%. O emprego cresceu a 4% em média na década de 70, e o emprego industrial cresceu a 7%. A pobreza foi reduzida à metade. Adotamos naquela época políticas imperfeitas, mas funcionais.

Tema polêmico, do qual não consegui fugir estando na mesa de debates.

Lembrei um dado publicado aqui no caderno: que o total de crianças fora da escola em 1970 era de 33%; em 1980 era também de 33%. No milagre, a educação foi posta de lado, a concentração da renda aumentou. Quem levou as crianças para a escola foi a democracia, nos anos 90.

Quem tem reduzido a concentração da renda, explicou Marcelo Neri, é também a democracia. Ele fez uma entusiasmada defesa do Bolsa Família.

— Gasto de 0,4% do PIB para beneficiar 25% da população é um ato de sabedoria — afirmou.

Em resumo, o PIB oscilou mais, mas o Brasil teve grandes conquistas nos anos da democracia.

O governador Sérgio Cabral disse que o Rio de Janeiro tem agora — comparado com 40 anos atrás — uma enorme oportunidade de atração de investimentos na área siderúrgica e de refinarias.

Aécio ressaltou a necessidade de melhorar a eficiência da gestão pública: — O país desperdiça por ano energia suficiente para iluminar uma cidade como o Rio de Janeiro.

Apesar do clima de confiança no futuro do país, os participantes do primeiro painel e da mesa de abertura admitiram que há muito a fazer: descentralizar a receita pública, reduzir desigualdades, investir mais em educação, retomar um ciclo prolongado de crescimento, evitando os erros já cometidos no passado e que nos custaram tanto.

BRASÍLIA - DF

Os royalties do pré-sal


Correio Braziliense - 25/08/2009


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer um novo pronunciamento sobre o pré-sal na tradicional mensagem do Dia da Independência (7 de setembro). Desta vez, quer explicar o porquê do novo marco regulatório do petróleo, com a exploração do pré-sal por uma nova empresa estatal (cujo nome será anunciado), em regime de semimonopólio, no qual a Petrobras terá precedência. O pronunciamento servirá para rebater as eventuais críticas do lobby das Sete Irmãs, as grandes empresas monopolistas estrangeiras do setor. O novo marco será anunciado em 31 de agosto, no Centro de Convenções de Brasília.

No plano interno, porém, a maior polêmica é em relação aos royalties arrecadados com a exploração do petróleo, que serão destinados a um fundo gerido pela União, com participação minoritária de estados e municípios. Os grandes perdedores serão os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, que seriam os mais beneficiados pelo regime hoje vigente.

Na rede// Scott Goodstein, responsável pela plataforma de comunicação via celular da campanha de Barack Obama a presidente dos Estados Unidos, desembarca em outubro no Brasil. Ele participará do 1º Seminário de Comunicação e Marketing da George Washington University, em São Paulo.

Acertos


A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, coordena os acertos finais no texto do novo marco regulatório, elaborado por um grupo de trabalho do qual participaram o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), o presidente da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima (PCdoB), e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, além do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrieli, em algumas reuniões. O presidente Lula decidiu de corpo presente todas as polêmicas.

Frustração



O governador paulista, José Serra (PSDB), já esperava um revés no novo marco regulatório do petróleo, porque o presidente Lula sempre quis transferir renda de São Paulo para o Norte e o Nordeste. O governador fluminense Sérgio Cabral (foto), do PMDB, não esconde a frustração. Aliado incondicional do presidente Lula, avalia a mudança como a sua maior derrota política, um ano antes da campanha da reeleição, pois o Rio é o maior produtor de petróleo do país. Outro que está decepcionado é governado Paulo Hartung (PMDB): A riqueza do petróleo faz parte do imaginário capixaba há uma década.

Fundo



Governador de Minas, Aécio Neves (foto) concorda com a mudança na legislação em relação aos royalties arrecadados com a exploração da camada do pré-sal, mas questiona a livre utilização dos recursos pela União. Quer que o dinheiro seja reservado a um fundo destinado à saúde e à educação, em todos os estados e municípios brasileiros, e não apenas àqueles onde é feita a exploração do petróleo, como ocorre atualmente. Quem mais apoia o projeto como está é o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

Resgate


Até 30 de junho, o Tribunal de Contas da União (TCU) apreciou 1.793 processos de prestação e tomada de contas, dos quais 673 culminaram na condenação de responsáveis ao pagamento de multa ou ao ressarcimento dos prejuízos aos cofres públicos. O valor cobrado atinge
R$ 487.694.453,74

Ordem/ Um censo dos flanelinhas que trabalham nos arredores da Câmara está sendo feito para acabar com a bagunça em torno do Congresso. Até agora, já foram cadastrados 197 guardadores e lavadores de carros. A direção da Casa quer implantar um programa de biolavagem como forma de economizar na conta de água.

Gatos/ A CPI da Conta de Luz, na Câmara dos Deputados, centrará fogo no Decreto 5.163/04, que autorizou as 64 distribuidoras de energia elétrica a incorporar o custo de perdas técnicas e comerciais na fatura ao consumidor. O presidente da CPI, deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), quer apresentar um projeto de decreto legislativo para sustar os efeitos da norma com base num parecer técnico da própria Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Jornada/ Para contrabalançar o barulho das centrais sindicais, 600 empresários são esperados hoje em Brasília. Vão acompanhar o debate público no plenário da Câmara dos Deputados sobre a Proposta de Emenda à Constituição que reduz a jornada de trabalho para 40 horas semanais e eleva para 75% a hora extra. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE), lidera a mobilização.

Corrida/ A Câmara dos Deputados quer a paternidade da proposta de criação do Export-Import Bank (Eximbank) brasileiro, instituição destinada ao financiamento do comércio exterior. O presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), já tem o projeto de lei em mãos. O Executivo, porém, prefere criar o Eximbank por meio de medida provisória, sob argumento de que seu efeito imediato evitaria uma onda de especulações no mercado financeiro.

COISAS DA POLÍTICA

Lula vira operador da aliança eleitoral

Mauro Santayana

Jornal do Brasil - 25/08/2009

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um animal político. Tem aquilo que os economistas chamam de “espírito animal”, quando se referem aos empresários mais empreendedores. Como um predador, daqueles que ocupam o topo da escala alimentar, Lula lança mão de todos seus sentidos e da inteligência para alcançar a caça. É muito provavelmente o que está ocorrendo agora no relacionamento entre o presidente e o principal partido aliado do governo no Congresso, o PMDB. Lula sentiu que este é o momento para fechar o cerco e começar a cimentar a aliança eleitoral.
No ano passado e até o início deste ano, muito se falou da possibilidade de os peemedebistas não fecharem aliança com o PT em torno da candidatura presidencial da ministra Dilma Rousseff, bandeando-se para o lado do concorrente tucano, especialmente se o nome escolhido pelo PSDB para disputar o Palácio do Planalto for o do governador de São Paulo, José Serra.
Mas algo mudou com a crise no Congresso. A oposição, capitaneada pelo PSDB, sentiu que a fragilidade do governo estava no Senado, onde dispõe de uma maioria tênue. A investida sobre o presidente da Casa, José Sarney, tem a ver com os erros do senador, mas também tem tudo a ver com a tentativa da oposição – diga-se de passagem, legítima – de fragilizar o governo. Obrigou o presidente Lula a dar demonstrações seguidas de apoio ao peemedebista Sarney e a aproximar-se da bancada. Até mesmo o gesto de forçar o PT a solidarizar-se com os aliados do PMDB aproximou mais Lula do partido, enquanto os ataques seguidos dos tucanos ao fisiologismo peemedebista só afastou o PMDB do PSDB.
Nesse quadro, nada mais apropriado do que aproveitar-se do momento para atrair os peemedebistas a conversas em torno de uma aliança definitiva para 2010. Lula e todo mundo no PT e na política sabe que está muito cedo para um acerto definitivo. Mas começar a persegui-lo agora vai fechando as portas para a aproximação entre o PMDB e Serra.
Eis que o presidente da República, ontem, chamou a seu gabinete, em São Paulo, o presidente do PMDB, Michel Temer, e o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, para uma reunião com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o líder na Câmara, Cândido Vacarezza. Tema: eleições, aliança, dificuldades regionais. Henrique Eduardo levou um levantamento completo, estado por estado. De onde Lula poderia influir, onde já estava tudo bem e onde já não há mais solução. De modo geral, o quadro nacional desenhado pelo deputado é favorável à aliança, mesmo quando ela for impossível nos estados. Por exemplo: na Bahia, Geddel Vieira Lima já disse que não exige de Lula que abandone o petista Jaques Wagner. Mas quer demonstrações efetivas do presidente de que também o apoia. Só assim dará trânsito livre a Dilma no estado.
Por outro lado, por que o PMDB quereria fechar agora a aliança com o PT? E se os ventos mudarem? Só em junho de 2010 serão feitas as convenções partidárias. Antes do início do ano, qualquer fechamento de apoio será uma precipitação desnecessária. Então, enquanto Lula aperta o cerco para forçar a aliança o mais rapidamente possível, o PMDB vai tentar enrolar. E ficarão nesse jogo como um casal de namorados, ora brincando de sedução, ora namorando mesmo, ora escondidos no escurinho do cinema e, às vezes, até brigando, mas deixando o casamento de verdade para um momento mais oportuno.
Ah! Por falar em namorar, antes da reunião Lula almoçou com o mesmo Temer, mas o deputado foi recebido na qualidade de presidente da Câmara. E o presidente da República fez-lhe salamaleques os mais variados, elogiando sua administração naquela casa legislativa etc. Temer, como se sabe, é um forte candidato a vice na chapa de Dilma, se a aliança PT-PMDB se formalizar a nível nacional. Entre outras coisas, serviria para evitar que, em São Paulo, Quércia formalize a aliança com José Serra. Mas aí também é cedo demais. Dependendo do andar da carruagem, há outros nomes entre os peemedebistas que podem servir melhor como vice.
De concreto mesmo, desse teatro todo, saiu o acerto para que Lula, a partir de agora, comece a discutir, pessoalmente, com cada um dos protagonistas do PMDB nos estados, as formas de se amenizar o embate com o PT e fechar a aliança nacional em torno de Dilma.

TODA MÍDIA

China, Brasil & EUA

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/08/09

O editor da "Far Eastern Economic Review", de Hong Kong, escreveu no "Wall Street Journal" sobre "o jogo chinês na América Latina", com foto de Lula e Hu Jintao. Hugo Restall avalia que "os grandes investimentos da China no "quintal" são desafio aos EUA", mas também oportunidade. "É a arena mais importante dos financiamentos chineses, para aumentar sua influência em recursos naturais", mas haveria motivos para manter a calma, por exemplo, "o interesse é pragmático, não ideológico". Sublinha o efeito da importação da China na indústria têxtil do Brasil e sugere aos EUA "jogar os dois lados um contra o outro, pois sua economia é complementar a ambas".

Por outro lado, no "China Daily", o chanceler Yang Jiechi deu entrevista pelos 60 anos da revolução e ressaltou o "fortalecimento da cooperação com potências emergentes como Brasil e Índia". Diz que "preservar a unidade com os países em desenvolvimento é a pedra fundamental da diplomacia da China".

BRASIL & NIGÉRIA

O site ISN Security Watch postou análise sobre a "Promessa de paz do Brasil à Nigéria", com a oferta de tecnologia agrícola e de biocombustíveis -que o texto contrapõe à "trilha de violência e opressão", por focar o Norte, em conflito. Projeto semelhante no Sul, da Petrobras, teria garantido paz na área.

RIO VS. BRASIL?

Como "twits" e blogs de Brasília postaram desde logo, Dilma Rousseff e José Serra não foram ao encontro econômico de "O Globo". Presentes, Sérgio Cabral e Aécio Neves, no destaque do G1, "discordam sobre o pré-sal". Cabral quer manter os royalties. Para Aécio, "o Brasil também tem que ser beneficiado". ARGENTINA E A DEFESA infobae.com

Jobim "conversa antes" O ministro Nelson Jobim foi à TV argentina "detalhar o plano estratégico do Brasil para defender as reservas de petróleo submarinas e a Amazônia". Sobre esta, "queremos deixar claro que a visão é de proteção da Amazônia pelos brasileiros, em favor do mundo". Nos relatos locais, destaque à cobrança dos EUA pelo Brasil, para que decisões como as bases na Colômbia sejam "conversadas antes", neste "continente sensível".

ÀS ARMAS

No espanhol "El País", "falta mais de um ano para a luta renhida entre o PT de Lula e o governador do poderoso Estado de São Paulo, José Serra, mas não há um minuto a perder", na campanha que "já começou". A longa reportagem de Francho Barón viaja até Maracanaú, no Ceará, para retratar "uma das maiores armas, o reconhecido Bolsa Família".

JANIO DE FREITAS

Promessas do inacreditável


Folha de S. Paulo - 25/08/2009

A ordem aos governistas da CCJ é impedir convocação de Dilma e Lina para acareação já considerada por oposicionistas


A PRIMEIRA DAS três boas promessas da semana deverá ser, considerados os preparativos governistas contra uma surpresa como foi a convocação de Lina Vieira, outro indício de que as posições de Lula e Dilma Rousseff são de desconforto sem expectativa de saída, no impasse sobre o encontro, ou não, da ministra com a então secretária da Receita Federal.
A convocação de Lina Vieira, para o depoimento dado na semana passada, decorreu de uma trama dos oposicionistas onde os governistas não a esperavam: a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O que só lhes deixou como alternativa, para tentar impedir o depoimento, a improvável discussão do conceito de Justiça, na finalidade da comissão. A maioria na CCJ era e é dos governistas, que desde o final de semana são reiteradamente alertados para estar, nestes dias, em prontidão no Senado. A ordem é impedir, de qualquer modo, a convocação de Dilma e Lina para a acareação já considerada pelos oposicionistas, e logo aceita pela ex-secretária da Receita, e mesmo para um depoimento da ministra, simples e resguardado pela maioria governista.
Por quê? As hipóteses imediatas são duas. Digamos que prevaleça, na Presidência, o argumento de que não ficaria bem a uma candidata a presidente a situação de questionada, moralmente e em circunstâncias constrangedoras, para comparação com uma funcionária destituída de seu cargo. A outra hipótese é a de que Dilma Rousseff não pode confrontar-se com o risco de ver contestada por uma comprovação, seja de que feitio for, a sua negativa. Algo assim seria uma avalanche sobre candidatura, Lula, Presidência e cargo de ministra. Ainda, porém, que sem tal elemento surpresa, haveria a volta a questões em que a ministra tem impagáveis dívidas de veracidade.
A primeira hipótese comporta uma observação. A recusa ao depoimento não impediria, agora ou antes, contestação menos insuficiente a Lina Vieira do que a feita por Dilma Rousseff. É verdade que a posição cômoda, no caso, é a da funcionária destituída. Mas, além dos sucintos "não houve o encontro" e "não houve o pedido" [de apressar a investigação de Fernando Sarney], a ministra e o sistema operacional por ela comandado da Presidência só se mostram capazes do inacreditável.
Primeiro, uma barafunda manipulada de alegados registros de agenda funcional, em que o provável dia do encontro, segundo teria dito a senadores, 19 de dezembro, evaporou. Por acaso? Agora é a infantil e cínica (cínica, para dizer o menos) alegação de que não sobrevivem a mais de 30 dias os registros, de todos os tipos, de pessoas e carros que estiveram no Planalto. Impossível. O "dispositivo de segurança" da Presidência, imenso e dispendioso, vai a pormenores e ridículos como, por exemplo, a alteração do tráfego aéreo porque o avião presidencial fará uma provável decolagem em Brasília e um provável pouso, digamos, no Galeão. Os maníacos da segurança são maníacos convictos.
Nada evidencia onde está a verdade no episódio. Sabe-se, porém, em que não acreditar até agora. É isso que promete mais um episódio interessante na semana do Senado. Como complemento para a reunião do Conselho de Ética amanhã, quando se conta com a oportunidade de outra apresentação do senador Almeidinha Lima, no seu papel de meganha exibicionista em taberninha da caatinga; e como aperitivo do previsto julgamento, depois de amanhã no Supremo Tribunal Federal, de Antonio Palocci, o governo conta ganhar e levar, pelas razões de praxe que o caseiro Francenildo Santos conhece bem.

ELIANE CANTANHÊDE

O jeito PT de governar


Folha de S. Paulo - 25/08/2009

Na Casa Civil, assessores faziam dossiês de cunho nitidamente político contra um ex-presidente da República.

No Banco do Brasil, o sindicalismo tomou de assalto a Previ, a Cassi, a Fundação BB e quase todas as diretorias (só escaparam a de agronegócio e a de relações internacionais, por falta de quadros com desenvoltura nessas áreas). Daí a surgirem aloprados comprando dossiês contra adversários em eleições e coisas do gênero foi um pulo.
Na Polícia Federal, por mais méritos que a maioria das operações tenha, virou cada um por si e ninguém por todos. Ao ponto de um delegado grampear os telefonemas do Planalto, rechear relatórios policiais de adjetivos "ideológicos" e no final cada um ter de ser despachado para bem longe.
Não há surpresa quando esse jeito petista de governar chega à Receita Federal. Aliás, já não era sem tempo. E foi assim que mais de dez funcionários colocaram seus cargos à disposição ontem, inclusive o subsecretário de Fiscalização, Henrique Jorge Freitas da Silva. O último apague a luz. Até que o novo grupo, ligado ao PT do B, ou PT do C, venha acender as luzes, reativar a tática de ocupação e fazer tudo o que seu mestre mandar.
A debandada foi resultado direto da exoneração de Alberto Amadei Neto e de Iraneth Maria Dias Weiler, que foram assessor e chefe de gabinete de Lina Vieira, demitida em 9 de julho numa situação que ainda não ficou muito clara.
Por incompetência? Será? Ou pode muito bem ter sido por incompatibilidade de métodos -segundo Lina, a ministra Dilma queria "agilizar" as investigações contra o empresário Fernando Sarney. E "agilizar" combina mais com o vocabulário do PT no poder do que com o da técnica com 30 anos de carreira.
É assim, de órgão em órgão, de instituição em instituição, que vamos aprendendo como é uma "gestão republicana". Sem falar na Petrobras da companheirada.

CLÓVIS ROSSI

Governabilidade porca


Folha de S. Paulo - 25/08/2009

Quem inventou, pelo menos na história recente, esse modelo porco de governabilidade que vigora no Brasil foi Fernando Henrique Cardoso, lembra-se?

Foi ele quem buscou um acordo com o então PFL, hoje DEM, apesar de os líderes do PSDB e do pefelê terem estado na calçada oposta desde sempre.
Na campanha de 1994, durante um "Roda Viva", apontei ao então candidato o que me parecia uma contradição grave. FHC respondeu com uma falácia, ao citar como exemplo de aliança entre contrários o fato de que o Partido Socialista e a Democracia Cristã do Chile governavam em coligação (governam até hoje), embora tivessem sido adversários a vida toda.
É verdade, mas é só metade (ou menos) da verdade. PS e DC uniram-se já na ditadura -e contra a ditadura. PSDB e PFL uniram-se pelo poder. Ponto. É da mesma natureza a aliança PT-PMDB.
Eu seria capaz de apostar que, assim como FHC acabou entrando em confronto com Antonio Carlos Magalhães, a mais estridente liderança pefelista, sem que a governabilidade tivesse sido minimamente afetada, Lula também poderia ter se omitido no caso Sarney -e não aconteceria rigorosamente nada com a governabilidade.
Sejamos francos: não há nenhum tipo de lealdade na política brasileira, nem programática, nem partidária, nem mesmo pessoal. A lealdade é com o poder. Ponto.
Basta lembrar que Renan Calheiros (PMDB) foi forçado a renunciar à Presidência do Senado sem que se rompesse a aliança do partido com o poder de turno.
O PMDB só se mexeria de fato se Lula (ou FHC antes dele, seja com o PFL, seja com o próprio PMDB) começasse a tirar as "boquinhas" cedidas ao partido. Aí, sim, haveria uma verdadeira ameaça ao único programa do PMDB, que é o poder, a maior cota possível dele.

PAINEL DA FOLHA

Tudo dominado

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/08/09

Na nota divulgada ontem, os 12 dirigentes da Receita Federal que pediram exoneração mencionaram, além da ‘forma como ocorreu’ a dispensa de Lina Vieira e da ‘evidente intenção do Ministério da Fazenda de afastar outros administradores’, os ‘depoimentos realizados no Congresso’. Trata-se de referência à ida de Otacílio Cartaxo à CPI da Petrobras.
Ali, ao recuar do que a Receita havia dito acerca da manobra praticada pela empresa para pagar menos imposto, Cartaxo assegurou sua efetivação, mas deixou a equipe de queixo caído e convencida de que - ao contrário do que pede a nota de ontem -, não será ‘mantido o foco nos grandes contribuintes’ nem ‘preservada a autonomia técnica da Receita’.

Nunca antes - Um subsecretário (Fiscalização), cinco superintendentes regionais, um superintendente-adjunto e cinco coordenadores. Não há precedente de debandada dessa envergadura na Receita.

Ficou - Chamou a atenção a ausência de Eliana Polo Pereira, da 7ª Região (Rio de Janeiro), na lista dos superintendentes que pediram exoneração. Ela se reuniu com Cartaxo antes do depoimento deste à CPI da Petrobras. Seu adjunto, José Carlos Sabino, está entre os que saíram.

Saiu - Ao menos um dos superintendentes sabe que teria sido apeado se não tivesse saído por iniciativa própria. Considerado um dos maiores especialistas da Receita na área de aduana, Dão Real Pereira dos Santos, da 10ª Região (Rio Grande do Sul), custou a ser nomeado, tamanha a pressão de empresários contra seu nome, e vivia às turras com Nelson Machado, secretário-executivo da Fazenda.

Rebelião 1 - Reunião hoje do Conselho Nacional do Ministério Público vai opor o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e os novos conselheiros, que se recusam a votar proposta de estruturação de cargos feita por Gurgel.

Rebelião 2 - Oito dos 15 conselheiros acusam Gurgel de tentar aparelhar o órgão de controle externo com funcionários do Ministério Público. O líder da resistência é o corregedor-geral do CNMP, o promotor de Justiça catarinense Sandro Neis.

Amigos do peito - No almoço reservado que teve ontem com Michel Temer, Lula elogiou a condução da Câmara e o fato de a Casa estar votando normalmente. A comparação com a situação do Senado ficou nas entrelinhas.

Em campo - Lula ficou de chamar Geddel Vieira Lima e Jader Barbalho para conversas reservadas. Acredita que conseguirá reverter o rompimento do PMDB com o PT na Bahia e no Pará, dois colégios eleitorais importantes na convenção peemedebista.

Na janela - Ainda no encontro com Temer, o presidente demonstrou ansiedade com o julgamento, pelo STF, do pedido de abertura de ação penal contra Antonio Palocci. E disse que, caso seja isentado, o ex-ministro passa a ser o petista mais cotado para disputar o governo de São Paulo.

Penhora - Complacente com Marina Silva, o PT pensa seriamente em pedir o mandato de Flávio Arns (PR). Uma auditoria na situação ‘fiscal’ do senador no partido revelou um débito de R$ 66 mil na contribuição partidária, não paga desde 2007.

Obamizada - Marina Silva foi recebida anteontem no Acre por militantes do PV munidos de faixas e balões. Nas camisetas, a tentativa de associar a senadora à trajetória de Barack Obama nos EUA: ‘Sim, nós (também) podemos!’, diziam as inscrições, com a foto dela ‘obamizada’.

Tiroteio

Com seu palpite sem base científica, Montenegro tira o Ibope da concorrência com outros institutos de pesquisa e o coloca no mercado de jogadores de búzios.
Do deputado CÂNDIDO VACCAREZZA , líder do PT na Câmara, sobre o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que previu em entrevista que ‘Lula não fará o sucessor’.

Contraponto

Imortais

Numa tarde antes do recesso, quando a oposição pressionava pela instalação da CPI da Petrobras, Mão Santa (PMDB-PI) sofria à frente da Mesa Diretora pois, embora apoiasse a investigação, tinha ordem do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para barrá-la.
- O senhor é um homem de coragem_ elogiava Arthur Virgílio (PSDB-AM) num esforço para comover o colega.
- Minha assinatura está na lista, só tiro se Deus me levar!_ respondeu Mão Santa, reafirmando seu apoio, mas se recusando a fazer a leitura do requerimento.
O tucano pensou um instante e devolveu:
- O senhor não morrerá tão cedo. Estaremos os dois aqui velhinhos, festejando o bicentenário do Flamengo!

CELSO MING

O fator político


O Estado de S. Paulo - 25/08/2009
Brasília sempre foi a capital das lambanças, mas a aproximação das eleições tende a aumentá-las.

Não foram os comentaristas econômicos que levantaram a questão do risco eleitoral para a economia do País. Foi o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que alertou para isso.

Mas até que ponto o comportamento dos políticos e os movimentos de poder podem desarrumar a economia brasileira e levar os agentes a buscar refúgio no dólar e a puxar os juros para cima?

Afinal, 2002 foi bem diferente, e pior, do que será 2010. Em 2002, a cotação do dólar foi a R$ 4,00; agora, está no R$ 1,80 e provavelmente não estará muito diferente dessa faixa em 2010. Em 2002, as reservas externas eram de apenas US$ 38 bilhões; hoje são de US$ 214 bilhões e, em 2010, certamente estarão mais perto dos US$ 250 bilhões.

Em 2002, os juros básicos (Selic) foram atirados a 25% ao ano; hoje estão a 8,75% e estarão provavelmente apenas um pouco mais altos em 2010.

Em 2002, o Investimento Estrangeiro Direto não passou dos US$ 19 bilhões; neste ano será de US$ 25 bilhões e, no ano que vem, deve ficar um pouco acima desse nível. Além disso, o Brasil é credor líquido do resto do mundo, ostenta o certificado de grau de investimento e, mesmo que cresça zero por cento em 2009, será o quinto ou o sexto país com melhor desempenho do Planeta. Em 2010, o setor produtivo terá tudo para crescer perto de 4% ao ano.

Quando se fala em risco político, são três seus principais focos. O primeiro deles é puramente eleitoral. A pretexto de exercer uma política anticíclica (controle da crise), o governo federal já está aumentando desmesuradamente suas despesas ordinárias. Apenas neste ano, já cresceram 17%. Na ânsia de mostrar serviço para o eleitor, pode puxar ainda mais. É visível a perda de qualidade da área fiscal do governo Lula. Na hipótese de se complicar o quadro eleitoral, essa perda poderá ser mais acentuada.

O segundo risco político diz respeito à questão da governabilidade. Para conseguir maioria no Congresso, o governo Lula faz concessões de toda ordem e impressionante exercício de contorcionismo político. Já que não quer ou não pode construir uma base política com o PSDB, o governo do PT e do presidente Lula elegeu como companheiros de luta os senadores José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor. É gente de biografia tão edificante que deixou o PT confuso a ponto de não mais distinguir o que é irrevogável do que não é, como o senador Aloizio Mercadante acaba de demonstrar.

O terceiro risco resvala para a definição da política macroeconômica a partir de 2011. Não se trata apenas de saber quem vai ser o presidente do Banco Central, mas, também, de saber até que ponto as vigas mestras da política econômica, como o câmbio flutuante e o sistema de metas, serão mantidas e que grau de autonomia terá o Banco Central na condução da política de juros.

É verdade que aumentou a percepção de que responsabilidade fiscal e estabilidade de preços são fatores que garantem apoio e legitimação, ajudando qualquer governo a não brincar em serviço. E repetir que o que deu certo tem de continuar não elimina os riscos. Mas, decisivamente, há um nível de incerteza no ar e seu impacto sobre a economia não pode ser desprezado.

ANCELMO GÓIS

A VOLTA AO GALEÃO

O GLOBO - 25/08/09

A TAM, a pedido da Anac, vai começar a concentrar no Galeão, em setembro, os voos com conexões de outros Estados para Nova York e Paris.
A ideia é reduzir o volume de passageiros em Guarulhos, que está sobrecarregado. Significa, que, como antigamente, passageiros de Brasília, por exemplo, que vão para os EUA embarcarão no Rio e não em São Paulo.
FURACÃO
Eike Batista ficou tocado com o artigo da produtora Renata Almeida Magalhães no Globo, domingo, queixando-se do pouco apoio da Finep, que administra um fundo público do setor, para o filme Cinco Vezes Favela.
O empresário ligou para Renata e deu R$ 1 milhão para concluir o longa.
CIGARRO SEM FUMAÇA
A Anvisa deve anunciar hoje a proibição da entrada do cigarro eletrônico no País. O tal cigarro é igual ao comum na aparência, mas não têm tabaco e sim um refil de nicotina.
ELDORADO DOS CARAJÁS
O STJ julga hoje o recurso do coronel Mário Pantoja, que comandou a PM no massacre de 19 sem-terra no Pará, em 1996, e foi condenado a 154 anos.
JATINHOS SEPARADOS
Veja como a aliança PT-PMDB azedou na Bahia: ontem, no aniversário de Barra do Rocha, Geddel Vieira Lima, o ministro peemedebista, chegou às 7 horas, discursou e foi embora. Depois, às 10 horas, chegou o governador petista Jaques Wagner. Discursou e partiu. Os dois, em campanha, já nem viajam juntos.
CERVEJA DO RONALDO
A AmBev opera para pôr a marca Brahma no lugar da concorrente mexicana Sol no painel de entrevistas do Corinthians.
É que Ronaldo, mais caro garoto-propaganda da empresa, ajuda a vender a rival. O que se diz é que a AmBev não vai poupar reais para pôr a Brahma no Parque São Jorge.
O BACHA RICO
Aécio Neves saiu ontem do seminário dos 40 anos da editoria de economia do Globo dizendo, bem-humorado, que precisa ir ao oculista. É que, ao insistir na tese de que houve continuidade nas políticas econômicas de Itamar, FH e Lula, saudou “Edmar Bacha, aqui na plateia, um dos pais do Plano Real”. Confundiu o economista com Luiz Cezar Fernandes, fundador do Pactual.
AÉCIO QUE SEGUE...
Aliás, pouco antes do seminário, Aécio comentou assim a possibilidade de ser vice numa chapa com José Serra:
– No tempo da política do café com leite, seria razoável pensar nisto. Mas, hoje, Minas produz sozinha café e leite.
Faz sentido.
MESA POSTA
A Presidência da República comprou sexta passada umas 40 toalhas de mesa, de variados tecidos e estilos, brancas, marfins e beges para o almoxarifado do Palácio do Planalto. O material vai custar uns R$ 5.700, segundo ONG Contas Abertas.
DILMA X LINA
A rádio corredor da Esplanada, em Brasília, informa que qualquer nova tentativa de acareação entre Dilma Rousseff e a Leoa Lina Vieira será abortada pelo governo, que não permitirá expor sua candidata a um bate-boca onde ficaria a palavra de uma contra a outra.