terça-feira, junho 16, 2009

AUGUSTO NUNES

SEÇÃO » Direto ao Ponto

Lula nem faz idéia de quem foi JK

ONTEM

O presidente Juscelino Kubitschek foi o que o brasileiro gostaria de ser. O presidente Lula é o que a maioria dos brasileiros é. Incapaz de folhear biografias, sem paciência nem disposição para estudar a História do Brasil, Lula não faz idéia de quem foi o antecessor. Mas gosta de comparar-se a JK. Primeiro, apresentou-o como exemplo a seguir. Não demorou a descobrir-se, como reiterou no fim de semana, bem superior ao modelo (e infinitamente melhor que todos os outros).

Sedutor, inventivo, culto, cosmopolita, generoso, amante do convívio dos contrários, Juscelino não gostaria de ser comparado a um chefe de governo falastrão, gabola, provinciano, que odeia leituras, inclemente com adversários, a quem culpa por tudo, e misericordioso com bandidos de estimação, a quem tudo perdoa. Ambos nasceram em famílias pobres, ultrapassaram as fronteiras impostas ao gueto dos humildes e alcançaram o coração do poder. Esse traço comum abre a diminuta lista de semelhanças, completada pela simpatia pessoal, pelo riso fácil e pela paixão por viagens aéreas. Bem mais extensa é a relação das diferenças, todas profundas, algumas abissais.

O pernambucano de Garanhuns é essencialmente um político: só pensa nas próximas eleições. O mineiro de Diamantina foi um genuíno estadista: pensava nas próximas gerações. Lula ama ser presidente, mas viveria em êxtase se pudesse ser dispensado de administrar o país. Bom de conversa e ruim de serviço, detesta reuniões de trabalho ou audiências com ministros das áreas técnicas e escapa sempre que pode do tedioso expediente no Palácio do Planalto. JK amava exercer a Presidência, administrava o país com volúpia e paixão ─ e a chama dos visionários lhe incendiava o olhar ao contemplar canteiros de obras que Lula visita para palavrórios eleitoreiros. Lula só trata com prazer de política. JK tratava também de política com prazer.

O país primitivo dos anos 50 pareceu moderno já no dia da posse de JK. Cinco anos depois, ficara mesmo. O otimista incontrolável inventou Brasília, rasgou estradas onde nem trilhas havia, implantou a indústria automobilística, antecipou o futuro. Cometeu erros evidentes. Compôs parcerias condenáveis, fechou os olhos à cupidez das empreiteiras, não enxergou o dragão inflacionário. Mas o conjunto da obra é amplamente favorável. Com JK, o Brasil viveu a Era da Esperança.

O país moderno deste começo de milênio pareceu primitivo no momento em que Lula ganhou a eleição. Seis anos e meio depois, ficou mesmo. As grandezas prometidas em 2002 seguem estacionadas no PAC. As estradas federais estão em frangalhos. A educação se encontra em estado pré-falimentar. O sistema de saúde é lastimável. A roubalheira federal atingiu dimensões amazônicas. Mas Lula está bem no retrato, reiteram os institutos de pesquisa.

Talvez esteja. Primeiro, porque milhões de brasileiros inscritos no Bolsa-Família são gratos ao gerente do programa que os reduziu a dependentes da esmola federal. Depois, e sobretudo, porque o advento da Era da Mediocridade tornou o país mais jeca, mais brega, muito menos exigente, muito menos altivo.

Nos anos 50, o governo e a oposição eram conduzidos pelos melhores e mais brilhantes. O povo que sabia sonhar sabia também escolher melhor. Mereceu um presidente como JK. No Brasil de Lula, mandam os medíocres. O grande rebanho dos conformados tem o pastor que merece.

VELHO SAFADO


METE UM TIRO NA CABEÇA, SAFADO

CONSELHO DO BLOG: SARNEY, METE UMA BALA NA CABEÇA.

MÍRIAM LEITÃO

Alavanca ou peso

O GLOBO - 16/06/09

O mundo vive um dilema, segundo o Nobel de economia Joseph Stiglitz: para que os países voltem a crescer, eles dependem bastante da ajuda dos consumidores norte-americanos. Para que o planeta sobreviva, ele não pode mais comportar consumidores vorazes. “Sabemos que, em algum momento, sairemos da crise; mas não é fácil reverter as consequências do aquecimento global”, diz Stiglitz.

O ex-economista-chefe e ex-vice-presidente do Banco Mundial esteve no Rio para uma palestra na Conferência da Latin American Studies Association (LASA). O encontro foi na PUC. Durante quatro dias, pesquisadores das mais variadas áreas — da literatura à ciência política, passando por antropologia, saúde, economia, violência, migração — discutiram temas ligados à região. O assunto central deste ano: as desigualdades. A constatação é que a atual turbulência econômica internacional piora o problema porque também distribui desigualmente os ônus da crise.

Foi sobre a crise que Stiglitz veio falar. Antes da palestra, ele conversou com Débora Thomé, do blog Notícias das Américas, do site do GLOBO, e Mariana Borges Martins da Silva, jovem cientista política, que escreveu esses dias para o blog.

Elas relatam aqui, algumas partes dessa conversa.

O economista tem a seu favor o fato de que não está fazendo engenharia de obra pronta, ele sempre alertou que era preciso construir regulação eficiente para que a globalização financeira não fosse um processo caótico.

Hoje, depois que o colapso de fato aconteceu, ele avalia que os remédios que estão sendo usados para resolver a crise são insuficientes. Ele acredita que as medidas que estão sendo tomadas são como band-aids, têm superficial efeito curativo e não vão ao cerne do problema. Mais que isso: algumas delas aumentam os riscos. A concentração bancária, por exemplo, pode levar a mais distorções. Segundo Stiglitz se bancos são “grandes demais para quebrar”, como se diz, “também são grandes demais para serem gerenciados ou salvos”.

— A visão de muitos é de que essa crise foi um acidente, de que o sistema funciona bem; não acreditam que haja problemas na forma como o sistema funciona.

Aliás, diversas pessoas que estão tentando resolver o problema são as mesmas que fizeram um sistema tão desregulamentado. Eles minimizam a magnitude da crise — critica.

Stiglitz faz parte do grupo de economistas que tem se esforçado cada vez mais para incluir a variável climática nas equações econômicas. O caso mais importante dessa transição foi o economista, já entrevistado neste espaço, sir Nicholas Stern. Stiglitz acha que a falha dos atuais pacotes de estímulo à economia, em vários países, é que não levam em conta a questão climática. Os que levam, não o fazem de maneira suficiente. Ele é a favor de se aumentar o custo da emissão de carbono.

O economista não acredita que isso prejudicaria países como o Brasil — que tem reagido à adoção de metas de redução de emissão de carbono. Acha que é preciso desenhar um programa eficiente e que premie a preservação de florestas. Também se poderia estabelecer a transferência de tecnologia energética para países em desenvolvimento: — Nos últimos anos, o desmatamento no Brasil e na Indonésia anulou todo o esforço que a Europa fez para reduzir as emissões de carbono. É preciso fazer algo.

Em um acordo ambiental mais justo, o Brasil, por exemplo, poderia receber compensações por proteger suas florestas.

Este será um ano importante na discussão, por causa da reunião de Copenhague, no final do ano, que deve ser um passo adiante na busca de um acordo do clima. O ponto levantado por Stiglitz sobre o desmatamento é crucial para entender a posição do Brasil, cujo governo prefere continuar repetindo a conversa de que os outros desmataram primeiro.

O dilema a que ele se refere sobre o consumo americano é central nesta confluência entre crise econômica e aquecimento global.

Do ponto de vista econômico, todos torcem para que os americanos aumentem o consumo. Do ponto de vista ambiental, é mais sensato que eles mudem o padrão de gastos. O ideal é mesmo o caminho de mudar a forma de produção nos Estados Unidos e no mundo para a redução das emissões do processo produtivo.

Outro ponto levantado por Stiglitz é uma de suas obsessões: a democratização das instituições multilaterais econômicas. Na opinião dele, FMI e Bird poderiam ser mais democráticos, aumentando a relevância e o poder decisório de países em desenvolvimento.

Neste momento, por exemplo, os emergentes poderiam ter um papel mais importante no que diz respeito à coordenação monetária.

As reformas que estão sendo feitas são lentas demais diante das urgências da crise, disse ele. Stiglitz lembrou que um grande avanço ocorreu já no último encontro do G-20, no qual se estabeleceu que o critério para a nomeação dos presidentes do Banco Mundial e FMI será a qualificação para o cargo.

Até agora, a escolha dos ocupantes sempre foi um jogo de carga marcada: um americano e um europeu. Ele até conta quem que gostaria que o tivesse substituído no banco quando saiu: o brasileiro Armínio Fraga.

BRASÍLIA - DF

O velho e o novo no Senado


Correio Braziliense - 16/06/2009


Por trás da onda de denúncias que varre o Senado, com revelações espantosas, há uma guerra na alta burocracia da Casa. Digladiam-se funcionários antigos, efetivados pela Constituinte de 1988, e novos, que ingressaram nas carreiras por concurso público e formam uma elite intelectual. O ex-diretor-geral Agaciel Maia, que comandou a administração do Senado por 15 anos, foi o expoente do primeiro grupo, formado a partir de relações de parentesco e afinidades políticas com os senadores que comandaram a instituição.

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Fazem parte desse grupo o ex-diretor de Recursos Humanos do Senado João Carlos Zoghbi, e o atual diretor-geral, Alexandre Gazineo, que anda pela bola sete. O atual diretor de Recursos Humanos, Ralph Siqueira Campos, e a presidente da comissão de sindicância que hoje apura as denúncias de irregularidades no Senado, Doris Marize Romariz Peixoto, ligada ao clã Sarney, estão na linha de sucessão de Gazineo.

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Os funcionários concursados desejam uma grande reforma administrativa e a profissionalização da gestão do Senado, cujos expoentes são o consultor-geral de Orçamento, Fábio Gondim, e o consultor-geral Legislativo, Bruno Dantas. Ambos, porém, não contam com o apoio do presidente do Senado. Como o velho Senado está morrendo e o novo ainda não nasceu, a crise ainda vai longe.


Escaldado

Conselho do líder do PMDB, senador Renan Calheiros (PMDB-SP), ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a propósito das denúncias de nepotismo envolvendo o seu clã político: cuidado quando os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) forem à tribuna. Os dois comandaram o revezamento de 17 senadores que discursaram para pedir a Renan que renunciasse à Presidência do Senado.

Efeito Paim

O governo terá muito trabalho na Câmara nesta semana. Com a pauta liberada das medidas provisórias, entra na ordem do dia projeto de lei que normatiza o salário-mínimo. Emenda do senador Paulo Paim (PT-RS) aprovada pelo Senado deixa em pânico a equipe econômica: a vinculação dos benefícios de aposentados e pensionistas ao reajustes do salário-mínimo, com base na variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) do penúltimo ano.

Mordaça

O ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP) resolveu testar seu prestígio na Câmara. Está pedindo aos líderes da base governista, que se reunirão hoje com o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), para colocar em pauta a votação de seu projeto de lei que prevê punição para os procuradores que entrarem com ação contra políticos motivados por promoção pessoal, perseguição política ou má-fé.

Goela

Prefeito de Imperatriz (MA), o ex-deputado Sebatião Madeira (PSDB) desembarcou em Brasília ontem para fazer lobby contra a aprovação da chamada PEC dos Vereadores, que aumenta o número de vagas nas câmaras municipais. Segundo ele, muitas prefeituras vão quebrar com a aprovação da medida e os prefeitos terão mais dificuldades políticas para administrar seus municípios. “Os 13 vereadores que tenho já me dão o maior trabalho, imaginem ter que atender 21.”

No cafezinho



Azul / Presidente do Tribunal de Contas da União, o ministro Ubiratan Aguiar (foto) entrega, hoje, ao Congresso o relatório das contas do governo Lula no ano passado e recomenda sua aprovação. As ressalvas são relativas a irregularidades administrativas formais, sem maior gravidade.

Piquete /A apresentação do quinto Sensor Econômico do Ipea, que mede as expectativas econômicas e sociais em relação à economia, por seu presidente, Márcio Porchman, na sede da instituição, virou um meeting sindical. O debate sobre as perspectiva da economia será estrelado pelo presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz, e um representante do presidente da CUT. O estranho no ninho é o presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Diones Cerqueira.

Lixo / Queda de braço na Câmara por causa do lixo tóxico. Relator do projeto de lei que cria a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o deputado Arnaldo jardim (PPS-SP) que implementar o sistema de retorno para agrotóxicos, pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus e produtos eletrônicos. As indústrias estrilam. Seu relatório será apresentado hoje.

Comendadores / O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), o ministro da Justiça, Tarso Genro (PT), o presidente da ABI, Maurício Azêdo, e o diretor Jurídico da Oi, Eurico Teles, recebem a comenda Dom Quixote, amanhã, no Supremo Tribunal Federal (STF), pela defesa da ética, moralidade, dignidade, justiça e dos direitos da cidadania.

Aperto / A senadora Marisa Serrano, do PSDB-MS, apresenta esta semana um projeto de lei enquadrando as empresas estatais, inclusive a Petrobras, na Lei de Licitações. O projeto prevê cinco modalidades de contratação: pregão, concorrência, leilão, consulta e concurso. A contratação direta por inegibilidade, muito praticada, seria praticamente abolida.

MELCHIADES FILHO

Vanguardas e atrasos

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/09

BRASÍLIA - Talvez seja cedo para decretar a débâcle de José Sarney ou sentenciar que o ex-presidente da República cometeu um erro ao reassumir a direção do Senado.
É verdade que a Casa vive momento de total descrédito, colhida por uma avalanche sem precedentes de denúncias -de nomeações secretas a servidores fantasmas, de mansões ocultas a aviões fretados.
É igualmente verdade que Sarney está afundado até o pescoço nos escândalos. A cada semana, precisa repetir um "eu não sabia". Já teve de pedir desculpas, divulgar seu contracheque e devolver dinheiro.
Mas é verdade, também, que, graças à vitória de Sarney em fevereiro, o chamado "PMDB do Senado" voltou a capturar a atenção de Lula. O Planalto, que costuma desdenhar do Legislativo, não poderá ignorar o grupo que terá o controle da CPI da Petrobras, ameaça potencial à candidatura de Dilma Rousseff.
Assim como é verdade que, da privilegiada posição no Congresso, o ex-presidente pôde zelar por sua rede de influências no setor de energia. Uma lei foi aprovada para permitir à Eletrobrás fazer compras a toque de caixa. O sarneyzista Edison Lobão é o ministro envolvido na regulação do pré-sal.
É verdade, ainda, que a PF ficou mais "republicana" e diminuiu a publicidade dos inquéritos que investigam obras nos Estados em que o clã Sarney atua (Operação Navalha) e transações financeiras de empresas da família (Boi Barrica). Por fim, é verdade que, desde fevereiro, o TSE julgou três governadores e beneficiou o PMDB nos três casos. Derrotada nas urnas, Roseana levou o Maranhão no tapetão.
Como se vê, Sarney segue ocupado com o exercício do poder. É isso que o move, não os aplausos -nunca os recebeu, nem pela transição para a Nova República. Será uma surpresa se entregar os pontos porque a "biografia foi manchada" pelos vícios do Senado. É mais provável que a apoplexia dos últimos dias seja o preparo do contra-ataque.

GOSTOSA


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INFORME JB

Impossível falar mal de Dilma

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 16/06/09

Mineira que é, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, preferida do presidente Lula para sua sucessão, redescobriu na alma o jeito de negociar. Aos poucos, na aparição diária como pré-candidata, em eventos oficiais ou não, baila com a pose de estadista que o chefe admira. Conseguiu levar Anthony Garotinho para o PR, numa articulação discreta, e ele, candidato ao governo do Rio, já anunciou apoio – a coluna já revelara. Ontem, Dilma fez questão de comparecer ao lado do governador José Roberto Arruda (foto), do opositor DEM, para anunciar que o PAC no Distrito Federal soma R$ 9,4 bilhões. Devagar, nesse contexto, Dilma vai calando a oposição para o ano que vem. Os supracitados, evidente, talvez não deem palanque à ministra. Mas será difícil falar mal dela.

Tropa de elite Do tempo do...

Segunda que vem, Sérgio Cabral, o vice Luiz Pezão (Obras), Wagner Victer (Cedae) e Marcio Fortes (Cidades) vão a São Gonçalo e Magé lançar um conjunto de obras de saneamento no valor de R$ 80 milhões.

Mauá, onde a família imperial adorava passear, também está na lista do quarteto. A cidadezinha até hoje não tem água nem tratamento de esgoto. "É só poço", diz Victer. Vai ganhar estação.

Haja coração

Aliás, Victer, que era pule de 10 para futuro presidente do Fluminense, abriu mão da candidatura. Vai apoiar o colega Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento Econômico. E juntos vão chamar o ex-jogador Deley para a chapa.

Reserva

O ministro Marcio Fortes, outro tricolor de carteirinha, não é candidato. Por ora.

No ar...

Vem aí a ampliação do aeroporto de Maricá (RJ). O secretário de Transportes do Rio, Julio Lopes, reuniu-se com o secretário de Desenvolvimento da cidade, Aleksander Santos, para discutir a reforma.

...e no mar

A pista vai servir de base operacional para a Petrobras e empresas off-shore na exploração de petróleo e gás no campo de Tupi, a partir do ano que vem.

Valeu a foto

Caciques comemoram desde sábado o encontro do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) com o governador Eduardo Campos, no arraiá do tucano Sérgio Guerra. Os dois não se falavam há tempos.

Corra, Cabral, corra

Manhã de ontem em Genebra, na Suíça, o governador Sérgio Cabral, que participou de entrevista coletiva ao lado de Lula, saiu correndo para a cidade-sede do COI para ensaiar sua apresentação desta quinta.

Ensaio

Será o último teste do Rio, quando o governador e o prefeito Eduardo Paes expõem para 98 delegados o projeto técnico do Rio 2016. A escolha é em outubro.

Nocaute no samba

O ex-pugilista Maguila virou sambista, com a música Vida de campeão, pela Luar Music.

Por Dilma

O senador Gim Argello (PTB-DF) colocará em pauta para votação no plenário o Programa Minha Casa Minha Vida. Sem aprovação o dinheiro não sai.

Astronomia

Crianças de diversos países estão enviando contos e relatos sobre o futuro da Astronomia e da Conquista Espacial para uma Cápsula do Tempo, que será lacrada dia 21 e aberta em 2017. No Brasil o evento ocorrerá em Campos (RJ), com a presença do astronauta Marcos Pontes.

CARLOS HEITOR CONY

Quartel de Abrantes

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/09

Não deixa de ser um avanço, por sinal, relevante. O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, fortemente pressionado pelos últimos acontecimentos no Oriente Médio, voltou atrás em sua posição radical e admitiu pela primeira vez a criação de um Estado palestino.

Na concepção do líder israelense, o novo Estado não teria direito a possuir Forças Armadas nem mesmo um espaço aéreo soberano, como têm os outros Estados. Seria um simulacro de Estado – e, na realidade, continuaria a ser o que é.

Dentro da nascente geopolítica de região, o terrorismo palestino não seria mais terrorismo, mas ações de uma guerra permanente. Mudariam o nome e a classificação, mas a natureza do conflito permaneceria a mesma, com dois povos lutando entre si por um pedaço de chão, um chão sagrado para ambos.

Para os palestinos, um Estado nos moldes preconizados por Netanyahu não resolveria a questão. Mesmo possuindo um novo status reconhecido pela comunidade internacional, os radicais do Hamas não abririam uma trégua na luta por destruir o Estado judeu. Não mais seria um grupo terrorista, mas um Estado terrorista, que só deporia armas aniquilando o inimigo.

Em todo o caso, a simples aceitação de um Estado palestino por parte de Israel coloca a situação num patamar racional. Tal como uma parcela da Autoridade Palestina abandonou a teoria de que deveria jogar todos os judeus no mar, o reconhecimento de Israel por uma Palestina independente facilitaria novas rodadas pela paz na região. Seria o fim possível de um bom começo.

Do contrário, uma solução intermediária como a proposta pelo premiê de Israel faz com que a situação continue por muitos anos ainda como naquele quartel de Abrantes, onde tudo fica como antes.

JANIO DE FREITAS

Os senadores em fuga

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/09

A CADA DIA uma revelação indignante, em nenhum dia alguma reação digna. Onde está o senador Pedro Simon, imagem da respeitabilidade parlamentar, admiração unânime do país, onde está? O que foi feito do senador Aloizio Mercadante, personagem de momentos relevantes em defesa da moralidade na política e no poder? O senador Jarbas Vasconcelos, que por muito menos sacou da sua peixeira oral e falou por mais do que Pernambuco, acha agora que uma entrevistinha é bastante? E aqueles outros, por poucos que sejam, aos quais nenhuma possível crítica interrogou sobre sua decência, nada têm a fazer agora senão curvarem-se como espectadores encabulados?
É ininteligível: não há ninguém no Senado capaz da iniciativa de propor, digamos, uma corrente, uma frente de resistência à manobra, que progride depressa, que transforma todos os abusos, as improbidades, o peculato em meros deslizes administrativos? Na certeza de que, assim reduzidos e lançados sobre dois ou três funcionários, esses feitos de desmoralização do Senado terão o resultado de sempre: nada. Porque a demissão, se a tanto chegar, de quem vive em casa de milhões provenientes do Senado pode apenas impedir compras desnecessárias, com alguns novos milhões já desnecessários.
Mais desalentador do que o conjunto de desmandos constatados no Senado é a passividade diante de tudo. Se esse tudo fosse na Câmara, seria menos chocante e mais compreensível, forçados que fomos por mensalão, severinos, castelos, à visão que pôs a Câmara no nível de Câmaras de Vereadores.
Darcy Ribeiro, que chegou ao Senado com a disposição de toda uma infantaria, descobriu-se, não na Casa Alta do Congresso, mas em "um clube muito simpático". Será, talvez, o companheirismo descriterioso que detém agora os capazes do papel de guardiães do Senado. Pode ser o tédio, o desencanto, a fuga à responsabilidade e à própria personalidade, subjugadas pelo sentimento da ação inútil. Em alguns pode-se presumir o misto da ambição política e do temor de prejudicá-la com a própria honra. O que ocorre é o incompreensível, de qualquer modo.
A renúncia de José Sarney à presidência do Senado já foi proposta em um artigo. Mais exposto, Sarney é o alvo mais fácil para a imprensa. Mas o afastamento de funções decisórias deveria ser de todos os que, no período sob questionamentos, ocuparam cargos na Mesa Diretora do Senado. Entre eles, e não muito remotos, há responsáveis por numerosos dos desmandos que se revelam. O afastamento amplo, como é próprio das investigações semelhantes, é o fator inicial do esforço de lisura. Sobretudo se a investigação é aberta ao acompanhamento da Procuradoria Geral da República. E República, no caso, teria sentido realçado.
Sentido que torna inferior a finalidade de represália judicial a senadores comprometidos com as impropriedades, hipótese de resultado que parece assombrar os 81 componentes da Casa. Mais importante é o conhecimento público dos fatos e das suas respectivas e verdadeiras responsabilidades. É um direito fundamental do cidadão-eleitor e um dever essencial da República tão citada nos últimos tempos. Direito e dever que estão ludibriados.

FERNANDO CALAZANS

Clube sem linha

O GLOBO - 16/06/09

A diretoria do Flamengo está certa, certíssima, ao manter Cuca (enquanto mantém, naturalmente), mas precisa se conscientizar de que muita coisa, muita coisa mesmo, está errada na Gávea, e que, se continuar assim, o técnico sairá em breve, ou por vontade de Cuca, ou da, diretoria. Se uma linha dura for imposta no Flamengo, já será prova de que o técnico é que tinha razão. Não sou a favor de linha dura em ramo nenhum de atividade. Em vez de linha dura, o Flamengo está precisando de linha. Linha pura e simples. Se houvesse linha na Gávea, um linha normal de comportamento, ninguém estaria falando, hoje, em linha
dura.
Mas no Flamengo qualquer um faz o que quer, e é contra essa bagunça, essa falta de comando, essa falta de autoridade, essa falta de responsabilidade, essa falta de tudo, que Cuca está se indispondo. Enquanto isso, é o time que sofre goleadas, é o torcedor do Flamengo que sofre decepções, tristezas e vergonhas, como a que sofreu na derrota de 5 a 0 para o então lanterninha Coritiba, a segunda goleada consecutiva, com direito a falhas diversas de Bruno.
E a vergonha maior, repetida também, da agressão de Aírton a Ariel, pisando o adversário caído, como já pisara Nilmar, no jogo com o Inter, sendo absolvido pelo STJD, que é muito bonzinho e ama a impunidade.

No sábado, o Botafogo da Série A e o Vasco da Série B mostraram a dificuldade que seus atacantes têm para acertar o gol e decidir as partidas. O Botafogo sofreu com a própria deficiência, que se estampou nos pés de Tony e Victor Simões, apesar do amplo domínio sobre o Santos, no Engenhão. A vitória justíssima e até modesta de 2 a 0 saiu em finalizações do volante Batista (melhor do time) e do jovem Laio, que entrou no lugar de Tony e soube aproveitar muito bem a falha do zagueiro Fabão e a saída estabanada de Fábio Costa, driblando-o e tocando para o gol vazio.
Se o time do Botafogo tivesse um pouco mais de talento e qualidade, teria aplicado uma surra inesquecível no Santos. Mas qualidade e talento não são o forte do Botafogo, e a escolha de jogadores para o elenco não é o forte do técnico Ney Franco. Se Ney soubesse escolher melhor as contratações, o Botafogo entraria na luta, porque arrumar o time ele sabe.

Dorival Júnior é outro que sabe arrumar um time e já confirmou essa qualidade no Vasco. Da mesma forma, porém, seus jogadores (ou boa parte deles) parecem sempre descontrolados, violentos, irresponsáveis. O resultado é que o Vasco não vence há três rodadas do campeonato e ainda por cima teve jogadores expulsos em todas três. Isso não falha.
Na tarde de sábado, contra o Guarani, Dorival Júnior entrou em campo outra vez para conversar com o juiz a respeito da expulsão (mais uma) de Carlos Alberto, rigorosa, é verdade.
Mas a questão é essa: será que, em vez de conversar tanto com os juízes, não seria melhor que Dorival conversasse mais com seus jogadores, para ver se eles se comportam decentemente? Ou o Vasco quer que tudo continue assim, com jogador expulso todas as vezes que o time entra em campo?
É assim que o Vasco, ele próprio, está começando a dificultar sua caminhada na Segunda Divisão.

PAINEL DA FOLHA

Por aparelhos

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/06/09

Nem mesmo os poucos senadores ativos na formulação de alguma resposta aos novos escândalos acreditam que José Sarney (PMDB-AP) venha a ser apeado do comando da Casa. Não obstante a multiplicação de parentes pendurados no quadro de funcionários e outros embaraços nas costas do presidente, o caso dos atos secretos envolve gente (inclusive da oposição) o bastante para garantir sua permanência.
Quase todos apostam, porém, que a sobrevivência de Sarney no cargo se dará à custa de um alheamento ainda maior do cotidiano do Senado e de uma dependência cada vez mais explícita do esquema de poder gerenciado por Renan Calheiros (PMDB-AL).

Portas fechadas - Sarney se reuniu ontem com a diretora-adjunta do Senado, Doris Marize Romariz Peixoto. Ex-chefe de gabinete de Roseana, ela comanda a comissão de sindicância instalada para investigar os atos secretos.

Muita calma - Receoso de nova crise com o PMDB, Aloizio Mercadante (PT-SP) telefonou a Tião Viana (PT-AC) pedindo que o colega não faça nenhum movimento para pedir o afastamento de Sarney. Ouviu que o grupo de senadores com reunião marcada para amanhã não tem ‘interesse golpista’, mas quer preservar a instituição. Viana foi derrotado por Sarney em fevereiro.

Ecológicas - Feitas de aço niquelado, as lixeiras recém-compradas pelo Senado separam resíduos úmidos de secos. Há quem diga que vai ter muito ato secreto indo parar nos modernos receptáculos.

Boletim médico - Mesmo se Arthur Virgílio (PSDB-AM) abrir mão da relatoria da CPI das ONGs, a instalação da CPI da Petrobras pode atrasar mais uma semana. O presidente da comissão das ONGs, Heráclito Fortes (DEM-PI), ainda está de repouso pós-cirúrgico. E cabe a ele destituir formalmente o tucano.

Espaçoso - A atuação de Ricardo Murad começa a causar desconforto entre aliados de Roseana no Maranhão. Cunhado da governadora e titular da pasta da Saúde, ele virou uma espécie de supersecretário, que palpita em tudo.

Duas canoas - Alguns dos petistas empenhados em inflar o balão da candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo dizem em privado que a ideia é lançar um nome do PT ‘e também’ o deputado do PSB. Tudo no esforço para garantir um segundo turno contra o postulante do PSDB.

Vai indo... - Apesar da pressão de aliados e de pesquisas que o apontam como capaz de enfrentar Eduardo Campos (PSB), Jarbas Vasconcelos (PMDB) insiste: não disputará o governo de Pernambuco. O senador alega não ter mais base no interior nem disposição para voltar ao cargo.

...que eu não vou - Jarbas tenta convencer o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, a aceitar a empreitada, de modo a oferecer um palanque para o candidato tucano à Presidência no Estado.

Tiroteio

Quem sabe agora Márcio Thomaz Bastos aceite a realidade de que o mensalão existiu.
Do deputado ACM NETO (DEM-BA) sobre a afirmação do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, de que ‘ao menos parte do dinheiro’ do mensalão veio dos cofres públicos;
em depoimento no início do mês, o ex-ministro da Justiça disse que o esquema de pagamentos a deputados da base aliada não existiu.

Série B - As sedes da Copa no Brasil já foram escolhidas, mas ainda tem gente no governo querendo faturar em cima do evento. O ministro do Turismo, Luiz Barretto, disse que Sergipe pode ser sub-sede do Mundial de 2014.

Contraponto

Discurso perdido

Na noite de 20 de maio, quando a Câmara aprovou a emenda constitucional do ‘divórcio direto’, eliminando o prazo de dois anos de separação para que ele se concretize, Virgílio Guimarães (PT-MG) divertiu os colegas de bancada com sua opinião peculiar a respeito do tema:
-Não gosto desta PEC. A antiga lei sempre me ajudou.
Os demais deputados na roda quiseram saber de que maneira, e Guimarães então explicou:
-É que eu só me separei judicialmente da minha primeira mulher. Para as outras três que eu tive depois dela, eu sempre podia dizer ‘olha, eu ainda não posso me casar formalmente, a lei não permite’...

DORA KRAMER

Falência múlitpla

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/06/09

Vamos que o senador José Sarney não aguente a pressão e decida retomar a já cogitada ideia de renunciar à presidência do Senado. E daí? A crise que assola o Parlamento poderá se aplacar por algum tempo, mas não estará, nem de longe, resolvida.
Saindo, pode ser que o senador preserve o pouco que lhe resta em termos de reputação, mas não salva o Senado nem o Congresso da derrocada em matéria de credibilidade. Simplesmente porque Sarney não é a causa da crise. Se muito for, é apenas produto de práticas políticas referidas num modelo do século passado (lato e estrito senso) e, portanto, falido.
Reduzir as coisas à retirada de Sarney de cena pode produzir uma bandeira, mas não se constitui uma solução para um problema que se agrava justamente por falta de quem lhe dê a devida dimensão, e, mais importante, que se disponha a enfrentá-lo de maneira definitiva, sem remendos.
Uma eventual renúncia de Sarney hoje, do ponto de vista coletivo, chega a ser irrelevante. Quando não, contraproducente, sob a ótica da imperiosa necessidade de mudança de métodos e elevação do padrão da política brasileira.
Se Sarney sair, tomará conta do ambiente aquela sensação de bem-estar temporário, falso sentido de dever cumprido, equivalente a um emplastro que aquece a pele mas não dizima o mal. É o curativo de sempre. Afasta-se da vista o personagem que no momento simboliza crise e o assunto fica por um tempo em suspenso. Assim tem sido em todos os episódios, cuja natureza não varia: o uso do poder público em proveito próprio, sustentado na convicção de que tal direito é inerente ao cargo ou ao mandato pelas urnas ou por algum poderoso delegado.
Vamos a dois exemplos bem didáticos e claros. O primeiro: o neto de Sarney exonerado por ato secreto do gabinete do senador Cafeteira foi substituído pela mãe, uma ex-namorada do filho do presidente do Senado, como forma de pagamento de pensão ao arrepio dos trâmites legais.
O segundo: o senador Renan Calheiros delegou a um lobista de empreiteira o pagamento da pensão de uma filha, igualmente fruto de um namoro paralelo ao casamento. Ambos solucionaram problemas particulares repassando a outrem o pagamento das contas, mediante o uso do poder público do qual são detentores.
Não obstante provas de variados ilícitos, inclusive o da apresentação de documentação falsa ao Senado, Calheiros teve seu mandato preservado em troca da entrega da presidência da Casa. A barbaridade esteve patente, mas, a sensação de alívio provisório foi o suficiente para a Casa considerar o assunto resolvido. E mais: superado ao ponto de a maioria aceitar a volta de José Sarney pela terceira vez à presidência do Senado, ainda que isso fosse tratado abertamente como parte do projeto de Calheiros para a retomada do poder perdido.
A maioria sustentou e a minoria legitimou o processo que, sob qualquer ângulo que se olhe, era um legítimo monumento à obsolescência de uma maneira de fazer política ao molde dos velhos coronéis: referida nas conveniências de dentro e indiferente às demandas de fora.
Pedir para Sarney sair é querer tirar - com perdão da vulgaridade comparativa - o bode da sala. Ademais, é de certa forma permitir que o senador e todos os outros fujam da responsabilidade que lhes cabe: reconhecer a falência das práticas personalizadas de exercício e manutenção do poder e mudar radicalmente os procedimentos.
Para isso, se impõe uma preliminar que não é a renúncia de Sarney, mas uma reflexão seguida de autocrítica sobre as razões pelas quais ele conseguiu ser eleito presidente do Senado, tendo como principal articulador de campanha um senador que quebrou todas as regras do decoro e escapou de perder o mandato por obra de arranjos no figurino de antanho.
Em plena era da informação instantânea, não dá mais certo.

ALTOS E BAIXOS
Antes de ser ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco, antes de assumir a Fazenda e executar o Plano Real, antes de ter certeza que poderia se eleger deputado federal por São Paulo, o então senador Fernando Henrique Cardoso cogitou por breve tempo uma candidatura a prefeito do Rio, onde nasceu e de onde saiu ainda menino.
O episódio contava a história de um PSDB quase iniciante, incipiente, sem base sólida em São Paulo e de um político algo neófito, sem destino definido. O caso de Ciro Gomes é diferente. Ao que consta, não teria dificuldade na reeleição de deputado pelo Ceará, onde se criou e fez carreira política, chegando a governador.
A hipótese de se candidatar a governador de São Paulo, onde nasceu (Pindamonhangaba), entra em cena relatando uma outra história: a de um PT desprovido de um só nome viável para concorrer ao governo do maior Estado da federação, berço do partido, plataforma de lançamento 30 anos atrás da trajetória de Lula rumo à Presidência da República.

GOSTOSA


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ANCELMO GÓIS

VELAS POR SEAN

O GLOBO - 16/06/09

Amigos de David Goldman, o americano que luta pela guarda do filho, Sean, que vive no Rio com o padrasto, farão uma vigília à luz de velas, hoje, às 20 horas, em várias cidades dos EUA – entre elas, Nova York, Washington e Chicago.
A mobilização é para marcar o quinto aniversário da viagem sem volta (até agora) de Sean para o Brasil, com a mãe.
PETROBRAS AVANÇA
Deu ontem no mexicano El Economista: a Petrobras deve ultrapassar a Pemex como maior produtora de petróleo da América Latina este ano.
O CARTER BRAZUCA
De um experiente político, ao lembrar que Sarney enfrenta hoje desgaste parecido com o que teve no fim do seu governo:
– Sarney é melhor como ex-presidente, seja da República ou do Senado, que como presidente.
Faz sentido.
IRÃ X EUA AQUI
Acredite. Militares dos EUA e do Irã vão se enfrentar dia 21.
Calma, gente. O embate será no campeonato mundial militar de vôlei, no Maracanãzinho, no Rio. Por via das dúvidas, o Comando Militar do Leste fará esquema especial de segurança.
LANE NA PAULICEIA
Lane Santana, ex-carnavalesco da Portela, foi contratado pela paulista Vai-Vai.
PIPI PAGO
A voadora irlandesa Ryanair passará a cobrar, em 2010, pelo uso dos banheiros nos voos.
O LIVRO NOVO DO ZÉ
José Rubem Fonseca entregou à Agir, do grupo Ediouro, seu primeiro livro depois de sua saída da Cia. das Letras, que anunciou, num curto e-mail, o rompimento da longa parceria.
Quem leu diz que é uma novelinha “muito simpática”.
DESDE O “DIÁRIO”...
O último romance de Zé Rubem (Diário de um fescenino) é de 2003. Nos últimos anos, ele só publicou contos e crônicas.
NO MAIS
A reeleição de Ahmadinejad foi festejada no Irã por alguns setores, como disse, em artigo, o diretor do NYT, Bill Keller: o líder radical “apelou para o medo dos mais pobres” e a “funcionários públicos que gozam da generosidade financiada com o dinheiro (público) do petróleo”.
É a versão iraniana do Bolsa Família. Dar dinheiro aos pobres rende votos em qualquer lugar. Quanto a melhorar a educação, há controvérsias.
EM CAMPANHA
O que se diz no corredor dos hospitais é que o vereador Carlos Eduardo atua para tomar o lugar de Hans Dohmann como secretário de Saúde do Rio.
Difícil é convencer Eduardo Paes da troca.
A MÁFIA RESISTE
Apesar da prisão de 15 milicianos do Rio ligados ao ex-PM Fabrício Mirra, também preso, a “taxa de proteção” foi cobrada
normalmente dos moradores de Piedade, este mês.
SEM AUTÓGRAFO
O poeta Armando Freitas Filho decidiu “poupar” amigos, leitores e, sobretudo, si próprio da noite de autógrafos de Lar (Cia. das Letras), seu novo livro de poemas autobiográficos.

ARNALDO JABOR

Nunca mais voltará

O GLOBO - 16/06/09

Jobim" style="font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; color: rgb(51, 51, 51); text-decoration: none; ">Jobim nadava com força na lagoa Rodrigo de Freitas naquele verão de 1944. Parou um instante, já chegando ao Sacopã, e olhou em volta, imaginando como seria Ipanema dali a 20 anos. A lagoa era clara, cheia de peixes e garças. Ipanema era uma promessa de vida em seu peito molhado.

Leila Diniz estava rindo no bar Jangadeiros, em minha mesa 20 anos depois. Nós éramos jovens, na luz de Ipanema; como Joyce escreveu, estávamos "felizes, moços, perto do selvagem coração da vida". E eu pensava: "Meu Deus, que alegria! Até quando seremos assim?"
Tínhamos uma espécie de paraíso social ali entre Copa e Leblon. Tom Jobim diria anos depois: "O Brasil será feliz quando tudo for uma grande Ipanema".

Hoje, estou na rua Visconde de Pirajá com Joana Angélica, espécie de cruz privilegiada da cidade. Vejo o Rio à minha volta. Tudo parece em câmera lenta; na lagoa, percebo que as árvores cresceram. Moro mais em São Paulo e eu não via isso quando morava só aqui. Hoje, vejo a natureza linda e corruptora - "ah... mas é tão lindo..." -, grande álibi para a miséria que ferve nas ruas. A natureza corrompe.

Hoje, nos afligimos com tantos pobres que expõem suas feridas nas esquinas, com tantos vagabundos descendo dos morros.

O que incomoda a população branquinha não é só o assaltante; é o "passeante". Pardos passeantes de chinelos e calção enchem a Zona Sul. Eles pressentem o medo dos "classe-médias" e desfilam com garbo. O carioca branco se indigna, como se só ele fosse nativo. Vejo que meu mal-estar diante do caos carioca é um mal-estar de classe. Há um horror de classe nos cariocas "brancos"; querem mudar o Rio para ontem, querem que o Rio "volte" a ser algo de "antigamente". É mentira que tememos apenas a violência. Tememos também a promiscuidade.
O Rio é hoje a saudade de algo que já foi. Ninguém ama o Rio como ele é. Só os miseráveis, que hoje ocupam as praias, amam o Rio - são seus anos dourados.

O Rio atingiu seu ponto de "perfeição" (para os pequenos burgueses) por volta dos anos 50 e 60, quando o acaso deu um tempo na "involução" da cidade e o mito cruzou com o real. A beleza parou um instante entre o erro e a decadência, entre a economia do "milagre" e a tragédia da exclusão das massas, e se equilibrou por alguns anos entre o Posto Nove e a praça General Osório, criando uma ilha utópica da esquerda festiva (eu estava lá) que não contava ainda com a miséria que se reproduzia nos morros.

Hoje, nas ruas de Ipanema, parece que ando num rio do inferno. O ritmo lento dos desocupados se cruza com os olhares trêmulos de madames e aposentados correndo para trás das grades, biquinis em frente a mendigos, população branca temerosa, movendo-se entre a "folga" da "crioulada" e os mendigos que jazem nas portas da igreja, criancinhas brincando na sarjeta, mamadeira e esmolas, caixotes e pernas abertas.

O Rio virou o escândalo dos cariocas. Mas o horror de nada serve; é só angústia vazia. A miséria dos outros tem sido para nós um problema existencial. O "escândalo" parte do equívoco de que eles são um "erro" da natureza. O erro está em nós. Escandalizar-se é se salvar. Mas somos parte do escândalo.

É como se toda essa invasão de pardos (não só na pele - pardos na alma, na vida parda) fosse apenas uma "amolação" na vida "branca".

No entanto, essa mutação da cidade é definitiva. Voltar a ser o quê? O reduto da Bossa Nova, a ilusão dos filhos da PUC?

Eu vejo as velhas negras de cem anos vendendo arruda na feira, como escravas-de-ganho do século XIX, vejo essa mistura baiano-persa dos camelôs e vejo a malandragem dos feirantes disputando uma risonha luta de classes com madames e velhotes. Vejo isso tudo e entendo que não vai voltar mais nada.

Nunca mais voltará Leila Diniz! Do ponto de vista excludente, de uma administração tradicional, a situação é insolúvel.

O Brasil não virou Ipanema. Ipanema virou o Brasil. Silenciosamente, as 600 favelas que o egoísmo construiu fizeram a revolução parda. A democracia desceu o morro.
Essa revolução silenciosa dos excluídos é um trailer, sim, do Brasil, mas não somente como deflagração de violência.

Uma luta social molenga se instalou no dia a dia, nas esmolas, nos assaltos, nas chacinas, nos ataques do Exército. E não é só a incúria dos governantes ou o egoísmo dos ricos; no fundo, não é culpa de ninguém. Nossa crueldade é a tradição escravista dessa burguesia de ex-negreiros.
O que houve foi uma bolha que cresceu, que estava aí há décadas se formando, uma "bolha antropológica" que provocou uma revolução social suja. Já houve. Ninguém vê isso? É só andar na rua. Um pobre para cada remediado no coração de Ipanema.

E como reformar as mentes de planejadores e urbanistas "clean"? A bolha antropológica não pode ser explodida. Tem de ser obedecida. A bolha sempre esteve ali, desde o tempo das "Memórias do Sargento de Milícias". Ela sempre esteve aí, só que se arredava nos morros, nas periferias.

Só uma ideologia de reforma que "inclua", que democratize, pode mudar o Rio. Ficou claro: qualquer ideia de reverter a situação é absurda. A ideologia nostálgica só conduz à ideia de genocídio. Para fazer voltar o chopinho dourado na paz dos sábados, só matando os morros. Há 30 anos, era fácil. Havia dinheiro e menos gente. Até hoje, só houve soluções "brancas" para problemas "pardos". Agora, só dá para fazer um plano de salvação social para o Rio a partir da aceitação da ideia do "insolúvel". Os marginalizados têm de ser participantes da reforma.
Não há solução. A partir daí, pode-se começar a pensar. Tudo indica que os novos governantes do Rio já estão pensando assim, como foi a amostra do morro Dona Marta.

É assim que o Brasil terá de ser replanejado: aceitando a senzala, os pretos de ganho, os forros excluídos, os ignorados nos planos de mercado, pois o Rio não vai mudar. Já mudou. Já aconteceu, já está ocupado.

A bruta face da miséria desmoralizou a sentimentalidade branca.