domingo, maio 24, 2009

PARA...HIHIHI


Rapaz no hospital

Um rapaz estava em uma cama de hospital. Não tinha braços, pernas e nem orelhas. Era cego de um olho e comia por um tubo.

De repente, passa no corredor uma mulher gostosíssima e o cara berra com as poucas forças que tem:

- Ô gostosa, que tal vir aqui e me fazer um boquete?

O pai, ao ouvir aquilo o repreende e diz:

- Meu filho, não devia dizer estas coisas. Deus castiga!

- Ele vai fazer o quê? Me despentear?

MERVAL PEREIRA


Blindagem econômica

O GLOBO - 24/05/09

Um dos dados mais interessantes da pesquisa “Os ministros da Nova República — Notas para entender a democratização do Poder Executivo”, da cientista política Maria Celina D’Araujo, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (Cpdoc/FGV), é o que mostra que nesse período desde 1985, embora o ministério tenha sido um espaço para as negociações políticas entre as forças que se coligam para sustentar os governos, áreas como a econômica têm sido blindadas pela escolha predominante de técnicos.

A escolha para o ministério obedece a certos critérios básicos, onde se destaca a experiência política. Os dados da pesquisa mostram que se trata de um grupo com alto grau de envolvimento na vida políticopartidária: do total de 329 ministros identificados, quase 50% tiveram experiência no Parlamento (em algum dos três níveis da federação), 22% exerceram cargos eletivos no Executivo (governador e prefeito) e 76% passaram por cargos no Executivo federal, estadual e municipal.

Fica evidente, comenta Maria Celina D’Araujo, que o grupo que chega ao ministério tem ampla trajetória política com forte enraizamento em cargos executivos estaduais e municipais.

“O ministério vai se configurando, por nossos dados, como um espaço de experiência política acumulada.

Os cargos de ministros são distribuídos entre pessoas com mais experiência política e com faixas de idade superiores aos do corpo de profissionais que ocupam os cargos de DAS/NES”.

É expressiva a presença de pessoas entre 61 e 70 anos nos ministérios, e se comparados com os ocupantes de cargos de DAS/NES, o estudo mostra que o gabinete tem indicadores etários bem superiores.

Mais da metade dos ministros tem mais de 50 anos (228 de 328) enquanto mais da metade das pessoas de nossa amostra de DAS/NES estão abaixo de 50 (351 de 484).

O estudo associa a experiência a taxas significativas de educação: na média, apenas 4,5% dos ministros não têm formação universitária, a maioria se formou em direito, e 54% fizeram algum curso de pós-graduação majoritariamente em áreas como economia, administração e ciências sociais.

“Embora a literatura ressalte o espaço do ministério como um campo mais propício ao clientelismo, vemos que os padrões de instrução para o recrutamento têm sido significativos conectando o governo com o avanço da pós-graduação no país”, comenta Maria Celina D’Araujo, que destaca que a área econômica foi a que recebeu ministros mais titulados, “demonstrando que certos setores do governo são tratados com mais cuidado técnico. Ou seja, se o clientelismo é moeda política importante, há áreas que são preservadas numa espécie de insulamento”.

A pesquisa constata que estas áreas “protegidas” estão sempre relacionadas às atividades monetárias, fiscais e de arrecadação de recursos, isto é, as que propiciam a capacidade extrativa do Estado.

“Em termos da capacitação de pessoal, ela é maior quando se trata de arrecadar do que quando se trata de gastar”, nota ironicamente a cientista política.

Na comparação entre a qualificação dos ministros e a dos DAS/NES, vê-se que há “uma complementação em termos de graus de instrução”.

Quando há ministros mais fracos academicamente, os quadros de DAS/NES são mais qualificados.

A área de Justiça, por exemplo, que teve apenas 7,4% de ministros doutores, tem 34,5% de dirigentes com essa titulação.

No decorrer dos anos, a formação dos ministérios mostra que a área econômica é a que recebe mais ministros qualificados, tendo nada menos que 52% dos seus ocupantes com título de doutorado.

É nela também onde há mais profissionalização entre os assessores de nível DAS/NES, e um menor percentual de sindicalizados e de filiados a partidos.

O estudo trata o ministério como “uma estrutura estável” no geral, com uma forte representação de ministros da região Sudeste. Ao lado dos requisitos partidários, a lógica federativa preside as escolhas dos ocupantes das pastas.

O que é identificada no estudo como “super-representação da região Sudeste” fica patenteada no fato de que apenas no governo Itamar essa região ficou com menos de 50% das pastas. Em segundo lugar vem o Nordeste (20,1%) e, em terceiro, a região Sul (15,3%).

Norte e Centro-Oeste não chegam a ocupar 5% das vagas.

O estudo da FGV constata que essa distribuição “não é proporcional ao PIB, mas o é em relação à população”, o que faz sentido do ponto de vista eleitoral.

Cerca de 80% dos ministros do período analisado vêm de carreiras políticas bem sucedidas, na definição de Maria Celina D’Araujo, “pessoas experientes na vida política com for te enraizamento em atividades parlamentares e executivas em todos os níveis de governo”.

Ao contrário das críticas mais comuns, a pesquisa chega à conclusão de que o cargo de ministro, quando destinado a um político, é um “prêmio” para uma trajetória de sucessos nas urnas e nos partidos, tornando-se o ministério “um espaço importante para a experiência comprovada”.

Segundo Maria Celina D’Araujo, a análise da evolução dos ministérios nesse período de quase 25 anos permite identificar avanços formais na democracia que, no entanto, não garantem mais conteúdo e mais qualidade da democracia.

“Para isso, o país, a exemplo de outras nações, teria que aumentar seus controles internos e externos sobre as agências de governo e sobre seus governantes e teria que romper com práticas corporativas pérfidas e com a impunidade. Isso sem falar em políticas de desenvolvimento que efetivamente possam promover crescimento com equidade”.

FERREIRA GULLAR


E dá para não resmungar?

NA FOLHA DE S. PAULO - 24/05/09

Se não há nada de grave a apurar na administração da Petrobras, por que tanto medo?

DO MESMO modo que muitos outros brasileiros, vivo me perguntando o que fazer para salvar o Congresso Nacional e a qualidade de nossa democracia. Sim, porque é difícil sustentar uma democracia quando seus deputados e senadores parecem estar "se lixando" para a opinião pública e entendem que o Congresso é propriedade sua, seu feudo, de que cada um deles pode tirar as vantagens que quiser.

Os últimos escândalos, envolvendo até parlamentares respeitados por seu espírito público, mostram que a causa dessa decadência é mais complexa e profunda do que a fraqueza moral deste ou daquele parlamentar. Por isso a reforma política se torna imprescindível. Se não for a salvação do Congresso, poderá certamente dar início a uma mudança que se tornou urgente.

Os três pontos fundamentais da reforma são, como se sabe, o financiamento público da campanha eleitoral, o voto em lista e o voto distrital. Mas logo surgiram os argumentos contrários à reforma, sendo um deles o de que o voto em lista retira do eleitor o direito de escolher seus candidatos. Um sofisma, já que, pelas normas atuais, você vota em João e elege Pedro, desde que seu candidato não alcance determinado número de votos.

A vantagem do voto em lista está em que o partido assume a responsabilidade pelos nomes indicados e, por isso, se o deputado afirma que está se lixando para a opinião pública ou se envolve em falcatruas, nunca mais será indicado
candidato. Esse é um dado fundamental, uma vez que a situação lamentável do Congresso, hoje, decorre do baixo nível dos candidatos e consequentemente dos que são eleitos.
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Ao saber que a oposição pretendia criar uma CPI no Senado para apurar denúncias de irregularidades ocorridas na Petrobras, Lula saiu-se com esta: "Isso é, no mínimo, antipatriótico". E seu ministro das Comunicações, logo logo: "A oposição subestima o orgulho que a população tem da Petrobras". Mas quem constatou aquelas irregularidades foram o Tribunal de Contas da União, a Receita Federal e a Polícia Federal. Serão, os três, inimigos da pátria e do povo? Apurar irregularidades numa empresa da importância da Petrobras é zelar por ela e pelos direitos de seus acionistas.
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Mas algo, nesta CPI, assusta o governo. Se não há nada de grave a apurar na administração da empresa, por que tanto medo? As tentativas de desmoralizar a CPI, antes que comece a funcionar, chegam a ponto do ministro Paulo Bernardo afirmar, sem nenhum respeito à inteligência alheia, que o objetivo do PSDB é desmoralizar a Petrobras, para em 2010, chegando ao poder, privatizá-la. O mesmo argumento fajuto com que derrotaram o Alckmin, em 2006. Debaixo desse pirão, tem carne.
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Por unanimidade, o TSE inocentou Lula e Dilma da acusação de estarem fazendo campanha eleitoral, durante o encontro com mais de 3.000 prefeitos, em Brasília. O pior cego é o que não quer ver. Alguém ignora que Lula nunca desceu do palanque, desde 2002? Não está evidente que, depois da pesquisa que rejeitou a hipótese de um terceiro mandato, passou a arrastar Dilma para todos os palanques em todos os pontos do país? E ele diz abertamente que ela é sua candidata à sucessão, não diz? O que falta mais? É possível, agora, se a doença dela se agravar, que ele mude de ideia e passe a ser ele o seu próprio candidato. É esperar para ver.
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Num dos últimos jogos da seleção brasileira, ano passado, saiu num jornal a foto da nossa equipe de craques; dos 11 jogadores, nove eram negros ou mulatos e dois, brancos: Júlio César e Diego. Houve discriminação contra brancos? Claro que não: os que ali chegaram, chegaram pela qualidade do futebol, por sua competência, como, aliás, deve ser em todos os campos de atividade.
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O PSDB do Rio, que é oposição, encomendou uma pesquisa de opinião, nos seguintes termos: "É errado construir muros para limitar o crescimento das favelas porque trata o pobre de maneira injusta?". A maioria opinou contra os muros, claro. Se a pergunta fosse "É errado construir muros nas favelas para preservar a mata atlântica?", o resultado da pesquisa certamente seria outro. Pesquisas, que induzem à resposta que nos convém, não merecem crédito.
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E o ministro Carlos Minc na passeata pela liberação da maconha?! Não dá para crer. Qual é mesmo o benefício que o consumo da maconha traz à sociedade? Fumar, fuma quem quer. A proibição visa a impedir, dentro do possível, que os jovens adiram em massa a um vício que só lhes trará prejuízos. Além de "curtir um barato", o que mais ganham os maconheiros? Diz aí, Minc...

CLÓVIS ROSSI


A bolsa ou a vida

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09

SÃO PAULO- A Bolsa de Valores zerou este ano, até agora, as perdas sofridas a partir de outubro, auge da crise. O emprego nem remotamente. O rendimento dos salários tampouco: além de continuar medíocre como é há séculos, ainda retrocedeu algo mais.
Não obstante, há festa no arraial. Sinal de que estamos de volta ao espírito pré-crise: o que importa é a felicidade do capital. A vida, bom, a vida a gente toca como Deus manda, como diria o caboclo no seu conformismo também secular, afogado nas águas ou torrando ao sol das secas impenitentes.
Não é só no Brasil. Na Espanha, por exemplo, a Bolsa, este ano, está em território positivo. Mas, no ano até abril, o número de postos de trabalho decepados bateu em 1,1 milhão, à base portanto de 100 mil por mês, arredondando.
Não obstante, a ministra da Economia, Elena Salgado, vê uma luz no fim do túnel e é capaz de jurar que não se trata de trem vindo em sentido contrário, frase que já deveria ter caído em desuso.
Com isso, a gritaria a respeito da falência do capitalismo selvagem, a pregação quase missionária em favor de uma nova arquitetura financeira global capaz de mitigar os efeitos perversos da jogatina -está indo tudo para o saco.
Tanto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama de "trambique" as apostas em derivativos, que afundaram a Sadia. Mas o BNDES, banco público, põe dinheiro para ajudar na compra da empresa supostamente "trambiqueira" pela Perdigão, compra tratada com o codinome de fusão.
Se é trambique, como diz Lula, deveria ser regulado pelo governo, e não incentivado via BNDES, não?
Menos mal que pelo menos Barack Obama já soltou seu plano para regular justamente os tramb... ops, derivativos. Sei não, mas desse jeito os EUA correm o risco de saírem mais sólidos que outros da crise que criaram.

PAINEL

Cada um na sua

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09

Enquanto exige apoio do PT nos Estados como pré-requisito para se comprometer com a candidatura presidencial de Dilma Rousseff, a parcela do PMDB hoje mais próxima do governo não dá o menor sinal de que pretenda incomodar os correligionários inclinados a caminhar com o PSDB em 2010.
Num encontro dias atrás em Brasília, um cardeal do PMDB pró-Dilma tranquilizou um expoente do PMDB serrista: não haverá, assegurou o primeiro, nenhuma tentativa de amarrar o partido inteiro no barco da candidata de Lula. Cada Estado terá liberdade para fechar o acordo que lhe parecer mais conveniente. É o caminho para tornar tudo mais simples para o PMDB no dia seguinte, seja quem for o eleito.

Quinhão. Em recente reunião de peemedebistas, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) disse que estará ao lado de Dilma em 2010, desde que o PT baiano respeite seu espaço na eleição. Leia-se: o partido deve abortar as pretensões do deputado Walter Pinheiro e especialmente do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, de disputar o Senado. 

Até agora. Do líder da bancada peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), negando que seu partido esteja dando corda à imorredoura conversa do terceiro mandato: "O PMDB só dará um passo nesse sentido com o aval do presidente Lula. E ele até agora tem dito muito claramente que não quer". 

Aí não. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, deve se manifestar em breve contra qualquer tese que leve à prorrogação dos atuais mandatos. O ministro tem lembrado que, quando foi advogado-geral da União, no governo FHC, se opôs à simples mudança de dia da posse presidencial, pois isso representaria quebra de princípio constitucional.

Poeira 1. A mais recente pesquisa tirada do forno por aliados de Geraldo Alckmin mostra o ex-governador e atual secretário de Desenvolvimento com 43% de intenção de voto para o Palácio dos Bandeirantes. O nome do PT mais bem colocado no levantamento é o da ex-prefeita Marta Suplicy, com 13%. 

Poeira 2. Tão ou mais do que os 43%, os alckmistas se alegram em mostrar o 1% obtido na mesma pesquisa pelo chefe da Casa Civil do governo Serra, Aloysio Nunes Ferreira, outro pré-candidato tucano à sucessão estadual.

Cavalo de Tróia. Estão na Câmara, e não no Senado, os peemedebistas que cobiçam a diretoria de Exploração da Petrobras. São os mesmos que já lançaram ofensiva sobre o fundo de pensão de Furnas. A CPI é o pretexto da vez. 

Arrasta pé. Historicamente ligado ao setor energético, José Carlos Aleluia (DEM-BA) recomenda que a CPI não se perca nos patrocínios culturais da Petrobras. "Se for por aí", diz o deputado, "vai virar a CPI do Forró". 

Duto 1. O leque de contratos da Petrobras que poderá entrar na mira da CPI inclui patrocínio a modalidades esportivas, pagamentos a clubes e contratação de escritórios de advocacia e consultoria. Quase tudo sem licitação. 

Duto 2. Outro canal visado pela CPI são os repasses da Petrobras para fundações ligadas a universidades, que frequentaram o noticiário quando escândalos atingiram reitores em Brasília e São Paulo. Nos últimos quatro anos, a estatal injetou cerca de R$ 210 milhões em universidades e suas fundações. 

PACderme. A inauguração do Trem do Pantanal teve festa e convidados ilustres, como o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, mas isso não impediu Lula de desabafar com aliados ao final da viagem: "Que trem lerdo e quente!"

Tiroteio

"São eles quem privatizam a Petrobras na surdina, um pouco todos os dias, contrato por contrato." 


De EDUARDO GRAEFF, secretário-geral da Presidência no governo FHC, sobre o discurso petista de que por trás do empenho do PSDB para ver instalada a CPI da Petrobras estaria o desejo de, no futuro, privatizá-la.

Contraponto

C'est moi Ministro do Planejamento de Castello Branco, Roberto Campos seguiu orientação do presidente e foi conversar com o marechal Costa e Silva, então ministro da Guerra, sobre os capítulos econômicos da Constituição de 1967.
Campos, conforme narrado na recém-lançada biografia do advogado José Luiz Bulhões Pedreira, aproveitou o encontro para sugerir que Costa e Silva colocasse fim às especulações sobre a substituição do presidente do Banco Central. Defendeu mandato fixo para o cargo, sob o argumento de que isso daria estabilidade à política monetária.
-O Banco Central é o guardião da moeda!- pregou.
Costa e Silva ouviu, mas já tinha a resposta engatilhada:
-O guardião da moeda sou eu.

DANUSA LEÃO


Adeus, nicotina

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09


Só eu sei do prazer que sinto quando consigo aumentar as distâncias debaixo d" água, e vejo o quanto fumar é absurdo



ÀS VEZES, a gente entra em uma fase de tomar grandes resoluções, e consegue cumprir muitas delas, o que nos faz muito bem. Eu estou tentando melhorar: me tornar uma pessoa mais doce, mais suave, digamos assim.
Parar de ficar dando palpites sobre tudo e de dizer verdades para os amigos -aquelas que ninguém quer ouvir-, mesmo me arriscando a virar outra pessoa e ninguém mais me reconhecer.
Minha intenção é, claro, ser mais querida, mais aceita. Não sei bem para que, pois não tenho necessidade nem vontade de ter mais amigos. Os poucos que tenho já preenchem minha vida; talvez para que eles não deixem de gostar de mim.
E melhorei. Melhorei, e o principal vou contar agora: anuncio orgulhosamente que consegui, enfim, parar de fumar - dessa vez pra valer. E entrei na natação, para expandir meus pulmões. Essa foi uma grande vitória.
Só eu sei do prazer que sinto quando consigo aumentar as distâncias nadando debaixo d" água, e vejo o quanto fumar é absurdo.
Acender um tubinho de papel, engolir fumaça e depois não conseguir subir uma escada como o Obama faz, por falta de ar? Chega a ser ridículo, e palmas para mim, que eu mereço. Mas nada é perfeito: meus pulmões estão maravilhosos, com a natação diariamente, já os meus cabelos... melhor não falar. Mas outro dia acordei péssima, péssima mesmo. O corpo doendo, os olhos ardendo, e a vontade de ir para a cama, fechar as cortinas e botar a TV bem baixinho, num canal alemão, até me sentir bem de novo; será que isso aconteceria algum dia?
Mas tive que me levantar e ir fazer coisas inadiáveis. Fui. Às quedas, mas fui.
O dia foi horrível, e eu sabia exatamente do que se passava: com a mudança de tempo e a chegada de uma frente fria, tinha pegado uma gripe que se anunciava braba. Não devia ser a suína, mas a gente se conhece.
Cheguei em casa, tomei um banho quente de banheira e me enfiei debaixo das cobertas. Na mesa de cabeceira, a menos glamourosa das cenas: uma caixa de lenços de papel, um vidro de vitamina C, outro de mel, um pires com uma colher e uma latinha de lixo ao lado da cama.
Esse é um dos momentos da vida em que se deve agradecer a Deus por não ter um homem ao lado, nem para trazer um chá. No dia seguinte, acordei ainda pior, e o termômetro acusou 38C, razão mais do que suficiente para não sair da cama, e dane-se a vida.
Mas não podia me dar a esse luxo: tinha que entregar um trabalho naquele dia sem falta. Levei o laptop para o quarto e tentei raciocinar, coisa praticamente impossível, quando se tem uma gripe. E o trabalho tinha que ter 4.000 toques, ninguém merece.
Pensei em minha mãe, que se fosse viva não ia entender; mães sempre acham que uma filha tem, em primeiro lugar, que cuidar da saúde, e não conseguem compreender que a realidade não é bem assim. Só se pode ficar doente nos fins de semana e nas férias.
Mas onde foi parar aquela mulher cheia de força de vontade, que há uma semana se sentia uma Maria Lenk, praticamente? Pois aquela mulher descobriu que uma simples gripe é capaz de acabar com ela - física e psiquicamente.
E me dei conta do quanto posso ser antipática e arrogante quando estou com saúde, e que todas as pessoas deveriam ficar doentes uns três dias por mês, para serem um pouquinho mais humildes. Eu, inclusive. Tudo, qualquer coisa, mas sem nicotina, que felicidade.

GOSTOSA


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JANIO DE FREITAS

Doenças no jornalismo

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09


Os excessos ao tratar de doentes talvez se devam ao desordenamento em que a imprensa lida com os avanços



A BOA FORMULAÇÃO dirigida a jornalistas pela ministra Dilma Rousseff -"Misturar doença e política é de mau gosto"- reflete as alterações radicais nos hábitos da imprensa e dos políticos, em relação às doenças que repõem o poder na dimensão humana.
Recentes no já longo histórico da imprensa brasileira, os excessos talvez se devam ao desordenamento em que o jornalismo vai aqui lidando com seus avanços e novidades. Mas não é menos provável que resultem do rebaixamento dos níveis de educação e civilidade nos costumes do brasileiro em geral. É possível até que as duas coisas sejam uma só, vista por ângulos diferentes.
A relação entre imprensa e doentes com imagem pública não tem, mundo afora, o que se pudesse chamar de regra básica. Em muitos países, a imprensa considera o problema jornalístico resolvido apenas porque deixa de discuti-lo.
Na França, por exemplo, a discrição da imprensa é total quando se trata de figuras do poder, assim como em suas relações sentimentais e sexuais, a menos que o próprio tome a iniciativa da divulgação ou a autorize. Ficou famoso na imprensa francesa o caso do (ex-)presidente François Mitterrand, com sua vida conjugal fora do casamento, da qual tinha uma filha já moça, e um duradouro câncer que afinal o venceu, sem que os eleitores ao longo de sua extensa carreira política tivessem notícia desses fatos.
Nos Estados Unidos, as doenças de figuras do poder são caladas quase como tabu. Do poder nos Estados Unidos, bem entendido, porque os demais estão sujeitos à conveniência ideológica. As normas estaduais variam, e às vezes são tão rígidas que proíbem, como na Califórnia, fotografar a vítima de um mal súbito na rua ou dar notícia do fato. Na Inglaterra, a solução da hipocrisia diplomática prevaleceu também aí: a imprensa "séria" faz a discrição e os tabloides do sensacionalismo, que são a verdadeira grande imprensa inglesa, têm como prato do dia mais frequente algum aspecto pessoal e explorável de alguém célebre, não importa quem. Salvo, e salve, a rainha.
As restrições têm contrapartida: implicam a sonegação de informações. E os casos em que isso se justifica não autorizam a generalização diante de determinado tema, seja qual for. Muito menos se há interesse público.
Na maior parte da sua história, a imprensa brasileira praticou, por consenso tácito, um comedimento eficiente: dava a notícia e acompanhava o desenrolar do caso, porém restrita ao essencial. Na atual fase da imprensa, a liberalização do jornalismo um tanto desregrada e os avanços tecnológicos na produção de jornais aliam-se em estímulo a certos usos discutíveis. Um deles incidiu sobre doenças de figuras do poder, tanto pela obsessão persecutória do personagem e seu tema, quase como redução do jornalismo ao status dos paparazzi, quanto na abundância de pormenores, fotos e gráficos que trazem, com frequência, uma exploração sensacionalista inegável. É o que Dilma Rousseff chama de mau gosto, cujo momento culminante, a meu ver, foi com a doença de Mario Covas. Tancredo Neves foi caso à parte, com sensacionalismo por si mesmo e menos pela doença do que pelas circunstâncias.
Tive duas experiências muito especiais nesse capítulo jornalismo versus doença. O primeiro foi a revelação de que o estado cardíaco do general Figueiredo exigia seu afastamento temporário da Presidência, para submeter-se a uma cirurgia que ele, mais do que recusar, queria bem escondida. Caiu uma avalanche sobre mim, dado nos jornais, rádios e TVs como autor de uma falsidade e, pelo general Rubem Ludwig no "Jornal Nacional" da TV Globo, sob esta acusação: "O jornalista Janio de Freitas é um terrorista".
Não me arrependi de ter escrito a notícia, por convicção e pelo motivo que me levara a escrevê-la. Como sete dias depois, o próprio general Figueiredo confirmou, pedindo licença para ausentar-se do país e, chegado ao hospital de Cleveland, vendo negado até um dia de descanso antes da cirurgia, tal foi a premente gravidade que as primeiras auscultações demonstraram. Foi logo "aberto como um frango", nas suas palavras de recém-salvado.
Mais tarde, dei a notícia de que o câncer linfático do ministro Dilson Funaro, da Fazenda no governo Sarney, voltara a manifestar-se. Funaro confirmou a informação no mesmo dia. Fui muito acusado de querer me vingar da reação do ministro e seus assessores Luiz Belluzo e João Manuel Cardoso de Mello quando noticiei que preparavam uma superdesvalorização do cruzeiro, medida de desesperados atônitos com seu fracasso na luta contra a inflação altíssima. Não me arrependi de haver escrito a notícia da recidiva (nem a da sustada desvalorização), porque Funaro escondia a doença e não se tratava por temor de ser afastado do ministério. Dada a notícia, resolveu tratar-se, ainda que de modo incompleto.
Nos dois casos, creio que o jornalismo, não eu, cumpriu um de seus propósitos de sentido mais humano. Minha preocupação, nas duas ocasiões, foi escrever com toda a sobriedade possível, temeroso do mau gosto ameaçador. O restante era convicção.
PS: Dos dois personagens das notícias tive, mais adiante, referências respeitosas ao trabalho a seu respeito.

VINÍCIOS TORRES FREIRE

Um guarda-chuva nas cataratas

 FOLHA DE SÃO PAULO - 24/05/09


Maré de baixa do dólar é muita água para o nosso barquinho; é a inversão da onda que causou a desvalorização do pós-crise

TENTAR CONTER a desvalorização do dólar no Brasil seria equivalente a abrir um guarda-chuva para se proteger das cataratas do Iguaçu: acaba-se molhado, com um guarda-chuva em pandarecos. A fim de limitar a alta do real seria preciso comprar dólares e empilhá-los nas reservas com apetite chinês (o que é caríssimo), além de baixar juros em ritmo de recessão americana. Mas tal discussão é ociosa, pois em hipótese alguma o Banco Central do Brasil faria tais coisas.
O dólar agora perde valor em parte devido ao refluxo da onda de pânico que se levantou em setembro de 2008. Indicadores importantes de risco caíram ao nível mais baixo em quase um ano (volatilidade de Bolsas, "spreads" sobre juros básicos, taxas interbancárias etc.). Baixou o medo de novas catástrofes financeiras. O dinheiro grosso do mundo, que em 2008 fugiu para o colchão seguro dos títulos americanos, agora quer rentabilidade, pois os "Treasuries" ainda rendem quase nada.
O dólar cai também porque os EUA têm de financiar um déficit público de 13% do PIB e vão inundar o mercado de títulos do seu Tesouro. Entre outros motivos, fazem dívida a fim de tapar rombos diretos e indiretos criados pela banca. O mercado se antecipa, vende títulos, o que tende a elevar a taxa de juros. Quer juros maiores para financiar a dívida monstro (mas, dizem medalhões não conservadores da economia americana, tão cedo isso não vai dar em elevação relevante de juros).
Enfim, o mercado vende ativos em dólares. No final da semana, saíram até de Bolsas, títulos e de dólares americanos ao mesmo tempo, o que é um tanto raro. Procuram rentabilidade e proteção contra a baixa adicional do dólar comprando commodities, ativos de países vendedores de commodities, com juros altos e que devem crescer algo mais que os EUA. O preço da soja é o maior em oito meses, o milho sobe, o petróleo sobe, o ouro sobe. Tem aparecido até crédito para empresas dos EUA.
Muitas moedas, em especial as de países que vendem commodities, sobem, o real inclusive. O dólar chegou ao nível mais baixo em relação ao euro em quatro meses. Cai até diante da esmolambada libra.
Houve um rumor na sexta-feira a respeito do rebaixamento do crédito dos EUA, que perderia a nota dez de devedor mais seguro do mundo. Porém a ameaça de degradação do crédito americano parece ter sido apenas o chantilly do bolo de motivos que força a queda do dólar.
Mas isso vai durar? O "mercado" vai achar, daqui a pouco, que exagerou no otimismo, dados o consumo e lucros baixos, e vai voltar à retranca, criando mais confusão nas Bolsas e nas moedas, após meados do ano?
As marés que fazem o dólar subir e descer são água demais para o nosso barquinho. Não há o que fazer, no curto prazo, parece. Não obstante, o problema do real forte é real, a não ser para os ainda restantes maníacos para quem o câmbio acaba por chegar a um nível que equilibra as contas externas (entre outros "reequilíbrios"). Mas tais coisas ocorrem sem pororocas econômicas graves apenas em livros de graduação de economia e finanças. Para piorar, se houver uma recuperação chinesa forte, mesmo com baixo crescimento nos EUA e Europa, não é improvável uma alta ainda maior do real.

ÉLIO GASPARI

Manual para se vigiar a CPI da Petrobras

O GLOBO - 24/05/09

Quem quiser acompanhar a CPI da Petrobras precisa se acautelar. O melhor negócio do mundo para o comissariado da empresa será a exibição de meia dúzia de escândalos pirotécnicos. Aqui vai um manual de sobrevivência para os curiosos:

1) Discutir a política de patrocínios culturais servirá apenas para desfazer a cena do crime. O senador Alvaro Dias diz que quer investigar os contratos de duas ONGs dirigidas por petistas que receberam R$ 2,96 milhões para organizar festas em 44 cidades baianas.

Perda de tempo. A Polícia Federal e o Ministério Público estão cuidando do assunto, e essas duas instituições são mais confiáveis que as CPIs do Congresso. Admitindo-se que toda a política de patrocínios da Petrobras estivesse corrompida, os custos da empresa caberiam na rebarba de uma plataforma de R$ 6 bilhões e ainda sobraria muito dinheiro. (O comissariado não diz quanto gasta em cultura, mas pode-se chutar que a cifra está nuns R$ 300 milhões.)

2) Discutir sobrepreços inferiores a 10% do valor orçado é denúncia vazia. Diferenças desse tamanho podem ocorrer nas melhores empresas.

Sobrepreço bonito é o da refinaria planejada para o Rio de Janeiro. Em 2006, quando Nosso Guia lançou sua pedra fundamental, ela estava orçada em R$ 7 bilhões. Atualmente está estimada em R$ 26 bilhões. O mesmo acontece com a Abreu e Lima, em Pernambuco. Ela nasceu custando R$ 5 bilhões, pulou para R$ 8 bilhões e, em março, empreiteiras e fornecedores pediam R$ 22 bilhões. No meio do caminho sumiu o sócio venezuelano. Se o comissário Sergio Gabrielli trabalhasse com variações desse tipo na iniciativa privada, já teria sido mandado para a direção de uma ONG de capoeira. Para evitar dispersão de esforços, pode-se também estabelecer um piso de R$ 100 milhões para qualquer investigação mais aprofundada. Assunto não haverá de faltar.

No mundo das astúcias conceituais pode-se até deixar de lado o drible que Gabrielli e o doutor Almir Barbaça quiseram dar na Receita Federal. Mais intrigante será a investigação junto a fornecedores e empresários atraídos para sociedades com a Petrobras. Em tese, esse é um bom negócio. Na prática, diversos parceiros surpreenderam-se ao ver que as revisões orçamentárias da estatal geralmente dobravam as despesas. (Em alguns casos os sócios preferiram cair fora.)

A Petrobras não é uma empresa corrupta, mas uma estatal onde há espertalhões. O melhor acervo para a sua defesa está no corpo técnico da companhia.

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PSDEM

Um malicioso observador da vida partidária brasileira começou a desconfiar que esteja em andamento algum tipo de conversa para fundir o PSDB com o DEM. Pelo menos um cardeal do DEM admitiu essa hipótese, ressalvando que isso aconteceria depois da eleição de 2010. É apenas desconfiança, mas será divertido ver Fernando Henrique Cardoso no ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena.

Avô em Guantánamo

O companheiro Obama evita falar no assunto, mas ele é o primeiro presidente da história dos Estados Unidos com um ascendente direto preso e torturado sob a acusação de terrorismo. Sua família já teve o Momento Guantánamo.

Hussein Onyango Obama, avô paterno do presidente, foi encarcerado em 1949 pelo regime colonial inglês e passou dois anos nos calabouços da medonha prisão queniana de Kamiti. Sofreu de tudo.

Vô Obama foi acusado de passar informações ao movimento nativista que desembocaria na revolta dos Mau Maus. Essa organização juntou milhares de quenianos unidos por um juramento feito em rituais em que se bebia sangue de bode.

Os ingleses confinaram e prenderam 1,5 milhão de quenianos. Mataram pelo menos 12 mil. Não adiantou. Em 1963, 11 anos depois do início da revolta Mau Mau, o Quênia obteve sua independência. (Em suas memórias, Obama Neto contou essa história com a rapidez de um gato que corre sobre brasas.)

3x3?

Conta de um petista atrevido: “Eu não falo em terceiro mandato. Para mim, se Lula disputasse a Presidência em 2010, essa seria sua sexta candidatura. Até agora ele perdeu três e ganhou duas.”

Vestibular

A esta altura, as chances de o MEC organizar duas provas do Enem neste ano são inferiores a 10%. Haverá só uma, em dois dias de outubro, com um total de 180 questões. O que o ministério assegura é que até outubro fará três simulações, todas na internet. A primeira será parcial e as duas outras, completas. Os estudantes poderão conferir on-line a qualidade de suas respostas.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e pretende ganhar dinheiro com sua última invenção. É o “Deflator Mantega” e serve para prever o índice de crescimento do PIB num ano. O idiota lembrou-se de que, no final de 2003, Mantega contestou uma previsão da ekipekonômica, que estimava um crescimento de 0,4% para a economia naquele ano. O doutor explicou que “eu não derrubo, só levanto o PIB” e cravou um crescimento de 0,8%.

A conta fechou em 0,5%. Diante disso, o idiota criou a Primeira Lei de Mantega: Seja qual for o PIB, ele ficará 37% abaixo do que diz o ministro da Fazenda. Eremildo aplicou o “Deflator Mantega” à divergência recente do ministro com o seu colega Paulo Bernardo, que previu uma taxa de 0,7% para este ano. O levantador de PIB elevou-a para 1%. O idiota informa: a economia crescerá 0,63%.

Confisco eleitoral

Os doutores que defendem a instituição do voto de lista, que retira do contribuinte o direito de escolher seus candidatos a deputado, sustentam que com isso os partidos serão fortalecidos e o Brasil será feliz para sempre. Tudo bem. Puseram no pacote do confisco eleitoral uma proposta que abre uma “janela de infidelidade” para permitir que parlamentares fujam dos partidos pelos quais se elegeram.

Acreditar na Infraero é coisa de bobo

Em outubro passado leu-se aqui uma “boa notícia”. A Infraero anunciava que a partir de dezembro os 12 maiores aeroportos do país ofereceriam conexões gratuitas com a internet pelo sistema wi-fi. Tudo mentira. Chegou-se a maio e não se instalou coisa alguma. Pior: os aerocratas anunciam que oferecerão outra modalidade de serviço. A patuleia precisará se cadastrar, terá o acesso limitado e pagará aos provedores para usar serviços de e-mail.

BRASÍLIA - DF

Amarrado

Denise Rothenburg

CORREIO BRAZILIENSE - 24/05/09


O diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), Luiz Antônio Pagot, bateu o martelo com seu partido. Não será candidato a nada em 2010. Explica-se: o PR não quer abrir mão de um dos cargos que faz a alegria das construtoras. E, sabe como é, com a CPI da Petrobras e a boca de jacaré do PMDB atrás de novos postos, cada aliado segura com unhas e dentes aquilo que conquistou.

Solto

Já o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, deixa o cargo em dezembro. Se tudo seguir conforme o planejado, virá para Brasília, ajudar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a organizar a campanha com a turma do agronegócio, um segmento onde o PSDB tem muitas simpatias e votos.

Na reunião de Michel Temer com os congressistas nessa semana, o líder do PMN, Uldurico Pinto (BA), se aproximou da mesa dos peemedebistas e disse: "E aí? Vocês decidiram que são contra ou a favor do quarto mandato de Lula?". Foi uma risada geral, diante da brincadeirinha que considera o terceiro mandato pule de dez.

Contras... 

A oposição começa a olhar atravessado para a proposta em tramitação na Câmara, que aumenta de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Com boas perspectivas de fazer o presidente da República em 2010, tucanos e democratas temem perder a chance de indicar juristas para a Suprema Corte, se o projeto for aprovado.

... e mais contras

Três ministros do STF completam 70 anos em 2012: Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto e Menezes Direito. Mas poderão postergar a aposentadoria para 2017, caso a proposta vingue no Congresso, portanto, depois de encerrado o mandato do próximo presidente da República. Três é o número de ministros que Fernando Henrique Cardoso nomeou para o Supremo. O presidente Lula, por sua vez, já alçou sete.

Ela vai escapar

A deputada Luciana Genro (PSol-RS) pode respirar tranquila. A Mesa Diretora da Câmara quer arquivar a representação contra ela feito pelo PSDB por causa das acusações feitas aos tucanos em plenário. Mas é bom os congressistascomeçarem a moderar a linguagem na hora de acusar algum colega de crime sem provas na tribuna. A idéia é impor algum limite num outro pedido em curso na Casa.

No cafezinho

Brasília-DF/ O deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) explica as mudanças em curso para tentar emplacar a lista fechada na Câmara nesta semana e avisa que não há prazo para votar o terceiro mandato presidencial. Confira no www.correiobraziliense.com.br.

Unidos/ À frente dos protestos contra a instalação da CPI da Petrobras, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) escolheu o Assentamento do Contestado (PR), dirigido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), para realizar sua plenária em 2 de junho. A parceria, segunda a FUP, "fortalece a classe dos petroleiros com os trabalhadores rurais, que sempre estiveram nas principais lutas da categoria". É sabe como é... Se a terra não der para plantar, dá para tentar furar um poço.

Hábito/ Assinado o acordo entre a CEB e a Cemig, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Jorge recebe um telefonema de um amigo que vai direto ao assunto, dizendo que iriam trabalhar juntos, que o encontro entre José Roberto Arruda e Aécio Neves foi excelente e coisa e tal. Sem pestanejar, Jorge, ex-presidente da CEB, discorre sobre o tema com desenvoltura. Ao final, quando se despede, o ministro entrega o ouro: "Só tem um probleminha, não sou mais presidente da CEB". O interlocutor, meio sem jeito, responde: "Mas é meu amigo. E é isso que importa, e nem vou pedir para a minha secretária mudar o nome de presidente da CEB. Assim, sempre vou conversar com você!". O ministro deu risada. 

MÍRIAM LEITÃO

Sensação melhor

O GLOBO - 24/05/09

Respira-se um ar melhor: o dólar e a inflação caíram, o desemprego ficou estável, alguns setores reagiram. Acabou a crise? Na última semana, o Japão anunciou queda do PIB no 1º trimestre de 15,2%, a Alemanha, de 14,4%, o México, de 21%. A Vale cortou quase 40% do investimento. O governo reduziu novamente a previsão de crescimento. A Inglaterra ganhou perspectiva negativa das agências de risco.

Passou o pânico, que era o pior elemento desta crise. Havia um risco explosivo e uma trajetória de queda imprevisível, como acontece em todo ataque de pânico. O que se vive agora é o longo, lento e difícil desenrolar da crise que já engoliu 2009. Mas nada mudou profundamente: os bancos americanos ainda têm ativos podres, o mundo continua em recessão, o comércio internacional encolhe. Como disse a capa da penúltima revista The Economist, “Três trilhões depois...”. Pois é: depois de toda essa montanha de dinheiro, ainda não se tem o fim do problema. Na sexta-feira, o dólar bateu o ponto mais baixo em cinco meses frente a uma cesta de moedas por causa dos temores do crescimento da dívida americana. Quando a crise for enfim superada, ficarão a ressaca, a inundação monetária e a farra fiscal dos países ricos. O relaxamento fiscal e monetário extremo desses países pode provocar várias distorções na economia mundial, de fragilidade cambial à inflação.

Mas as bolsas subiram em vários países, algumas commodities se valorizaram e, principalmente, há uma sensação de que este não é o fim do mundo, nem o fim do capitalismo. Psicologicamente, o mundo melhorou, ainda que, lentamente, as estatísticas vão mostrando o tamanho do estrago.

Em agosto do ano passado, o governo brasileiro avisou que para ser comedido reduziria de 5% para 4,5% a previsão de crescimento do PIB para 2009, que seria incluída na Lei Orçamentária. Em novembro, depois que a crise já estava instalada no Brasil, a previsão foi reduzida para 4%. O Congresso fez o favor de reduzir mais um pouco a previsão, que estava destituída de conhecimento da realidade. Em janeiro, o governo fez novo corte no prognóstico, para 2%. Na última semana, falou algo entre 0,7% e 1%. O mercado prevê um número negativo: -0,49%.

O que há de comum entre Alemanha, Japão e México é que os três dependem fortemente do comércio internacional, e ele continua com queda forte em relação ao ano passado. Na verdade, esses três países não são os únicos. O que aconteceu nos últimos anos de globalização mudou estruturalmente as economias do mundo inteiro. Segundo a Unctad, de 1995 a 2007, as economias em desenvolvimento aumentaram seu grau de exposição ao comércio internacional da seguinte ordem: as exportações representavam um quarto das economias dos países e passaram a representar, em média, a metade. A Unctad prevê uma queda de 9% do volume das exportações dos países em desenvolvimento, mas diz que em valor a queda será maior.

As importações americanas caíram 30% neste primeiro trimestre. O México, que é “americano-dependente” explícito, sentiu o baque mais que todos. A queda de 21,5% do PIB no primeiro trimestre é a maior desde a grande crise do peso, em 1995. A queda da Alemanha é a maior desde 1970. O secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, disse que não se chegou ainda ao fundo do poço, mas quando chegar, a economia americana sairá mais rapidamente que a europeia. O Japão, que arrastou-se por uma década na recessão, já provou ao mundo que entra rapidamente nas crises, mas demora a sair delas.

O número brasileiro do PIB do primeiro trimestre, quando sair em 9 de junho, parecerá bem mais palatável do que esses e até melhor do que os 6,1% de queda dos Estados Unidos, mas é pura convenção estatística. Eles apuram o resultado do PIB e depois anualizam o dado. O Brasil faz a conta na comparação com o mesmo período do ano anterior e com o trimestre anterior. Assim, a nossa queda parecerá bem diferente da queda alheia, mas não será tão diferente assim.

As previsões para o PIB do primeiro trimestre no Brasil estão negativas. Pelos cálculos da Gap Asset, queda de 1,4% na comparação com o trimestre anterior; para a Tendências Consultoria, -2%; para a MB Associados, queda de 2,3%. Essas previsões, anualizadas da maneira que outros países fazem a conta, dariam resultados entre -5,6% e -8,8%.

Há sim a esperança de que o país saia mais rapidamente da crise. Mas o tombo aqui nesses dois últimos trimestres, o último de 2008 e o primeiro deste ano, nos colocou na lista dos países em recessão. Dos Brics, perdemos para China e Índia, que estão mantendo taxas de crescimento de 6% e 5% – os únicos países do mundo, aliás – mas ganhamos, felizmente, da Rússia, que pode ter uma recessão perto de 7% em 2009.

Portanto, qualquer comemoração agora é precipitada. Esta é uma crise diferente das outras na natureza, na extensão, na duração. Os economistas têm tateado no escuro, às vezes fazendo previsões baseadas em experiências do passado, que são de um mundo menos complexo. A incerteza é a marca desses tempos. É melhor respeitar a crise e ir procurando a saída dela com segurança.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

O caderninho rabugento

O GLOBO - 24/05/09

O sujeito vai ficando velho e vai se transmutando num reacionário cada vez mais enfezado, de maus bofes e convívio desagradável. Triste fado de que alguns afortunados escapam, mas em que a maioria, suspeito eu, acaba caindo, pouco disfarçando a antiguíssima e cruel verdade de que o verdadeiro mal da nova geração é que não pertencemos mais a ela. É o que penso aqui, olhando este caderninho, onde faço anotações que se assemelham um pouco às mensagens do Missão Impossível. Não se autodestroem, mas quase todas se tornam indecifráveis uns dez minutos depois de escritas. A exceção, agora descubro, são as rabugentas. Num ato falho embaraçoso, as notas rabugentas estão grafadas com clareza, geralmente em letra de forma. Não dá para disfarçar a preferência do autor. É mesmo atanazar o juízo do semelhante com reclamações, queixas e comentários azedos a qualquer pretexto, ou mesmo sem pretexto.

Não, sem pretexto também não. Os pretextos abundam, feliz ou infelizmente. Como se soubesse em que estou me ocupando agora e quisesse me provocar, a repórter do noticiário de televisão a que no momento assisto diz que não sei o que lá acontece ´peluma razão muito simples´ . Essa - como direi? -preposição não foi criada por ela, porque já a ouvi antes e a ouço com cada vez maior frequência. Dizem que os neologismos surgem espontaneamente, assim que há necessidade. Devemos, por conseguinte, ter necessidade, pelum desses volteios do destino, de usar uma preposição variável, haverá de ser mais um passo para a nossa crescente integração no concerto das nações desenvolvidas. Pelum, peluma, peluns, pelumas - estou começando até a gostar, pode ser que dê mais expressividade à língua.

Escuto agora um senhor afirmando que o presidente de uma comissão do Congresso não vai tomar nenhuma medida concreta (as abstratas, tudo bem) no momento, porque prefere aguardar maior unanimidade entre os membros da dita comissão. Mal tenho tempo para me indagar como é que a unanimidade pode ficar maior ou menor, quando se passa a uma entrevista, acho que com um membro da mencionada comissão, na qual ele afirma que ´a comissão, ela não tem como objetivo´ etc. Aí se trata do famoso sujeito duplo, que se estabeleceu de vez entre nós e daqui a pouco vão dizer que quem não fala assim está falando errado. Por alguma razão não explicada, de uns anos para cá vem se tornando cada vez mais raro ouvir alguém usar a terceira pessoa de qualquer verbo sem dobrar o sujeito. Se fosse numa língua sem flexões verbais, até que dava para entender, mas a nossa é muito bem servida delas. Não adianta resistir, só se fala assim.

Despeço-me do televisor, não sem antes ouvir outro repórter dizer que uma inauguração ocorreu ´há exatos vinte anos´. Fico imaginando vinte anos rigorosamente exatos, cada ano mais exato que outro, não admitindo nem ano bissexto. Outra vez inovamos e, agora que penso mais detidamente no assunto, parece que o Brasil vai de fato distinguir-se por tornar variáveis as categorias invariáveis. Não ficamos nas preposições, fomos igualmente aos advérbios. As conjunções e interjeições variáveis não devem tardar, se é que não estão já por aí. Talvez não, porque devem andar ocupadas com a movimentação a que têm sido sujeitas nos últimos tempos, a ponto de eu acreditar que algumas delas ficaram estressadas, como não pode deixar de ser no caso do divórcio rumoroso entre ´daqui´ e ´de´, bem como no contubérnio de ´acontecer´ com ´de´. Ah, não souberam? Pois é o que lhes digo - e já está tudo escancarado para qualquer um ver. Ninguém mais fala ´daqui a dois dias´, só fala ´daqui dois dias´. Outro dia ouvi alguém dizer ´pra mim fazer daqui dois dias´ e fiquei pensando no inglês dos apaches dos filmes de caubói antigos. Quanto ao caso de ´acontecer´ com ´de´, já descarou há muito tempo e também logo deve tornar-se moda. O primeiro pode e devia prescindir da segunda, mas, sabem como são essas coisas, pintou um clima e aí ficou essa sem-vergonhice. Não acontece mais ninguém passar sem a preposição. Aconteceu de eu estar escrevendo, aconteceu de ela ver e assim por diante.

Creio também que já chegou a hora de preparar o necrológio de ´cujo´, esse desconhecido. Há alguns marginais que ainda recorrem a ele, mas estão cada vez mais minoritários e acredito que dentro em breve quem usá-lo vai ser vaiado ou denunciado como elitista ou perguntado como vão as coisas na Ucrânia. Já está ficando estranho alguém, na conversa comum, dizer ´a moça cujo pai eu vi ontem´. O certo vai acabar sendo ´a moça que eu vi o pai ontem´. Tenho certeza de que isso se aproxima do léxico e da sintaxe dos chimpanzés, mas não disponho de provas e não quero melindrar os chimpanzés. E, finalmente, porque o espaço está acabando e chega de rabugice num domingo só, merece pelo menos menção honrosa o fato de que dizer ´este ano´, ´esta semana´ está ficando a cada dia mais incomum. Agora, sabe Deus por que artes da burrice e da ignorância, só se diz ´neste ano´ e ´nesta semana´. Daqui a pouco, vai se dizer ´neste hoje eu ainda te falo´ ou ´isto foi nesta ontem´.

Mas não liguem, é tudo caturrice mesmo, a língua é viva e muda o tempo todo. Se as línguas não mudassem, estaríamos falando latim e, portanto, não há nada de preocupante nesses e em outros exemplos que me recheiam cá o caderninho. Mas, como esta coluna não é interativa e vocês não podem senão lê-la (aliás, podem mais, mas prefiro não ser informado do quê), fico com a última palavra. Já que mencionei o latim, menciono os romanos, que sabiam das coisas e diziam ´ubicumque lingua romana, ibi Roma´ - onde quer que esteja a língua romana, aí estará Roma. Fico meio assim, porque isto, aplicado a nós, significa que estamos na cucuia.