JESSIER QUIRINO

BOI DE FOGO NO VELÓRIO DO CANEIRO

Andava calmo o velório, do cumpade Caboré, uns rezavam outros choravam, outros tomavam café, outros se riam baixinho, sem muito qüé-ré-qüé-qüé, e num caixão enfeitado, o Caboré espichado olhando o dedão do pé.

A única coisa que perturbava, era um casal de mosca amorudo, que teimava em sentar praça no buraco da venta do falecido, numa fodança esvoejante, como se ali fosse um motel de zero estrela.

A viúva Michela de Zé Tambor – uma gordalhuda bonitota – soprava e abanava com um lenço, e as moscas nem… Voavam uma coisinha e voltavam a chamegar. As beatas rezadeiras, rezavam e abanavam com as mãos, e o casal de mosca ali na maior priapada de gozo, voando, pousando e chamegando.

Os veloristas ficaram meio constrangidos, assistindo aos voejos circulares, e a sodomia moscal, na venta defuntica do cumpade Caboré, que apesar de morto não era lá essas coisas todas: Em vida, nunca deu um prego numa barra de sabão, e era o maior conhecedor das bundas vadias da região. Brincalhista de plantão e cachacista, só tomava dois tipos de bebida: nacional e importada, se esta última passasse engarrafada em sua frente.

Como se não bastasse, vivia metido em fodistério ilegal, com tamanqueiras de baixa cotação, e também nunca enjeitou um brecha nos peitos de mulher mamalhuda, mesmo que fosse em velório lamentoso e bem chorado. Por isso, aquela se-mostrança do casal de mosca não era motivo pra tanta melindrez por parte dos veloristas.

Num dado momento, a viúva disse: “– Basta!” Foi lá dentro, armou-se de uma bomba de Detefon, e bradou um grito de guerra:

– Garanto que vai ser hoje
Que o defunto se sacode
Mas este casá de mosca
Na venta dele não fode!!!!

E tome fu… fu… fu… de arma química. Detefonou a cara do falecido que ameaçou espirrar, mas foi impedido pelo lenço vermelho do Bispo Dom Ricardo, que temia mais uma invencionice de beata com esses casos de milagre bem milagrado. O bispo já não agüentava os santos de carne que elas inventavam, quanto mais um possível São Detefon ou Santa Michela de Zé Tambor que fez o defunto espirrar.

Diante da arma química, o casal de mosca pensou que a terceira guerra havia começado e caiu num óbito de torar.

Uma velorista rezadeira e choradeira, que estava num ora-pro-nobis concentrado da gota-serena, achou a reza desimportante diante de tamanha heresia, chamou a viúva na grande, e disse-lhe:

– Quem sois tu mezenga? Quem sois tu pra detefonar a cara do falecido só mode o sassarimbar dum casá de mosca? Eu sei que sois viúva, que tais anecessitada de sentimento, que tais a beira de um esgoto-nervoso e destress, de tanto sofrer nas mão desse femeeiro e cachaceiro defuntento duma figa, que Deus o tenha! Mas arrepara que tu também não sois melhor do ele não! Tu sois é mulher fregona, freguesada pra macharia, e não tens nem um pinguim de moral pra essas moscas chameguentas, muito menos pro falecido Caboré!

A viúva, ferida na viuvez e na moral, partiu pra cima da velha que nem um leiloeiro raivoso pra cima da banqueta, e disse com voz metralhosa, com dentes trincados, com meia boca e entronchando os beiços:

– Dou-lhe uma! Dou-lhe duas! E dou-lhe três!

Fez da bomba de detefon um martelo, e acunhou por três vezes o tambor de lata na cara da rezadeira, que ficou com a marca de óleo salada do flandre estampada na fuça. A bomba se abriu, e a velha levou uma dedetizada tão da gota, que passou uns vinte anos sem piolho do tanto de veneno que se banhou. Foram três chapoletadas tão seguras, que a pedra dum anel da viúva zuniu e foi se enfiar num geremum caboclo que tinha em cima do petisqueiro.

Os veloristas tomaram partido, e a trincheira, era o caixão de defunto, com o falecido de mãos postas e um riso nos dentes. Do lado do contra, estava uma bruaca noitista, também viúva-rameira de Caboré. A bicha tirou o véu preto que disfarçava a cara, jogou pra trás do vestido também preto, atracou-se com uma vela do castiçal feito uma espada, e que nem um Zorro de cera ferido na viuvez de quenga, deu vaza a toda valentia, e gritou:

– Assassina de defunto!!! Viúva envenenista! Rapariga de soldado! Serás da SUCAN por acaso? Sua hipopota bixiguenta do istopor! Passe pro lado de cá e venha me detefonar que eu tou aqui vê-i-vi vê-a-vá e lhe cor-tê-o-tó de gilé-te-é-té!!!

Como capoeirista de bordel, e cheia de cachaça, a bruaca tentou desaplicar um rabo de arraia mal aplicado e findou acertando uma rasteira no tamborete de baixo do caixão, e o defunto, POFE!… danou-se no chão, com caixão, tamborete e tudo. Com o território sem trincheira, uma saraivada de bufete se seguiu, que se enrolou feito ninho de cancão. O boi de fogo era tão grande que tinha gente procurando por si mesmo. Michela de Zé Tambor que sempre foi dessas bichona nadeguda, deu uma sobrada de bufete, caiu sentada e afundou o mapa-munde da bunda na cara dum rezador de setenta anos, que por pouco não virou minuto de silêncio.

No meio dessa alegria de doido, Dom Ricardo, cheio de Ricardia, tentava sem êxito acalmar os ânimos, e jangadeava pra lá e pra cá no mar de tapa-olho, puxavante, bufete, rasteira e abusamento. Gritou uma hora de camaíííí!!! até a briga acabar.

O catacumbista chegou, fechou o caixão de segunda com tampa desadornada, escurecendo por dentro, a morada do cachacista Caboré. Enquanto isto, a viúva toda sentida e arranhada, atarraxava a rosca das trancas. De repente, ouviu-se de dentro do caixão, aquela fala abafosa e desamplificada:

– Michela meu bolofote
Teu veneno me amarga
Nem que tu feche esta rosca
Esse casá de mosca
De tua saia não larga!!!!

As moscas saíram de dentro do caixão, voando atrás da viúva que endoidou com medo até de mosquito. Caboré ficou ali verdadeiramente entregue às moscas, sem viúva e sem parente. Teve tudo que sonhou pra depois de morto: duas latas de sardinha que serviam de castiçal pra duas velas sisudas que insistiam em não chorar, e um lote de cachaceiro que veloriava uma garrafa de cana na tampa do caixão que virou mesa. Na hora do enterro o cortejo de terceira parou em cinco vendas, para reabastecimento, e nos dois quilômetros descampados da Reta do Valentão no prumo do cemitério, foram socorridos pelo último pedido de Caboré: duas garrafas de cana estrategicamente colocadas dentro do caixão para uma bicada no céu. Na hora de baixar sepultura, o cachacista orador pediu a palavra. Com pernas de compasso de um lado a outro nos dois beiços da cova, devidamente espinafrado, discursou:

– Caboré, cumpade véio de guerra!… Caboré, cumpade véio de guerra!…Caboré, cumpade véio de guerra!… tomaste nu cu, cumpade véi!

PARA...HIHIHI

Trepadeira

Um homem chega desesperado ao terapeuta:

- Doutor, ja não sei mais o que faço. Não agüento mais. Minha mulher está acabando comigo. Ela quer transar toda hora, todo minuto, e na cama, e na sala, na cozinha, no banho… Ela só pensa em sexo… o que posso fazer?

- Bem, meu senhor. A única solução é o senhor estipular um preço. Depois de algumas vezes, o dinheiro dela acaba e ela vai ter que se conformar.

Chegando em casa, a esposa já o esperava só de baby doll. Ele mais que depressa foi falando:

- Mulher, de hoje em diante, só pagando. Na cama são R$1.000,00; no sofá sao R$500,00 e no tapete R$100,00.

A esposa vai até sua bolsa e retira R$1.000,00 da carteira. O marido respira fundo e diz:

- Muito bem meu amor, vamos para a cama!

Ela responde:

- Não, não. Eu quero 10 aqui no tapete!!

INFORME JB

Tentaram levar o doutor brasileiro


Jornal do Brasil - 30/03/2009
 

Um ministro próximo do presidente Lula revelou à coluna um caso preocupante, levando-se em conta a interferência internacional no assunto. Um pesquisador do Instituto Militar do Exército, físico nuclear, escreveu há poucos meses uma boa tese de doutorado e chamou a atenção de órgãos internacionais. A Agência Internacional de Energia Nuclear de Viena meteu o nariz no trabalho. Solicitou há poucos meses que o doutor brasileiro seja ouvido pelos especialistas de lá, como que num teste. E ainda tiveram a ousadia de pedir o recolhimento das cópias da tese. Não deu outra. Numa questão de soberania nacional, o Ministério das Relações Exteriores entrou em campo e contornou o assunto. Ponto para o país. Gente que entende do assunto, diz que a tese é revolucionária.

Três em um

O secretário de Educação de Americana (SP) é Milton Elias Ortolan, que deixou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) há pouco. Até aí, tudo bem. Mas testemunhas dizem que o nobre bate ponto a cada 15 dias como conselheiro da Casemg e Ceasa. Com gorda remuneração.

Meu ganha-pão

O programa habitacional que Lula apresentou tem o nome de Minha Casa, Minha Vida. Mas, segundo o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) (foto), na Câmara, os parlamentares têm dito "Minha casa, minha reeleição".

Operários

O deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ) e um diretor de Angra 3 posaram para um jornal da cidade simulando o início das obras da nova usina. No que o prefeito Tuca Jordão (PMDB), que negocia contrapartidas para o início das obras, enquadrou a Eletronuclear.

Devagar com o andor

A Eletronuclear divulgou que o começo das obras será só daqui a um mês.

Ah, Funasa

A Funasa fez evento no fim do ano para mostrar que extirpou do órgão a corrupção. Durou pouco. O TCU condenou semana passada membros da comissão de licitação da estatal no Pará a devolverem, "solidariamente", R$ 92.742,48.

Até muro

A comissão de licitação da Funasa fraudou processo na assinatura da construção de um muro. Que já estava em construção.

Na rua

A UNE e a Ubes preparam grandes marchas nas capitais na sexta-feira, em prol de melhoria na educação.

Olha eu aí

Ex-prefeito de Barra Mansa (RJ), Roosevelt Brasil comemora a liberação de R$ 16 milhões para o PAC do saneamento da cidade. É que ele continua no governo do aliado Zé Renato.

PAC-man

Quem tem acompanhado o ministro das Cidades, Marcio Fortes, nas inaugurações, não nega: o homem está cada vez menos técnico e com viés mais político nos discursos. Além de animar o povo lá de cima. E tem gente no Planalto que está gostando.

Sem crise

A Brasil Brokers, do ramo imobiliário, está otimista. Após janeiro e fevereiro fracos, março apresentou uma reação. A empresa registrou venda acelerada em empreendimentos.

Sem crise 2

Em recente lançamento em São Paulo, 50% dos imóveis residenciais de um empreendimento da Brokers foram vendidos em 10 dias.

Mostra

O escritor e ilustrador Marcelo Xavier promove até 15 de abril, em Belo Horizonte, no Museu de Artes e Ofícios, a exposição Cadernos de desenhos, que reúne 58 desenhos produzidos de 1970 ao ano 2000.

NAS ENTRELINHAS

Não façam o que eu faço


Correio Braziliense - 30/03/2009
 


Um ótimo cassino para jogar hoje em dia é o Brasil de Lula. 100% de chance de ganhar. É só pegar dólares emprestados, o que anda baratinho, trocar por reais e comprar títulos do governo brasileiro


Uma das coisas mais curiosas dos últimos dias foi o presidente da República dizer que não estabeleceu prazo para a construção do um milhão de habitações do novo, e elogiável, programa federal. Daí que, segundo Luiz Inácio Lula da Silva, o governo não deva ser questionado no futuro sobre o ritmo da execução do programa. Lula parece que descobriu a fórmula para manter o monarca sempre feliz, a salvo da cobrança dos súditos. O governo vai erradicar a tuberculose. Quando? Sei lá. O governo vai acabar com o analfabetismo. Quando? Não enche. O governo vai duplicar a rodovia do litoral. Para quando vai ser? Vê se não amola. 

O Brasil parece mesmo um país vocacionado para coisas bizarras. Investigação aponta grave suspeita de que o senador fulano de tal recebeu dinheiro de uma empreiteira. E não é que o senador recebeu mesmo? Dinheiro legal, com recibo, declarado à Justiça Eleitoral. Custava as autoridades checarem, antes de divulgar a informação? Vai ser uma pena se escorregões assim acabarem atrapalhando o importante trabalho das instituições na luta contra os malfeitos. 

E as prévias do PSDB? A Justiça Eleitoral decidiu que elas podem sim acontecer, desde que na clandestinidade. Os “pré-candidatos” tucanos não podem fazer propaganda nos meios de comunicação. Nem mesmo montar um modesto web site para explicar por que desejam sentar naquela cadeira do Palácio do Planalto. Ah, sim, podem mandar e-mails, mas só para filiados ao partido. E se um filiado qualquer pega o e-mail e manda a um não filiado, estará cometendo crime eleitoral? E se o sujeito imprimir o e-mail e mostrar para um amigo, pode ser multado? 

Em Viña del Mar (Chile), no encontro de presidentes progressistas, Lula empostou a voz para dizer que “o mundo está pagando o preço do fracasso de uma aventura irresponsável daqueles que transformaram a economia mundial em um gigantesco cassino”. É verdade, Lula tem razão. Há porém um problema. Um dos melhores cassinos para jogar hoje em dia é o Brasil governado por Lula. O apostador joga com 100% de chance de ganhar. Basta tomar emprestados dólares, ou euros, ou ienes (tudo muito baratinho hoje em dia), trocar por reais e comprar títulos do governo brasileiro. É filé sem osso. O único cassino em que o dono (o contribuinte brasileiro) sempre perde.

Lula disse também que é hora de fortalecer o Estado. Possivelmente para que não aconteça como no Brasil, onde o governo federal terceirizou para uma instituição controlada pelo setor privado (o Banco Central) a execução da política monetária, dando no que deu. Isso foi mais uma piada minha. Mas só até certo ponto. Lula deveria ser mais cuidadoso em situações como a do Chile. Normalmente, reuniões de chefes de Estado são convescotes bem-educados. Mas vai que alguém cobra do nosso presidente por que ele não dá um jeito no spread bancário nacional. Pior ainda se Lula acabar sendo chamado às falas por um colega loiro de olhos azuis. 

País bizarro, mundo bizarro. Nos próximos dias, vamos ter a reunião do G-20 para discutir o andamento da crise mundial. Vai ser um desfile de governantes pregando contra o protecionismo, enquanto cada um deles dá tratos à bola sobre a melhor maneira de proteger o seu próprio mercado da concorrência estrangeira. Lula também está nessa. Quando a Embraer pôs na rua mais de 4 mil funcionários, Lula questionou por que as empresas aéreas nacionais compram aviões lá fora, em vez de encomendar à nossa Embraer. É lógico. Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço. 

No seu furor antiprotecionista, Lula deveria dar o exemplo. Baixar a zero, por exemplo, as altíssimas tarifas de importação para produtos de informática. Seria um passo e tanto no rumo da inclusão de milhões na era digital. Mas Lula parece andar ocupado demais para se preocupar com coisas assim, banais. Outro dia, ele afirmou peremptoriamente que não é hora de os sindicatos pedirem aumento de salário. Ora, deve haver setores em que isso é verdade. Em outros, talvez não. Não seria melhor deixar esse assunto para os sindicatos? O que é que o presidente da República tem a ver com isso? 
Bizarro.

RICARDO NOBLAT

O preço de um senador


O Globo - 30/03/2009
 
Cadê os quase R$ 7 milhões pagos de horas extras a 3.800 funcionários que não trabalharam em janeiro durante o recesso do Senado? O gato comeu. Dos 81 senadores, dez mandaram que seus funcionários reembolsassem o Senado. E nem todos o fizeram. É sempre assim: o escândalo mais recente desidrata o anterior, que desidrata o anterior, que...

Difícil é mudar a cabeça das pessoas para sair de uma cultura de ilegalidade” – José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal

Por mais constrangedor que seja, ponha-se no lugar do presidente do Senado. O que seria pior? Se todos os funcionários devolvessem o que receberam, estaria confirmada a denúncia original de que o Senado pagou por algo que não foi feito. Desperdiçou dinheiro público. Se a maioria não devolve, como provar que recebeu sem trabalhar — embora tenha sido isso o que aconteceu?

Heráclito Fortes (DEM-PI), 1º secretário do Senado, observou outro dia que o mais certo a fazer quando o mundo desmorona é proteger a cabeça e pedir a Deus para que tudo passe logo. Cauteloso, ele aconselhou a colega Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo do Congresso, a ter cuidado com os jornalistas que possam ter aprendido a decifrar linguagem labial.

Luciana Cardoso, filha do ex-presidente Fernando Henrique, é funcionária do gabinete de Heráclito. Mal põe os pés por lá. Trabalha em casa “porque o Senado é uma bagunça”. Heráclito negou-se a comentar o que ela disse. Uma funcionária do gabinete de José Sarney (PMDB-AP) admitiu que trabalhou na última campanha dele sem se licenciar do Senado. O que comentou Sarney? “Perguntem a ela”. Ora, já perguntaram.

O gato também comeu as 181 diretorias que existiam no Senado. Sarney prometera reduzi-las à metade. Extinguiu 50. Na véspera de extinguir mais 50, concluiu que as 181 não passavam de 38. As outras 143 eram diretorias fantasmas. Diretorias de um homem só beneficiado com salário e vantagens reservados a quem dirige. Gato gordo e esperto, esse que corre solto no Senado.

Quase tudo ali é legal porque se ampara em leis e decretos aprovados pelos próprios senadores. Mas grande parte do quase tudo é moralmente indefensável. Há 10 mil funcionários para servir a 81 senhores. Dos 10 mil, 3.500 foram aprovados em concursos. Há 3 mil terceirizados por meio de 29 empresas e 3.500 nomeados para cargos em comissão. Um senador pode dispor de até 53 funcionários.

Por lei, o maior salário da República é o de ministro do Supremo Tribunal Federal: R$ 24.500. Cerca de 700 funcionários do Senado ganham mais que isso. Entre 1995 e o ano passado, os gastos com pessoal cresceram 378%, contra uma inflação de 186% no período. A folha de pessoal da Câmara foi de R$ 2,6 bilhões em 2008. São 15 mil funcionários para 513 deputados. A folha do Senado foi de R$ 2,3 bilhões.

Senador tem direito a 15 salários por ano — os dois últimos a pretexto de financiar o retorno ao seu Estado para as férias de janeiro e o retorno a Brasília em fevereiro. Os funcionários recebem uma “ajuda de custo” paga em dezembro e em fevereiro, mas que não aparece no contracheque. Desta vez foram R$ 83,4 milhões. Acrescente os R$ 7 milhões pelas horas extras de janeiro... É uma festa!

Em 2007, o Senado pagou R$ 481 mil em diárias a senadores e funcionários que viajaram ao exterior. No ano passado foram R$ 700 mil — 45% a mais. Senador tem direito a passagens aéreas para seus Estados. Se quiser — e muitos querem —, pode até doar as passagens a amigos e parentes. Só com passagens, foram gastos R$ 40 milhões nos últimos dois anos.

Tem senador que recebe ajuda de moradia, embora tenha casa em Brasília. E tem senador que mora de aluguel pago pelo Senado porque cedeu o apartamento funcional a familiares. Tem funcionário que mora em apartamento de senador. Mas isso não é nada se comparado ao número de funcionários que moram em Brasília, mas não trabalham. Ou que moram nos Estados e também não trabalham.

Um senador custa por ano o que custam cinco deputados — R$ 33,8 milhões. Vale?

PAINEL

Por dentro


Folha de S. Paulo - 30/03/2009
 

Com o noticiário sobre as doações de campanha da Camargo Corrêa a sete partidos de peso prestes a completar uma semana, até agora ninguém, no governo ou na oposição, pronunciou a palavra CPI. As sessões do Congresso têm sido dedicadas a reações indignadas de políticos de todas as siglas, em defesa de quem teve o nome citado na Operação Castelo de Areia da Polícia Federal por suspeita de caixa dois.
Na atual configuração do Congresso, 55% dos parlamentares receberam alguma quantia -declarada- de empresas do ramo. São 285 deputados e 40 senadores. Oficialmente, as construtoras injetaram ao menos R$ 27 milhões só em campanhas vitoriosas.


Álibi
Suspeito de repassar a verba indenizatória para empresas de segurança da família, Edmar Moreira (MG) vai convocar colegas de Câmara dispostos a depor em seu favor no Conselho de Ética. Para defender que andava, sim, rodeado de guarda-costas, o dono do castelo citará uma missão parlamentar à China, na qual foi recepcionado por seguranças no aeroporto. 

Premonitório
No final do ano, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) distribuiu um calendário de "Boas Festas" com uma imensa charge sua caracterizado de bombeiro em meio a um incêndio. Agora instalado na primeira-secretaria da Casa, onde deságua a crise do Senado, o "demo" anda cercado de labaredas. 

Campo minado
A recém-criada comissão de mediação de conflitos agrários da Câmara, dominada por ruralistas, discutia na última semana o envio de uma diligência ao Pará para avaliar as invasões do MST. Quando se falou em pedir proteção da Polícia Federal, Abelardo Lupion (DEM-PR) disparou: "Essa comissão não é para frouxos!" 

Palanque
Quase um mês depois de dividirem a mesa em evento sobre a crise econômica para sindicalistas no ABC, Dilma Rousseff (Casa Civil) e o governador José Serra estarão juntos em encontro similar, mas direcionado aos prefeitos paulistas, na terça. O tema é "Crise financeira, reflexos e oportunidades para os municípios".

Fumódromo 1
A partir desta semana, o governo Serra tentará aprovar um de seus projetos com alto teor de visibilidade, a Lei Antifumo. Há intensa pressão contrária, com origem na rede hoteleira, bares e restaurantes. Reservadamente, até deputados da base aliada reclamam, seja porque temem perder votos nesses segmentos, seja porque a indústria do fumo é doadora de campanhas. 

Fumódromo 2
O PT, que dá como certa a aprovação, tenta emplacar emendas para atenuar os seguintes pontos: 1) criar área e/ou horários para fumantes em hotéis, bares e restaurantes; 2) criar área dentro dos condomínios; 3) retirar o parágrafo que prevê acionar a polícia em caso de flagrante; e 4) permitir o fumo em cultos religiosos. 

2º round
O Sindicato dos Metalúrgicos e a Conlutas vão à Justiça contra a Embraer, que demitiu 4.200 no começo do ano, com o argumento de que 70% do capital votante da empresa está nas mãos de fundos de investimentos e bancos estrangeiros -acima dos 40% permitidos por lei. A tese é que a empresa perdeu dinheiro em aplicações e não em vendas de aviões. 

Acelerador
Relator do inquérito do mensalão no Supremo, o ministro Joaquim Barbosa triplicou o número de juízes designados para colher depoimentos de testemunhas de defesa arroladas, a nova fase do processo. 

Acervo
Barbosa recebe todas as audiências do caso digitalizadas. O ministro tem dito que precisará de um ano para escrever seu voto, o que elevou para 2011 a estimativa de conclusão do processo.

Tiroteio

"Enquanto o Fernando Henrique defende a descriminalização da maconha, Serra quer emplacar uma lei medieval que proíbe cigarro até na calçada."

 

 

Do deputado estadual petista ADRIANO DIOGO, sobre o projeto antifumo do governo paulista, que prevê multas pesadas e cassações de alvarás para quem permitir o cigarro em lugares públicos. 

Contraponto

Nas alturas

 
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara discutia na semana passada a chamada PEC dos Vereadores, que aumenta o número de vagas nos Legislativos municipais. José Carlos Aleluia (DEM-BA) defendia que ela só poderia ser aprovada junto com medida que barrasse a criação de despesas adicionais. Flávio Dino (PC do B-MA) sustentava que não havia relação entre as duas coisas.
-Não há conexão real, só espiritual- argumentou Dino.

-Não posso debater conexão espiritual, porque disso eu não entendo- respondeu Aleluia.
-Se você, que se chama Aleluia, não entende de assuntos espirituais, quem entenderá?- replicou o ex-juiz.

ANCELMO GOIS

Turma de Chávez

O Globo - 30/03/2009
 

 Evo Morales proibiu o pagamento das contribuições à Ordem dos Advogados da Bolívia.

Líderes da classe na América do Sul (da nossa OAB, inclusive) decidiram realizar em La Paz, nos próximos dias, um “repúdio contra o ato de força para calar a advocacia”.

No mais

A Camargo Corrêa tem advogados (como o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos) para provar que seis não é meia dúzia.

Mas até um idiota sabe do que se trata a conversa gravada de diretores da empreiteira, sobre doações a políticos “por dentro” (legais) e “por fora” (caixa 2).

Cine Coutinho

Em que pese a crise, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, resolveu aumentar a verba destinada a apoiar o cinema brasileiro, inclusive documentários.

Vai pular de R$ 12 milhões (montante de 2008) para R$ 14 milhões.

As superpoderosas
 
O mundo vive o período da História com mais mulheres no poder. Elas são 18,4% dos parlamentares de todos os países, num crescimento de 8% na última década. O Brasil (vexame!) está abaixo da média: 9% na Câmara e 12,3% no Senado.

A conclusão está no relatório bianual da Unifem, o órgão da ONU para as mulheres, que será lançado hoje.

Protógenes 2010

Protógenes Queiroz, que prendeu Daniel Dantas, é policial político ou político policial? De novo, será estrela, ao lado de Heloísa Helena, de um ato do PSOL. Dia 2, vai a um protesto “contra o desemprego e a corrupção”, na Cinelândia, no Rio.

MARCO ANTONIO ROCHA

Uma interpretação racista da crise


O Estado de S. Paulo - 30/03/2009
 

De modo que, agora, já se sabe. Essa crise que prejudica tanta gente no mundo inteiro foi provocada por banqueiros brancos de olhos azuis. Então, a solução parece simples: basta prendê-los todos e a crise estará debelada.


Mas, peraí... segundo a revista Time, entre os 25 banqueiros, dirigentes das instituições que maior responsabilidade tiveram pela crise, havia dois negros: o ex-presidente da Merrill Lynch Stan O?Neal e o ex-presidente Frank Raines, da Fannie Mae. Esta, a maior carregadora de créditos podres que o governo americano tem de resgatar. 

Então, é preciso prender alguns banqueiros negros.

Mas nosso presidente foi além, diante de um perplexo Gordon Brown, primeiro-ministro da Inglaterra, e, respondendo à pergunta de um jornalista sobre se sua declaração não tinha "um viés ideológico", saiu-se com essa estrambótica justificativa: "Como não conheço nenhum banqueiro negro..."

Isso, realmente, é de pasmar. Lula foi mais de uma vez à África, e eu sei, por ter visto nas várias assembleias gerais do Fundo Monetário Internacional (FMI) que cobri para este jornal, que as delegações africanas são integradas, muitas delas quase que totalmente, por banqueiros negros - cobertos, aliás, por aqueles elegantíssimos e belíssimos trajes de seus países. Então, ou Lula é muito distraído, ou nunca conheceu, de fato, nenhum banqueiro africano na África, ou os banqueiros africanos nunca deram bola para suas visitas, não compareceram às cerimônias nem foram apresentados ao visitante.

Mas, o pior, nesse surto de disparates, num homem que projetou uma imagem internacional de grande sensatez, não só pela forma com que conduziu a economia brasileira no seu governo, como pela oratória que usa nos palcos internacionais ao apresentar propostas que, embora de difícil realização, ninguém pode deixar de ouvir com seriedade, é justamente o efeito sobre a boa imagem de Lula como dirigente sério. 

Na próxima quinta-feira reúne-se em Londres o G-20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, do qual o Brasil faz parte. A reunião é para tentar encontrar alguma fórmula viável de exorcizar a assombração financeira que tomou conta do planeta, que deixa os banqueiros brancos ou negros de cabelo em pé, as empresas sem crédito, os governos sem liquidez (alguns, do Leste Europeu, como a Rumânia, já estão morrendo de sede e já tiveram que recorrer ao FMI) e os governantes feito baratas tontas. Lula estará lá. É até um convidado especial. Recebeu carta do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e de Gordon Brown, exortando-o a comparecer e apresentar propostas. Por quê? Porque é importante ouvir um dirigente que tirou seu país das armadilhas da dívida externa sem comprometer o seu crescimento econômico. 

O mundo rico está interessado em ouvir Lula. Não mais por causa da sua história pessoal de menino pobre que chegou à Presidência da República. Mas por causa da aura de bom senso que conquistou, de afabilidade, de bom articulador político, de jeitoso no encaminhamento de coisas sérias e difíceis. No entanto, depois dessa patacoada em Brasília, à qual a imprensa internacional deu grande destaque, com que espírito será recepcionado? Mas, então, pensarão alguns, esse homem de quem esperamos boas sugestões acha mesmo que a culpa da crise é de "banqueiros brancos de olhos azuis"? Simples assim? 

Instado a comentar o que Lula declarara, Gordon Brown disse que "não culparia indivíduos, particularmente". E nada mais acrescentou.

Desajeitadamente, o presidente Lula pode ter prejudicado sua credibilidade e desmontado o palanque internacional que a reunião do G-20 lhe propicia - ele que parece querer postular a liderança da Internacional Socialista depois de entregar o governo. Sem falar que poderia ter ocorrido algo horrível. Ainda bem que o local era uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, onde os jornalistas costumam ser polidos. Fosse em outro país, onde jornalistas até atiram sapatos em presidentes quando não gostam do que ouvem, Lula poderia ser constrangido por perguntas muito mais desafiadoras e desagradáveis do que "o senhor não acha que sua declaração tem um preconceito ideológico?" E até por algum repórter malcriado saindo da sala aos gritos de que não tinha tempo para ouvir bobagens.Uma cena destas, nas TVs, derruba a imagem de qualquer dignatário.

O problema maior é que Lula, obcecado em promover a ministra Dilma, parece se descuidar. Deixa de atender à sua proverbial sensatez e atende ao alvitre de quem não tem nem um átimo do seu tirocínio - um ministro da Fazenda que diariamente enche os jornais com declarações que viram tema de piadas no cafezinho das entidades de classe e nos meios financeiros; um ministro da Justiça que diariamente nos brinda com conceitos jurisprudenciais ofensivos à inteligência até dos rábulas do passado, quanto mais dos melhores juristas do presente; procuradores, promotores, delegados e juízes que se empenham mais em tentar purificar o capitalismo do que em prender e condenar assaltantes e assassinos de fato, e cuja inépcia processualística acaba por fazer dos presumíveis bandidos de colarinho branco - inocentados nos tribunais superiores - apenas vítimas de perseguição política.

Nesse processo de insidiosa infiltração da desgovernança num governo prestigioso, pode estar sendo irremediavelmente minada a possibilidade de Lula firmar-se como estadista no plano internacional e de assim colocar o Brasil numa posição realmente condizente com sua estatura econômica e social. Mas, se ele próprio se entrega a uma oratória meramente chistosa, boa para arengar as massas, mas inútil para impressionar dignatários, acabará confirmando o que seus muitos adversários acham: que está apenas deslumbrado consigo mesmo.

FERNANDO RODRIGUES

Um Estado forte

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/09

BRASÍLIA - Sai nos próximos dias o valor torrado pelo governo Lula em publicidade em 2008. A cifra ficará perto de R$ 1 bilhão. Os gastos em patrocínio federal no ano passado já foram divulgados: bateram em R$ 918 milhões.
Dois buracos negros ainda persistem nessa área. Não se sabe o volume aplicado em publicidade legal (publicação de balanços) nem o custo de produção das peças publicitárias. Esse último é um segredo nunca revelado pelo governo nem pelas agências acostumadas a mamar nas tetas generosas de Brasília.
A estimativa para as despesas com publicidade não conhecidas gira em torno de R$ 250 milhões a R$ 350 milhões por ano.
Tudo considerado, a administração federal consome anualmente, por baixo, R$ 2,2 bilhões com ações de propaganda e marketing. É dinheiro em qualquer lugar do mundo. A Unilever (dona de marcas como Kibon, Omo e Dove) gastou R$ 1,75 bilhão com propaganda no ano passado no Brasil.
É positivo o governo Lula divulgar, mesmo parcialmente, seus gastos publicitários. Permite aos brasileiros se indagarem se o país melhora, torna-se mais desenvolvido, quando a Petrobras patrocina as camisas de futebol do Flamengo ou bancos estatais financiam corridas de rua. Ou se há ganho social quando o Planalto faz campanha na TV para estimular o consumo durante a atual crise econômica.
Lula esteve no Chile no fim de semana. Defendeu, mais uma vez, "um Estado forte". O cerca de R$ 1 bilhão de patrocínio estatal para cultura, esportes e outras áreas se insere nessa ideologia lulista.
Pode-se argumentar que, em muitos países industrializados, sobretudo europeus, o Estado financia a cultura. É verdade, mas em geral é dinheiro direto. Aqui, há a intermediação das estatais. Uma caixa preta da qual só conhecemos os valores totais, nunca os detalhes.

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Renda no Brasil tem o menor crescimento

 

Folha: Congressista tem direito a até um bilhete aéreo por dia

 

Estadão: Pressão derruba presidente da GM

 

Correio: Estudo desmente inchaço na máquina pública

 

Valor: Investimento externo busca o consumo doméstico

 

Gazeta Mercantil: Empresas reforçam o caixa retendo lucros

 

Jornal do Commercio: Agredida por ladrões, grávida perde o bebê