domingo, fevereiro 15, 2009

ÉLIO GASPARI

Sem samba-enredo, Lula é um perigo
O Estado de São Paulo-15/02/09


Nosso Guia não se achou na crise, mas pensa que pode dizer o que quiser, pois bobos são os outros

O PROCESSADOR de Lula está sobrecarregado. Têm sido frequentes os seus momentos de impaciência e mau humor na rotina do palácio. Obrigado a trocar o triunfalismo do pré-sal e da "marolinha" pelas dificuldades da crise econômica, Nosso Guia está sem agenda.
Há um indicador seguro para medir o aquecimento da placa de Lula. Sem assunto, ele retoma o discurso do nós-contra-eles e vai-se embora pra Pasárgada, onde "a existência é uma aventura".
Durante seu discurso para cerca de 4.000 prefeitos reunidos em Brasília, Nosso Guia ofendeu a inteligência alheia duas vezes. Na primeira fez uma piada à la Maria Antonieta: "Nós cortaremos o batom da dona Dilma, o meu corte de unhas, mas não cortaremos nenhuma obra do PAC". Lula estava num evento onde estima-se que o governo gastou R$ 240 mil.
Uma manicure de Lula contou que cortava suas unhas duas vezes por mês. Estimando-se que deixe boas gorjetas, Nosso Guia queima R$ 1.000 anuais nesse conforto. Se dona Dilma usar um batom caro (Sisley), gastará, no exagero, outros R$ 1.000. Portanto, só para custear o convescote dos prefeitos, Lula e Dilma precisariam cortar 120 anos de bem-estar.
A vinheta foi apenas uma tirada boba, mas o segundo atentado foi malévolo e enfático. Dirigindo-se ao prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, disse o seguinte: "Você vai cair da cadeira. Você não sabe e eu não sabia, mas no Estado de São Paulo nós ainda temos 10% de analfabetos no Brasil".
A taxa de analfabetismo em São Paulo está em 4,6%, metade do índice nacional. Lula viajou na planilha. São Paulo abriga 10% dos analfabetos do país, o que, pelo tamanho do Estado, não chega a ser motivo para cair da cadeira. (São Paulo tem 36% da frota nacional de veículos.)
Essa foi a quarta vez que o governo de Lula atropelou a boa norma para criticar a rede de ensino paulista. Ela não é uma esquadra inglesa, mas o governo insiste nos golpes baixos. Já divulgou indicadores misturando metodologias, embaralhou notas da Prova Brasil e apresentou listas de desempenho contaminadas por dados errados. Em duas ocasiões as lorotas coincidiram com as campanhas eleitorais.
Um companheiro dizendo tolices não é um grande problema. Um presidente capaz de fazer campanha dizendo não importa o quê, indica que 2010 será um ano feroz.

O INGLÊS VÊ A "FAVELA" DE UM JEITO NOVO

A revista "The Economist" insiste: surgiu no mundo uma nova classe e o Brasil é um desses países onde esse fenômeno tornou-se mais visível. Falando de Pindorama, menciona com gosto a inauguração de uma filial das Casas Bahia no bairro paulistano de Paraisópolis.
Há duas semanas, Paraisópolis estava nos jornais tratado como se fosse uma perigosa favela, antro de traficantes, justamente ocupada por uma polícia que obrigava moradores a se identificar. O que é Paraisópolis, um bairro habitado pela classe média emergente da "Economist", ou uma "fábrica de produzir marginal", como o governador Sérgio Cabral já chamou a Rocinha?
Programas de regularização fundiária criaram um mercado de imóveis no local e já ocorreram transações com valores superiores a R$ 100 mil. Oito escolas juntam 6.000 jovens. Números semelhantes podem ser achados em quase todos os bairros da periferia da sociedade brasileira. São fábricas de classe média.
Um barão brasileiro que visitasse os subúrbios de Londres na metade do século 19 veria um favelão. Era a desordem social e urbana da revolução industrial. Felizmente, a cidade teve um escritor como Charles Dickens para mostrar que ali vivia o pedaço de baixo da sociedade inglesa, lembrando ao pedaço de cima que os dois formavam um só povo.

COBRA
De uma serpente, ao ver Nosso Guia na televisão falando do batom de dona Dilma e da sua manicure: "Tem certeza de que não é o Bussunda?"

FAUNA ARCAICA
O PSDB é capaz de tudo. Tem dois candidatos a presidente (José Serra e Aécio Neves) que fazem qualquer coisa para chegar ao Planalto, menos oposição.
Na hora de discutir o comportamento do governo, quem vai para o microfone é Fernando Henrique Cardoso. É como se os republicanos pedissem a George H. W. Bush (o pai) para responder ao pacote de Barack Obama.
Pior: depois de ouvir Nosso Guia dizer que São Paulo tem 10% de analfabetos (uma obra dos 14 anos de governo tucano), Serra teve uma reação inspirada pela bonomia do papa João 23: "Foi uma menção a um número. Só que o número está errado".

RISCO ZERO
Michel Temer assumiu a presidência da Câmara dos Deputados a reboque do castelo de Edmar Moreira e perdeu a chance de liderar a iniciativa pela abertura de todas as pastas com as notas fiscais dos reembolsos cobrados à Viúva por seus colegas.
Como dizia o deputado Luís Eduardo Magalhães: "Não há o menor perigo de dar certo".

POTE DE MÁGOA
Paulo Lacerda, o ex-diretor da Polícia Federal defenestrado para um exílio dourado em Lisboa, acha que Lula jogou-o no mar, sabendo que nunca mandara grampear os outros. A tristeza de Lacerda é grande, mas ainda insuficiente para torná-lo loquaz.

JACK GENRO
Quando o governo não sabe o que fazer, tira da gaveta um projeto de reforma tributária ou de reforma política.
No ano passado veio a empulhação tributária. Foi ao arquivo. Agora apareceu o comissário Tarso Genro com um projeto de reforma política, "fatiada", para ser votada em partes. Pode-se chamá-la de "Reforma do Jack". O "Estripador" é o patrono da arte de fatiar.

FESTA EM NY
Depois de ter canalizado algumas centenas de milhares de dólares num encarte da revista "Foreign Affairs", enfeitando-o com publicidade da Petrobras, do BNDES e da Embratur, o comissariado de informações do governo prepara um novo incentivo ao mercado editorial americano. Planeja-se um festim bananeiro para acompanhar a visita de Nosso Guia a Nova York, em março.
Gastar dinheiro com publicidade em veículos sérios na busca de simpatia é uma variante do costume de jogá-lo pela janela.
O Planalto dispõe de R$ 150 milhões para promover a imagem do governo no exterior. Os arquivos do palácio informam: todas as iniciativas anteriores serviram para fazer a alegria de alguns bem-aventurados, e mais nada.
Um governo que tentou expulsar do país o correspondente do "New York Times" mostra que trocou a linha das bravatas gratuitas pela das besteiras remuneradas.

POUSO FORÇADO
Em janeiro, quando assumiu a presidência da Infraero, o brigadeiro Cleonilson Nicácio Silva trabalhava com a ideia de dispensar 395 funcionários-jabutis (alguém os pôs lá). A lista encolheu para 216. Teme-se que agora esteja em 30.

ENTREVISTA COM JARBAS VASCONCELOS

REVISTA VEJA

Entrevista: Jarbas Vasconcelos
O PMDB é corrupto

Senador peemedebista diz que a maioria dos integrantes 
do seu partido só pensa em corrupção e que a eleição de 
José Sarney à presidência do Congresso é um retrocesso


Otávio Cabral

Cristiano Mariz

"A maioria se incorpora a essas coisas pelas quais os governos vêm sendo denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral"

A ideia de que parlamentares usem seu mandato preferencialmente para obter vantagens pessoais já causou mais revolta. Nos dias que correm, essa noção parece ter sido de tal forma diluída em escândalos a ponto de não mais tocar a corda da indignação. Mesmo em um ambiente político assim anestesiado, as afirmações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos, de 66 anos, 43 dos quais dedicados à política e ao PMDB, nesta entrevista a VEJA soam como um libelo de alta octanagem. Jarbas se revela decepcionado com a política e, principalmente, com os políticos. Ele diz que o Senado virou um teatro de mediocridades e que seus colegas de partido, com raríssimas exceções, só pensam em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. Acusa o ex-governador de Pernambuco: "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".

O que representa para a política brasileira a eleição de José Sarney para a presidência do Senado? É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Havia um candidato, Tião Viana, que, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado. De repente, Sarney apareceu como candidato, sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma preocupação com o Senado, e se elegeu. A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador.

Mas ele foi eleito pela maioria dos senadores. Claro, e isso reflete o que pensa a maioria dos colegas de Parlamento. Para mim, não tem nenhum valor se Sarney vai melhorar a gráfica, se vai melhorar os gabinetes, se vai dar aumento aos funcionários. O que importa é que ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão.

Como o senhor avalia sua atuação no Senado? Às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui. Cheguei em 2007 pensando em dar uma contribuição modesta, mas positiva – e imediatamente me frustrei. Logo no início do mandato, já estourou o escândalo do Renan (Calheiros, ex-presidente do Congresso que usou um lobista para pagar pensão a uma filha). Eu me coloquei na linha de frente pelo seu afastamento porque não concordava com a maneira como ele utilizava o cargo de presidente para se defender das acusações. Desde então, não posso fazer nada, porque sou um dissidente no meu partido. O nível dos debates aqui é inversamente proporcional à preocupação com benesses. É frustrante.

O senador Renan Calheiros acaba de assumir a liderança do PMDB... Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.

O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar? Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

Para que o PMDB quer cargos? Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista? De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado.

Por que o senhor continua no PMDB? Se eu sair daqui irei para onde? É melhor ficar como dissidente, lutando por uma reforma política para fazer um partido novo, ao lado das poucas pessoas sérias que ainda existem hoje na política.

Lula ajudou a fortalecer o PMDB. É de esperar uma retribuição do partido, apoiando a candidatura de Dilma? Não há condições para isso. O PMDB vai se dividir. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não é possível agora uma traição total. E uma parte minoritária, mas significativa, irá para a candidatura de Serra. O partido se tornará livre para ser governo ao lado do candidato vencedor.

O senhor sempre foi elogiado por Lula. Foi o primeiro político a visitá-lo quando deixou a prisão, chegou a ser cotado para vice em sua chapa. O que o levou a se tornar um dos maiores opositores a seu governo no Congresso? Quando Lula foi eleito em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o governo, mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.

A favor do governo Lula há o fato de o país ter voltado a crescer e os indicadores sociais terem melhorado. O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso.

"O marketing de Lula mexe 
com o país. Ele optou 
pelo assistencialismo, 
o que é uma chave para
a popularidade em 
um país pobre. 
O Bolsa Família é 
o maior programa
oficial de compra 
de votos do mundo"

Mas esse presidente que o senhor aponta como medíocre é recordista de popularidade. Em seu estado, Pernambuco, o presidente beira os 100% de aprovação. O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro. Imagine isso no Nordeste, que é a região mais pobre. Imagine em Pernambuco, que é a terra dele. Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.

O senhor não acha que o Bolsa Família tem virtudes? Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social permanece.

A oposição está acuada pela popularidade de Lula? Eu fui oposição ao governo militar como deputado e me lembro de que o general Médici também era endeusado no Nordeste. Se Lula criou o Bolsa Família, naquela época havia o Funrural, que tinha o mesmo efeito. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura por isso. A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição. Temos aqui trinta senadores contrários ao governo. Sempre defendi que cada um de nós fiscalizasse um setor importante do governo. Olhasse com lupa o Banco do Brasil, o PAC, a Petrobras, as licitações, o Bolsa Família, as pajelanças e bondades do governo. Mas ninguém faz nada. Na única vez em que nos organizamos, derrotamos a CPMF. Não é uma batalha perdida, mas a oposição precisa ser mais efetiva. Há um diagnóstico claro de que o governo é medíocre e está comprometendo nosso futuro. A oposição tem de mostrar isso à população.

"Eu fui oposição ao governo militar e me lembro de que Médici era endeusado no Nordeste. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura. 
A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição"

Para o senhor, o governo é medíocre e a oposição é medíocre. Então há uma mediocrização geral de toda a classe política? Isso mesmo. A classe política hoje é totalmente medíocre. E não é só em Brasília. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais também fazem o mais fácil, apelam para o clientelismo. Na política brasileira de hoje, em vez de se construir uma estrada, apela-se para o atalho. É mais fácil.

Por que há essa banalização dos escândalos? O escândalo chocava até cinco ou seis anos atrás. A corrupção sempre existiu, ninguém pode dizer que foi inventada por Lula ou pelo PT. Mas é fato que o comportamento do governo Lula contribui para essa banalização. Ele só afasta as pessoas depois de condenadas, todo mundo é inocente até prova em contrário. Está aí o Obama dando o exemplo do que deve ser feito. Aqui, esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção. O pensamento típico do servidor desonesto é: "Se o PT, que é o PT, mete a mão, por que eu não vou roubar?". Sofri isso na pele quando governava Pernambuco.

É possível mudar essa situação? É possível, mas será um processo longo, não é para esta geração. Não é só mudar nomes, é mudar práticas. A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema.

Como o senhor avalia a candidatura da ministra Dilma Rousseff? A eleição municipal mostrou que a transferência de votos não é automática. Mesmo assim, é um erro a oposição subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata. Ela é prepotente e autoritária, mas está se moldando. Eu não subestimo o poder de um marqueteiro, da máquina do governo, da política assistencialista, da linguagem de palanque. Tudo isso estará a favor de Dilma.

O senhor parece estar completamente desiludido com a política.Não tenho mais nenhuma vontade de disputar cargos. Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência. Se ele ganhar, vou me dedicar a reformas essenciais, principalmente a política, que é a mãe de todas as reformas. Mas não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes, não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao governo e me submeter a tudo isso que critico.

GOSTOSA


ESSA É FOGO!

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PARA...HIHIHIHI

BINGO


O casal era feliz e vivia tranquilo, até o dia em que a esposa começou a chegar tarde da noite em casa. Desconfiado, o marido foi mexer nas coisas da mulher e encontrou um colar de diamantes. Foi, então, conversar com ela:

- Você pode me dizer o que significa isso?

- Amor, esse colar eu ganhei no bingo!

Ele não se convenceu, mas, como não queria encrenca, resolveu engolir a desculpa. Como a esposa continuava chegando tarde em casa, o homem voltou a revistar suas coisas. E encontrou um anel caríssimo de esmeraldas. Foi, novamente, questionar a mulher, que respondeu:

- Mais um prêmio do bingo, querido! Acho que estou numa maré de sorte!

O marido ficou indignado, mas não discutiu com a mulher. Cada dia ela chegava mais e mais tarde e com jóias mais e mais caras. A desculpa era sempre a mesma: o tal bingo.

Um dia, justamente na hora em que a esposa estava tomando banho para ir ao bingo, acabou a água. Ainda no chuveiro, ela gritou:

- Meu bem, traz água para eu acabar o meu banho!

Sem demora, o marido entrou no banheiro com um copo de água e entregou para ela.

- Mas como eu vou tomar banho só com um copinho de água?

E ele respondeu:

- Simples, querida, lava só a cartela!

MÂE DE CANTORA TREPA COM O GENRO

Marido de Mara Maravilha come a mãe dela


Há alguns dias circula na internet o boato de que a mãe de Mara Maravilha invadiu a gravação de um DVD da cantora, aos berros, insultando a filha e o marido dela. A empresária Marileide Félix teria interrompido o show exigindo que o companheiro de Mara, o dentista Alessander Vigna, se retirasse do local.

 

Rumores apontam ainda que dona Marileide teve um envolvimento amoroso com o atual genro. 

Para esclarecer esta história, Mara foi procurada pelo EGO e explicou que a mãe, muito doente, de fato a insultou no show, mas negou que Marileide tenha tido um caso com seu marido. "Minha mãe teve um AVC há três anos, desde então ela está com diversos problemas e agride todos da família. Ela realmente falou umas coisas no dia do show, mas depois a gravação rolou normalmente", conta. 

"Por causa do AVC, o lado esquerdo está todo comprometido. Ela está na cadeira de rodas, quebrou o fêmur, operou o coração", explica Mara. "Ela já esteve pior, está fazendo tratamento. Antes ela nem falava, ficava inerte. Está dando trabalho, mas é melhor assim, né? Mãe é mãe, ela deu a vida dela por mim." 

Indagada se sua mãe já tinha se envolvido amorosamente com seu atual marido, Mara negou. "Eles são amigos". Contudo, não quis esclarecer a quanto tempo está com Alessander Vigna. "Há muito tempo", disse, econômica.


Essa notícia é muito importante

TÔ FUDIDO

Estudo liga uso de maconha a câncer de testículo

Pesquisa mostra que uso frequente de maconha dobra o risco de desenvolvimento da doença.

O uso frequente ou em longo prazo de maconha pode dobrar os riscos de um usuário desenvolver câncer de testículo, segundo um estudo do Fred Hutchinson Cancer Research Center, nos Estados Unidos.

O estudo, publicado na revista especializada Cancer

, entrevistou 369 pacientes de câncer de testículo e concluiu que o uso frequente da droga dobrava o risco de desenvolver a doença em comparação com os homens que nunca fumaram maconha.

Os resultados sugerem ainda que a maconha pode estar associada à forma mais agressiva deste câncer.LEIA MAIS

FERREIRA GULLAR

Por qué no te callas?

FOLHA DE S. PAULO - 15/02/09


Lula fala, fala, fala, viaja, viaja, viaja; o resto do tempo faz política

MINHA GENTE , estou a cada dia mais perplexo com a performance do nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não que ele tenha mudado essencialmente; nada disso, ele se comporta assim desde o primeiro dia de governo: não desce do palanque.

Às vezes me pergunto se minha crescente perplexidade decorre dessa sua insistência que já dura sete anos ou de alguma outra coisa. Acho que são as duas: por um lado, já não aguento ouvi-lo falar pelos cotovelos, gesticular e postar-se como um ator num palco e, por outro, percebo-o cada vez mais à vontade para dizer o que lhe convenha, conforme o momento e conforme o público.

Sem nenhum compromisso com a verdade e com a postura de um chefe de Estado.

Ele não se comporta como chefe de Estado. Fala sempre em termos pessoais, ou louvando-se a si mesmo sem qualquer constrangimento ou acusando alguém, seja a imprensa, seja a oposição, sejam as classes ricas, sejam os países ricos.

Estão todos contra os pobres, menos ele que, felizmente, assumiu o governo do Brasil para salvá-los, após quatro séculos de implacável perseguição. Do Descobrimento até 2003, ninguém sabe como o Brasil conseguiu sobreviver, crescer, chegar a ser a oitava economia do mundo, sem o Lula! Só pode ter sido por milagre ou qualquer outro fator inexplicável.

A verdade é que, apesar de tudo, o país resistiu até o momento em que ele, Lula, chegou a tempo de salvá-lo. Isso ele afirma com uma veemência impagável, como se fosse a coisa mais óbvia e indiscutível do mundo.

Sem rir, o que é mais surpreendente ainda, diante do olhar espantado de favelados, trabalhadores, funcionários públicos, aposentados.

Já quando o público muda, ele também muda o discurso. Se fala para empresários, banqueiros, exportadores, a conversa é outra. Mostra-se preocupado com o crescimento da economia, com o apoio do BNDES à iniciativa privada e chega mesmo a admitir que sem os empresários o país não cresceria. E o balanço de final de ano mostra que os bancos realmente nunca ganharam tanto dinheiro como durante a gestão presidencial do fundador do Partido dos Trabalhadores, que se dizia inimigo número um deles.

Joga com um pau de dois bicos, mas dá certo. Diz uma coisa para os pobres e o contrário para os ricos, mas dá certo. Tanto que a sua popularidade cresce a cada nova pesquisa de opinião.

Na última delas, o índice de aprovação de seu governo alcançou mais de 70% e a dele, presidente, mais de 80%. Ele fala, fala, fala, viaja, viaja, viaja; o resto do tempo faz política. Há uma cumplicidade esquisita: Lula finge que governa, e o povão finge que acredita.

Mas, infelizmente, os números da estatística não conseguem cegar-me. Pelo contrário, ao ver tamanha aprovação a um presidente da República, que busca deliberadamente engazopar a opinião pública, preocupo-me. Para onde estamos sendo arrastados? Até quando e até onde conseguirá Lula manipular a maioria dos brasileiros?

Essas considerações me ocorreram ao ler o discurso que ele pronunciou, no Rio de Janeiro, na favela da Mangueira, ao inaugurar uma escola. De ensino não falou, claro, já que não lê nem escreve. Anunciou a intenção de usar prédios públicos desativados como moradia de sem-teto. E aproveitou para mostrar como os ricos odeiam os pobres: disse que os ricos da avenida Nove de Julho, em São Paulo, não querem deixar que gente pobre venha morar ali, num prédio público desocupado. "Mas nós vamos colocar, porque a moradia é um direito fundamental do ser humano." Palmas para ele!

Nessa mesma linha de discurso para favelados, defendeu as obras do PAC, afirmando que a parcela mais pobre da população é que será beneficiada, e aduziu: "Quando a gente faz isso, perde apoio de determinada classe social, porque gente rica não gosta que a gente cuide muito dos pobres".

O discurso, como sempre, é atrapalhado mas suficientemente claro para que a mensagem seja entendida: os ricos odeiam os pobres, que só contam com Lula para protegê-los. A conclusão é óbvia: se o Lula é o pai dos pobres, quem se opõe a ele certamente os odeia e ama os ricos.

Assim como se apropriou de tudo o que antes combatera, improvisou o tal PAC, um aglomerado de projetos pré-existentes de empresas estatais, governos estaduais e municipais, que vai desde o pré-sal até a ampliação de metrôs e o trem-bala.

Mas o investimento do governo federal é de apenas 0,97% do PIB, menos do que investiu FHC em 2001. Se tudo o que está ali é viável ou não, pouco importa, desde que sirva para manter Lula e Dilma sob os holofotes.

CAMPANHA DESBRAGADA


EDITORIAL

O ESTADO DE S. PAULO - 15/2/2009 

Depois de reagir, com veemência (apontando nossa pequenez), quando a imprensa se referiu ao óbvio objetivo eleitoral de seu "pacote de bondades" anunciado no grande Encontro Nacional de Prefeitos e Prefeitas que promoveu em Brasília, o presidente reconheceu - e confessou - que estávamos falando a verdade. E nos dias seguintes, nas visitas que fez a cidades de Pernambuco, já nem tentou disfarçar que o que fazia era o que sempre fez e gostou mais de fazer: campanha eleitoral mesmo, desbragada, em favor da ministra que pretende entronizar como sua sucessora, Dilma Rousseff. 

Durante a visita ao município de Escada (PE), sob o pretexto de inspecionar as obras de duplicação da BR-101, o presidente voltou a rasgar elogios à "mãe do PAC", a quem atribuiu "a responsabilidade pelo sonho da duplicação tornar-se realidade". (Quer dizer, sem a ministra não duplicaria.) Horas antes, em Salgueiro (PE), no lançamento da obra de extensão da Ferrovia Transnordestina, o presidente fora mais cauteloso e, embora tenha vestido a camisa do time da região, o Carcará do Sertão, deixou para dois ministros - Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, e Alfredo Nascimento, dos Transportes - a incumbência de promover sua candidata. No discurso os ministros destacaram a "ternura" e o "carinho de mãe" da ministra com a obra do PAC cuja pedra fundamental estava inaugurando - o que não se coadunaria bem com seu papel passado de ex-guerrilheira, a não ser que se tome ao pé da letra a frase de Che "hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás".

Mas forçoso é admitir que a ministra Dilma, em que pese sua inexperiência em campanhas eleitorais, vai se mostrando cada vez mais à vontade ao posar para fotos e dar autógrafos, festejar o encontro com crianças - dispensadas das aulas para encontrá-la -, estimular a emoção regional com promessas locais de governo e tudo o mais que compõe a cena tradicional das campanhas políticas caboclas. Sua disposição para isso é tanta que depois dos comícios de Escada e Salgueiro, na quinta-feira, a candidata voou para São Leopoldo no Rio Grande do Sul, onde sexta-feira de manhã acionou uma máquina de perfuração no futuro canteiro de obras da extensão da linha do trem metropolitano, que será prolongada até Novo Hamburgo, onde Dilma também esteve, depois, para visitar o futuro ponto final do trem. Há, porém, um detalhe nessa euforia sucessória precipitada pelo presidente Lula: essa campanha é ilegal, porque ainda estamos bem longe do período eleitoral do ano que vem. O presidente da República está desrespeitando a legislação eleitoral.

Não foi sem razão, pois, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abordou essa anomalia, exigindo de seu partido uma reação política - tal como a antecipação da escolha do candidato tucano à Presidência. Por sua vez, o partido Democratas (DEM) se dispõe a atuar, junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), pedindo auditoria nos gastos do governo federal com o encontro, em Brasília, que reuniu 3.500 prefeitos e custou R$ 253 mil à Presidência da República. Na próxima semana DEM e PSDB entrarão com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com pedido de providências contra o que consideram autopromoção e propaganda ilegal. 

Na verdade, o DEM já vinha discutindo a possibilidade de entrar com uma ação por causa das viagens de Lula e Dilma para divulgação do PAC. A realização do encontro em que o presidente anunciou uma série de benefícios para prefeitos de todo o País desencadeou a decisão dos dirigentes partidários. "Entendemos que o abuso desta semana se tornou insuportável. Vamos entrar com ação no TSE para questionar essa conduta. O presidente Lula já mostrou que não tem apreço pelas leis", disse o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia.

"O governo está promovendo um festival de inaugurações, não de obras feitas, mas de pedras fundamentais. Há um esforço óbvio de divulgação da ministra Dilma não pelo que está sendo feito, mas pelas promessas. Pouco importa se a obra está no início ou no meio, o que importa é a foto. Hoje o PAC é só uma campanha eleitoral feita com dinheiro público", sintetizou o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra. 

Restaria, então, a indagação elementar: por onde anda a Justiça Eleitoral? 

DORA KRAMER

O segredo dos indolentes

 O ESTADO DE S. PAULO - 15/02/09

Os presidentes da Câmara e do Senado são pessoas de muito poder. Podem garantir e cassar palavras, desempatar votações, dirimir conflitos, expulsar inconvenientes do plenário, definir a agenda, conceder licenças, abonar faltas, declarar a vacância das cadeiras, comandar a polícia parlamentar, matar ou fazer nascer comissões de inquérito, engavetar ou deixar tramitar pedidos de impeachment contra o presidente da República.

Pelo regimento, podem muito mais. No ambiente do Congresso Nacional, só não podem deixar de cumprir a função regimental de "zelar pelo prestígio e o decoro" da instituição, o que inclui o atendimento ao preceito constitucional da impessoalidade e publicidade das ações do agente público.

Isto posto, não sobra outra razão - a não ser o insanável "vício da amizade" aludido pelo deputado Edmar Moreira - para a resistência do senador José Sarney e do deputado Michel Temer à divulgação das notas fiscais referentes aos gastos da verba extra de R$ 15 mil para despesas com os escritórios regionais dos parlamentares.

Francamente contrários à proposta em princípio, os dois terminaram a semana procurando transparecer inclinação favorável à quebra do sigilo, de resto repudiada pela maioria do colegiado. O senador José Sarney prometeu "examinar o assunto" e o deputado Michel Temer anunciou a criação de uma comissão para "analisar o tema".

Posições dúbias, incoerentes com a dimensão do poder de ambos e com a inexistência de qualquer obstáculo regimental à exibição dos comprovantes de que não houve nem há desvio da destinação original dos recursos.

Junto a isso, a possibilidade de serem divulgadas as notas dos gastos do deputado Edmar Moreira com serviços de segurança - sendo ele dono de empresa do ramo - é cercada de cuidados para que não se criem "precedentes" à quebra geral do sigilo sob o qual são mantidos esses documentos.

Segredo muito esquisito. Sem justificativa aceitável. O argumento usado é o de que a exibição das notas poderia prejudicar "terceiros", aí entendidos como as pessoas físicas ou jurídicas que prestaram serviços ou venderam mercadorias.

Ora, considerando que uma nota fiscal só prejudica alguém quando existe irregularidade na transação, a defesa do sigilo soa a precaução de caráter presumidamente infrator. Portanto, por mais razão deveria interessar à direção das duas Casas do Congresso esclarecer a questão.

Só que o assunto ultrapassa o terreno do interesse e entra no campo da obrigação. A verba extraordinária foi criada em 2001 como uma forma de aumentar os ganhos dos parlamentares sem enfrentar a reação da opinião pública que passou a não considerar justa a relação entre os serviços prestados e os reajustes de salários aprovados em causa própria.

É um dinheiro para uso específico, passível de prestação de contas. O comprovante para isso são notas fiscais e, portanto, sua divulgação deveria ser algo natural, sem mistérios, sigilos ou impedimentos que só fazem aumentar as suspeitas sobre a já combalida conduta dos parlamentares.

A prerrogativa de cobrar é do dono do dinheiro e o dever de comprovar a lisura do uso é de quem recebe. Tudo muito simples e transparente. Bastando para o cumprimento da norma um cumpra-se. De cima para baixo, como é conferido aos dois presidentes do Congresso Nacional, como convém a um Parlamento que não se associa nem corrobora a assertiva de que mais vale a amizade de alguns que o respeito de todos.

Ao mar

O PSDB decidiu fazer do Rio de Janeiro uma espécie de comitê central da campanha de 2010. O partido começa por patrocinar na cidade, ainda nesse primeiro semestre, reuniões políticas com o intuito de calibrar forma e conteúdo do plano de voo agora e durante a campanha eleitoral propriamente dita.

E por que o Rio?

Porque a cidade repercute, não tem o caráter oficialista de Brasília, não é a "casa" de nenhum dos dois pretendentes a candidato - governadores de São Paulo e Minas Gerais -, é passagem, destino ou origem de gente influente também fora do mundo político e, sobretudo, exporta tendências, faz a moda.

O primeiro passo da estratégia foi dado pelo PSDB na eleição municipal com o apoio à candidatura de Fernando Gabeira, que quase leva a prefeitura do Rio contra as máquinas estadual e federal, só na base da reação aos anacronismos vigentes.

Gênios da raça

A ideia da oposição de organizar uma reunião de prefeitos amigos em Brasília, como "resposta" ao comício patrocinado pelo governo federal semana passada na capital, parece inspirada pelo serviço de comunicação do Palácio do Planalto.Entra em terreno onde não pode competir, perde a razão para criticar, indica ao eleitorado sua carência de agenda própria e inicia a campanha pela pauta do adversário.

MÍRIAM LEITÃO

Verão do caudilho

Panorama Econômico 

O Globo 15/02/09

Quando Chávez perdeu o referendo para a presidência perpétua em 2007, ele disse que aceitava. No governo brasileiro, os que o defendem disseram que isso era prova de sua convicção democrática. Era um recuo estratégico. Ele volta hoje às urnas com a mesma proposta e o mesmo método de intimidação da oposição. Tem chance de ganhar, mas não importa: se perder, vai insistir até vencer.

Hugo Chávez não é democrata, por mais eleições que promova. Ele faz uma eleição por ano, é um governo plebiscitário que toma de assalto as instituições, ameaça a imprensa, encurrala a oposição, cria milícias armadas e usa os cofres públicos como caixa de campanha. Chávez é a marca do retrocesso que a América Latina vive num momento que poderia corrigir seu passado que oscila entre as ditaduras, as breves democracias e o caudilhismo.

Nos dez anos em que governa a Venezuela, Chávez conseguiu uma proeza: enquanto o petróleo vivia a sua mais longa e espetacular disparada de preços, a produção caiu e a empresa estatal ficou mais endividada. A queda de um milhão de barris/dia de produção em época de boom é consequência direta da politização da PDVSA. Depois da greve de 2003, o governo Chávez demitiu os técnicos mais qualificados da companhia e inchou a máquina com chavistas. Na última eleição, o presidente da empresa de petróleo disse, em local público, que para trabalhar lá teria que ser "vermelho, vermelhinho": a cor do partido de Hugo Chávez.

É um tempo desperdiçado, em que o país poderia ter dado um grande salto e reduzido de forma permanente os muitos males sociais do país. Houve investimentos nos "barrios" (favelas), mas muito menos do que poderia, pelo salto das receitas fiscais do país com o petróleo. Houve políticas de transferências de renda aos mais pobres, mas de forma personalista, e não como política de erradicação da pobreza extrema. Houve instalação de mercados populares com comida mais barata, mas sua hostilidade em relação às empresas foi tão grande que o país vive em desabastecimento. O dinheiro transferido foi corroído por uma inflação que superou 30%. Este ano, os economistas independentes estão prevendo que o PIB pode contrair 2% e a inflação chegar a 40%. Nestes dez anos que poderiam ser de progresso, a violência aumentou: o número de homicídios quase triplicou.

Com o uso sistemático da máquina pública como plataforma de propaganda, com a intimidação dos opositores e a apropriação das instituições, ele foi demolindo as virtudes de um estado democrático. Aumentou o número de juízes da Suprema Corte para dominá-la, mudou o Conselho Nacional Eleitoral para subjugá-lo, cassou a concessão da emissora de televisão RCTV como uma das formas de ameaçar a imprensa. Quando perdeu as eleições em Caracas, em novembro, ele assaltou o governo regional: em dez dias Chávez encampou todas as 93 escolas da rede metropolitana, 30 hospitais, 22 cartórios e o canal Ávila TV. No início do ano passado ele já tinha passado o comando da Polícia Metropolitana para o Ministério do Interior. O golpe do referendo que faz neste fim de semana é para acabar com outro pilar da democracia: a alternância no poder. Sem ela não há democracia. Presidência perpétua é ditadura. Ele tem dito que está preparado para ficar até 2030 ou no mínimo mais dez anos.

O chavismo é o caudilhismo autoritário que a América Latina já conheceu no passado. E Chávez tem alunos diletos que são financiados por ele e seguem seus métodos na Bolívia e no Equador. Agora seus financiados terão que enfrentar a escassez fiscal de um período de queda do preço do petróleo. Na Colômbia, seu inimigo Alvaro Uribe se iguala a ele neste ponto: também sonha com presidências intermináveis. Na Argentina, os Kirchner não estão em condições de pensar em terceiro mandato, mas continuam o desgoverno que reforça a tendência do país ao declínio.

Países da região produtores de metais, commodities agrícolas e energia poderiam ter se preparado melhor para os tempos difíceis atuais. Poucos fizeram isso. Alguns, como a Venezuela e a Bolívia, perderam tempo e investimento na politização excessiva, na polarização do país.

O Brasil tem a vantagem de se sair melhor quando comparado com os vizinhos trapalhões. Aqui, a ideia do terceiro mandato veio e foi embora. Tomara que definitivamente. Mas a semana passada foi bem um retrato dos nossos desvios: o presidente consumiu todo o tempo no palanque, fazendo coincidir encontros municipalistas com aniversário de partido, política contra a crise com distribuição de benesses pré-eleitorais. A ministra-candidata segue o que seu mestre mandou e ensaia seu personagem eleitoral. O erro do presidente sobre a estatística do analfabetismo em São Paulo - gritado diante de três mil prefeitos - foi tão absurdo que, com métodos orwellianos, o Palácio do Planalto corrigiu na transcrição do discurso. O uso da máquina para propaganda extemporânea foi tão abusivo, que só ficou menor diante dos absurdos cometidos pelos outros poderes: o Congresso em seu pântano, o STF em seu delírio de soltar condenados numa interpretação exótica do que seja o direito de defesa.

Hoje é mais um dia de ver a insensatez da Venezuela. Se Hugo Chávez perder, ele vai dividir mais o país, ameaçar mais os opositores e tentar de novo adiante. Se ganhar, dará outro passo para o totalitarismo. No Brasil se pode, ao menos, torcer para que os excessos das instituições sejam corrigidos pela própria democracia.

JOÃO MELÃO NETO

BATTISTI É NOSSO!

O ESTADO DE S PAULO - 13/02/09

Em matéria de abrigo político o Brasil faz jus ao título de "curva de rio": todo o lixo do mundo encosta aqui. Quem primeiro nos alçou às manchetes internacionais foi Ronald Biggs, nos anos 70 do século 20.

Para quem não conhece a sua história, vale lembrar: Biggs era um dos membros da quadrilha que assaltou o trem pagador, em 1963, na Grã-Bretanha. Essa incursão ficou conhecida como "o crime do século 20". Foi preso e condenado. Fugiu pouco tempo depois. Andou pelo mundo e acabou dando as caras no Brasil, na década de 70. A Inglaterra não poupou esforços para tê-lo de volta. Tentou extraditá-lo. Impossível. O Brasil não tinha um tratado específico para tanto. Procurou, então, fazer com que ele fosse expulso. Nada feito. Biggs alegou que teria um filho com uma brasileira e isso bastou para sustar o processo.

Por mais de 30 anos, ele foi hóspede de nosso país. Como celebridade que era, tratou de viver de sua imagem. Camisetas, chaveiros, canecas, tudo pôde ser comercializado com a sua estampa. Alugava até mesmo algumas horas de convivência consigo.

Enquanto tudo isso ocorria, a imagem do Brasil no exterior caminhava para o fundo do poço. Nos livros e nos filmes, o grande sonho de todos os personagens que cometiam algum crime era se refugiar aqui. Nossas leis e nossos juízes - segundo se acreditava no mundo inteiro - eram por demais condescendentes com os bandidos estrangeiros. Não éramos, evidentemente, um país sério...

Até que certo dia Ronald Biggs avisou que voltaria para casa. Isso ocorreu já na presente década. Consternação geral. O simpático bandoleiro preferiu viver numa prisão inglesa a permanecer em liberdade no Brasil. Como pode?

Pois bem, eis que surge agora um substituto à altura. Trata-se de Cesare Battisti, um notório terrorista italiano. Ele não possui o charme de seu antecessor, é verdade, mas conta com nada menos do que quatro assassinatos em seu currículo. Ninguém sabe ao certo por qual razão ele veio morar aqui. Mas, sem dúvida, o antecedente aberto pelo inglês pesou em sua decisão.

O Brasil não o desapontou. Tão logo foi descoberto e preso - numa operação policial internacional -, numerosas vozes se levantaram em sua defesa. Deu certo. O governo brasileiro acaba de conceder a Battisti o status de refugiado político.

O italiano já se preparava para deixar a cadeia e assumir a carreira de escritor - que seria, claro, alavancada por sua recém-adquirida popularidade - quando percebeu que, desta vez, não seria tão fácil. O Supremo Tribunal Federal (STF) recusou-se a libertá-lo. Em vez disso, tratará de julgar o mérito da atitude tomada pelo Poder Executivo.

Como ficarão, então, o ministro da Justiça, que tomou a decisão, e o presidente da República, que correu para respaldá-la?

Se o STF decidir anular a decisão, ficarão muito mal, obviamente. Bem-feito. Tanto Lula como Tarso Genro terão de compreender que os brasileiros, em geral, há muito tempo deixaram para trás a vocação malandra e o espírito galhofeiro.

Caso contrário estaríamos todos aplaudindo a decretação, pelo governo nacional, da impunidade vitalícia do bandido italiano e também de todos os demais que por aqui aportarem.

Mas a questão vai muito além. Nossas relações com a Itália, no momento, estão bastante deterioradas. A simples concessão do status de refugiado político a alguém condenado por crimes de sangue já representou, por si só, um tapa na cara da opinião pública italiana. Se os italianos, no sentido contrário, tivessem oferecido abrigo político a alguém como Fernandinho Beira-Mar, nós também estaríamos possessos.

Mas nosso imprevisível e desconcertante ministro não se contentou com isso e foi muito além. Nas justificativas de seu ato fez questão de reiterar que os julgamentos de Battisti na Itália não foram justos nem obedeceram ao devido processo legal; e que, caso fosse devolvido, Battisti sofreria perseguições políticas pelas autoridades italianas.

Ora, os italianos têm todos os motivos para estarem indignados. Num único documento o senhor Tarso Genro conseguiu pôr em dúvida a isenção e a eficácia do Poder Judiciário italiano e menosprezar a capacidade da democracia italiana de coibir qualquer tipo de discriminação ou desejo, do poder constituído, de perseguir os seus desafetos.

Como desabafou um ministro italiano: "Não dá para admitir que o Brasil ou Lula venham nos dar lições sobre Justiça e Democracia." E ele tem razão. A democracia italiana existe desde o final da 2ª Guerra Mundial e, apesar da instabilidade dos seus gabinetes, tem sido mantida sem nenhuma interrupção. 

O Brasil, no mesmo período, teve 4 presidentes depostos, 1 que renunciou ao posto, 1 que se matou, 1 que sofreu impeachment, 4 vices que assumiram em caráter permanente e 5 presidentes que chegaram ao poder sem votos.

De fato, tais circunstâncias nos descredenciam, de início, a pretender dar aulas de democracia a quem quer que seja. Só mesmo Genro não percebe isso.

Lula, ao defender a atitude tomada por seu estabanado ministro, como sempre extrapolou: declarou que o abrigo concedido a Battisti é uma questão de "soberania nacional".

Trata-se de um argumento apelativo. Tal qual uma meia de náilon, ele serve em qualquer pé. E é geralmente utilizado por demagogos e populistas. Já serviu, no nosso passado, para justificar o monopólio da Petrobrás ("O petróleo é nosso"), a existência de empresas estatais, o desrespeito contumaz aos direitos humanos, o nacionalismo econômico, o protecionismo comercial e uma série de outras bandeiras por si só indefensáveis.

Há, é claro, outras formas mais maduras de reafirmar a nossa independência, a nossa autonomia e a nossa soberania.

Não precisamos, para tanto, acolher todos os terroristas e assaltantes de banco que chegam às nossas praias. 

Respeito é algo que se dá, não que se pede. Se o queremos, temos antes de nos dar a ele.

TOSTÃO

Envelhecimento precoce

Jornal do brasil-15/02/09

Brasil, Argentina e Espanha venceram os clássicos pelo placar de 2 a 0, respectivamente contra Itália, França e Inglaterra. Robinho, Messi e David Villa fizeram belíssimos gols. O de Robinho foi ainda mais bonito.

A Espanha, com seu estilo parecido ao Barcelona e aos grandes times brasileiros do passado, mostra aos apaixonados pela correria, pelo tecnicismo e pelas jogadas aéreas, que trocar passes, cadenciar o jogo no momento certo e utilizar bastante a habilidade, são também maneiras científicas e eficientes de jogar, além de ser muito mais bonito.

A Argentina, sem Riquelme, mostrou um futebol organizado. Atuou no tradicional esquema europeu com duas linhas de quatro, marcando muito no meio-campo e priorizando os contra-ataques com os hábeis e velozes Messi e Aguero (depois Tévez).

Os jornalistas brasileiros que têm preconceito contra Maradona, como se a maioria dos ídolos do Brasil fosse exemplo de cidadão, estão surpresos com o bom início do treinador. Além do preconceito moral, existe o técnico, como se Maradona não tivesse capacidade científica e acadêmica para ser um bom treinador. Dunga sofre do mesmo preconceito.

Os bons resultados de Dunga e o início promissor de Maradona, dois técnicos que começam suas carreiras pela seleção, além de outras boas experiências desse tipo em outros países, mostram que, para ter bons resultados em uma grande seleção, não é essencial ser um técnico famoso e experiente. As informações são globalizadas. Basta acessar o Google. Difícil é saber ver. Muitos passam toda a vida sem enxergar o óbvio.

Contra a Itália, Felipe Mello parecia um clone de Gilberto Silva. Os dois, um ao lado do outro, atuando sem marcação, deram uns 500 passes certos, mas só curtos e para os lados. Não fizeram uma única jogada brilhante nem apareceram uma única vez no ataque. Mesmo assim, a maioria gostou. Qualquer volante que atua no Brasil faria o mesmo. Se o Brasil tivesse perdido, suas atuações seriam criticadas.

O jogo mostrou mais uma vez que o Brasil precisa ter um terceiro armador que marque e chegue ao ataque. Pode ser Elano, que novamente surpreendeu com uma excelente atuação, Daniel Alves ou Hernanes. Só há lugar para Ronaldinho na reserva de Kaká ou de Robinho.

Há mais de dois anos, quando tinha 26, Ronaldinho atua como um craque em final de carreira. O mesmo aconteceu com Rivaldo, após o Mundial de 2002, quando tinha 30. Ronaldo, prejudicado pelas contusões, só brilhou em alguns momentos nos últimos cinco anos. Em 2004, ele tinha 27 anos. Os craques estão envelhecendo cedo. Pena!

Clássicos estaduais

É difícil, ao mesmo tempo, desejar com a mesma intensidade dois objetivos diferentes. O São Paulo disse que vai priorizar a Libertadores. Se não fez, o Cruzeiro deveria fazer o mesmo. Isso vai influenciar a atuação dos dois contra Corinthians e Atlético? Não sei. No Rio, mesmo com jogadores muito melhores, o Flamengo ainda não mostrou superioridade sobre o Botafogo. Será hoje? Também não sei. Não tenho certeza de nada.

GOSTOSA


UMA NOITE DE SONHO

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PARA....HIHIHIHI

ALUNOS

Fim de ano na escola, o professor entra na turma do terceirão e diz: Pode sair todo mundo da sala, menos os três
ferinhas. Ai foi aquela correria...., e então ele se dirige aos três alunos, Joãozinho (mineiro), Pedrinho (Carioca) e o
Juquinha (Gaúcho):                           
                                                                      
  -São os feras da sala, então vocês só serão aprovados se responderem corretamente a pergunta que irei fazer.                             
  -O que minha pica tem haver com o hino do Brasil? **E em seguida abre o zíper da calça e arranca uma pica de 28 cm e bate na mesa.      
                                                                      
  - O mineiro responde logo: Gigante pela própria natureza.         
  - O Carioca diz: És belo, és forte, impávido colosso.          
                                                                      
  E o Gaúcho, já meio sem graça, foi abaixando as calças, e virando a bunda falou:                                                              
  - Verás que um filho teu não foge à luta. 

enviada por MARTA

AUGUSTO NUNES

Sete Dias

Jornal do Brasil - 15/02/09

Guerra em duas frentes – Além de bombardear o idioma, Lula agora ataca também a estatística

Há mais de 30 anos no comando da guerra contra o idioma, o presidente Lula animou a pajelança dos prefeitos, primeiras-damas e parentes a serviço do interiorzão brasileiro com o improviso que anunciou a abertura de uma segunda frente de combate. Sem abrandar a ofensiva planejada para consumar o extermínio do plural, a capitulação da gramática e a rendição da linguagem culta ao português de quem sabe o que é sifu na vida, Lula chamou para a briga a estatística, a matemática, a porcentagem e a arte de calcular.

Cabelos em desalinho, o rosto colorido por diferentes matizes de vermelho que denunciam almoços que matam a sede, a camisa e a calça inundadas pela catarata de suor, o Terror das Vogais e das Consoantes guardou a declaração de guerra para o trecho do discurso ocupado pelo relatório sobre o analfabetismo concluído recentemente por especialistas do Ministério da Educação. De repente, Lula interrompeu a procissão de cifras e dedicou alguns segundos de silêncio à surpresa causada por alguma descoberta.

Recuperada a voz, caprichou na cara de espanto e soltou a notícia simultaneamente boa (para o orador e seus devotos) e ruim (para o governador José Serra, o prefeito Gilberto Kassab, logo ali ao lado, e os oposicionistas em geral). "Pasmem, caiam de costas, Kassab, porque você não sabia e eu não sabia", tentou Lula disfarçar a alegria.

O primeiro tiro avisou que quem puxou o gatilho do trabuco na mão esquerda foi o Flagelo das Concordâncias Verbais. "No Estado de São Paulo", mandou bala na estatística o tresoitão disparado pela mão direita, "nós ainda temos 10% de analfabetos, o estado mais rico da Federação". Simulando tristeza, o pistoleiro ambidestro consolou os feridos com outro plural tão sincero quanto vereador em campanha: "Nós erramos em alguma coisa". Nós? "Na primeira do singular! Na primeira do singular!", teria berrado algum prefeito se não estivessem todos interessados só em saber quando vai chegar o dinheiro do PAC. Nós estamos fora dessa. Quem errou foi o improvisador.

Por não ler nem legenda de filme, Lula sabe ler porcentagens. Por não fazer contas sequer no canhoto do talão de cheques, o maior governante desde as caravelas não sabe calcular. Por não dar atenção a sugestões, lembretes e conselhos murmurados por assessores, ninguém se atreveu a avisar a tempo que é de 4,6% a taxa de analfabetismo registrada em São Paulo. Como o estado concentra 22% do total da população, o índice representa 10% do total de analfabetos espalhados pelo Brasil.

Se falasse menos e pensasse mais, se viajasse menos e estudasse mais, se tratasse com mais compaixão as letras, os números e os brasileiros que nunca se renderão à Era da Mediocridade, Lula se pouparia de maluquices, equívocos e confusões bisonhas como as berradas na terça-feira. "A imprensa parece achar que todos os prefeitos são ladrões", imaginou um trecho do que pareceu um samba-enredo composto por repentistas. "E trata cada um de vocês como se fosse marionete". Muito pior é ser tratado como cretino pelo presidente da República.

A dupla esqueceu de unificar a letra

A estridência abaritonada do advogado e vocalista Luiz Eduardo Greenhalgh combina com o timbre de tenor que credencia o ministro Tarso Genro a segunda voz. Falta agora uniformizar a letra da cantoria que chora os sofrimentos impostos ao terrorista na reserva Cesare Battisti. Os versos berrados por Greenhalgh juram que o cliente italiano não cometeu nenhum crime depois de deixar a vida de assaltante para converter-se num dos Proletários Armados pelo Comunismo. A letra decorada por Tarso Genro informa que os crimes cometidos pelo afilhado foram de "natureza política". A plateia continua sem saber se Battisti é inocente como bebê de colo, como canta o advogado, ou se matou dois ou três a serviço da pátria em perigo.

Segundo Greenhalgh, o freguês foi condenado à prisão perpétua em consequência da trama urdida por delatores vingativos, juízes desalmados e tiranos cruéis. Embora não tenha participado de nenhum dos quatro assassinatos que lhe custaram a pena medonha, o calvário continua. Se acredita no que diz, Greenhalgh está pedindo pouco: além da libertação, deve exigir a canonização em vida do fortíssimo candidato a santo padroeiro dos presidiários. Segundo o ministro, são heróis à espera de estátua tanto os que morrem tentando defender a democracia como os que vivem tentando assassiná-la. Se acredita no que diz, o que Tarso espera para convidar o companheiro Osama bin Laden a descansar no País do Carnaval?

O filho começou a imitar a mãe

No começo da década de 90, o governo paulista conseguiu no exterior um empréstimo de R$ 1,8 bilhão e aplicou o dinheiro na expansão do metrô da capital. Como exige a lei, o negócio teve como intermediário o BNDES, que não desembolsou um centavo. Durante o desfile das proezas do PAC promovido pela ministra Dilma Rousseff na pajelança dos prefeitos, para embalar o repouso dos exaustos e distrair os insones, o empréstimo reapareceu fantasiado de "verba federal para o metrô de São Paulo". Que tal a mãe usar o bisturi do BNDES para melhorar ainda mais a cara do filho com o metrô de Caracas e a hidrelétrica no Equador?

A caminho do recorde mundial

O presidente Lula é tão ruim em estatística que há menos de dois anos, depois de avisar que votaria no candidato a governador a seu lado no palanque, lembrou que isso faria o companheiro subir 1% na pesquisa eleitoral. Deveria fazer um cursinho intensivo no Sensus, que sabe tudo de estatística. Para descobrir o que acham do presidente os mais de 130 milhões de eleitores, por exemplo, o instituto só precisou entrevistar 2 mil brasileiros em 136 municípios de 24 estados. Se não atendeu ao critério da proporcionalidade, foram 83 eleitores por estado, 15 por município. Caso contrário, o mundão de cidades pequenas valeu meia dúzia de formulários e um ou dois pesquisadores. Para o Sensus, o que parece pouco é suficiente.

Feitas as contas, os craques do instituto comunicaram à nação que Lula estabeleceu outro recorde de popularidade: 84% dos brasileiros acham bom ou ótimo o desempenho do presidente. Mais duas denúncias, um escândalo, três improvisos delirantes, 5 mil demissões e o campeão chegará à marca para sempre insuperável: 100% de popularidade. Ou 103%, se a margem de erro de 3% (quase 5 milhões de eleitores) fizer a gentileza de oscilar inteirinha para cima. Como os eternos insatisfeitos não passam de 5%, está provado que estão felizes da vida, gratos a Deus e a Lula, também os desempregados, os inadimplentes, os depenados por agiotas, os sem-teto, os ricos, os miseráveis e, por que não?, os flagelados de Santa Catarina.