segunda-feira, dezembro 07, 2009

NAS ENTRELINHAS

Nó cego na política


Correio Braziliense - 07/12/2009

Todos já sabem o que Durval Barbosa tinha a dizer e a mostrar. Foi como se o PC de Fernando Collor levantasse do túmulo e contasse a sua versão do que ocorreu nos bastidores do governo eleito e na primeira campanha presidencial direta pós-ditadura



Pobre Brasil. Como se não bastasse o cinema sem fim de políticos enchendo os bolsos, bolsas, meias e cuecas de dinheiro, ainda vêm por aí grandes batalhas jurídicas em torno das possíveis punições aos envolvidos nos casos mais recentes. Os ventos prenunciam verdadeiras guerras, dignas de teses e mais teses de mestrado. De um lado do ringue, aqueles que buscam a punição, ainda que apenas na esfera política, dos acusados e suspeitos. De outro, advogados experientes — e muito bem pagos — ajudando quem está com a cabeça na guilhotina.

A primeira refrega será esta semana e terá como palco a reunião do Democratas da quinta-feira, sobre o escândalo da distribuição de dinheiro no Distrito Federal. É quando o ex-deputado José Thomaz Nonô (DEM-AL) apresentará o seu relatório a respeito da reclamação que pede a desfiliação do governador José Roberto Arruda do partido.

O DEM não vê a hora de se livrar do peso de todos os dias: ouvir os locutores dos telejornais se referirem ao escândalo do DF como o “mensalão do DEM”. Só que essa nódoa não vai sair fácil. Até porque, Arruda irá à Justiça, mais precisamente ao Supremo Tribunal Federal, garantir seu direito de defesa e a filiação. Os advogados que estudam o caso dizem que, se até Sérgio Naya, na época do edifício Palace, conseguiu ficar no PTB, as chances de Arruda também são boas.

Paralelamente à luta nacional no DEM, o cidadão brasileiro assistirá a outra batalha, desta vez, na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Até agora, a Câmara local não adotou uma ação prática para apurar o escândalo ou investigar os seus pares. Ali, um terço do colegiado — oito deputados — já apareceu no cineminha do ex-secretário Durval Barbosa, que gravou os vídeos e entregou à Justiça em busca da delação premiada.

E pasmem: a coluna foi procurar saber se esses parlamentares citados poderão votar, na hipótese de a Câmara analisar um processo de impeachment contra o governador. E descobriu que nada impede. A não ser que sejam cassados antes. O pior é que pelo menos um suplente já apareceu citado nesse filme de horrores — o tal Pedro do Ovo.

O leitor deve ter notado a expressão do parágrafo anterior — “na hipótese de analisar um processo de impeachment”. É que quem sabe das coisas percebeu que o Natal está chegando — e, com ele, a temporada de recesso parlamentar. A tendência é a de que os distritais sigam o exemplo dos deputados federais e saiam de férias, deixando tudo para fevereiro. Mais dois meses sem uma ação efetiva em busca de separar o joio do trigo na capital da República, onde todos se vangloriam do papel de anfitriões do governo federal.

Diante desse quadro, todos os julgamentos relativos ao escândalo da capital do país vão demorar tanto, ou talvez mais, do que o do mensalão do PT. Ou seja, os democratistas vão chegar ao ano eleitoral com a expressão “mensalão do DEM” tinindo nos telejornais, assim como os petistas vão conviver com a sua. Nesse quesito, DEM e PT empataram, guardadas as devidas proporções.

No caso do PT, até agora Delúbio Soares não contou nada do que sabe. E todos já sabem o que Durval Barbosa tinha a dizer e a mostrar. Foi como se Paulo César Farias, o PC de Fernando Collor, levantasse do túmulo e contasse a sua versão do que ocorreu nos bastidores do governo eleito e na primeira campanha presidencial direta pós-ditadura — um quebra-cabeça que nunca teve todas as peças reveladas. De lá para cá, muitos escândalos ocorreram, as batalhas jurídicas prosseguem até hoje, e poucos sentiram algumas horas de cadeia. Como disse dia desses o professor David Fletcher, cientista político: para completar a nossa democracia, falta acabar com a impunidade. Esse nó ainda não conseguimos desatar.

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