quarta-feira, dezembro 02, 2009

ENTREVISTA: JOSÉ ROBERTO ARRUDA

Em entrevista exclusiva ao Correio, o governador afirma que denúncias são manobra do adversário para vencê-lo no tapetão

CORREIO BRAZILIENSE - 02/12/09

Ana Maria Campos e Lilian Tahan

O escândalo que desmontou o governo, devastou a credibilidade da Câmara Legislativa e expôs o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) com a divulgação de imagens de políticos escondendo maços de dinheiro tem um maestro na visão do principal alvo da Operação Caixa de Pandora. Para o governador JOSÉ ROBERTO ARRUDA(DEM), o responsável por sua derrocada é o seu principal adversário político: o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). Arruda afirma que Durval Barbosa gravou vídeos, manipulou imagens e até pode ter corrompido empresários com objetivo de construir uma trama com força para tirá-lo do poder e ganhar as eleições de 2010 no "tapetão".

Arruda admite que manteve em seu governo um aliado com 32 processos na Justiça por supostos desvios de recursos públicos, a quem considerava um amigo e um "excelente articulador". Apesar dos rumores no meio político em Brasília, o governador nega que tenha passado três anos sendo chantageado por Durval. Disse que só soube da existência do vídeo em que aparece recebendo dinheiro há pouco tempo, quando, então, orientado pelos advogados teria exigido que o secretário registrasse o recebimento dos comprovantes da compra de panetones, versão que sustenta para explicar o destino dos recursos.

Sobre o conteúdo da gravação ocorrida em 21 de outubro com o monitoramento da Polícia Federal, Arruda parece confuso. Não se lembra de detalhes e apenas acredita que quando se referia a números, não falava de propina para aliados, mas tratava de pedidos de empregos em administrações regionais do governo. Na visão do governador, tudo tem explicação. O problema maior é explicar a pessoas como a mãe dele, em Itajubá (MG), a imagem da sacola de dinheiro.

"Tudo o que eu quero é enfrentar Roriz nas urnas"

Depois de tudo o que veio à tona, a operação da Polícia Federal, as acusações de corrupção e os vídeos, o senhor enxerga uma saída?

O problema é grave e ele tem que ser compreendido em três frentes distintas. A jurídica, a política e a mídia. Na questão jurídica, os meus advogados, Dr. Gerardo Grossi, Nabor Bulhões e (José Eduardo) Alckmin me tranquilizaram muito. Não há nos autos, ao que se conhece até agora, nada que possa me incriminar. Nenhuma ação minha que possa ser entendida como dolosa. Há duas questões fundamentais atribuídas a mim: na época do Natal de 2004 ou de 2005, aí eu não me recordo bem, houve a gravação dele (Durval) me entregando dinheiro.

Como explicar o vídeo em que o senhor aparece recebendo dinheiro do seu ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa?

Todo final de ano, eu faço programas sociais, visito creches, asilos, as periferias das cidades, levo cestas básicas, panetones, o que virou piada até, mas eu faço isso. E vários empresários doam também, o Carrefour doa, pessoas físicas e jurídicas. Ele me fez nesse dia uma doação de livre e espontânea vontade. Não fez apenas naquele ano, fez em outros anos também. Por que gravou? Não sei. Já com alguma má fé naquela época, talvez. Mais tarde fui alertado desses problemas, fiz um registro oficial ao Tribunal Regional Eleitoral não apenas com a doação dele, mas com a doação de todos aqueles que durante 10 anos de uma maneira ou de outra contribuíram nas minhas campanha sociais. Entendem os meus advogados que, embora a imagem seja forte, horrível, de qualquer maneira juridicamente eu estou coberto.

Numa escuta da PF, o senhor fala sobre dinheiro. Como explicar esse tipo de conversa?

No diálogo, eu não o (Durval) via há muito tempo e ele foi propor uma ajuda de R$ 1 milhão de um empresário amigo dele para a minha campanha. Eu disse que a minha campanha só seria no próximo ano, que não era hora ainda de buscar recursos, mas sugeri que ele ajudasse então aliados que já estão trabalhando politicamente e que insistentemente vinham pedindo apoio. Esta conversa está muito truncada, porque eu me lembro, por exemplo, que uma hora a gente falava de empregos, que um determinado deputado indicou 15 pessoas no governo e depois pediu mais 15 cargos e eu não dei. Mas isso foi misturado com a hora que se fala de recursos. Depois, consta dos autos que este aparelho de gravação teria dado um suposto defeito de aquecimento e que teria inclusive desconfigurado os dados. Os meus advogados acham isso muito esquisito. Será que ele não foi lá para me entregar uma mala de dinheiro e me pegar no flagrante? E se eu tivesse recebido, será que o aparelho teria falhado também?

Mas ele estava com uma mala de dinheiro?

Não. Mas ele estava com uma bolsa, uma pasta. Aliás, ele só anda com esta pasta. Mas vamos admitir a hipótese que eu tivesse feito uma coisa errada. Já que ele estava com os equipamentos da Polícia Federal poderiam ter me autuado. Outras horas eu admito que efetivamente sugeri a ele que já que o empresário queria ajudá-lo, que ajudasse campanha de aliados. Mas o que importa é que eu não recebi. Essas são as duas questões que efetivamente me atingiriam. E nessas duas questões eu estou muito tranquilo. Uma terceira questão que paradoxalmente me tranquiliza é que eu fiquei livre, livre de uma pessoa que com essas atitudes demonstra o seu caráter, que efetivamente me ajudou na campanha, fez acordos políticos importantes, foi um interlocutor interessante, porque eu não ganhei a campanha contra o Roriz, eu ganhei por dentro, então várias pessoas que eram do governo Roriz vieram me ajudar. Algumas pessoas maravilhosas, outras infelizmente com esse padrão de comportamento.

Uma coisa que chama a atenção é essa paradoxal relação com o Durval. Sempre se escutou que o Durval chantageava o governo, chantageava pessoas próximas ao senhor. Por que mantê-lo tão próximo, tão perto?

Primeiro, ele sempre foi muito distante. Durante os três anos de governo, eu o encontrei nas reuniões maiores e poucas vezes. Não era uma pessoa próxima a mim. Segundo lugar, quando eu ganhei a eleição, durante oito anos, ele foi presidente da Codeplan no governo Roriz, ele era gestor de um orçamento de R$ 500 milhões por ano em informática. Quando eu ganhei a eleição, ele queria continuar presidente da Codeplan. E aí, eu já informado que ele tinha processos em relação a ações no governo anterior, não permiti que ele fosse presidente da Codeplan. Atendendo às ótimas relações políticas que ele tinha, permiti que ele continuasse no governo, mas em uma área burocrática, sem orçamento, sem nada. Creio que começa aí essa raiva dele contra a gente.

Mas o fato de o senhor ter mantido o Durval na Secretaria de Relações Institucionais garantiu a ele o foro especial, que para ele era muito importante, porque ele tinha muitos processos. Isso não foi uma ajuda que o senhor deu para ele?

Eu não sei te dizer se foi ou se deixou de ser. O que eu sei é que tirei ele da Codeplan. E o que eu sei é que diminuí de R$ 500 milhões por ano para R$ 200 milhões por ano os gastos com informática. Eu diminuí R$ 300 milhões com essa área. Muitas empresas que faturavam R$ 30, 40 milhões por mês, hoje faturam zero. Outras que chegaram a faturar R$ 240 milhões por ano, caíram para 50, 60 (milhões). Todas essas empresas, sabe-se agora, eram ligadas a ele. Será que estão satisfeitas comigo? Será que ele ficou satisfeito de perder o poder que tinha na Codeplan e o poder de manipulação sobre as empresas de informática? Há uma questão-chave aí: sabe-se hoje que este senhor responde a 32 processos por atos eventualmente incorretos na área de informática. Não há um só desses processos que tenha sido no meu governo. Todos eles se referem aos oito anos do governo Roriz.

Governador, mas o motivo de o senhor ter mantido o Durval no governo foi uma chantagem de que ele divulgaria esse filme?

Nunca. Comigo sempre foi elegante e cordial e agora, há pouco tempo, quando alguém me disse que aumentaram os boatos e alguém me disse que ele teria exibido uma fita onde ele me entregou o dinheiro, eu o chamei e tive uma conversa com ele muito clara: 'Dr. Durval, estão dizendo que o senhor gravou no Natal de não sei quando, quando o senhor me deu aquela ajuda para as ações sociais de final de ano. Eu não sei se é verdade ou não é verdade. Não quero discutir isso com o senhor. Até porque essa ação de gravar os outros é tão feia, tão sórdida que não quero nem te perguntar. Eu quero saber o seguinte, todos os outros que me doaram, estão aqui os recibos'. Mostrei pra ele os 100 recibos que tinha.

Foi por isso que o senhor fez os recibos só agora.

Os outros já estavam prontos, muitos deles já estavam prontos há anos. O problema é que ele, o Durval, por alguma razão nunca ninguém tinha entregue para ele os recibos, aí eu entreguei. Aí ele disse: 'ih, mas eu não vou ter como colocar isso no imposto de renda'. Aí eu falei: mas isso é um problema do senhor. Porque eu estou te entregando o recibo e eu quero a sua assinatura de que recebeu o recibo, ou seja, o contrarecibo. Antes dele assinar esse recibo, eu já havia feito no Tribunal Regional Eleitoral o registro de todas as doações que recebi durante todos esses anos antes de ser governador, inclusive fazendo uma pergunta ao Tribunal. Nesse final de ano, na véspera de um ano eleitoral, eu posso fazer essas doações? O Tribunal Regional Eleitoral fez um parecer e arquivou o processo. Está lá no Tribunal.

Há relatos de que ele gravou esse encontro com o senhor. Seus advogados tiveram acesso a essa informação?

Não, mas se ele grava tudo é possível. E o que eu posso te dizer com absoluta certeza é que foi um encontro muito elegante, embora eu tenha sido firme. Ele assinou o contrarecibo normalmente e depois, inclusive, de maneira muito clara se dispôs a ajudar mais na campanha que ele queria participar. E vamos reconhecer aqui, ele sempre foi um grande articulador político. Aí eu falei que ótimo, então estamos juntos. Foi assim a conversa. O (Alberto) Fraga estava nessa conversa o tempo todo e tinha mais alguém que eu não me lembro. A conversa existiu. Agora, independente do recibo que foi feito, anteriormente eu já havia feito o registro no TRE. E tudo isso que nós estamos dizendo é de uma época já prescrita e que eu não era nem governador e nem candidato. Como governador tem o tal diálogo do 21 de outubro. O que me causa espanto é, numa coisa tão importante, o equipamento ter apresentado falhas.

O senhor chegou em algum momento a romper com ele, quando começou a vir a tona os boatos de que ele exibiria as fitas? Circula que o senhor chegou a ter um embate físico com ele e o teria agredido. É verdade?

Que isso? Nunca. Minhas relações com ele sempre foram educadas, sempre foi muito educado comigo, não posso reclamar de nada. Pessoalmente, comigo sempre me respeitou. Nunca fez nenhuma ameaça e, quando chegavam esses boatos, eu o chamava diretamente, como é do meu estilo, e dizia: tem alguma coisa? E ele dizia: 'imagina, o que é isso?'. Ele efetivamente algumas vezes me pedia ajuda, dizendo inclusive que ele era inocente, porque as coisas foram feitas corretamente e eu até procurei ajudar, dentro das minhas limitações.

Era disso que o senhor estava falando quando se referiu a alguns desembargadores?

Eu não tenho lembrança exata do texto. Mas o que eu posso afirmar a vocês é que todas as vezes que ele me pediu ajuda, eu procurei ajudá-lo no limite do que eu posso. Não posso ultrapassar esses limites.

É verdade que o empresário Roberto Cortopassi apresentou para o Renato Malcotti essa gravação que agora foi às TVs e fez uma chantagem para evitar que o BRB continuasse executando essa dívida?

Nunca chegou isso a meu conhecimento. O Roberto é meu amigo, gosto dele pessoalmente, sempre foi muito correto comigo, efetivamente me pediu para ajudar nessa questão do BRB, mas infelizmente eu não consegui porque o BRB tem suas regras.

O senhor explicou a fúria de Durval para ter denunciado o senhor. Existe alguém por trás do Durval?

Tem muitas coincidências aí. O Dr. Durval faz essa denúncia à Justiça no dia 17 de setembro, um dia depois que o ex-governador Roriz saiu do PMDB. Nos dias que antecederam a ação da PF, o ex-governador falou no jornal Entrelagos, no jornal Hoje em Dia, e falou num jantar (com jornalistas) que algo muito grave iria acontecer. Ora, parece-me claro que o ex-governador estava informado da ação da Polícia Federal. Uma coisa que também me causa certa estranheza é que ele (Durval) foi oito anos gestor de uma verba milionária no governo Roriz, R$ 500 milhões por ano, durante oito anos. Se você verificar os vídeos, que são estarrecedores e que estão aparecendo na televisão, a grande maioria deles se refere a este período do governo Roriz, não do meu, onde ele efetivamente manipulava grande quantidade de dinheiro como se vê agora. Que que eu tenho com isso? Será que se eu tivesse mantido ele presidente da Codeplan e se eu não tivesse feito um corte de R$ 300 milhões na informática, será que ele teria feito tudo isso? Ou será que ele estaria feliz comigo?

O senhor identificou que várias das pessoas que estão nas gravações também são seus aliados?

Pelo que se sabe hoje, ele filmava todo mundo, então parece que nessa distribuição farta de fitas há uma seleção. De vez em quando ele coloca lá um (Júnior) Brunelli para disfarçar, mas as outras pessoas são ligadas a mim. Quer dizer, mas mesmo aquelas que hoje são ligadas a mim com fitas que foram feitas no governo Roriz. O mais interessante, ainda não apareceu nenhuma fita dos oito anos que ele foi do governo Roriz com as pessoas ligadas ao Roriz. E como o Roriz antecipou para os jornais a bomba que se abateria sobre Brasília, desculpa, mas eu não tenho como não reconhecer que eu não fiz isso sozinho. E aí é o grande problema que sempre me alertaram. Como eu herdei pessoas do governo Roriz, a maioria delas têm sido muito leal a mim e têm feito um trabalho muito correto. Infelizmente, eu herdei também coisas ruins.

Estou vivo e me sinto aliviado, diz ArrudaApesar do turbilhão de denúncias em que se encontra, o governador JOSÉ ROBERTO ARRUDA (DEM) tem demonstrado disposição para brigar e se manter no poder. Ele garante que em nenhum momento pensou em renunciar e também não perdeu a intenção de concorrer à reeleição. Sua principal meta, no entanto, é permanecer no DEM, inaugurar obras e continuar no comando do governo local até o último dia de dezembro do próximo ano.

Arruda sustenta que a avalanche pode ser comparada a um acidente de carro em que ele saiu gravemente ferido. Mas não morto. "Estou mais vivo do que nunca", garante. Sobre as denúncias de Durval Barbosa, ele disse que está aliviado por ter se livrado de um traidor. Na segunda vez em que chegou ao fundo do poço, Arruda faz uma comparação: "Da primeira vez, foi pior porque eu menti".

Além de Durval, o senhor consegue perceber outras pessoas infiltradas?

Confesso que é um defeito que eu tenho, eu acredito nas pessoas. Sinceramente, eu não percebo não. Se tem mais gente no governo fazendo maldade para favorecer o Roriz? Pode existir. Eu não saí dizendo: ah, você trabalhou no governo Roriz, então não fica comigo. Algumas pessoas até falam assim, você manteve muita gente do Roriz e eu digo: e daí? O Andrade, técnico do Flamengo, com os mesmos jogadores que tinha antes, está fazendo o Flamengo ser campeão. Quando o técnico muda o jeito de jogar, o time pode se recuperar. Eu não queimei as pessoas só porque trabalhavam no governo anterior. Agora, que foi uma armação, engendrada de maneira cuidadosa, não há dúvida. Interlocutores próximos a Roriz chegam a me dizer com clareza que ele percebeu que eu estava caminhando para ganhar no primeiro turno. Então, para ganhar de mim, teria que provocar um grande escândalo no meu governo, e foi o que ele procurou fazer. Eu estou muito tranquilo porque, depois da tempestade, vem a bonança. Eu sei que vou passar por tudo isso. Muitas vezes você vê um deputado pegando um dinheiro e diz: pô, mas o Arruda não podia ter deixado acontecer isso. Gente, olha a data da fita, foi lá no governo anterior. Pode ter havido coisas no meu governo. Gente, pode ser. Eu não vou dizer que não.

Muitas imagens são com a foto oficial do senhor ao fundo.

O que que acontece, como ele ainda ficou no governo e provavelmente vendia para alguns empresários e algumas pessoas um poder que não tinha, mas que já tinha tido, provavelmente ele ainda obteve vantagens ilícitas no meu governo. Houve uma coisa interessante, há mais de ano,eu tive uma informação do Ministério Público, que na Agência de Informática que eu criei sem o Durval, apenas para orientar tecnicamente as áreas de governo, ele estaria tendo uma influência. O que que eu fiz? Demiti as pessoas e extingui a agência por decreto. O grande problema é que, quando entra num governo como eu entrei, proíbe vans piratas, tira camelô da rua, proíbe invasão, derruba prédio, demite 15 mil servidores sem concurso, só contrata servidor concursado, diminui de R$ 500 milhões para R$ 200 milhões os contratos de informática, contraria muitos interesses. Aproximando-se agora o período eleitoral, muitos desses interesses se agrupam com um único objetivo, me derrubar.

O senhor acha que o vice tem alguma coisa a ver com esse episódio, já que ele é citado no inquérito como tendo 30% nos repasses de propina?

O Paulo (Octávio) tem sido muito correto comigo e eu tenho muito cuidado nessas citações, porque eu nessa conversa com você posso falar sobre um terceiro incriminando-o sem que ele saiba nada sobre isso. Por exemplo, alguém pode ter dito: olha, eu preciso aqui de dinheiro e isso é para o Arruda. O sujeito muitas vezes não tem coragem de checar comigo se isso é verdade. Agora, as pessoas que me conhecem sabem da minha maneira de agir.

Mais do que argumentos, o senhor acha que tem materialidade suficiente para poder mostrar irregularidades no governo Roriz?

Tudo o que eu quero é enfrentar o Roriz nas urnas, porque a sensação que eu tenho é que ele, neste momento, com esta articulação que fez com essas pessoas, tenta me derrubar no tapetão, antes da eleição, talvez com medo de me enfrentar. Eu quero ultrapassar este momento, sei que vou ultrapassar, porque juridicamente não há nada contra mim. E se houver um processo, eu só quero ter o direito de respondê-lo. Ora, se condenado, pronto, estou fora. Mas, se absolvido, eu quero disputar a eleição. Eu quero ter a chance de dizer a Brasília o que fiz no meu governo e comparar com a bagunça que ele (Roriz) fez em 20 anos. Eu quero mostrar e inaugurar no ano que vem as duas mil obras que estou fazendo e vão modificar a vida dessa cidade.

O senhor então mantém a disposição de disputar a reeleição?

Eu diria o seguinte: cada dia, a sua agonia. Hoje, eu me sinto, primeiro, aliviado, ainda que a forma tenha sido a pior possível de ter ficado livre de uma pessoa com esse tipo de caráter no meu governo, com esse tipo de comportamento, se fingindo de meu amigo. Segundo, estou absolutamente preparado para enfrentar em todos os foros, todos os questionamentos. Terceiro, tenho consciência de que estou fazendo um bom governo. Eu botei ordem na cidade, que esse dinheiro que eu economizei da informática, dos prédios e carros alugados e de tantas outras coisas, eu investi em benefício da cidade. Essas obras todas serão concluídas no ano que vem. Vou entregar Brasília prontinha, arrumada, nova. E, depois disso, eu quero ter a chance de, num processo eleitoral aberto, sem tapetão, sem uso de ardis como esse, poder enfrentar o debate, poder dizer às pessoas o que o meu governo fez e o mal que Roriz fez a Brasília, principalmente nos dois últimos governos, quando deixou os grileiros invadirem toda a cidade, quando desorganizou a vida da cidade, quando implantou métodos de ação política ruins, alguns dos quais reconheço hoje (que) herdei.

O senhor tinha intenção de, num segundo mandato, ficar mais livre para mudar o governo?

Diria que sim. Aprendi muito. Eu sou uma pessoa um pouco ingênua às vezes, eu confio nas pessoas. Diria que (com) esses anos e esses tropeços preciso ser mais cuidadoso. Há modificações que precisam ser feitas e não vou esperar para fazer lá na frente, não. Vou fazer agora.

Muita gente conta que o senhor foi avisado de que o Durval seria uma pessoa capaz de tudo, e mesmo assim o senhor manteve uma conversa cordial.

Toda vez que me vinham esses boatos, essas notícias ruins, meu jeito de ser é o seguinte: se me falarem que você está falando mal de mim, eu te pergunto: É verdade? Todas vezes que me diziam essas coisas, eu conversava com ele e todas as vezes. Na penúltima conversa, ele me disse: 'vou com você até o final'. Quer dizer, eu acreditei. No momento em que o tirei da Codeplan e do controle pela informática, ele teria compreendido que se teve no governo passado ações dessa área não era para ter mais.

Como o senhor viu a declaração do presidente Lula sobre o episódio?

Ele é ser humano. Não à toa que eu gosto dele. É um homem de bem. Enquanto grandes companheiros meus calaram-se, ele diz que é preciso contextualizar porque o sujeito vê a imagem e diz que foi ontem. Pela minha avaliação, grande parte, não vou dizer todas, mas grande parte das imagens foram feitas no período do governo anterior. E aí é preciso fazer a pergunta: se foram feitas no período do governo anterior, e se o próprio denunciante disse que era um governo escuso, há que se investigar o que acontecia no governo anterior que dava tanto dinheiro?

Aqueles papéis e documentos referentes a gastos de campanha que estão no inquérito são verdadeiros?

Não tenho como olhar cada um desses detalhes, até porque na campanha eu não cuidava disso e nem depois. O que posso dizer é que tudo o que foi feito na campanha teve uma prestação de contas que depois foi aprovada no Tribunal Regional Eleitoral. Se ele (Durval) de modo próprio fez mais alguma coisa para me ajudar, eu até admito. Em instante nenhum estou dizendo que ele não ajudou. Ele ajudou e deu ajudas importantes.

O senhor tinha uma dívida de gratidão com ele?

Não é dívida de gratidão. Era reconhecimento. Por que não? Apesar de algumas pessoas terem dito: 'afaste o cidadão', eu disse que ele ajudou na campanha e não estava mais na área em que estava respondendo processo. E isso é uma coisa importante: os 32 processos que ele responde no Tribunal são por atos praticados no governo anterior. Não há nenhum processo do meu governo. Tem uma coisa também que me deixa muito intrigado. Agora em novembro, portanto, 60 dias depois, foi feita a ação. A renúncia do ex-governador Roriz já faz mais de dois e a bezerra de ouro, parece que eram R$ 2,3 milhões, era milhões de vezes maior do que estamos falando, pelo menos do que apareceu no vídeo e não virou processo.

O que o senhor quer dizer? O Ministério Público não agiu no caso de Roriz?

Não estou dizendo isso. Mas parece que as coisas para me prejudicar estão andando muito rápidas e no caso do Roriz, no mínimo muito lentas.

Governador, o senhor não acha que esse episódio poderá ser usado na campanha presidencial, no contraponto do "mensalão do DEM" contra o "mensalão do PT"?

Não sou o Sherlock Holmes. Mas não tenho nenhum indicativo disso. Tenho com o presidente Lula ou com o PT um bom relacionamento. E no plano local confesso a vocês não considero o PT meu adversário. Acho que o pensamento do PT de Brasília não é muito distante do meu. A minha discordância em relação a Roriz é no seu modelo de governar, sua opção que desorganiza a cidade. Aliás, pessoalmente, também nada contra. Todos os indícios que estão colocados hoje no caso presente são de uma armação preparada, engendrada com apoio direto de pessoas muito próximas ao ex-governador e inclusive com as declarações dele próprio em vários veículos de imprensa. Na véspera da operação policial, ele estava antecipando a operação. Como ele sabia?

Esse escândalo atrapalha o seu partido?

Acho que sim. Esse escândalo atrapalha o meu partido, me atrapalha, é grave. O meu partido tem sido muito elegante comigo, foi à minha casa, abriu processo disciplinar porque tem que ser aberto, os fatos são graves. Mas se o meu partido permitir que nos trâmites processuais eu apresente todas as informações e se possa também ter a avaliação do que fará o Ministério Público e qual será a posição do Judiciário, eu tenho a impressão de que isso pode ser revertido.

O senhor precisa de tempo, então?

É claro. Quando vem a tempestade, quando vem a batida de carro e vem aquela poeira enorme, ninguém sabe quem é o culpado. Todo mundo quer saber o que aconteceu. Posso dizer hoje que sofri um grave acidente de carro, mas não morri. Estou mais vivo do que nunca, porque o meu objetivo é concluir o meu trabalho em Brasília com dignidade, concluir todas as obras, entregar tudo o que eu prometi. Agora, se tem gente que tem medo de me enfrentar nas urnas e prepara esses ardis, essas ciladas, no sentido de confundir a opinião pública e tentar mostrar que todo mundo é farinha do mesmo saco, aí o que eu desejo é que tenha coragem de me enfrentar.

As pessoas falam que será uma campanha sangrenta...

Acho que a campanha já começou. Este foi o primeiro e mais forte ato da campanha porque é um ato que eles desejariam de cara me eliminar do jogo. O Roriz sabe que para ele voltar ele precisa me tirar de campo. Ele tem pesquisa. Eu não jogo esse tipo de jogo. Agora, sinceramente, estou muito desiludido com a hipocrisia da política, os oportunistas, o amigo de ontem que vira o predador de hoje, uma coisa grotesca.

O senhor é um exemplo de político que chegou no fundo do poço e deu a volta por cima, cresceu e virou um governador com alta popularidade. O senhor acha que esse momento é pior do que o da renúncia no Senado?

Não. Acho que Deus está me testando de novo. Mas no primeiro eu não estava bem como vocês estão me vendo hoje. No primeiro episódio, eu tinha mentido, estava errado, eu não tava bem. Hoje, não. Estou muito triste e me emociono, principalmente quando pessoas queridas, como minha mãe em Itajubá, vendo a TV sem entender. Eu sofro pelas pessoas que me amam e que estão sofrendo comigo. Mas estou forte porque sei que estou do lado do bem. Se eu tivesse feito o jogo dos bandidos, os bandidos estariam do meu lado. Não estariam me atacando. Eu não tenho nenhum processo, quem me acusa responde a 32 processos.

Fala-se que há ainda muitas fitas. O senhor teme algo?

Este período ruim está só começando. Se essa pessoa gravava diálogos, manipulava fitas, editava imagens, obviamente nós teremos muitos dias de revelações, pelo menos para confundir a opinião pública. Estou psicologicamente e espiritualmente bem preparado para enfrentar este período e principalmente reunindo forças para enfrentar o momento seguinte, porque acabou a colisão dos carros, quando a poeira baixar, aqui que a gente vai ver quem é culpado, quem estava na contramão. Este momento vai chegar.

O senhor disse que precisa desse apoio e algumas pessoas falaram que o senhor cobrou uma postura do partido.

Não é verdade. A minha reunião com o DEM foi extremamente elegante, calma, tranquila, onde todas as pessoas colocaram as suas posições.

O senhor terá o apoio do DEM?

Eu tenho uma dívida de gratidão muito forte com o DEM. No momento, em que os líderes do partido acharem que estou incomodando, não tenho nenhum problema em sair e concluir o meu mandato. Problema é que sai no jornal a posição de um ou outro parlamentar que tem a posição mais radical. Eu falei com mais de 50 parlamentares do DEM e recolhi deles posições de carinho, de solidariedade, de confiança.

Que avaliação o senhor faz dos seus aliados que aparecem no vídeo recebendo dinheiro?

Parece-me que referem-se ao governo anterior e obviamente quem tem de responder é quem era responsável pelo governo anterior.

É verdade que o senhor disse que seria capaz de se matar ou matá-lo, caso Durval decidisse divulgar o vídeo? A informação consta de depoimento dele no inquérito.

De jeito nenhum. Eu acredito em Deus e quem dispõe da nossa vida é Deus. Agora, estou muito desconfiado. São muitas versões, boatos e com as manipulações dessas fitas. Me parece que só há uma que foi feita com autorização judicial e mesmo essa teria defeito nos aparelhos. E as outras que ele fez de forma clandestina e edita como quer?

O senhor pensou em renunciar?

Nem pensar. Quando a gente está com a consciência tranquila, não há motivo para isso. No episódio do painel, eu estava errado. Nesse, é diferente. Estou fazendo um bom governo. Acho que muita gente deve estar pensando: puxa vida, como é que foi acontecer uma coisa como essa com esse cara que está fazendo um bom governo? A essas pessoas, o que posso pedir é muita calma no julgamento. Vamos esperar baixar a poeira, para saber qual dos carros estava na contramão. Vamos esperar um pouquinho para ver quem é bandido e quem é mocinho.

O senhor tem disposição de reagir?

Olha, tenho muita fé em Deus. Não tenho mais grandes ambições na vida, não. Acho que a política brasileira do jeito que está indo, esse tipo de jogo baixo... O sujeito tem fama de ladrão e aí o que ele faz? Ele tenta fazer o outro também ter fama de ladrão porque fica tudo igual. Ele quer que todo mundo se iguale a ele. Esse jogo sujo da política brasileira me enoja. Mas eu tenho uma missão e eu quero terminá-la. Queria, aliás, agradecer todas as mensagens de otimismo e todos que estão do meu lado, que a gente sabe quem são os amigos da gente do momento de dificuldade. Principalmente a Flávia, minha mulher. Queria fazer um agradecimento especial a ela, que tem cuidado de mim, me dado banho, ajudado a dormir, a reagir e me dar coragem. Não foi à toa que ela apareceu na minha vida. Ela é uma super mulher, a minha alma.

Roriz soube da operação da PF com antecedência

Uma série de eventos ocorridos nos últimos dois meses criaram a convicção no grupo de JOSÉ ROBERTO ARRUDA de que o ex-governador Joaquim Roriz sabia da investigação da Polícia Federal (PF) que culminou com a Operação Caixa de Pandora. Aliados de Roriz vinham criando um clima no meio político de que em breve denúncias graves relacionadas ao governo atual viriam à tona. Também se falava bastante nos bastidores que as fitas gravadas por Durval Barbosa estavam circulando e sendo exibidas a diversas pessoas em salas fechadas.

A convicção começou a se formar a partir dos movimentos de Roriz. Há dois meses, o ex-governador deu uma entrevista na qual apontou que Arruda não seria candidato à reeleição. Ele chegou a declarar que sabia o motivo, mas não poderia revelar. Pessoas próximas do ex-governador relatam que seus aliados mais próximos ofereceriam uma sessão das fitas comprometedoras com bastante desenvoltura. E garantiam que em breve o material viria a público. O próprio Roriz afirmou que em breve mudaria a história política da cidade.

Um dia antes da ação da Polícia Federal, Roriz disse a um grupo de interlocutores, num jantar na casa do Pastor Ricardo Espíndola, que a política do Distrito Federal sofreria em breve um forte abalo e um revés. Ele não deu detalhes, mas estava confiante sobre as chances reais de ver seu adversário político abatido por acusações graves que seriam apresentadas publicamente.

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