quarta-feira, novembro 11, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Lula administra empurra-empurra

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/11/09


Vendaval, raios e árvores caindo no Paraná, pane na linha de transmissão de Furnas, queda automática de 100% do sistema de Itaipu. E boa parte do país, principalmente o nevrálgico Sudeste, fica às escuras durante horas, a partir das 22h13. Nem o Paraguai escapa.
Nada como um episódio assim, seja ele uma fatalidade, uma fragilidade do sistema ou até uma improvável sabotagem, para nos lembrar a todos o quanto a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está longe. Um ano é prazo suficiente para muita coisa. E qualquer coisa pode se refletir no desfecho de uma eleição assim. Precedentes há aos montes.
Foi certamente pela gravidade da situação, mas também pelos riscos políticos, que Lula entrou pessoalmente na operação de coleta de informações ontem, ligando diretamente para o presidente da Itaipu Binacional, Jorge Samek.
Lula queria saber tudo, como foi, onde foi, o que foi atingido, quando seria restabelecida a normalidade. Enquanto isso, as TVs transmitiam ao vivo as imagens de São Paulo, o centro político e econômico do país, completamente parado, com filas quilométricas de faróis brilhando na escuridão. No Rio, o pavor de sempre: o de assaltos.
O primeiro lugar a restabelecer a energia foi o Paraguai, animando o pessoal de Itaipu. A volta da energia e o entusiasmo, porém, não repetiram o efeito cascata da queda. Cair o sistema foi fácil. Recuperar a normalidade, não tanto. E ninguém entendia exatamente por que a operação de reserva, inclusive com as termelétricas, não funcionou.
Começou, então, o inevitável: o empurra-empurra. Na primeira versão, Furnas jogava a culpa para Itaipu. Logo, Itaipu passou a dizer, especialmente para o presidente, que a crise não era de geração; era de transmissão. Ou seja: era de Furnas. E o governo de São Paulo, claro, tratou de se isentar de responsabilidade, mas dizendo que fazia tudo o que "estava a seu alcance".
Apagões não são novidade, mas o que começou ontem foi o mais grave e justamente na área de origem e de domínio da ministra Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, atual chefe da Casa Civil e virtual candidata do PT à Presidência.
Na expressão de Itaipu, as turbinas "rodavam no vazio", sem ter onde entregar energia. Mas, em Brasília, certamente Lula, Dilma e a turma da política e do marketing já atuavam a cheio, a mil. Afinal, alguém vai ter que levar a culpa.

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