domingo, novembro 22, 2009

CLÓVIS ROSSI

Irã teste maturidade de Lula

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


SÃO PAULO - O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad chega ao Brasil, amanhã, no momento mais oportuno para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstre que atingiu a maturidade no jogo internacional.
Oportuno pelo seguinte: a grande questão global que envolve o Irã é o seu programa nuclear. No dia 1º de outubro, técnicos iranianos aceitaram proposta do G6 que em princípio acomodava a questão: o Irã enviaria seu urânio para enriquecimento na Rússia e na França e o receberia de volta enriquecido na porcentagem necessária para uso medicinal, como o governo do Irã diz ser o seu objetivo.
Ficaria, em princípio, afastada ou, no mínimo, postergada a possibilidade de obter urânio no grau de enriquecimento para a bomba.
Acontece que os técnicos foram desautorizados pelas autoridades políticas, que estão enrolando uma resposta ao G6 desde então. Na sexta-feira, os peritos do G6 expuseram publicamente sua "decepção" com a enrolação iraniana.
A diplomacia brasileira não precisa ficar com medo de alinhar-se, no caso, com o G6. Ele é composto por dois dos três parceiros brasileiros no BRIC (Rússia e China, faltando só a Índia, portanto) e por dois países (EUA e França) com cujos presidentes Lula já definiu as chamadas "relações estratégicas".
Completam o grupo o Reino Unido e a Alemanha, com cuja chanceler, Angela Merkel, Lula se reúne no dia 3. Acresce notar que a China defende em relação ao Irã o mesmo que o Brasil: dialogar em vez de punir. E reiterou tal posição diante de Barack Obama, na sua recente visita ao país, o que prova, se necessário fosse, que anfitrião pode, sim, discordar do hóspede em público.
Aliás, neste caso, é obrigatório criticar a negação do Holocausto que Ahmadinejad faz, uma e outra vez. Não se trata de questão diplomática, mas do limite entre civilização e barbárie.

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