domingo, outubro 18, 2009

VINÍCIUS TORRES FREIRE

O grande leilão de vento

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/10/09


Energia eólica deixa de ser exotismo e entra no mercado, com o 1º leilão de eletricidade de vento, no final do ano

VENTO CERTIFICADO e aerogeradores são expressões ainda tão exóticas como a ideia de carros elétricos comerciais. Os carros recarregados em tomadas, porém, estão menos próximos do que a energia eólica no Brasil (hoje apenas 0,4% da matriz energética do país).
Em novembro ou dezembro próximos deve ocorrer o primeiro leilão competitivo de eletricidade produzida pela ação dos ventos sobre pás de aerogeradores, as pás de moinho modernas.
Para o leilão foram apresentados 441 projetos de cerca de uma centena de empreendedores, parques capazes de gerar mais de 13 mil MW, o equivalente a uma Itaipu -a maior hidrelétrica brasileira. A eletricidade dos ventos entra nos fios a partir de julho de 2012, mas não serão nem de longe 13 mil MW. Além do mais, até agora, o MWh da energia eólica custa R$ 250, o dobro da eletricidade de hidrelétricas vendida em leilões como o do ano passado (é a tarifa do Proinfa, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia). Gente do setor acredita que o governo pode contratar cerca de mil MW (o que triplicaria o parque eólico no país). A China está fazendo 15 vezes mais. O governo não adianta quanto deve contratar.
Maurício Tolmasquin, presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética, acredita que os MWh podem ficar abaixo de R$ 200, dada a concorrência (nas térmicas, o preço tem ficado em torno de R$ 150). O custo extra é pago por todos os consumidores. De resto, há incentivos fiscais, entre outros. Por que então ventos?
Tolmasquin avalia que a energia eólica não é nem a solução para o abastecimento brasileiro, visão de muitos "verdes", nem mais o exotismo ineficiente criticado por puristas de mercado e conservadores. Diz que ainda é uma fonte de energia cara, de produção por demais inconstante, além de demandar investimentos pesados em transmissão, dados os locais distantes onde pode ser produzida. As regiões de maior potencial no Brasil são o litoral que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, a costa gaúcha, oeste de Paraná e Santa Catarina, norte de Minas Gerais e interior da Bahia. Cerca de 72% da potência dos empreendimentos cadastrados para o leilão está no Nordeste (36% do total no Rio Grande do Norte e 21% no Ceará).
Mas o custo da energia eólica fica relativamente menor quando se leva em conta a complementaridade com as hidrelétricas. No Nordeste, venta mais nas estações secas, quando se gasta a eletricidade armazenada na forma de água dos reservatórios, e o custo da eletricidade sobe no mercado livre. Além de o vento economizar água, pode poupar o país de ligar as térmicas poluidoras.
O custo da energia eólica depende da despesa em equipamentos. Tende a cair com o aumento da escala de produção. O incentivo à energia eólica é também uma espécie de programa de política industrial para um setor que vai crescer muito. Apesar de importar componentes, a indústria brasileira monta todos os equipamentos (e até exporta pás de aerogeradores). Tolmasquin observa também que o custo pode cair devido a melhorias tecnológicas. Aerogeradores mais altos podem ser mais eficientes -e eles estão crescendo.

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