sexta-feira, outubro 16, 2009

CELSO MING

Agressividade no câmbio

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/10/09

Ontem a cotação do dólar resvalou para abaixo de R$ 1,70 e agora deve escorregar em direção a R$ 1,60. Aflitos com o tombo inexorável, empresários e economistas pedem uma nova política cambial, como se fosse uma operação simples, algo como tirar o paletó e vestir uma jaqueta.

Querem, por exemplo, que o Banco Central (BC) assuma uma atitude mais agressiva na compra de moeda estrangeira para sustentar determinado piso nas cotações, digamos de R$ 2.

Há nessa pressão pelo menos uma posição correta: a de que o objetivo é conseguir uma maior demanda de moeda estrangeira. E compras agressivas do BC iriam nessa direção.

O problema começa quando se tenta definir o que seja essa atitude "mais agressiva". Até agora, toda política de intervenção foi realizada com esterilização de reais. Ou seja, cada compra de dólares no câmbio interno é casada com venda de títulos públicos com o objetivo de retirar do mercado os reais injetados nas operações de compra. Com isso, o BC evita que mais reais no mercado produzam inflação. Não é verdade que a operação aumente o endividamento porque cada R$ 1 mil em títulos públicos empurrados para o mercado correspondem a R$ 1 mil em créditos em moeda estrangeira incorporados às reservas.

O problema está em que a esterilização monetária restabelece a relação anterior de oferta e procura entre o real e o dólar, e a tendência do câmbio se perpetua. Se é mesmo para inverter a tendência, então seria preciso que a procura de dólares aumentasse bem mais. Daí porque, ao reivindicar "maior agressividade", esses analistas querem, no fundo, que não haja enxugamento de reais por meio da colocação de títulos públicos.

O problema é que, ao sustentar determinado piso nas cotações do dólar sem retirar os reais despejados por ocasião das compras, o BC estaria subvertendo sua política monetária (política de juros). Ela deixaria de ser usada para ancorar os preços (controlar a inflação) e passaria a ser usada para ancorar o câmbio.

Em outras palavras, além de destruir o câmbio flutuante (porque a cotação do dólar seria o piso agora perseguido pelo BC), a mudança unilateral da política cambial destruiria outro pilar da atual política econômica, que é o sistema de metas de inflação.

Em termos práticos, a tal agressividade do BC na formação de reservas deixaria a inflação ao deus-dará - que é o que hoje acontece na Argentina.

Alguns economistas ainda retrucam: essa operação teria de vir acompanhada de rigoroso controle das despesas públicas e de aumento do superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida), de maneira que o governo não precisasse emitir moeda e, portanto, não fosse criada inflação.

Mas, se é por aí, então por que não levar às últimas consequências a proposta de rigoroso controle orçamentário de forma que a carga tributária e os juros na ponta do crédito pudessem ser reduzidos e, nessas condições, permitissem a queda do custo Brasil? Se isso acontecesse, o setor produtivo teria melhores condições de garantir competitividade sem que a valorização do real fosse obstáculo insuperável para o aumento das exportações e o aumento das vendas no mercado interno.

CONFIRA

Um a um, os grandes bancos americanos estão apresentando lucros acima do esperado. E, no entanto, há apenas um ano estavam quase todos praticamente quebrados.

Qual foi o milagre? Em alguma proporção, foi o socorro oficial que impediu o afundamento. Em outra, foram os aumentos de capital que lhes deram condições de sustentar empréstimos de qualidade duvidosa.

Mas a maior parte daquilo que há meses foi chamado de ativos podres continua lá, nos balanços dos bancos, ou até mesmo fora deles, contabilizado por um valor arbitrado pelos próprios bancos.

Nenhum comentário: