segunda-feira, setembro 28, 2009

GEORGE VIDOR

Quem ganha mais?


O Globo - 28/09/2009


O Tesouro Nacional detém a maioria das ações com direito a voto na companhia, mas só possui, direta e indiretamente (via BNDESPar), cerca de 40% do capital total da Petrobras. Como os demais 60% estão nas mãos de investidores, muitos dos quais estrangeiros, qualquer benefício ou privilégio concedido à empresa, no caso do pré-sal, irá também favorecê-los.

No aumento de capital da Petrobras previsto para o no ano que vem, o Tesouro integralizará sua parte com reservas de petróleo a serem identificadas em áreas contíguas às descobertas já feitas no pré-sal. O mais provável é que apenas os investidores estrangeiros tenham cacife para acompanhar a União integralmente nessa subscrição, ampliando sua participação no capital total da Petrobras.

As considerações são de Luiz Carlos Mendonça de Barros, que, como presidente do BNDES e ministro das Comunicações conduziu várias privatizações no governo Fernando Henrique.

O aporte que os acionistas estrangeiros farão para acompanhar a União no aumento de capital da Petrobras pode corresponder, em um só dia, à média de entrada de investimentos externos no país no período de um ano (aproximadamente US$35 bilhões).

Para que o país não sofra antecipadamente de "doença holandesa" (valorização excessiva da moeda nacional por conta de receitas provenientes do setor de petróleo), essa operação financeira terá de ser avaliada com muito cuidado.

Quando falta algum profissional qualificado para ocupar determinado cargo ou prestar um serviço específico nos grandes projetos em andamento no complexo industrial de Suape (Pernambuco), os executivos na região usam muitas vezes a expressão "pega lá embaixo". Isso significa buscar esse profissional no Rio ou São Paulo.

O descompasso econômico entre as regiões no Brasil acabou gerando esse distanciamento, maior que o geográfico. Mas essa situação deve se modificar dentro de poucos anos, e no caso de Pernambuco a alavanca, sem dúvida, será o complexo industrial portuário de Suape.

A conjugação de uma nova refinaria com duas fábricas petroquímicas, um estaleiro de última geração e terminais portuários bem equipados podem servir de base para o surgimento de um pólo de montagem de equipamentos para a indústria de petróleo e gás tal qual os existentes em Cingapura ou na Índia.

Buscar o profissional "lá embaixo" deixará de ser necessário porque serão formados centenas de soldadores e operários especializados nos segmentos de caldeiraria e usinagem durante a construção da Refiaria Abreu e Lima (que no pico da obra chegará a empregar 22 mil pessoas).

A Abreu e Lima será a primeira refinaria brasileira a processar somente petróleo pesado e terá uma característica: não produzirá gasolina.

Com capacidade para processar 230 mil barris diários de óleo com 16 graus API (semelhante ao proveniente de Marlim, na Bacia de Campos), a refinaria produzirá essencialmente diesel (70%), coque (18%) e GLP (gás de cozinha). O diesel será tão claro, com 5 ppm (medida do material particulado emitido na atmosfera quando o combustível é "queimado"), que a refinaria terá de pegar óleo de outras "lá embaixo" para misturar ao seu, e fornecer ao mercado um produto com 50 ppm.

Na próxima década, o Brasil adotará o padrão europeu de 10 ppm, mas antes disso será preciso preparar a frota de veículos movida a diesel. Por enquanto, a maior parte do país ainda consome diesel acima de 500 ppm.

Quando estiver em operação, provavelmente em 2011, a nova refinaria tornará o Brasil autossuficiente em óleo diesel e gás de cozinha. O coque poderá ser usado em usinas termoelétricas ou em fornos de indústrias de cerâmica.

O município de Rio das Ostras urbanizou a sua orla, o que muitas vezes é apontado como desperdício dos royalties do petróleo. Embora seja uma questão discutível, Rio das Ostras aparecerá também em breve como um dos raros municípios brasileiros com 100% do esgoto urbano coletado e tratado.

Em 2007, os serviços de saneamento básico só atendiam a 15% da população. O município fez uma parceria público-privada (PPP) com o grupo Odebrecht e a primeira fase da obra já ampliou para 40% dos moradores tais serviços (com 66 quilômetros de rede de esgoto e 10 mil ligações).

A estação de tratamento tem capacidade para 570 litros de esgotos por segundo. Está dimensionada para atender a 250 mil pessoas (a atual população do município está em 120 mil).

O investimento é de R$316 milhões, dos quais 70% financiados pelo BNDES. Por 15 anos, a prefeitura local pagará mensalmente por esses serviços, que estão garantidos pelos royalties do petróleo.

A euforia com o pré-sal tem muito a ver com os resultados preliminares de poços perfurados nos blocos já concedidos. Na área batizada como Guará, a simulação feita a partir do teste em um único poço deu uma vazão equivalente a 50 mil barris/dia. Isso terá de ser confirmado em testes de longa duração. É uma vazão por poço só encontrada hoje na Arábia Saudita.

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