terça-feira, agosto 18, 2009

PAINEL DA FOLHA

Lina e o calendário

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/08/09

Em seu depoimento de hoje à CCJ do Senado, a ex-secretária da Receita Federal Lina Mara Vieira deve se concentrar em precisar a data ou pelo menos o intervalo de tempo no qual ocorreram os encontros que afirma ter mantido com Erenice Guerra e, depois, com Dilma Rousseff, que teria lhe pedido para apressar investigação sobre empresas da família Sarney.
A oposição espera que ela forneça as datas de cada uma das reuniões, para que possam ser confrontadas com os registros de entrada de visitantes no Palácio do Planalto. Já os governistas tentarão desconstruir a credibilidade de Lina, caracterizando-a ora como incompetente, ora como vingativa ou desequilibrada.

Acompanhada - Lina chegou ontem pela manhã a Brasília. Viajou com o marido.

Chutando o balde - Vice-presidente da CCJ, Wellington Salgado (PMDB-MG) chama Lina de ‘Protógenes da Receita’: ‘Daqui a pouco ela é candidata’, afirma o cabeludo senador, que não irá ao depoimento. ‘Para tratar de diz-que-diz, é melhor chupar uma manga no quintal com com minha mãe e minha tia, que eu me divirto mais.’

Maioria... - José Sarney (PMDB-AP) e aliados, aí incluído o Palácio do Planalto, passaram semanas a repetir que a crise no Senado ‘não chega ao povão’. O novo Datafolha, porém, mostra que os escândalos são conhecidos por 68% na faixa que recebe até dois salários mínimos.

...absoluta - Nesse mesmo segmento, 67% defendem o afastamento temporário ou definitivo de Sarney da presidência do Senado.

Tal e qual - Como Sarney, que ontem discursou contra a ‘prática nazista’ da qual seria vítima, o então presidente do Senado Renan Calheiros dizia, em setembro de 2007: ‘Jornalismo como este é nazismo. Mentiras para sustentar campanha persecutória’.

Resta um - Senadores que ouviram o desabafo de Sarney ontem no plenário sentiram falta de alguma explicação sobre por que sua família usa o terceiro apartamento no prédio da alameda Franca, sobre o qual ele nada declarou.

Nem um pio - Também foi notado que, em sua nova explicação, Sarney não disse palavra sobre o fato de o ex-diretor de Recursos Humanos Ralph Siqueira ter afirmado que o presidente sabia da existência dos atos secretos.

Barriga cheia - Petistas que defendem a opção Ciro Gomes (PSB) para vice na chapa de Dilma Rousseff argumentam que, depois do apoio dado por Lula ao encrencado Sarney, o PMDB teria de se dar por satisfeito e não reclamar essa vaga.

Pilha - Opinião quase consensual sobre o Datafolha: se a pesquisa nacional animou Ciro, o levantamento sobre a sucessão paulista fez o mesmo por Marta Suplicy (PT).

Domicílio - Ainda que venha a disputar a Presidência, e não o Palácio dos Bandeirantes, Ciro está inclinado a transferir seu título de eleitor do Ceará para São Paulo.

Tour - A Vale levará Ana Júlia (PT) ao Rio de Janeiro para conhecer a CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico). Quer mostrar à governadora as etapas e a complexidade da obra. Ela reivindica uma siderúrgica da empresa no Pará.

Empurra - Advogados de Yeda Crusius (PSDB) tentam a todo custo alterar a ordem dos depoimentos das testemunhas à Justiça no processo criminal da Operação Rodin. O objetivo é impedir que a governadora fale amanhã em Porto Alegre. Syua defesa teme conflito de versões quando começarem as oitivas da nova CPI na Assembleia.

Emergente - O PTB de Gim Argelo chegará a oito senadores. O ‘demo’ Jayme Campos (MT), que sempre flertou com a base aliada, vai se licenciar e dar lugar ao segundo suplente, o neopetebista Osvaldo Sobrinho. Argelo planeja filiar ainda outros dois senadores. O assédio inclui o PMDB, planeta em torno do qual o PTB orbita no Senado.

Tiroteio

Se o presidente quer mesmo chegar à verdade do episódio, poderia começar cedendo as fitas de vídeo da segurança do Palácio do Planalto.
Do senador JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN), sobre o desafio feito por Lula a Lina Vieira; segundo ele, a ex-secretária da Receita tem de mostrar sua agenda para provar que se encontrou com Dilma Rousseff.

Contraponto

Ninguém me quer

No dia da famosa sessão em que Renan Calheiros subiu à tribuna e abriu fogo contra os adversários, monopolizando as atenções no Senado, Romero Jucá apareceu desanimado no cafezinho anexo ao plenário, depois de apresentar em PowerPoint seu plano de trabalho como relator da CPI da Petrobras.
- A que ponto chegamos! - desabafou, enquanto perguntava pelos sabores disponíveis de suco.
- Acerola, maracujá.. - foi recitando o garçom.
- Maracujá, é esse mesmo que eu quero! E pensar que eu caprichei tanto naquele PowerPoint.

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