domingo, agosto 09, 2009

PAINEL DA FOLHA

A campanha sou eu

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/08/09

Lula tem dado todos os sinais de que pretende exercer controle absoluto sobre a campanha de Dilma Rousseff, estendendo sua influência, em caso de vitória, à transição e pelo menos ao início do governo.
Recentemente, o presidente rejeitou de forma categórica a sugestão de um auxiliar próximo para que a ministra se desincompatibilizasse antes da data-limite, ficando liberada para correr o país. Nada fará mais por Dilma, disse Lula, do que ser gerente do PAC.
Ele foi ainda mais curto e grosso com um expoente do PT paulista que lhe apresentou uma série de sugestões. "Cuidem da campanha em São Paulo, que lá vocês não têm nem candidato", cortou Lula com um tapinha nas costas. "Da campanha da Dilma cuido eu."




Inflamável. Cientes da disposição de Lula, os envolvidos na candidatura de Dilma (inclusive a própria) pisam em ovos. Ainda não esqueceram da confusão criada certa vez em que fizeram uma reunião palaciana para tratar de assuntos da campanha sem conhecimento prévio do chefe. Ele soube pela imprensa.

Confessionário. Alguém perguntou a um líder da base aliada na Câmara se ele votará em Dilma. Resposta: "Olhe, no silêncio da urna indevassável, nunca digitei o 13. E pretendo morrer sem digitar".

Lear... Um grão-petista leu a coluna de Marina Silva na Folha, segunda-feira passada, e logo entendeu que, ao versar sobre "Rei Lear", a senadora não se referia ao baleado José Sarney, cujo afastamento tem defendido, e sim a Lula.

...e Cordélia. Como a filha mais jovem do rei da tragédia de Shakespeare, Marina nutriu durante muitos anos verdadeira adoração por Lula, lembra o grão-petista. E saiu de seu governo profundamente decepcionada. Agora, ameaça deixar o PT e disputar a Presidência pelo PV.

Parque Jurássico. Entre os pontos relativos à exploração do petróleo do pré-sal ainda em debate no governo está o nome da estatal que cuidará do setor. Lula não gosta de Petrossal, como a empresa chegou a ser informalmente chamada no noticiário. Acha que lembra dinossauros.

Virou pó. Um antigo aliado constata: a truculência exibida pela tropa de choque de José Sarney (PMDB-AP) demoliu a imagem de "homem cordial" que o presidente do Senado durante décadas se empenhou em cultivar.

Workshop. Amanhã, o único compromisso na agenda de Sarney é receber Lee Sang-deuk, membro do Parlamento sul-coreano, tornado célebre pelas cenas de pancadaria.

Veterano. Ney Maranhão, que fazia parte da primeira tropa de choque assim intitulada, a collorida, e tem sido presença constante nas recentes confusões no Senado, foi agraciado com um cargo de assessor na Segunda Secretaria da Casa, ocupada por João Claudino (PTB-PB).

Tela quente 1. Com o aval do Planalto, a Câmara dos Deputados pretende acelerar a votação do projeto de lei 29, que obriga a exibição de cotas de produção nacional e independente na TV por assinatura e libera as operadoras de telefonia para atuar no mercado de TV paga.

Tela quente 2. Outro ponto polêmico do texto que irá a votação estabelece limite para a comercialização de conteúdo audiovisual na internet. O projeto está nas mãos de Vital do Rego Filho (PMDB-PB), na Comissão de Defesa do Consumidor.

Escanteio. Renato Casagrande (PSB) tem reclamado dos métodos do governador Paulo Hartung (PMDB) para isolá-lo na sucessão no Espírito Santo. Hartung lançou o vice, Ricardo Ferraço, e passou a pressionar os prefeitos, inclusive do PSB, a abandonar a candidatura do senador.


com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio
Ela não quer voltar para o Senado. Aliás, tornou-se compreensível que uma pessoa não queira nem mesmo pisar no Senado.

Do deputado FERNANDO GABEIRA (PV-RJ), sobre a possibilidade de a senadora Marina Silva disputar a Presidência da República.

Contraponto

Quebra essa

Em 1984, vice na chapa presidencial de Tancredo Neves, José Sarney foi a um evento no teatro Santa Isabel, em Recife, coordenado pelo economista Clodoaldo Torres, que mais tarde presidiria a Assembleia pernambucana.
Exceto malufistas, políticos de todos os matizes lotavam o teatro. Tendo em mãos a lista de quem iria discursar, Clodoaldo foi confirmá-la com cada um dos oradores.
-Não vou falar- declinou polidamente Sarney, oriundo do PDS e recém-chegado ao PMDB de Tancredo.
Clodoaldo informou os organizadores do encontro. Como estes protestassem, ele voltou ao convidado ilustre. Sarney então apertou-lhe o braço e fez o apelo definitivo:
-Me tire dessa! Não vou falar porque serei vaiado...

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