domingo, agosto 09, 2009

FERNANDO CALAZANS

A nação inexplorada

O GLOBO - 09/08/09

Os dois clubes de maior torcida do Brasil jogam hoje no Maracanã. Dois fenômenos de popularidade, empatia e paixão. Flamengo e Corinthians. A propósito do primeiro, algo me impressionou no meio da semana.
Mesmo não sendo novidade a força rubro-negra nos outros estados, foi mesmo de assombrar o que a torcida do Flamengo fez em Goiânia, no Serra Dourada, contra o time do Goiás.
Sim, de assombrar. No segundo tempo, quando o Flamengo, mesmo sem jogar bem, empreendeu briosa reação e marcou dois gols, igualando o placar, o que se viu no estádio foi uma festa com as cores vermelha e preta, foi uma cantoria de sua torcida que simplesmente abafou a torcida rival, foi como se o jogo fosse no Maracanã.


Pois era em Goiânia. Se o Serra Dourada quase virou Maracanã, Goiânia quase virou o Rio de Janeiro. Só há uma entidade capaz de produzir essa transformação: o Clube de Regatas do Flamengo.
Pois exatamente esse prodígio, que poderia ser motivo de expansão, grandeza e poder do Flamengo, acaba por virar frustração em cabeças conscientes. A festa do Serra Dourada vira lamentação. Por quê?
Como é que um clube com esse potencial rigorosamente único no país, com essa força, esse raio de ação continental, como é que esse clube pode viver à míngua na sua sede do Rio?


Vamos convir: são necessárias muitas e muitas administrações incompetentes, algumas desastrosas, ao longo de sua história, para que um clube como o Flamengo se encolha tanto e em tudo: não tem estrutura profissional, não tem dinheiro, não tem poder de fogo nem de contratação, não tem sequer poder no futebol brasileiro e nas entidades do futebol brasileiro.


Ao contrário, tem uma montanha de dívidas, tem uma histórica desorganização interna, tem um cenário de brigas, tem um clima de guerra, em que as pessoas não se entendem e menos ainda as pessoas da situação e da
oposição.


Até hoje, um observador imparcial não saberia dizer o que é pior no Flamengo: situação ou oposição. O embate me faz recordar uma imagem que criei aqui sobre o duelo entre Obina e Souza, no mesmíssimo Flamengo, para ver quem era o melhor, quer dizer, para ver quem era o pior.
Quando Obina estava jogando, a gente jurava que o melhor era o Souza; quando estava jogando o Souza, a gente apostava que o melhor era o Obina.


Assim acontece também na política do clube: a gente sempre pensa que a oposição é melhor, até que ela vira situação. Aí não há nada pior do que ela. Nem uma nem outra tiveram competência para explorar a alma rubro-negra que abarca o país de Norte a Sul.
E, para fechar o quadro sombrio, não aparece na Gávea uma liderança diferente, uma coisa nova, um nome atraente, em que o clube possa apostar suas fichas. É o deserto.


O único cenário de alegria do Grande Flamengo campeão de terra e mar são as arquibancadas, sejam do Maracanã, sejam do Serra Dourada, sejam da Ilha do Retiro. E é só. Foi a isso que dirigentes dos dois lados reduziram o
clube.
Sem ser uma maravilha e sem igualar outros esquadrões que vi jogar, o Corinthians era o time que eu mais apreciava este ano. Era. Já não é mais.
Não fui eu que mudei o gosto ou a opinião. Foi o Corinthians que mudou o time, forçado pela ausência de jogadores que já se evadiram para o exterior, como está acontecendo e ainda vai acontecer com outros clubes.


Além disso, o Corinthians tem outros desfalques por suspensão e contusão. Aumentam as possibilidades do Flamengo de se afirmar no campeonato. Mas é um clássico, e clássico é clássico.

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