sábado, agosto 08, 2009

CLÓVIS ROSSI

Drogas e irrealismo

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/08/09

SÃO PAULO - É simpática, mas irrealista, a tese do presidente Lula de que os países sul-americanos devem assumir o combate ao narcotráfico sem "ingerências externas" (leia-se Estados Unidos). Seria ótimo, de fato, desde que cumpridas pelo menos as seguintes condições:
1 - Fosse possível confiar em Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, que já disse que Caracas tem "o maior respeito" pelo projeto político das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, grupo que transitou da luta política para o narcoterrorismo sem escalas).
Essa declaração não foi inventada pela "mídia golpista", mas feita em cerimônia pública. Nunca foi nem mesmo levemente retificada.
Mais: Chávez chamou a turma das Farc de "insurgentes", em vez de bandoleiros, que é a qualificação correta. Como é que se pode confiar em quem tem essa visão torpe, ainda mais sendo vizinho da Colômbia, base das Farc e maior produtor de drogas?
2 - Seria preciso ainda que se esclarecesse como é que dinheiro das Farc foi parar na campanha eleitoral de Rafael Correa, o que fica claro em vídeo difundido pelo próprio governo Correa, no qual um dos líderes do narcoterrorismo lamenta a inutilidade do financiamento.
Um ex-chefe de polícia equatoriano já disse que Gustavo Larrea, que viria a ser ministro do Interior de Correa, reuniu-se com as Farc. Larrea foi demitido, OK, mas é ou era o único canal?
3 - Nenhum dos países sul-americanos tem uma ficha propriamente brilhante em matéria de combate ao crime organizado, para o qual as drogas são o principal negócio. A soma de fracassos individuais resultará em êxito coletivo?
Por fim, é irrealista excluir do combate o país (Estados Unidos) que é o maior consumidor de drogas. Não dá, como é óbvio, para eliminar a oferta se a demanda se mantém poderosa.

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