domingo, agosto 16, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

Quarta-feira

JORNAL DO BRASIL - 16/08/09

A máquina caça-níquel Evilásio, aquele que não entende nada de futebol, apareceu lá em casa para uma partidinha de xadrez e me encontrou assistindo a Brasil x Estônia. Sentou-se no sofá, olhou para a telinha e, ignorando que a Seleção jogava, criticou-me por desperdiçar a tarde vendo uma pelada entre Profute e Aperibeense (não sei de onde ele tirou esses times).

Seu equivoco fazia o maior sentido. Nem o mais desinteressado torcedor imaginaria a poderosa seleção pentacampeã jogando em um estadiozinho menor do que o do Madureira (que nem estava cheio!). Evilásio justificou seu comentário pelas placas de publicidade que via ao redor do campo. Em jogos importantes, os anunciantes são sempre os mesmos – Nokia, Sony, Visa, grandes multinacionais que tornam todos os estádios parecidos.

No estadiozinho de Tallinn o que luzia eram anúncios brasileiros de colchão, relógios, cola-tudo, cursos de idiomas e Guaraviton. Intrigou-me uma placa que exibia apenas os nomes “Maria Cecília e Rodolfo” que não sei se anunciava uma sociedade ou um casal de namorados fazendo as pazes.

O comentarista do SporTV repetiu umas 50 vezes que os jogadores brasileiros estavam retornando das férias, sem considerar uma única vez que os botinudos estonianos também estavam postos em descanso.

Para mim, no entanto, jogar contra a Estônia ainda fazia parte das férias dos nossos atletas.

Não se pode considerar uma volta ao trabalho um jogo contra um país que perdeu de 7 a 0 da Bósnia-Herzegovina, ocupa a 112º colocação no ranking da FIFA e tem em seu time semiprofissional sapateiros, bombeiros e frentistas.

Tratou-se de um autêntico caça-níquel e ponho a me perguntar se a Seleção com todo seu prestigio internacional não estaria em condições de encontrar um adversário mais capacitado do que esta antiga república soviética? Contei 72 países no planeta que, de bom grado, pagariam à CBF o cachê de dois milhões de dólares por uma exibição da Seleção Brasileira.

Desconfio porém que, como o brasileiro deixa tudo para a última hora, não sobraram muitas escolhas para a CBF.

Parece que estou vendo o correcorre na entidade para agendar a partida do Brasil na data Fifa (12 de agosto).

– Como é? Já arranjou um adversário? – perguntou Teixeira.

– Estamos procurando, chefe.

Está difícil. Todas as grandes seleções já acertaram seus compromissos.

– Liga aí para a Federação do Azerbaijão que o presidente é meu amigo.

– O Azerbaijão joga nesse dia com a Alemanha pelas Eliminatórias da Copa. Estamos tentando um contato com a Federação de Bangladesh.

– O quê??? Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo. O que vamos fazer lá? – Eles ofereceram um milhão e meio para ver a Seleção.

– Nada mal. Se não aparecer nada melhor. Tenta Cingapura. Lá corre muito dinheiro.

– Acabamos de receber um e-mail da Estônia. Eles pagam dois milhões! – Então fecha! Fecha rápido! – Mas chefe na Estônia só tem perna de pau. Ninguém sabe jogar futebol.

– E quem está preocupado com futebol? Fecha logo esse contrato, pô!

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