quarta-feira, julho 22, 2009

CLÓVIS ROSSI


Cassino volta, sob velha direção

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/07/09

SÃO PAULO - Informa o "Financial Times" de ontem que os "hedge funds" tiveram enorme aumento em investimentos, no segundo trimestre do ano, dado que "os investidores correram para capitalizar o ressurgimento dessa indústria".
Na verdade, "hedge funds" não são propriamente uma indústria, mas um baita cassino em que investidores apostam em diferentes tipos de ativos, para se protegerem (fazer "hedge") de investimentos em outros ativos, em uma bola de neve que é considerada, unanimemente, uma das grandes culpadas pela crise.
Sempre de acordo com o "FT", mais de US$ 142,5 bilhões foram alocadas para tais fundos, nos três meses encerrados em junho, "um dos maiores fluxos de dinheiro de clientes até hoje".
Some-se a essa informação o lucro fabuloso de alguns dos bancos que o governo norte-americano teve que socorrer para evitar que quebrassem e tem-se a volta do cassino financeiro. Pior: sob a velha direção. Como se sabe, o governo pôs uma formidável pilha de dinheiro, mas não assumiu o controle dos negócios -ou seja, estatizou o risco e manteve os lucros privados.
Desse jeito, até eu daria certo como capitalista.
Bem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem insistido em que há o risco de que todo mundo ache que a crise se resolveu por si só e deixe tudo como está. Parece ser o que está ocorrendo: os projetos de aperto na regulação/supervisão do sistema financeiro foram até anunciados, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, mas não entraram em vigor.
O G20, que fez todas as recomendações devidas para corrigir a farra financeira, só volta a se reunir em setembro. Até lá, é bem capaz de aumentarem os sinais de que o pior da crise passou e, por extensão, cresça o coro do deixa-como-está, temido por Lula, no que seria a vitória definitiva do cassino.

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