quarta-feira, julho 22, 2009

CELSO MING

Não para de cair


O Estado de S. Paulo - 22/07/2009
Os analistas e empresários preocupados com a inexorável tendência da valorização do real (queda do dólar) devem olhar para o que está acontecendo na Argentina.

Lá, o governo prepara medidas destinadas a evitar a saída de dólares, à proporção de US$ 10 bilhões por semestre, se estiverem corretas as estimativas.

Ora, há anos, analistas e exportadores debatem as razões da valorização do real. Até recentemente, concentravam seu diagnóstico nas operações de arbitragem com juros. Diziam eles: os especuladores tomam dólares lá fora a juros mais baixos para reaplicar o dinheiro a juros mais altos no Brasil. Como isso implica trazer mais dólares, o resultado é a baixa da cotação do dólar em relação ao real, por simples reação de oferta e procura.

O problema é que esse jogo não aparece nas estatísticas. É irrelevante a entrada de dólares destinados às aplicações financeiras de curto prazo.

Aparentemente mais importante é a baixa saída de dólares como operação de reserva de valor de empresas e pessoas físicas. Há alguns anos, não havia quem não tivesse uma reserva em dólares, aqui ou no exterior. As cotações do câmbio negro eram divulgadas até nos noticiários nobres da TV. Quando a economia brasileira ficou mais confiável, esse jogo mudou. Agora, o exportador é o primeiro a desfazer-se das posições em moeda estrangeira e convertê-las em reais, não necessariamente para tirar melhor proveito dos juros, mas porque não vale mais a pena segurar dólares.

E aí vamos repisando que os juros altos não são a maior razão da forte entrada de dólares. Os juros caíram 10,5 pontos nos últimos quatro anos. Esse afrouxamento monetário deveria mexer com a cotação do câmbio e, no entanto, o dólar segue perdendo força diante do real. As verdadeiras razões estão na clara melhora dos fundamentos da economia.

Ainda assim, muitos economistas insistem em que a principal causa da valorização do real diante do dólar é a especulação com juros. Por isso, querem uma derrubada mais intensa dos juros e maior agressividade do Banco Central na compra de dólares.

É defensável a derrubada mais acentuada dos juros, mas, no sistema de metas de inflação, o critério não é a obtenção da desvalorização cambial, mas a convergência da inflação para a meta. Por outro lado, é improvável que a redução consistente dos juros provoque a reversão do câmbio. Ao contrário, disseminaria a percepção de que a economia brasileira está saudável e isso atrairia mais capital estrangeiro.

E exigir que o Banco Central compre ainda mais dólares seria criar uma demanda artificial de moeda estrangeira que, de quebra, poderia aumentar a percepção de solidez da economia e, portanto, atrair mais dólares. E convém anotar: nenhum banco central consegue reverter uma tendência firme do câmbio só com intervenções táticas (compra e venda) no mercado de moedas.

O pior efeito colateral da valorização do real é a perda de competitividade do produto industrializado brasileiro no mercado interno (para as importações) e no mercado externo. Até recentemente, o governo a compensava com mais câmbio (desvalorização do real). Hoje, esse artifício já não serve. A competitividade terá de vir da redução do custo Brasil, ou seja, da queda da carga tributária, das reformas e dos investimentos em infraestrutura.


Confira



Tem muito chão - O presidente do banco central americano (Fed), Ben Bernanke, avisou que as pressões inflacionárias são fracas e que levará muito tempo para que os juros básicos, hoje perto do zero, voltem a subir nos Estados Unidos.

Escalpo - Ontem, o Calpers, Sistema de Pensão dos Funcionários Públicos da Califórnia, maior fundo de pensão público dos Estados Unidos, revelou que em um ano a crise transformou em pó US$ 56 bilhões do seu patrimônio original de US$ 237 bilhões. Por aí pode-se ter uma boa ideia do estrago que a crise infligiu à indústria dos fundos de pensão nos Estados Unidos.

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