terça-feira, junho 09, 2009

COISAS DA POLÍTICA

Ciro Gomes não desistirá tão fácil

Tales Faria
Jornal do Brasil - 09/06/2009

Petistas como o deputado Cândido Vacarezza (SP) têm defendido a ideia de que o partido deve fazer tudo para facilitar a candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente da República. Vacarezza já iniciou até articulações, junto com os deputados Márcio França (PSB-SP) e Paulinho da Força Sindical (PDT-SP), para que o PT e o PDT ofereçam à direção nacional do PSB o apoio à candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) para governador de São Paulo, em troca de sua desistência da disputa pela Presidência. A coluna foi procurar o próprio Ciro para falar sobre o assunto.

– Em política, não dá para a gente dizer que uma coisa dessas é impossível. Mas posso afirmar que nunca cogitei. Meu interesse é concorrer à Presidência. E nunca tive numa situação tão favorável.

– Mas, deputado, o Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, diz que não é bem assim. Que o senhor começa a campanha com 11% e termina com 4%.

– Olha, o Montenegro não entende de pesquisas eleitorais. Ele nunca acerta nada. Quem segura o Ibope nessa área é a Márcia Cavallari (diretora executiva de atendimento e planejamento). Eu conquistei 11% dos votos quando concorri contra a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e contra o presidente Lula, em 1998. Repeti os 11% quando disputei com José Serra e Lula, em 2002. Por que cairia agora se as condições estão melhores?

– Estão melhores?

– Claro! Nunca tive um quadro tão favorável. A situação econômica joga a favor de um perfil como o meu. Estou mais velho e, portanto, mais experiente. Tenho um partido político razoavelmente forte. Na primeira disputa, eu estava no PPS, e o presidente do partido, Roberto Freire, trabalhou o tempo inteiro pelo José Serra. Na outra, a aliança PTB, PDT e PPS não ficou bem azeitada. Agora não, estou há anos numa legenda que tem quadros respeitáveis, inclusive três governadores. E eu mesmo consigo o apoio de pelo menos outros três governadores de outras legendas. Enfim, não sei de onde o Montenegro tirou que eu tendo a perder votos. A avaliação que temos é que a minha candidatura tende a crescer, consistentemente.

– Tem a história de que o senhor acaba falando impropérios no meio da campanha...

– É. Todo mundo tem seus defeitos. Eu não roubo, não sou corrupto, mas realmente às vezes falo demais, bato muito forte. Desta vez, no entanto, pretendo me controlar.

– O Montenegro acha que o senhor vai acabar desistindo. Que nem será candidato. Que talvez o presidente Lula peça ao PSB para retirar a sua candidatura.

– O comportamento do presidente Lula tem sido corretíssimo. Apoiar a Dilma? Ora, é a candidata do partido dele, é natural. Tudo, até agora, tem ocorrido dentro do previsto. Não creio que o presidente cometeria a indelicadeza de pedir ao PSB que eu retirasse a candidatura. Como meu amigo, ele poderia até vir conversar comigo sobre isto. E eu teria como mostrar que a situação corre a meu favor.

– Mas, com o Serra forte e com a Dilma crescendo nas pesquisas, ainda há espaço para o senhor?

– O Serra não está tão forte assim. Vem caindo seguidamente nas pesquisas. Não creio que ele vá despencar. Mas acabará ali pelos 34% das intenções de voto. Quanto à Dilma, cresceu rapidamente pelo apoio do presidente. Era o esperado. Ela vai até uns 25% e, daí para a frente, terá mais dificuldade. Ou seja, está mais do que claro que há necessidade de uma outra candidatura no campo próximo ao presidente Lula. Inclusive porque há muita gente que apoia o Lula, gosta do governo, mas não aceita o PT. Essa gente tende a votar em mim. Se eu sair, estarão empurrando parte desse eleitorado para a Heloísa Helena.

– E o governador de Minas Gerais, Aécio Neves?

– O meu amigo Aécio errou. Se ele tivesse saído do PSDB, seria um fortíssimo candidato a presidente da República. Mas ficou no partido, e o Serra já ocupou a área. O cavalo passou selado e o Aécio, infelizmente, não quis montar. Esteve com a vaga de presidente da República nas mãos e perdeu. Agora, talvez, possa sair candidato a vice. É o máximo que Serra e o PSDB lhe darão.

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