domingo, junho 28, 2009

CARLOS EDUARDO NOVAES

A final americana

JORNAL DO BRASIL - 28/06/09

Deus pode não ser brasileiro – como dizem por aí – mas com certeza nutre uma simpatia especial pelas Américas, do Sul e do Norte. Deixou para Brasil e Estados Unidos a decisão da Copa das Confederações.

Para isso teve que operar milagres nos jogos dos americanos contra o Egito e a Espanha e suar a camisa – ou a bata – para garantir a vitória brasileira – nos minutos finais – contra o Egito e a África do Sul. Quem você pensa que orientou Dunga na substituição salvadora contra os Bafanas? Ao ver o técnico comentar com Jorginho que iria mandar o Pato a campo, Deus cochichou no ouvido do treinador:

– Bota o que tem nome de profeta.

– Quem? – respondeu Dunga sem saber de onde vinha a voz.

– O xará de um dos filhos de Judá. Daniel!

– Mas, Senhor, o Maicon está bem na partida.

– Se vira, meu jovem. Arranja um lugar para ele porque aos 43 minutos vai haver uma falta próxima a área dos africanos...

– Não quero discutir, Senhor, mas tenho bons batedores em campo.

– Sim, mas só Daniel poderá levá-lo ao Juízo (da) Final. Vá!

O Brasil na final não chega a ser uma novidade. O mundo reconhece nossa superioridade e os adversários tremem diante da camisa amarela. Não há uma única seleção que entre em campo com naturalidade para enfrentar o Brasil. Elas se sentem como se estivessem diante de um fantasma, de um gigante, de um time dos deuses. Tal temor facilita a tarefa da Seleção mesmo quando joga mal, como contra a equipe de Joel. Mas será que o Brasil atuou mal ou os africanos foram melhores do que a encomenda, como diria minha avó?

No futebol é raríssimo vermos dois times atuando bem o tempo todo. Quando um fica aquém da expectativa é porque o outro foi além e vice-versa. No caso, os sul-africanos foram além depois de passado o temor inicial (a partir dos primeiros 20 minutos). Joel Santana foi o único dos quatro técnicos que Dunga enfrentou a ver a liberdade com que Maicon evoluía pelo gramado e tratou de fechar a válvula de escape. Os africanos marcaram com competência, jogaram para frente e se tivessem permanecido mais cinco minutos com Nelson Mandela talvez levassem o jogo para a prorrogação. Aí seria um Deus-nos-acuda (Ele acudiu antes) porque a Seleção já dava mostras de estar com o fôlego na reserva. A África do Sul vendeu caro a derrota, vendeu por um preço que quase não conseguimos pagar.

A surpresa da final é a presença dos Estados Unidos, que mudaram da água para o bourbon depois da derrota para o Brasil. Deixando de lado a interferência divina, ficamos sem saber se os americanos chegaram à decisão porque o nível atual do futebol anda muito baixo ou se eles – que aprendem rápido – conseguiram memorizar como se joga futebol nos 90 minutos que estavam em campo com a nossa Seleção. O fato é que só se pode esperar uma vitória dos ianques hoje se Deus for americano.

Meu amigo Evilásio, que não entende nada de futebol, é a única pessoa que conheço que vai apostar nos Estados Unidos. Ele já ganhou uma bolada contra o Egito e a Espanha e vai continuar investindo nos americanos. Não adianta mostrarmos a ele o retrospecto entre os dois países, nem lembrá-lo da atuação pífia dos americanos na derrota de 3 a 0 na fase eliminatória. Evilásio orienta suas apostas por outras razões e declara que se Bush ainda estivesse no Governo não hesitaria em botar suas fichas no Brasil. Como os escândalos agora estão do lado de cá...

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