domingo, maio 31, 2009

FERNANDO CALAZANS

A força e o peso

O GLOBO - 31/05/09

Não tenho certeza se, no momento em que vocês me leem, alguém já tem conhecimento de quanto tempo Adriano pretende jogar hoje no Flamengo, contra o Atlético Paranaense, no Maracanã. 
O bom senso recomendaria que ele não fosse escalado, pelo menos de início. Nem é preciso ver Adriano de corpo inteiro para compreender que ele ainda está fora de forma, ainda está acima do peso.
Basta ver o seu rosto, ainda bem roliço. O time, que já esteve sem artilheiro por muito mais do que 90 dias, poderia passar sem ele por mais 90 minutos — sem precisar correr o risco de que Adriano sofra alguma contusão, sinta dor num músculo ou coisa até pior, que deixe o Flamengo mais 90 dias sem contar com um homem para decidir as jogadas de gol.

Adriano passou muito tempo parado, enquanto se divorciava da Itália, enquanto reatava seu romance com o Rio, enquanto se aposentava momentaneamente do futebol, enquanto passava as noites na ativa, enquanto passava os dias na favela soltando pipa, enquanto desfrutava a companhia dos amigos da meninice.

Começou a recuperar a forma há pouco tempo, nos treinos do Flamengo. Sua volta tem que ser muito bem estudada, tem que ser aos poucos, sem precipitações, mesmo que o time sinta a falta de um atacante de peso e de força.
Justamente por isso, é mais importante a presença de um Adriano em plena forma — na força e, sobretudo, no peso.

O presidente do Fluminese, Roberto Horcades, talvez até com atraso, tomou as medidas necessárias para pôr um mínimo de ordem na casa, que estava de pernas pro ar.
Vândalos não deveriam poder entrar no clube, como tampouco deveria poder entrar em campo um cidadão armado e, ao que parece, preparado para dar tiros para o alto. 

Pior é Fernando Henrique (não sei se outros jogadores também) defendendo a presença e a atitude do atirador, que ele diz ser seu despachante e que chamou também de seu “salvador”. Despachante, segurança, motorista, secretário, seja o que for — um campo de futebol ou de qualquer outro esporte não admite a presença de gente armada de 
revólver.
Não sei se a suspensão por um jogo — este de hoje, contra o Náutico — é a punição certa para Fernando Henrique (acho até que não é, porque prejudica o time), mas que ele merecia uma punição, merecia. Ao menos, quem sabe, para começar a escolher melhor as companhias.

Paulo Calçade, comentarista da ESPN Brasil que prima pelo bom gosto na sua apreciação do futebol, chamou a minha atenção para um dado estatístico. 
Barcelona 2 x 0 Manchester United, na grande final da Liga dos Campeões. Sabem quantas faltas houve? Dezessete faltas ao todo. Vejam só: 7 faltas do Barcelona, 10 faltas do Manchester United no jogo todo.
Observem bem: era uma decisão, era o jogo final da mais importante competição da Europa!

O vencedor — e grande campeão — fez apenas 7 faltas. Quem fez mais faltas perdeu: o Manchester United. Mas cometeu apenas 10 faltas, e assim mesmo porque o marrentíssimo Cristiano Ronaldo ficou nervosinho no segundo tempo e desandou a entrar de forma desleal nos adversários, sobretudo em Puyol, que sofreu nas mãos, quer dizer, nos pés de Cristiano.

Enquanto isso... aqui, continuamos com 40, 50 faltas, às vezes 60 numa partida, mesmo com a moda de “deixar o jogo correr”, “deixar pra lá”, haja o que houver. 
O problema, meus caros exegetas do futebol, não está só no juiz. Deem uma olhadinha no comportamento dos técnicos, os “comandantes”, e nos jogadores, seus “comandados”. 

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