segunda-feira, maio 25, 2009

COISAS DA POLÍTICA


Dilma e os mitos em torno da eleição

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 25/05/09

Esta coluna publicou entrevistas com Marcos Coimbra, presidente do instituto de pesquisas Vox Populi, e Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, no dia 28 de abril. Em linhas gerais, eles diziam que o câncer da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, não influenciaria o eleitor na sua escolha para presidente da República em 2010. Coimbra ia além, argumentando que quem tentasse utilizar isto na campanha – tanto a ministra como seus adversários – poderia, este sim, sair prejudicado.

Lamento informar, mas acho que Coimbra e Montenegro erraram, apesar de serem dois dos melhores analistas de opinião pública que há por aí. A julgar pela pesquisa divulgada pelo PT na sexta-feira – de autoria do próprio Vox Populi – Dilma está se beneficiando da doença, sim. Nos cinco cenários pesquisados pelo instituto, a ministra ficou entre 19% e 25% das intenções de voto. Nunca antes ela havia alcançado nada assim. E a sondagem foi feita entre os dias 2 e 7 de maio, portanto depois do anúncio de que precisou retirar um tumor maligno do organismo.

Tenho a impressão de que, se o câncer da ministra mostrar-se curado, o medo de que a doença atrapalhe sua atuação administrativa será muito menor do que o sentimento de solidariedade do eleitor. E ela poderá se beneficiar disso na campanha, se não cometer exageros. Lembro quando Ciro Gomes era candidato em 2002 e se descobriu que sua mulher, a atriz Patrícia Pillar, tinha câncer. A moça até raspou a cabeça. Ficou linda, fez anúncios na TV. O grau de simpatia pelo marido cresceu absurdamente. Ciro acabou naufragando porque teve sua imagem desconstruída pela equipe de José Serra. E o próprio candidato se entregou aos seus costumeiros destemperos verbais. Mas que havia se beneficiado do tema, isso é inegável.

Ainda a propósito das entrevistas publicadas naquela coluna do dia 28, vale destacar outro detalhe: Montenegro parece ser quem errou mais. Nosso amigo disse que Dilma dificilmente passaria dos 15% a 17%, e que tudo indicava que o tucano José Serra venceria as eleições para presidente ainda no primeiro turno. Pois a tal pesquisa mostra que Dilma já praticamente assegurou a realização de um segundo turno.

O curioso da história é que na semana passada, poucos dias antes da divulgação da tal pesquisa, voltou a circular a conversa de terceiro mandato para Lula. O desconhecido deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) ganhou manchetes dizendo que apresentará projeto de plebiscito para que se autorize a re-reeleição do presidente. Essa é uma conversa que todo mundo que está próximo de fato de Lula sabe que não conta com o seu apoio. Jackson Barreto obteve seus 15 minutos de fama. Mas esse papo só serve mesmo para dar a entender que a candidatura de Dilma Rousseff não é para valer. Falar em terceiro mandato de Lula é o mesmo que dizer que Dilma não tem chances de vencer. Então é uma prosa que interessa mais aos adversários de Dilma do que aos aliados de Lula. Daí porque a oposição sempre bate o bumbo quando se fala em terceiro mandato.

E já que estamos brincando de derrubar mitos, que tal falarmos dessa história de que o PMDB está preocupado com a doença de Dilma? Caro leitor, pense bem: se um candidato fica doente, quem é o primeiro beneficiado? O vice, é claro. Quem deveria ter preocupação era o PT, não o PMDB. Os peemedebistas estão doidos para fechar acordo com Dilma em 2010. Tudo que o presidente do partido, Michel Temer, o ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, e o governador do Rio, Sérgio Cabral, mais querem é essa vaga de vice. Muito embora jurem o contrário. E, no PT, as figuras hegemônicas do partido – leia-se José Dirceu, Aloizio Mercadante e Marta Suplicy – já foram convencidos pelo presidente Lula a encampar a candidatura Dilma. Estão nisso até a alma.

Garotinho

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho enviará no dia 1° de junho ao presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, uma carta na qual comunica seu desligamento do partido. Garotinho argumenta que quer se candidatar a governador, mas que sabe do interesse do PMDB em apoiar a reeleição de Sérgio Cabral. Portanto, não lhe restava outra opção que não a de procurar outro partido. No caso, a legenda escolhida (e já acertada) é o PR. O ex-governador está em campanha frenética pelo interior do Estado.

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