domingo, maio 17, 2009

COISAS DA POLÍTICA

A gripe americana e a nova

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 17/05/09

É provável que a gripe suína venha a ser controlada pelo esforço dos serviços de saúde do mundo, sob a coordenação da OMS. É provável, mas não é certo. O certo é que nos encontramos, como em outros momentos da História, dominados pelo medo. Não o medo, natural, de morrer, mas o medo mais assustador: a morte de milhões de pessoas e, ainda mais, o desaparecimento de famílias inteiras. As pestes mais devastadoras se fermentam e se disseminam a partir da imundície. A mais devastadora delas, a Morte Negra, do século 14, tinha dois vetores – os ratos, portadores da bactéria yersinia pestis, e as pulgas – que, deles, os transmitiam aos homens. A peste se manifestava de três formas, a bubônica, mediante a inflamação dos gânglios linfáticos, a pneumônica e a septicêmica.

Com o passar dos dias surgem novas informações sobre a gripe atual, que já atingiu todos os continentes. A revista Newsweek, em sua edição mais recente, localiza no Wisconsin, em 2005, a primeira manifestação do vírus H1N1 dos últimos tempos. Na pequena cidade de Sheboygan, naquele estado, um adolescente, depois de ajudar o cunhado a abater vários porcos em um matadouro, sentiu febre alta e os sintomas de uma gripe estranha. Ao examinar seu sangue, os médicos encontraram três tipos de gripe: a suína (de acordo com os padrões da espanhola), a aviária e a comum, sazonal. Curando-se o enfermo, e não havendo contaminação imediata, os serviços de saúde voltaram à sua rotina. Nove meses depois, a doença foi encontrada no Texas, mas, como no Wisconsin, sem causar óbitos. E, neste último março, foi a vez de La Glória, no México, ao lado de uma grande criação de porcos, de propriedade de empresa norte-americana.

A ocorrência do vírus H1N1 no Wisconsin nos faz lembrar que, de acordo com a Enciclopédia Britânica, a espanhola surgiu também, inicialmente de forma branda, nos Estados Unidos, no aquartelamento militar de Camp Funston, no Kansas, onde os soldados eram preparados para intervir na I Guerra Mundial. Ao chegarem à França, em março de 1918, eles disseminaram a enfermidade que, cinco meses depois (essa é informação que agrava a expectativa do mundo), em agosto, entrava em sua fase letal, mas não a mais grave, que viria no inverno do Hemisfério Norte, em seguida. Os óbitos ocorriam por pneumonia 48 horas depois dos primeiros sintomas. Em Camp Devens, outro centro militar, em Massachusetts, seis dias depois do primeiro caso, havia quase 7 mil infectados. Nas duas ondas finais da enfermidade, a metade dos mortos era de pacientes entre os 20 e os 40 anos. A Espanha teve seu nome associado a uma peste com a qual nada tinha a ver, a não ser como vítima. Agora, ao que parece, é a vez de o México pagar o pato.

A altíssima mortalidade da peste negra do século 14 (entre 30 e 60 por cento da população, segundo os cálculos aleatórios da época) mudou a história da Europa. Houve consequências econômicas, com a redução da mão de obra, e alterações políticas e culturais. Foi tão forte o despovoamento que, em muitas áreas degradadas, as florestas se recuperaram e a fauna se multiplicou. A Igreja perdeu muito de seu prestígio, novas crenças surgiram e, no século seguinte, viria o Renascimento.

Há, apesar das informações oficiais, muito mistério em torno da doença. Em 1997, dois pesquisadores norte-americanos, Johan Hultin e Jeffrey Tautenberg, exumaram, em Brevig Mission, no Alasca, o cadáver congelado de uma vítima da gripe espanhola. O lugar foi escolhido a propósito: em 1918, em apenas cinco dias, 72 de seus 80 habitantes morreram da pandemia. Do cadáver retiraram amostras que lhes possibilitaram revitalizar o vírus fatal e, com ele, realizaram experiências em camundongos. Foi possível confirmar sua extrema letalidade. Há quem suspeite que o vírus tenha escapado do laboratório para novamente infestar o planeta.

De qualquer forma, há fundadas razões para o medo.

Aos 134 juízes que assinaram um manifesto de apoio a seu colega Fausto de Sanctis, e estavam ameaçados de punição pelo corregedor da Justiça Federal da 3ª Região, André Nabarrete, somaram-se sexta-feira 121 procuradores da República de todo o país. Em seu manifesto, os procuradores afirmam que os juízes têm todo o direito de expressar seu apoio ao colega, porque a independência dos magistrados é a garantia da cidadania, da democracia e da República.

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