segunda-feira, abril 27, 2009

BRASIL S.A

O Copom tem medo de quê?


Correio Braziliense - 27/04/2009
 


O momento é de levar a taxa Selic a 9,75% ao ano, um patamar histórico para um país que já esqueceu o que é ter juros de um dígito

De hoje até a quarta, não haverá assunto mais comentado na seara econômica do que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Apesar da certeza de que a taxa básica de juros (Selic) cairá, muitos analistas decidiram, nos últimos dias, reduzir o otimismo. Em vez de um corte de 1,5 ponto percentual, apostam, agora, em queda entre 0,75 e um ponto. 

O que mais intriga é que uma das justificativas para a postura mais conservadora do Copom seria a possível retomada da economia. Mas vejam só: o mesmo mercado que fala em “sinais de retomada” está, há três semanas consecutivas, elevando a estimativa de retração do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Como pode, então, alguém falar em riscos de uma atividade mais forte, que resultaria em inflação à frente, se o consenso é de que o PIB tomará um tombo significativo? Diante dessa contradição, não há motivo para o Copom se intimidar. O momento é de cortar, sim, a Selic em 1,5 ponto percentual e levar a taxa a 9,75% ao ano, um patamar histórico para um país que já esqueceu o que é ter juros de um dígito. Se há um risco neste momento, é de um Copom conservador demais detonar os frágeis sinais de que a economia está saindo do fundo do poço. 

O BC sabe que, por maior que tenha sido a reação da economia nos últimos dois meses, o Brasil ainda está longe de reunir condições para fechar o ano com PIB positivo. A previsão oficial do banco é de crescimento de 1,2% em 2009, mas até os contínuos da instituição sabem que tal número é pura ficção. Se o país conseguir cravar crescimento de 0,5% já se dará por satisfeito. 

Brincadeira 
Outro argumento usado para sancionar um corte menor é a disposição do governo em ampliar os gastos. Vamos ser realistas: esse aumento de despesas não vem de hoje. Dizer que o governo está fazendo política fiscal anticíclica é brincar com a nossa inteligência. A não ser em 2003, quando tomou posse e precisava dar um choque de credibilidade, Lula nunca segurou os cofres públicos. E, mesmo assim, a taxa Selic caiu, de 26% para os atuais 11,25%. 

A única política anticíclica de que o governo realmente dispõe para estimular a produção e o consumo é a monetária. E tudo está conspirando a favor para uma Selic de um dígito. A inflação está em queda. Todas as projeções apontam para índices de preços abaixo de 4,5%, o centro da meta perseguida pelo BC. Será, então, que há motivos para o Copom ter medo de ser mais agressivo neste momento? Não podemos esquecer que o corte de 1,5 ponto agora ainda terá impacto na economia no último trimestre. Além disso, a redução virá em um momento de retomada da confiança no futuro. E a confiança é vital para que a roda da economia volte a girar sem traumas. 

Hora da virada 
O presidente do BC, Henrique Meirelles, vem dizendo que o Brasil será um dos primeiros países a sair da crise. Sendo assim, ele deveria convencer seus pares de que a virada do Brasil, que está em recessão técnica (dois trimestres consecutivos de PIB negativo), depende de uma Selic muito mais baixa do que a que está em vigência. Os integrantes mais conservadores do Comitê certamente vão alegar que é melhor ir devagar com o andor para que a taxa não tenha que subir novamente à frente, quando a economia estiver com o fôlego renovado. E qual o problema de a Selic voltar a subir com uma economia mais aquecida? É para isso que existe a política monetária, para manter o equilíbrio da economia. Foi por sempre estar atento aos desequilíbrios econômicos e agir técnica e prontamente, que o BC brasileiro conquistou credibilidade para que hoje o país possa vislumbrar a oportunidade de ter uma Selic abaixo de 10%. 

Unanimidade 
As apostas estão na mesa. Meirelles já andou conversando com todos os integrantes do Copom para a importância de a decisão sobre a Selic ser tomada de forma unânime. Um Copom unido será um contraponto importante às pressões que se seguirão nas próximas semanas, diante da enxurrada de indicadores ruins que vão aparecer. O pior deles será divulgado em 9 de junho, justamente o primeiro dia de reunião do Comitê: a queda do PIB no primeiro trimestre e a confirmação oficial de que a crise empurrou o Brasil para a recessão.

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