sexta-feira, março 27, 2009

ARI CUNHA

Bala perdida


Correio Braziliense - 27/03/2009
 


Todos os dias morre gente no Rio. Na linha de tiro dos morros. Morre em casa, na rua, nos escritórios. Convencionou-se dizer que foi atingida por bala perdida. O termo se incorporou ao linguajar do crime. Os vendedores de tóxico dominam a parte de alguns morros da cidade. Crianças sobem pandorgas. Isso quando, de longe, veem a aproximação da polícia. Outros dão sinais de identificação, usando balões. Onde estão, aqueles que vendem drogas se colocam em posição de tiro. Crianças também usam rifles. São menores e podem enfrentar a desdita com direito à proteção da lei. Tudo acontece a todo instante. Certa vez, uma senhora carioca foi visitar amiga no Ceará, precisamente na cidade de Jaguaribe. Horrorizada, disse à amiga que estava ansiosa. Estava no Jaguaribe, exatamente o centro dos matadores de gente. Ficou espantada. Disse que tinha medo de bala perdida. A dona da casa atropelou a conversa. “Não, senhora. Aqui não há disso, não.” É diferente do Rio de Janeiro. Se um matador perder uma bala, vai receber outra, como punição, entre os olhos, no meio da testa. No Rio, a bala perdida é resultado de tiros que os bandidos dão com armadas roubadas. Na verificação, muitos morrem com bala de arma igual às da polícia. A culpa cai nas costas da força policial.


A frase que não foi pronunciada

“A crise nos bancos americanos é como minhocuçu. A gente corta. No dia seguinte, ele cresce.”
Pescador mineiro filosofando sobre dificuldade dos bancos nos Estados Unidos.


Discursos 
Presidente Lula da Silva faz os discursos com linguajar emotivo. Ele ainda está na oposição. Falando para industriais, disse que os papeis burocráticos rodam tanto nas repartições que quando chegam estão com cheiro de mofo. Detalhe: apressar a burocracia é parte do trabalho que cabe ao presidente. Ele falando, todos correm para consertar. 

Dúvidas 
Prontamente explicada pelo senador Suplicy a dúvida dos colegas. Por que quando o preço do barril do petróleo baixa, o combustível nos postos não acompanha a queda? Porque a Petrobras não havia aumentado quando houve o incremento no valor do produto no mercado internacional.

Mãos dadas 
Em Londres, em 2 de abril, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) vai apresentar projeto de defesa mundial dos empregos. Quando o G-20 estiver reunido, a sugestão é que o grupo representado por países ricos acatem a sugestão. Juan Somavia, diretor-geral da OIT, quer uma estratégia coordenada e coerente como prioridade para recuperação da economia mundial. 

Imbróglio 
Prefeitos de municípios do Piauí, Maranhão e Amazonas estão condenados a reembolsar os cofres públicos em R$ 692 mil, supostamente desviados. Até agora, o grupo tinha conseguido decisão favorável no Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro (TRF-RJ). A Advocacia-Geral da União (AGU) e o Tribunal de Contas da União (TCU) vão até o fim para impedir a festa. 

De olho 
Atenção, concurseiros. No Amapá, uma candidata teve o nome publicado no Diário Oficial para tomar posse. Não apareceu. É que a chamada veio três anos depois. Mesmo sem cumprir o prazo para a entrega da documentação, a candidata entrou na Justiça e conseguiu a nomeação. A Justiça entendeu que atraso se paga com atraso. 

Bola fora 
Assembleia Legislativa da Paraíba proíbe a venda de bebidas no local de realização de jogos. Estádios estão enquadrados na lei seca. Coisa à parte foi a emenda apresentada pelo deputado Antônio Morais. A proposta sugere permissão para bebidas alcoólicas, mas do lado de fora dos estádios. 

Obra paralisada 
Esta manhã, enquanto as máquinas do tribunal eleitoral movimentavam terra, o edifício da Câmara Legislativa estava sem trabalhadores no canteiro. Governador Arruda está com verba curta por causa do contingenciamento e não deseja colocar o carro adiante dos bois, como bom mineiro que é.

História de Brasília

O ministro da Justiça, dr. Armando Falcão, comunicou ao presidente da República o fracasso total do censo de 1960 e a desmoralização do nosso país, que não pode cumprir um convênio com a Unesco. Queiram ler, por favor, os exemplares desta coluna dos meses de setembro e outubro do ano passado, onde havíamos previsto o que agora se confirma. (Publicado em 26/1/1961)

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