domingo, janeiro 25, 2009

DORA KRAMER

Caroço no angu 

O estado de São Paulo 25/01/09


A reação dos aliados do governador Aécio Neves à incorporação de Geraldo Alckmin ao governo José Serra é definida por auxiliares do governador como “pouco profissional”. Até mesmo a ironia de Aécio ao dizer que se sentia “homenageado” com a nomeação de Alckmin para secretário de Desenvolvimento foi vista como desproporcional.

Por mais razão, concluem os paulistas, o lance aconteceu na hora certa. O motivo da irritação dos mineiros – explicitada, contrariando o dogma político regional – se o grupo de Serra sabe qual é não diz.

Manifesta apenas a suspeita de que Alckmin e Aécio Neves teriam alguma combinação “mais profunda” que foi interrompida com a ida do ex-governador para a secretaria e, por consequência, sua integração ao grupo que arquiteta a candidatura Serra para presidente em 2010.

Ninguém no Palácio dos Bandeirantes acredita que o governador de Minas Gerais pudesse de fato imaginar que Alckmin simplesmente desse as costas ao partido em São Paulo e aderisse à candidatura de Aécio, seja nas prévias ou mesmo na convenção para a escolha do candidato.

Por isso é que, diante do evidente susto e da assumida exasperação dos mineiros, levanta-se a dúvida sobre os termos das tratativas entre Aécio e Alckmin. Entre as suposições está a de que talvez os dois estivessem conversando sobre uma possível mudança de partido ou criação de nova legenda.

Se é fato ou ficção, no tocante a Alckmin o “para trás” é dado como vencido. Sobre o “para a frente”, a posição do governo estadual é a seguinte: Serra mostrou que comanda o partido em São Paulo, lidera o processo de construção da candidatura a presidente e tem duas opções para a eleição paulista: uma eleitoralmente mais viável e outra politicamente mais palatável.

Geraldo Alckmin tem votos e Aloysio Nunes Ferreira atrai PMDB e DEM, antipáticos a Alckmin. A composição de grupos não é considerada difícil porque, pelo combinado, quem não disputar o governo teria vaga assegurada no ministério, se Serra for eleito.

Nos acertos de gabinete leva-se em conta que ele só será candidato mesmo com uma boa margem de segurança de vitória, o que significa ótima situação nas pesquisas, unidade no partido e alianças partidárias consistentes.

Em relação a Aécio, nota-se a presença da tensão, pois é lógico que os aliados do governador paulista prefeririam os mineiros silenciosos e ambíguos. Para eles seria muito melhor que o assunto não fosse levado para o campo da disputa interna em torno da sucessão presidencial. Até porque na cabeça de José Serra não há disputa, embora diga a fim de não se agastar com Aécio e pôr em risco os votos do segundo colégio eleitoral do país.

Para o Palácio dos Bandeirantes – onde evidentemente não se reconhece isso – muito mais conveniente um Aécio paralisado pela jogada de Serra. Quando reage e finca o pé na porta, tira do gesto na pretendida naturalidade de uma nomeação administrativa feita para propiciar apenas uma leitura positiva e isso, é claro, incomoda.

Alma mineira

Ex-governador de Minas Gerais, ex-senador, Francelino Pereira envia mensagem sobre o lance da nomeação de Geraldo Alckmin que, na opinião dele, foi um desastre. “E por quer uma articulação saudada por todos como genial me parece tão desastrosa? O governador de São Paulo perdeu a oportunidade de fazer uma jogada de mestre, convidando o governador mineiro para estar ao seu lado no momento do anúncio. Esse simples gesto garantiria ao governador paulista, ao invés da reação e da cristalização da antipatia dos apoiadores de Aécio, uma avaliação positiva unânime.”

“O tempo e a energia que o governador paulista parece dedicar às tentativas de enfraquecer o governador Aécio seriam mais bem empregados na busca de um caminho de aproximação.”

“Uma frase muito repetida em Minas diz: desconfie da força de quem precisa demonstrar que é forte. Paradoxalmente, Serra não precisa de um Aécio mais fraco, pois pode vir a depender – e muito – dele. É hora de o governador Serra definir se sua prioridade é viabilizar-se como candidato ou vencer as eleições de 2010.”

“Os que conhecem a alma mineira – acredite, ela existe – sabem que equívocos assim podem acabar tornando irreversível a candidatura do governador Aécio. Mesmo porque, independente da vontade pessoal do governador, os mineiros jamais perdoariam um candidato que parecesse ter tirado de Minas a oportunidade de terminar a caminhada dramaticamente interrompida de Tancredo em direção ao Planalto.” Argumentos assim, se ouvirão a mancheias daqui em diante.

Diretas e indiretas

Mais saudável seria o ambiente da comemoração dos 25 anos das Diretas Já, não fossem as constantes indiretas em defesa da mudança do curso institucional, aí incluídas todas as propostas de alteração do tempo de mandatos.

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