terça-feira, setembro 02, 2008

Clóvis Rossi
O Estado não é policial, é frouxo

Folha de S. Paulo
2/9/2008

Dois presidentes, Gilmar Mendes, do STF, e Garibaldi Alves, do Senado, viram nos "grampos" em seus telefones um "estado policialesco".
É precisamente o contrário. Estado policialesco pressupõe um Estado forte, onipresente, hiperativo.
O que existe no Brasil é um Estado frouxo, inerme, ausente exatamente onde a sua presença é mais necessária.
Episódios como o dos "grampos" contra duas das mais altas autoridades da República, para não mencionar Gilberto Carvalho, o mais próximo assessor do presidente Lula, só demonstram o quanto o atual governo é omisso. Prova-o a seguinte frase do ministro da Justiça, Tarso Genro, falando precisamente sobre interceptações telefônicas: "Estamos chegando a um ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando".
Traduzindo: o chefe da Polícia Federal, em vez de se indignar -e agir em conseqüência, o que seria ainda mais relevante-, prefere conformar-se com a sua incompetência, impotência, inapetência ou tudo isso ao mesmo tempo para controlar atividades que desrespeitam o Estado de Direito. Fosse menos relapso, o ministro diria que tomaria todas as providências para que a arapongagem deixasse de ser tão disseminada e que os inocentes poderiam ter a "presunção" de que só são ouvidos pelos seus interlocutores.
Se seu chefe, o presidente da República, também fosse menos relapso, teria afastado o ministro no ato, para demonstrar que não compactuava com a omissão do subordinado. Como não o fez, é forçado a agir tardiamente, punindo o policial, Paulo Lacerda, que foi o símbolo de uma elogiada PF. Não há símbolo que resista no governo Lula. Cai um após o outro sempre que qualquer labareda chega perto do presidente.
NA MINHA VARANDA

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Essa é Vanessa Almeida, desfilando aqui na minha VARANDA. Fiquem babando.
O presidente negro

ARNALDO JABOR
Estadão

A história americana tem espasmos progressistas e reacionários. Na época de Eisenhower, eu morei nos USA, e estudei numa high school da Flórida, no coração da "América profunda", em Saint Augustine, a cidade mais antiga do país, fundada pelo maluco Ponce de Leon, que chegou em busca da Fonte da Juventude.
Era a época da "geração silenciosa" do pós-guerra. Eisenhower só dizia "platitudes", palavra que aprendi com a professora de inglês, uma velhinha democrata que odiava a burrice nacional. Depois, veio o Kennedy, moderno, com mulher chique, que governou até 63, quando uma bala transformou sua bonita cabeça numa massa sangrenta. Ficou Lyndon Johnson, um medíocre vice democrata, pré-Nixon. Depois, o irmão Bob Kennedy, que certamente seria eleito, foi assassinado na frente das TVs do mundo todo em 68. Em seguida, tivemos o espasmo reacionário de Nixon, que cai em 74, sucedido pelo frágil Jimmy Carter que preparou a chegada dos republicanos Reagan e Papai Bush, até a "era dourada" do Clinton, que acabou desmoralizada pelos lábios da Monica Lewinsky, no mais trágico "boquete" da história ocidental. Agora, talvez acabe a fase do Bush, o débil mental que reinou por oito anos e que, se Deus quiser, não será sucedido pelo hipócrita McCain.
No entanto, com a gloriosa nomeação de Obama pelos democratas, fico olhando aquele homem raro, profundo, que aponta os melhores caminhos para a América, e me preocupo: "Será que os americanos vão deixar um negro intelectual presidir o país?
"Digo isso porque vi o racismo americano de perto. Saint Augustine era uma cidade igual àquela do Truman Show. Os ritos sociais, as pessoas, os gestos cotidianos, os sorrisos e lágrimas, tudo parecia programado por uma máquina social obsessiva. A vida e morte eram padronizadas: abraços gritados, torcidas histéricas no beisebol, alegrias obrigatórias, intensa religiosidade, tudo funcionava num carrossel de certezas absolutas.
Só uma coisa estava fora da ordem: os negros. Era outra América dentro da cidade. No ônibus amarelo do colégio, eu via meus colegas louros, ruivos e brutos berrando contra os negros que passavam: "Hey, ?nigger?, por que teu nariz é tão chato?" "Hey, ?nigger?, por que teu cabelo é pixaim?" Os negros ouviam de cabeça baixa, o rosto torcido de humilhação, num ódio sufocado. Amontoavam-se no fundo dos ônibus, em pé, mesmo com os carros vazios, e moravam num bairro sujo de madeira e terra. Eu me espantava com aquela ausência total de compaixão, eu que vinha de babás negras me beijando. Os pobres segregados eram tristes , trêmulos e esfarrapados, obesos e deprimidos, com frágeis mulheres engelhadas e crianças assustadiças.
E eu tinha medo; mas, era dos brancos. A violência dos alunos me assustava. Vi brigas de ferozes galalaus se arrebentando até o sangue no focinho e o desmaio, onde nem os diretores do colégio podiam interferir. Eu era um "nerd" comprido e meio bobo nos meus 15 anos e me chocava com as botas de caubói marchetadas de estrelas de prata, com as facas de onde a lâmina pulava, os casacos de couro negro que já vestiam a "juventude transviada" - uma rebeldia reacionária e "republicana".
O ídolo da época era Elvis Presley rebolando na TV. Pairava um clima de intolerância entre os próprios brancos; eram os fortes contra os fracos, as meninas bonitas contra as feias, as sérias contra as "galinhas" que eram comidas nos drive-ins, dentro dos carros envenenados, os hot rods, e depois cuspidas para a humilhação coletiva. As rivalidades eram vingativas e duras.
Eu, turista tropical, tímido e fraco, provocava-lhes um respeito cauteloso, por ser estrangeiro e os machões me poupavam porque eu lhe dava "cola" em "spelling", soletrando palavras de raiz latina, enigmas para eles.
Mas, existia no ar um perigo desconhecido. Não havia espaço para dúvidas naquela cidade, mas dava para sentir que aquela solidez de certezas, se rompida, provocaria um grave desastre. Eu navegava naquela cultura obsessiva e, bem ou mal, conseguira namorar Melinda Mills, pálida filha de um ex-marine que estivera no Rio e me mostrou um cartão-postal do Mangue com suas palmeiras, onde ele certamente conhecera a Zona e as polacas.
Até que um dia, chegou a notícia terrível: tinha subido aos céus o satélite russo, o Sputnik, girando como uma bola de basquete em órbita da Terra.
Foi indescritível o pânico na cidade. Desde 49, com a explosão da bomba H pelos soviéticos, destronando a liderança dos destruidores de Hiroshima, os americanos esperavam outra catástrofe, que viria como um filme de terror tipo A Invasão dos Feijões Gigantes. Em minutos, a cidade parecia um campo de refugiados, de perdedores humilhados pelos comunistas no espaço. No colégio, começaram "fire drills" incessantes, alarmes evacuando os alunos para porões e abrigos atômicos. O então senador Lyndon Johnson berrou: "Brevemente estarão jogando bombas atômicas sobre nós, como pedras caindo do céu..." No alto, o satélite Sputnik humilhava os americanos, com seus "bip bips", soando como gargalhadas de extraterrestres. A partir desse dia, os colegas passaram a me olhar de lado. Transviados e porradeiros me investigavam com perguntas: "Que você acha? Teu país gosta dos russos?" Eu tremia e escondia minha vaga admiração pelo socialismo. Eles me olhavam desconfiados: brasileiro, latino, sabe-se lá? Depois disso, não me pediam mais cola. O pai de Melinda, putanheiro do Mangue, mal me cumprimentou de sua poltrona esfiapada. Melinda ficou mais pálida e nosso namoro definhou.
Por isso, hoje vejo o Obama, esguio, mulato, de elite, com a mulher gatona como uma cantora funk e penso: "Na América existe um racismo sutil, inconsciente, mas vasto. Está além da cor da pele. É a desconfiança do novo, do diferente, diante dos verdadeiros liberais reformistas como Obama." E tremo: "Será?" Tenho medo das balas republicanas. Elas não perdoam.
CULTURA

MERCADO CULTURAL

Espetáculos de dança e show musical de qualidade serão as atrações da 4ª edição do Mercado Cultural. O evento acontece hoje, a partir das 18h30, no Mercado de Petrópolis, no bairro do Tirol, com a apresentação da cantora e compositora Joana Medeiros. O evento acontecerá toda primeira terça-feira do mês.

PROJETO SEIS & MEIA

Um canto autoral no palco do TAM
Dois grandes compositores da música brasileira estarão no palco do Seis & Meia hoje, que volta a ser apresentado no Teatro Alberto Maranhão, a partir das 18h30. Mirabô Dantas e Renato Terra serão as atrações da noite. Os ingressos custam R$ 10,00. HOJE
NATAL
SINAIS TROCADOS

Fátima canditata do PT tem a preferência de quem ganha entre 5 e 8 salários mínimos

Micarla Candidata do PV, perde apenas entre eleitores com pós-graduação


Segundo a pesquisa do IBOPE, Micarla do PV lidera com 50%; contra 25% de Fátima do PT.


Informe JB
Leandro Mazzini

A queda da Abin e Tarso em perigo

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de afastar a direção da Agência Brasileira de Inteligência é um atestado de culpa sobre a suspeita de grampo no presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Uma fonte da coluna, com trânsito no Palácio e no Ministério da Justiça, informou que cresce a vontade do presidente de fazer logo uma reestruturação vertical. Nesse contexto, começando pela Justiça, está em perigo o ministro Tarso Genro. Não é bom o clima no ministério entre ele e alguns setores. Mas quem pensa em derrubar Genro sempre se engana. Ele só "cai para cima", devido ao prestígio com o chefe. O time do contra, no entanto, é forte. O ataque vai com Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho e José Dirceu, que ainda sabe de tudo no governo. E ainda é ouvido.

Saída de mestre

O procurador-geral federal, João Ernesto Aragonés Vianna, pediu exoneração do cargo por motivos particulares. É o responsável pela atuação jurídica de todas as fundações e autarquias federais – algumas fundamentais para o PAC, como o Ibama e o Incra.
João Ernesto, renomado escritor da área de direito, abre as portas para o novato Marcelo de Siqueira Freitas, de 30 anos.

Gás total

Caiu no colo do presidente da CCJ do Senado, senador Marco Maciel (DEM-PE), a briga bilionária sobre a Lei do Gás. A matéria, que atiça os ânimos dos colegas, vai a voto depois das eleições.
A todo vapor
A queda-de-braço contrapõe os Estados e suas distribuidoras – favorecidos pelo relator Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) – ao governo federal e à Petrobras, que querem restringir a distribuição de gás pelos governos estaduais.

Sem freio

Avançam as negociações do governo do Rio para conquistar uma fábrica da Hyundai.

Fala, Mão Santa

O senador Mão Santa (PMDB), conhecido pelo linguajar metafórico na tribuna, vai poder agora enriquecer o vocabulário. Sai dia 4, em Brasília, a 3ª edição da Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês.

Prefeito maluquinho

O ministro do STF Ayres Britto, relator do caso Raposa/Serra do Sol, anda às turras com o prefeito falastrão de Pacaraima (RR), Paulo Quartiero, líder político dos arrozeiros na região.
Desabafo
A um interlocutor, Britto lembrou que Quartiero só faz esse carnaval por causa da liminar concedida por ele para que a PF freasse a operação. Mas citou o uruguaio Eduardo Couture: "O tempo se vinga das coisas feitas pela colaboração dele".
LOTERIA
01/09

Lotofácil (Concurso 354):

01-02-04-07-08
09-10-12-16-17

18-19-21-22-23
TERÇA NOS JORNAIS


- Globo: Grampo no STF faz Lula afastar cúpula da Abin

- Folha: Cúpula da Abin é afastada após grampo

- Estado: Sob pressão do STF e Senado, Lula afasta cúpula da Abin

- JB: Grampo derruba a cúpula da Abin

- Correio: Lula afasta chefia dos espiões

- Valor: Gafisa compra Tenda e tira construtora da crise

- Gazeta Mercantil: Torneira do pré-sal é aberta hoje com testes de Jubarte

- Estado de Minas: Políticos começam a demitir parentes

- Jornal do Commercio: Lula afasta a cúpula da Abin